Notícias

Retrospectiva: Principais fatos que mobilizaram o Brasil e o mundo em 2013

O Brasil entrou 2013 em destaque na imprensa mundial como um dos cenários paradisíacos na economia, frente à crise nos mercados norte-americanos e europeu. Ao longo do ano, teve destaque nas capas dos jornais de todo o mundo. O país naturalmente já ganharia mais visibilidade internacional, uma vez que se prepara para receber dois dos maiores eventos esportivos internacionais, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016. Mas, se a construção dos estádios e da infraestrutura para o Mundial de futebol era um destaque previsto nos noticiários, o episódio de espionagem contra o Brasil, a repressão aos protestos de rua, a violência contra profissionais da imprensa e as condenações de parlamentares por crime de corrupção foram alguns dos temas mais tratados pela mídia brasileira, com repercussão mundial.

Dentro e fora do Brasil, este foi o ano em que milhares de pessoas tomaram as ruas em junho para protestar contra, entre outras coisas, os gastos nos preparativos para a Copa e o preço das passagens no transporte público. O país viveu uma explosão de agressões contra profissionais ligados à cobertura dos protestos. Pelo menos 70 dos 113 casos de agressão registrados teriam sido intencionais. No final do ano, a organização Repórteres Sem Fronteira (RSF) divulgou um levantamento em que registra o assassinato de cinco jornalistas no Brasil, o mesmo número de 2012.

Merece destaque o trabalho da Comissão da Verdade, criada para reconstruir a verdade sobre as violações dos direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988, em especial o período da ditadura militar de 1964 até a constituição de 1988. A atuação das comissões estaduais possibilitou a exposição pública de uma série de documentos que ajudaram a aprofundar a compreensão sobre a história brasileira e, principalmente, reforçar as lutas que marcaram a consolidação do regime democrático no país.

Este ano, a África do Sul e o mundo perderam Mandela, o ex-presidente que levou a reconciliação ao país marcado pelo apartheid – regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul.

Confira abaixo um top 10 com os principais fatos que mobilizaram o Brasil em 2013:

1. Protestos

Em junho deste ano, os protestos no Brasil inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público, principalmente em Manaus, Fortaleza, Natal, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. As manifestações ganharam o apoio popular após a forte repressão policial contra as passeatas. Foram as maiores mobilizações no país desde as manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992.

Em resposta, o governo brasileiro anunciou várias medidas para tentar atender às reivindicações dos manifestantes e o Congresso Nacional votou uma série de concessões, como ter tornado a corrupção como um crime hediondo, arquivando a chamada PEC 37 e proibido o voto secreto em votações para cassar o mandato de legisladores acusados de irregularidades. Houve também a revogação dos então recentes aumentos das tarifas nos transportes em várias cidades do país, com a volta aos preços anteriores ao movimento.

2. Violência contra profissionais da imprensa

Em 2013, o Brasil viveu uma explosão de agressões contra profissionais ligados à cobertura dos protestos pelo aumento das passagens de transporte público e o superfaturamento das obras da Copa do Mundo de 2014. Um levantamento divulgado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) revelou que jornalistas foram agredidos principalmente por policiais durante os protestos que marcaram o país em 2013. Pelo menos 70 dos 113 casos de agressão registrados teriam sido intencionais. Entre os episódios de agressão deliberada, 78,6% foram provocados por forças de segurança.

Em seu relatório anual sobre crimes contra a liberdade de imprensa, a organização Repórteres Sem Fronteira (RSF) registra o assassinato de cinco jornalistas no Brasil, o mesmo número de 2012. O país liderou a lista do continente quanto à repressão policial, com mais de uma centena de agressões contra jornalistas. Apesar de ter deixado a lista dos cinco piores países do mundo para o exercício da profissão de jornalista, não houve melhora nos índices de violência. Entre os principais cenários onde os jornalistas foram mortos, Brasil e México saíram da lista dos cinco piores, sendo substituídos por Índia e Filipinas, somadas à Síria, Somália e Paquistão.

