Em uma iniciativa inédita no país, o Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo –, que mantém o Observatório da Imprensa, lançou o Atlas da Notícia. O Atlas integra o projeto Grande Pequena Imprensa (GPI), idealizado em 2013 pelo jornalista Alberto Dines para capacitar veículos de imprensa regionais e locais. Agora, o grupo quer mapear os veículos jornalísticos voltados à produção, ainda que esparsa, de notícias de interesse público em todas as regiões do país. O período de colaboração vai até o dia 30/09/2017.
Estão convocadas empresas jornalísticas, associações, universidades, sindicatos, profissionais da área e até consumidores de notícias a ajudarem na construção de um banco de dados que mostrará como estão distribuídos os veículos produtores de jornalismo no território nacional. Para colaborar, basta acessar o formulário pelo site, identificando o nome da organização, a cidade onde se localiza sua sede, o estado e certas especificações como segmento principal e endereço eletrônico. Antes de preencher, é possível acessar a lista para saber quais veículos já foram acrescentados.
“Estamos falando de produtores de notícias sobre a prefeitura e a câmara municipal e temas como contas públicas, saúde, educação, segurança, mobilidade e meio-ambiente”, enfatiza Angela Pimenta, presidente do Projor. Segundo ela, o panorama a ser traçado permitirá compreender de que forma a combinação da crise econômica com a chamada revolução digital afeta o ofício de apurar e publicar notícias no interior do Brasil, “país de desigualdades e injustiças históricas e de uma democracia ainda jovem”.
Quem também destacou a ligação umbilical entre jornalismo e democracia foi o seu colega de Projor, o jornalista Eugênio Bucci. No artigo intitulado “Por que jornalismo”, publicado na edição 1.000 da revista Época, Bucci ressalta que a democracia ainda está em construção e, para que permaneça, cresça e se difunda, depende do vigor da imprensa, dos jornalistas profissionais e das redações independentes. “A democracia não está aí desde sempre. Ao contrário, ela é uma invenção muito recente. Não tem mais de dois séculos”. Para ele, só a imprensa vacina uma sociedade contra as mentiras do poder. “Não é sem motivo que Trump, Putin e Erdogan precisam disparar tantas ofensas contra os órgãos de imprensa que insistem em criticá-lo”.
Metodologia
Para entender o panorama da imprensa local e regional, o Projor estabeleceu parceria com o jornalista Sérgio Spagnuolo, do Volt Data Lab, autor do projeto A Conta dos Passaralhos, uma investigação pioneira e rigorosa sobre as demissões de jornalistas nas principais redações do país desde 2012. A metodologia do projeto é baseada, principalmente, na contabilização de veículos de notícia no Brasil, seja através de pesquisa própria como de colaboração de terceiros. Eles esperam que o Atlas produza informações úteis para jornalistas, empresários de mídia, pesquisadores acadêmicos, financiadores e profissionais do terceiro setor, permitindo a geração de novas ideias e estratégias capazes de fortalecer a imprensa local e regional.
Nesta primeira fase do Atlas da Notícia, os organizadores frisam a importância da ajuda dos leitores para identificar os veículos, sejam impressos ou digitais, e com periodicidade diária, semanal ou quinzenal. A ideia é também identificar casos de sucesso – uma espécie de oásis da notícia – “que encorajem e sirvam de modelos a serem replicados e de inspiração à grande pequena imprensa”.
O mapeamento, cuja inspiração foi o projeto America’s Growing News Deserts, da revista Columbia Journalism Review, propõe a realização de um estudo amplo para a criação de um banco de dados, de um mapa, de gráficos e, finalmente, de um estudo compreensivo sobre os vazios jornalísticos no Brasil, levando em conta principalmente um levantamento quantitativo.
As informações serão, então, estruturadas e avaliadas pelos organizadores, a fim de garantir a veracidade, a precisão e a padronização dos dados. A agência Volt Data Lab é responsável pela validação das informações, pela estruturação do banco de dados e pela construção da plataforma. Os dados e códigos do projeto serão abertos após a conclusão da plataforma, servindo de fonte para estudos acadêmicos e outros tipos de pesquisa sobre a imprensa brasileira.