Consuelo Pondé – Diretora da ABI
Em primeiro lugar, desejo cumprimentar a museóloga Sylvia Menezes Athayde por mais uma exposição memorável. Pela exposição em si e também pelo precioso “folder”, o que demonstra o apuro e o bom gosto da “curadora” daquele Museu, sempre meticulosa e precisa.
Por que os baianos de hoje não valorizam uma realização cultural dessa natureza? Com toda certeza, em qualquer cidade do Sul do Brasil a exposição estaria “bombando”. Mas, minha gente, ainda está em tempo de apreciá-la, pois a mostra está aberta ao público, no Museu de Arte da Bahia (Vitória) até 16 de setembro.
Tudo que vem acontecendo nesta terra do Senhor do Bonfim está me parecendo muito diverso do que ocorria no passado. Certo que existem outras “atrações” a convocar as pessoas para os mais diversos eventos. Os mega shows conseguem reunir um imenso número de “pagantes”, que, de pé, pulam a noite inteira durante os tais espetáculos, sem contar com o tempo de espera nas bilheterias e nas filas de acesso a esses divertimentos.
Por isso mesmo, parece-me muito estranho que não se dê mais valor às belas manifestações artísticas do passado, não se procure conhecer as obras de arte da Bahia, muito especialmente de dois grandes mestres da pintura baiana e brasileira, reunidos, na mesma oportunidade, para que possa apreciar a grandeza de suas obras. O mesmo se pode dizer de referência às orquestras, que se apresentam na Catedral Basílica aos domingos.
O que está acontecendo com a Bahia? Será que só existe tempo e lugar para basbaquices? Futilidades, violência, bandas musicais, futebol, pagodes de baixo nível, e outros “muquifos”?
Voltando ao objeto dessas considerações, vale lembrar que tanto João quanto Manoel Lopes Rodrigues deixaram um legado de extraordinária importância para as artes no Brasil. O primeiro artista, João Francisco Lopes Rodrigues, nasceu em Salvador a 19 de dezembro de 1825, tendo falecido a 11 de outubro de 1893. De seu casamento com Isabel Teixeira Machado nasceram seis filhos, tendo um deles, Manoel, seguido a carreira artística do pai, de quem herdou a vocação para a pintura.
João Francisco foi aluno da aula pública de desenho, frequentou o atelier de Teófilo de Jesus, ensinou no Liceu de Artes e Ofícios, em colégios e casas particulares. Foi professor da Escola de Belas Artes, de 1877 a 1893, “desenhador da repartição de Obras Públicas da Província da Bahia, em cujo cargo se aposentou. Também auxiliou o pintor Miguel Navarro y Canizares, tendo sido um dos fundadores, em 1877, da Academia de Belas Artes da Bahia.
Quanto a Manuel Lopes Rodrigues nasceu em Salvador aos 31 de dezembro de 1859 e faleceu aos 22 de outubro de 1917. Foi aluno de desenho e pintura do próprio pai, mas precocemente, aos 17 de anos, foi nomeado professor da 1ª classe de desenho do Liceu de Artes e Ofícios, prosseguindo na mesma função, no ano seguinte, com a fundação da Escola de Belas Artes. Recebeu várias medalhas de ouro e prata pelos seus extraordinários trabalhos.
Teve mais oportunidade de crescer do que o seu genitor, pois, em 1882 seguiu para o Rio de Janeiro para fazer Curso Superior de Belas Artes, mantendo-se na antiga capital do Brasil até 1885. Além disso, recebeu apoio de ilustres baianos, tais como, Luís Tarquínio, José Augusto de Figueredo e Joaquim da Costa Pinto. Depois, recebeu ajuda do Imperador, D. Pedro II, tendo obtido recursos para estudar em Paris, em 1895.
Na Capital da Luz frequentou a Escola de Artes Decorativas, sendo discípulo de Rafael Collin. Ingressou, em seguida, na Escola Superior de Belas Artes, tendo como mestre dois consagrados artistas: J.B. Lefebvre e Robert Fleury. Teve a sorte de ser contratado pela “Union Française de Jeunesse”, sustentada pela Municipalidade de Paris, sendo-lhe ainda confiado o curso misto de desenho (modelo vivo), em cuja instituição foi premiado com duas medalhas pelos relevantes serviços.
Ainda lhe foi dada a oportunidade de permanecer durante dez anos na Europa, onde visitou a Holanda, a Bélgica e a Itália, com o privilégio de estar na Academia de São Lucas, em Roma. Durante o período republicano foi contemplado com subsídios do governo, graças à iniciativa de Rui Barbosa, recebendo a pensão de seis mil francos anuais, ajuda extinta em 1894.
Com o propósito de renovar essa ajuda, voltou ao Rio de Janeiro, retornando à Europa no ano seguinte. Estava em Roma quando recebeu a incumbência de pintar uma alegoria relativa à República, a ser colocada no Palácio do Governo. A encomenda orçava em três mil francos, excelente para aquele crucial momento do artista, desde quando fora suspensa a pensão governamental, que recebia desde 1889.
Fez o caminho de volta para a Bahia em 1896, tendo sido, imediatamente, nomeado professor de desenho e pintura da Escola de Belas Artes. Entre seus discípulos estavam os consagrados pintores: Presciliano Silva e Alberto Valença. Faleceu nesta Cidade do Salvador aos 57 anos, no dia 22 de outubro de 1917.
As obras desses dois grandes mestres da pintura baiana estão à disposição dos interessados em Arte, sendo de advertir que, dentre muitos quadros expostos estão alguns de propriedade particular, razão pela qual a exposição deve, obrigatoriamente, ser visitada. Afinal, quem sabe se haverá outra oportunidade de apreciar tão belos quadros de tão insignes pintores?
Acho que esta é a oportunidade de apreciar as belezas produzidas pelos renomados baianos e por todos os cultores das Belas-Artes.