Os países da América Central e do Caribe continuam sendo estratégicos como rotas do tráfico de droga para o norte e do contrabando de armas para o sul. As denúncias do envolvimento de autoridades com o narcotráfico é um fator que torna mais difícil qualquer mudança política ou socioeconômica na região, além de desencadear novos ataques à imprensa que traz à tona os escândalos. O jornalista Enrique Salazar foi demitido da emissora de TV Red Uno na última quarta-feira (20/5), após discutir, ao vivo, com autoridades do atual governo sobre a produção de cocaína na região de Cochabamba, zona eleitoral do presidente Evo Morales. De acordo com o El Comercio, o repórter lamentou que a Bolívia não seja produtora de trigo, mas sim de cocaína. A atual Ministra da Comunicação, Marianela Paco, ouviu o comentário no programa “One Red” e pediu explicações ao jornalista. Salazar e a ministra iniciaram uma discussão, que terminou com insultos à autoridade. Após a repercussão do caso, a emissora informou a rescisão do contrato do jornalista por má conduta profissional.
Na Venezuela, o regime de Hugo Chávez, chefiado desde sua morte por Nicolás Maduro abriga um dos maiores cartéis de drogas do mundo. Desde que militares colombianos capturaram o laptop de um líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), há oito anos, é fato sabido que Chávez deu refúgio a narcoguerrilheiros colombianos e permitiu a eles traficar cocaína da Venezuela para os Estados Unidos com a ajuda do Exército venezuelano. Mas quando um ex-segurança de Chávez, Leamsy Salazar, desertou para os EUA, em janeiro, a escala do que é conhecido como o cartel de Los Soles começou a ficar publicamente conhecida.
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Leamsy Salazar vem cooperando com procuradores federais americanos que estão montando um caso criminal contra vários generais e funcionários de alto escalão do governo venezuelano, incluindo o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello. Um extenso relatório no Wall Street Journal na semana passada afirmou que o cartel de Cabello havia transformado a Venezuela num “centro de distribuição global do tráfico de cocaína e de lavagem de dinheiro”. Um dia depois da chegada de Salazar a Washington, o jornal espanhol ABC publicou uma matéria detalhando o caso emergente contra Cabello e, no mês passado, o repórter Emili Blasco, do ABC, deu sequência com um livro expondo as afirmações de Salazar e de outros desertores segundo os quais o regime comunista de Cuba e a milícia libanesa Hezbollah estão conectados ao tráfico.
Cabello respondeu com a tática mais familiar do regime: um ataque à imprensa. Ele moveu ações por difamação contra 22 jornalistas de três organizações noticiosas venezuelanas que publicaram matérias sobre a reportagem de Blasco, incluindo El Nacional, o único jornal venezuelano que restou no país. No começo de maio, um juiz aplicou a pena que Cabello buscava sem se dar o trabalho de fazer um julgamento, em uma demonstração de que o regime se apropriou do Judiciário. Os jornalistas críticos do governo foram proibidos de deixar o país e têm ordens de comparecer semanalmente ao tribunal. Além da repressão à mídia independente, o governo autoritário da Venezuela mantém aproximadamente 70 prisioneiros políticos – entre os quais o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e o importante líder da oposição Leopoldo López – e é acusado por grupos de defesa dos direitos humanos de detenções ilegais e tortura.
*Informações do Portal IMPRENSA, El País, Estadão e Último Segundo.