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RSF homenageia jornalistas mulheres e destaca os riscos da profissão

Nos últimos 20 anos, o número de mulheres na profissão de jornalista aumentou. Mas elas correm, em muitos casos, mais perigos que os homens e ainda devem enfrentar muitos preconceitos, pois a posição das mulheres nos meios de comunicação sempre é o reflexo do lugar que ocupam na sociedade onde vivem. Para alertar sobre os riscos a que estão expostas as mulheres jornalistas e defensoras dos direitos humanos, a organização Repórteres Sem Fronteira (RSF) prestou uma homenagem nesta quinta-feira (5/2) às profissionais de todo o mundo. O grupo lembrou o Dia Internacional da Mulher, comemorado no próximo domingo (8/3), para destacar o papel de profissionais que lutam pela liberdade de imprensa em diversos países, onde são vítimas de violências, prisões, intimidações e censura.

A RSF destacou ainda uma lista de dez jornalistas que, segundo a organização, são exemplos de compromisso com a liberdade de informação: Zaina Erhaim (Síria), Farida Nekzad (Afeganistão), Hla Hla Htay (Myanmar), Marcela Turati (México), Noushin Ahmadi Khorasani (Irã), Mae Azango (Libéria), Khadija Ismayilova (Azerbaijão), Brankica Stankovic (Sérvia), Solange Lusiku Nsimire (República Democrática do Congo) e Fatima Al Ifriki (Marrocos).

Em nota, a organização chamou atenção também para os perigos que correm muitas dessas profissionais em países onde investigações jornalísticas terminam de forma trágica. “O Plano de Ação das Nações Unidas para a segurança de jornalistas e a questão da impunidade exige um enfoque “sensível ao gênero”. Esse foco precisa ser aplicado urgentemente”, cobrou a RSF. Para a entidade, algumas regiões no mundo devem ser objeto de uma atenção particular quanto à proteção das mulheres no exercício do jornalismo.

Do virtual ao real

No âmbito virtual, as redes sociais têm sido as principais plataformas para ameaças e ataques virtuais contra jornalistas mulheres. Segundo a BBC, os “linchamentos virtuais” ganham força principalmente devido a facilidade do anonimato. “Eu recebi centenas de tuítes usando os termos mais obscenos de ameaças de morte e até de estupro”, denunciou a jornalista turca Amberin Zaman. As ameaças começaram depois de sua cobertura sobre os protestos que ocorreram em Istambul, em 2013. Correspondente na Turquia da revista The Economist e colunista do jornal Taraf, ela contou que já “ameaçaram fazê-la sentar em uma garrafa de vidro quebrada” por causa de suas opiniões e textos publicados.

Recentemente, após reportar a repercussão dos atentados na França à redação da Charlie Hebdo e a um mercado kosher a jornalista contou ter sofrido mais uma leva de insultos. “As ameaças me fizeram ficar apavorada, temendo por minha segurança física ao sair nas ruas”, confessou. “As jornalistas do sexo feminino que mais são alvos de abusos geralmente escrevem sobre crimes, política e temas sensíveis à sociedade, como dogmas e tabus”, diz Dunja, Mijatovic, representante do conselho de liberdade de imprensa da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Sexo frágil?

Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, dois fatos servem para evidenciar o protagonismo feminino na contemporaneidade e, também, perfilar as fortalezas e fragilidades da mulher pós-moderna. Na Argentina, a ex-mulher de Nisman denunciou que o promotor foi assassinado. Na Rússia, a namorada de Boris Nemtsov é considerada testemunha-chave na morte do opositor russo e estaria sendo ameaçada de morte. Essas duas mulheres podem ser pedras nos sapatos de dois importantes chefes de Estado.

A juíza Sandra Arroyo Salgado, ex-mulher do promotor Alberto Nisman, apresentou na quinta-feira supostas provas de que seu ex-marido foi assassinado. “Alberto Nisman foi morto”, disse Arroyo Salgado em uma entrevista coletiva em San Isidro, um subúrbio de Buenos Aires. Ela é querelante daquele que quatro dias antes de morrer acusou a presidenta da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, de suposto acobertamento dos supostos autores iranianos do atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em 1994. Arroyo Salgado organizou uma equipe de peritos que trabalhou no último mês e que hoje entregou sua conclusão à juíza do caso, Fabiana Palmaghini. “O relatório descarta com contundência as hipóteses do acidente e do suicídio”, disse. “A morte violenta no contexto político e judicial teve grande impacto na institucionalidade da República, além de pôr em causa o papel do Estado diante da comunidade internacional em matéria de terrorismo”, atacou a ex-mulher.