Já no Iraque, às vésperas do Natal, cinco jornalistas morreram em um ataque lançado por quatro terroristas suicidas contra uma emissora de televisão local em Tikrit, ao norte de Bagdá, enquanto forças militares iraquianas atacavam acampamentos da Al-Qaeda no oeste do país. Em menos de três meses, nove jornalistas, incluindo cinco em Mossul (ao Norte), foram mortos no Iraque.

3. Punição a políticos corruptos

O ano de 2013, o primeiro após o início do julgamento do mensalão, foi o período em que o Supremo Tribunal Federal (STF) mais julgou e mais abriu ações penais contra políticos em toda a sua história. Nunca tantos congressistas estiveram sob a mira da Justiça. O número de processos do gênero abertos contra políticos no Supremo cresceu mais de seis vezes e a quantidade de ações penais julgadas pela Corte quadruplicou em comparação com todo o ano de 2012. O aumento de novas ações penais está diretamente associado ao julgamento e, também, ao ano de manifestações e pressões políticas da sociedade, como os protestos contra a PEC 37, que retiraria os poderes de investigação do Ministério Público (MP).

Entre as acusações que recaem sobre os parlamentares, há desde crimes graves como corrupção e envolvimento com o narcotráfico até denúncias relativas a irregularidades – por vezes, de caráter formal – em campanhas eleitorais. Mesmo com o julgamento do mensalão, o Brasil continuou no mesmo patamar no ranking de percepção de corrupção da ONG Transparência Internacional, divulgado no início de dezembro. O País ganhou a nota 42, em uma escala que vai de zero (mais corrupto) a 100 (menos corrupto), no Índice de Percepção de Corrupção (IPC).

4. Comissão da Verdade

A Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog – constituída pela câmara municipal de São Paulo para rever e investigar casos e crimes da ditadura – divulgou ontem (10) um documento com evidências de que o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) foi assassinado durante viagem de carro na rodovia Presidente Dutra, e não morto em um acidente, como registra a história oficial. No documento, a comissão afirma que Kubitschek foi vítima de um complô orquestrado pelo regime militar (1964-1985). O relatório de 29 páginas reúne 90 indícios, “evidências, provas, testemunhos, circunstâncias, contradições, controvérsias e questionamentos” que concluem que a morte do ex-presidente não foi acidente.

Na Bahia, depois da audiência pública na cidade de Feira de Santana, a Comissão Estadual da Verdade ouviu, em Salvador, o então prefeito da capital no ano de 1964, Virgildásio Senna, preso durante o regime militar por 60 dias. Coordenada pela Comissão Estadual da Verdade, a Audiência Pública ouviu oito pessoas que foram alvo de repressão do regime militar instaurado no país.  A Comissão foi criada para reconstruir a verdade sobre as violações dos direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988, em especial o período da ditadura militar de 1964 até a constituição de 1988.

5. Espionagem

Em junho deste ano, um ex-colaborador da Agência Nacional de Segurança (NSA) de apenas 29 anos criou um imbróglio diplomático para o governo dos Estados Unidos. Edward Snowden revelou um esquema de espionagem no qual os EUA bisbilhotaram até o telefone da presidenta Dilma Rousseff. A presidente fez um discurso indignado durante a Assembleia-Geral da ONU, em que afirmou diante de uma plateia de chefes de Estado que as ações de espionagem dos Estados Unidos no Brasil “ferem” o direito internacional e “afrontam” os princípios que regem a relação entre os países.

Já em dezembro, o caso voltou aos holofotes internacionais quando o pivô do escândalo divulgou um documento intitulado “Carta Aberta ao Povo do Brasil”, em afirma que muitos senadores brasileiros pediram sua ajuda na investigação do Congresso sobre a suposta espionagem americana contra cidadãos brasileiros.