Já a modelo ucraniana Anna Duritskaya, 23, principal testemunha da morte de Boris Nemtsov, foi proibida de deixar a Rússia pelas autoridades locais que cuidam da investigação do caso. Duritskaya estava com o líder oposicionista quando este foi abatido a tiros a metros do Kremlin. Ambos caminhavam no centro de Moscou após jantarem. Setores da mídia local, que apoiam o governo de Vladimir Putin, dizem que os investigadores não descartam seu envolvimento com a morte – em mais uma das teorias surgidas no fim de semana em Moscou.

Embora parte da oposição aponte o dedo diretamente para o Kremlin, a maioria dos analistas prefere ver o crime como produto indireto do ambiente mafioso criado pelo exacerbado nacionalismo de Putin. Ainda mais se se acrescentar à morte de Nemtsov os assassinatos relativamente recentes de outros críticos de Putin, como a jornalista Anna Politkovskaya e o espião Alexander Litvinenko. Este foi alcançado em Londres, mas a morte de Nemtsov, por ter sido à sombra do Kremlin, tem um simbolismo muito mais forte.

*Informações do Portal IMPRENSA, Folha de S. Paulo, El País (Edição Brasil) e G1.

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Prêmio Nobel para Malala pode ajudar a combater o Estado Islâmico

DEU EM O GLOBO – O comitê do Prêmio Nobel da Paz citou o trabalho de Malala Yousafzai e Kailash Satyarthi de “luta contra a repressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação,” mas é o trabalho de Malala em defesa das meninas e das mulheres que é o mais importante hoje para promover a paz no mundo. Como já escrevi antes, a repressão sistemática das mulheres é a maior injustiça da história e que deve ser tratada o quanto antes. Mas além desta preocupação, em um mundo em que uma das maiores ameaças internacionais vem da propagação de grupos extremistas islâmicos, é de máxima urgência que nós também tenhamos consciência como é essencial dar mais poderes às mulheres para derrotar os jihadistas.

A correlação entre a repressão dos direitos das mulheres e a instabilidade no mundo moderno é absolutamente clara. A cada ano, o Fórum Econômico Mundial produz o relatório Gender Gap. Em 2013, ele acompanhou 136 países na educação, poder econômico, saúde e capacitação política das mulheres. Consideramos as principais nações em conflitos extremistas. Alguns, como a Somália, Líbia e Afeganistão, nem mesmo fizeram os seus relatórios. Mas aqueles que participaram, a classificação é a seguinte no ranking: Nigéria, 106, Bahrein, 112, Qatar 115, Kuwait 116, Jordânia 119, a Turquia 120, Argélia 124, Egito 125, a Arábia Saudita 127, Mali 128, Marrocos 129, Irã 130, Síria 133, Paquistão 135, e por último o Iêmen 136.

Um relatório de 2011 da Newsweek sobre os melhores e piores lugares para as mulheres colocam Sudão, Etiópia, Paquistão, Níger, as Ilhas Salomão, Mali, República Democrática do Congo, Iêmen, Afeganistão e Chade, nas dez primeiras piores colocações. Em um relatório similar da Marie Claire, de junho, os dez piores países são Índia, Iêmen, Iraque, Paquistão, Nepal, Peru, Turquia, Sudão, Afeganistão e República Democrática do Congo. E ainda um outro ranking indicou os 10 piores, como Iraque, Paquistão, Índia, Somália, Mali, Guatemala, Sudão, República Democrática do Congo, Afeganistão e Chade.

Leia também: Defensores dos direitos da criança levam Prêmio Nobel da Paz

Países com ideologias extremistas tratam mal as mulheres. Eles misturam cultura e heranças religiosas para promover práticas abomináveis ​​e indefensáveis ou simplesmente não reconhecem os direitos de mulheres e meninas. Isso leva-se a práticas atrozes de grupos como, o Estado Islâmico (EI). Em sua revista on-line produzida em inglês, Dabiq, o grupo defende a escravidão de meninas e mulheres yazidis e tomá-las como concubinas, argumentando que a prática é “firmemente estabelecida na Sharia”.

Claramente, esses bandidos brutais temem o poder das mulheres e estão apavorados com o que pode acontecer com o fortalecimento da educação. Poucas histórias ilustram isso tão bem quanto o atentado contra a Malala, que incomodava pelo seu ativismo para garantir a pobres meninas o direito de ir à escola. Alegando crédito para o ataque, o porta-voz do talibã a chamou de “símbolo dos infiéis e obscenidade” e justificou-a como uma ameaça contra o Islã.