Por unanimidade, a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou a proposta de Brasil e Alemanha sobre “O Direito à Privacidade na Era Digital”. O projeto, que estende a sites da internet o direito à privacidade, não prevê punição para quem descumprir orientações que protegem privacidade, mas tem peso político de ter sido apoiado pelos 193 membros da ONU.

6. Oposição se divide

Durante as manifestações de junho, a presidente Dilma Rousseff viu sua alta popularidade encolher em questão de dias. Ela já reverteu boa parte das perdas, mas o cenário ganhou tons mais surpreendentes em outubro deste ano, com o anúncio da aliança entre Marina Silva e Eduardo Campos, dois ex-ministros do governo petista. Marina, ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, já havia saído a grande novidade das eleições em 2010, quando ficou em terceiro lugar com mais de 20 milhões de votos, então pelo Partido Verde.

Após desentendimentos, Marina deixou o PV e passou a militar pela criação da Rede Sustentabilidade, um novo partido. A Rede não conseguiu validar o número mínimo de assinaturas para se efetivar como partido e teve sua criação barrada. Marina anunciou em outubro sua filiação ao Partido Socialista Brasileiro, o PSB, do governador pernambucano Eduardo Campos. Embora a oposição tenha já posto o batalhão na rua, Dilma recuperou parte da popularidade, com pesquisas apontando para seu favoritismo em 2014.

7. Economia patina

O Brasil virou alvo de desconfiança dos mercados em 2013.  Após o “PIBinho” de 2012, quando o país cresceu apenas 0,9%, a promessa do governo era a de que o país teria um resultado mais vigoroso neste ano. Não chegou a tanto, mas o resultado para 2013 chega a 2,3% – resultado que não é uma tragédia, mas que está longe dos 7,5% de 2010. Além da desaceleração, o governo viu picos de elevação da inflação, que ao fim deve fechar dentro do teto meta de 6,5% em 2013. Também houve ao descompasso das contas públicas, com excesso de gastos do governo. Apesar dos números pouco promissores, o desemprego chegou ao nível mais baixo da história. Em dezembro, o índice de desocupação era de apenas 4,6%.

8. Mandela

2013 foi o ano em que a humanidade se despediu do ex-presidente que levou a reconciliação à África do Sul, Nelson Mandela, morto aos 95 anos, em Johannesburgo, por complicações pulmonares. A imprensa mundial homenageou o principal representante do movimento antiapartheid e destacou sua trajetória contra o racismo. Mandela lutou contra o domínio branco como um jovem advogado e foi condenado por traição em 1964. Ele passou os próximos 27 anos na prisão. Mas foi através de sua vontade de perdoar seus carcereiros brancos que Mandela deixou sua marca indelével na história.

9. Incêndio em Santa Maria

O Brasil acordou mais triste no domingo 27 de janeiro. Dezenas de bombeiros ainda trabalhavam no resgate de vítimas do incêndio na boate Kiss em Santa Maria, no centro do Rio Grande do Sul. A tragédia, que deixou 247 mortos e mais de cem feridos, é o segundo maior incêndio do Brasil, estando atrás apenas do incêndio ocorrido em 17 de dezembro de 1961, no Gran Circo Americano, em Niterói (RJ), em que 503 morreram. A investigação mostrou que o incêndio teve início com o uso de fogos pirotécnicos por parte da banda Gurizada Fandangueira. Os integrantes do grupo e os donos da boate foram indiciados por homicídio doloso.

10. Estupro de turista no RJ

A pouco mais de um ano da Copa do Mundo, o estupro de uma turista americana de 21 anos no Rio de Janeiro, em março deste ano, colocou em evidência o estado de insegurança nas cidades brasileiras. A mídia americana repercutiu com detalhes o caso, através de sites como “USA Today” e “The Christian Science Monitor”, além do jornal “The Wall Street Journal” e da emissora de TV “CNN”. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) condenou os três homens suspeitos pelos crimes de roubo majorado, estupro e extorsão.

Com informações da BBC Brasil, Folha de S. Paulo e G1.

publicidade
publicidade