Muitos países nas listas dos piores lugares do mundo para as mulheres são islâmicos o que ilustra claramente um problema que os líderes muçulmanos tem com sua teologia e as sociedades do futuro. Porém, maus tratos — ou até mesmo assassinatos, como no caso de crimes de honra — não é visto pela grande maioria da comunidade de 1,6 bilhão de muçulmanos como tolerável. Novos modelos estão evoluindo, como na Turquia, onde negócios e comunidades educacionais turcas comprovam que dar poder às mulheres é uma onda crescente e que vale a pena aproveitar.

Em algumas comunidades no Oriente Médio em meio a essas crises, fortes correntes de mudança estão em andamento. Em 2003, Shirin Ebadi do Irã ganhou o Prêmio Nobel da Paz em reconhecimento ao seu trabalho específico para as mulheres. Em 2011, Tawakkol Karman do Yemen (junto com as da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee) foram igualmente homenageadas.

Hoje, outros símbolos desses modelos emergentes de maior tolerância se juntam à Malala na frente de batalha contra os extremistas. Mariam al-Mansouri, de 35 anos, a primeira piloto da Força Aérea dos Emirados Árabes Unidos participou dos ataques contra o Estado Islâmico. E algumas das histórias mais inspiradoras contra os extremistas na Síria e no Iraque, são as unidades curdas Peshmerga, em grande parte composta de mulheres, que lutam bravamente contra o EI e outros militantes islâmicos.

De acordo com a Síria Deeply, quase um terço dos combatentes do braço armado do Partido da União Democrática (em curdo o PYD) são mulheres. Mulheres curdas têm lutado contra os turcos há décadas, e desenvolvendo um gosto particular pela luta contra os jihadistas, dado as atitudes extremamente opressivas deste último em relação às mulheres. Uma dessas militantes diz: “Eu acredito em uma causa maior, que é proteger nossas famílias e as nossas cidades da brutalidade e pensamentos sombrios dos extremistas …. Eles não aceitam as mulheres em cargos de liderança. Eles querem nos cobrir e nos transformar em donas de casa, só para atender suas únicas necessidades. Eles acham que não temos o direito de falar e controlar nossas vidas.”

Mas histórias de Malala e Mariam al-Mansouri, são aberrações em um mundo em que os papéis das mulheres ainda são profundamente circunscritos. Seria um erro sugerir que a corrente de luta é pró-mulher versos anti-mulher, uma vez que alguns membros da coalizão anti-EI são notórios por seus maus tratos às mulheres, como os sauditas, que ainda têm de conceder às mulheres o direito de dirigir ou qualquer tipo de poder político ou econômico real.

Mas reverter a propagação do extremismo e, finalmente, derrotá-lo, é o imperativamente estratégico e que não deve apenas orientar a nossa batalha contra o EI, mas também contra todos os outros grupos extremistas, como o Boko Haram que sequestrou centenas de meninas. Apenas parte do problema é derrotar os combatentes jihadistas armados que enfrentamos no campo de batalha.

Como o economista Larry Summers escreveu, “investimento na educação das meninas pode ser o maior investimento de retorno disponível no mundo em desenvolvimento.” É por isso que a questão é tão central para os objetivos de desenvolvimento do milênio das Nações Unidas. Mas para realmente garantir que as questões das mulheres sejam tratadas de forma justa, é preciso a concessão de voz política representativa para elas, bem como garantir a proteção igual perante a lei. Nenhuma dessas coisas é possível nas ideologias extremas adotadas por grupos jihadistas, nem são possíveis nos chamados ambientes “moderados” de alguns dos aliados dos Estados Unidos na guerra contra o EI. Promover um tratamento justo para as mulheres, desfazer séculos de opressão, educá-las e dar-lhes oportunidade econômica, é a única maneira de negar um apoio futuro para as pessoas com pontos de vista extremos e marginais perigosos, e, ao mesmo tempo, fazer o que é certo interessa a longo prazo os países em questão.

Dar oportunidades e mais poder às mulheres desfaz séculos de injustiça e enriquece as sociedades. Mas pode desempenhar um papel vital também para ajudar a derrotar algumas das organizações mais perigosas hoje em dia. É por esta razão que esses grupos estão tão assustados com uma adolescente como Malala ou pelo progresso que representa mulheres que lutam contra o extremismo no Oriente Médio. Elas são o tipo de mudança que pode relegar permanentemente as filosofias e práticas medievais de grupos como o Estado Islâmico ao monte de cinzas da história, onde é o lugar deles.

*DAVID ROTHKOPF, para o WASHINGTON POST.

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