Blog das vidas

UM DOMINGO DE LUTO

Por Florisvaldo Mattos

Acabo de receber a triste notícia de que faleceu, nesta madrugada, o amigo Isidro Duarte (Isidro Octávio do Amaral Duarte), advogado, procurador e poeta, de quem fui colega na Sucursal do Jornal do Brasil, de 1968 a 1975, quando abandonou a atividade de jornalista para exercer o cargo de secretário de Comunicação, do recém-eleito governador Roberto Santos.
Depois, diplomado em Direito, Isidro Duarte preferiu assumir a carreira de advogado e de procurador jurídico, sem deixar de ser um espírito voltado para a cultura em geral, especialmente para a literatura, a poesia e as relações de amizade sincera centrada nos altos princípios que regem o humanismo na sociedade.

Como poeta ainda inédito, por mais de uma vez me confessou a intenção de publicar a coletânea de poemas, expressa em sonetos, que redigira e juntara, no firme pensamento de publicá-los, em livro, o que acabou por não acontecer, talvez por estar sempre imergido na vaga dos afazeres profissionais, do dia a dia.
Que o grande amigo Isidro Duarte, exemplo maior de fraternidade, sinceridade e honradez, descanse em paz, com a bênção dos astros!
ADEUS, AMIGO!

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ABI BAHIANA

Edital AGE – Eleições 2022-2025

A próxima diretoria da ABI será eleita numa Assembleia Geral Extraordinária, no próximo dia 30 de novembro, conforme Edital de Convocação assinado pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral, Walter Pinheiro. Será a primeira eleição sob a vigência do novo Estatuto, com inovações, como o limite para a recondução à presidência da entidade, mandato de 3 anos e mais espaço para as representações regionais.

Assim como na assembleia eleitoral de 2020, quando foi eleita a atual diretoria e não restava outra possibilidade de reunir pessoas, a não ser por videoconferência, a Assembleia Geral Extraordinária para realização das eleições para o triênio 2022-2025 também permitirá a participação remota.
Em formato híbrido – presencial, no Auditório Samuel Celestino, na sede da ABI, ou por videoconferência, poderão participar associados admitidos até 60 dias antes da publicação do Edital e que estejam quites com suas obrigações estatutárias.

As pendências financeiras ou de atualização cadastral poderão ser resolvidas na Secretaria da entidade, na sede, ou pelo email <[email protected]>. O mesmo endereço deve ser usado por associados que optarem pela participação remota. Nestes casos, será enviado um link-convite pessoal e intransferível, e a participação somente será validada se com câmera e microfones abertos.

Com a publicação do Edital de Convocação, nesta sexta-feira, 14 de outubro, inicia-se o prazo para inscrição de chapas, que se estende até o dia 28/10.

Confira abaixo o Edital da AGE:

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Literatura

Morfologias

Por Florisvaldo Mattos

“Sólo una cosa no hay. Es el olvido.”

(Jorge Luis Borges)

Acordo e me persegue um sonho de outras eras.
Há douta arquitetura, um palco, galerias.
Eu, eles, ela; à luz, a própria plateia encena.
Se por escadarias com armas descem outros,
e logo espadas agem rudes, não os culpem;
sou o autor do drama onde tudo se repete.

Peripécias talvez, reflexos de tumulto
secreto, que me infundem rosto deslumbrante,
esbelto corpo ou sol movido a passos ágeis,
começo a escrever, as palavras embaralham.
Quase percebo, tudo vem de muito longe:
uma cena, um poema, uma página, um palanque,
ou somente uma sala, uma rua, uma avenida,
que se estendem por infinitos horizontes.

Houve, sim, existiu; porém (sei, de antemão),
não houve carta, escrito, que alertasse o risco
de ignotas linhas onde reluzem punhais
expectantes. É o tempo aqui relendo a história.
Por entre abismos, labirintos circulares,
tudo vai e volta, o que foi ouro vira areia;
celebrada manhã, troféu de juventude,
cor em desamparada harmonia ou escusa
forma do tempo perseguida pelo amor;
de sonho a beleza transmuda-se em terror,
ou apenas voz de estranhas morfologias,
muda viagem do ser por órbita e penumbra,
com impassível mover de rio silencioso,
me abisma e me acorda, hoje sombra vespertina.

Muda vieste, pisando o chão de luares vastos,
e chegaste, com mãos de seda em instante agro,
para me ver, tocar ou descobrir meu rosto.
És tu, sim, a mesma do remoto tropel,
com que o tempo voraz lançou seu veredicto.
Vieste, escancaraste as cortinas, chegaste,
para apalpar minha face, sentir-me inteiro,
na tarde que se esvai. Não adianta, estou morto.

Vão-se os atores, o palco restou deserto.
Curvo, releio o texto escrito em outras eras.

(Florisvaldo Mattos. SSA-BA, madrugada de 29 out. 2007; IN “Poesia Reunida e Inéditos”, p. 341, 2011)

________

*Florisvaldo Mattos é professor, jornalista, poeta, diretor da ABI e membro da Academia de Letras da Bahia. Contato: [email protected]

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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Literatura

Outono

Aloísio da Franca Rocha Filho

eis o outono passante
de sol, de lua brilhantes
seus tempos arrastam cores
suas cores atraem amores
nos céus de Kirimurê…
tempo espaço finito
do tempo espaço infinito
outono de todos os anos
como a física dos astros
explode em silêncio
imagens…
destroços transcendentes
de rara beleza… de tantos mistérios…
a razão roga explicação sem
os sentidos fruem a sedução
dos céus de Kirimurê…
metamorfose das cores
matizes do amarelo
se despedaçam
o amarelo sangra
enquanto imagens nascem
em instantes…
imagens morrem
em instantes…
daqui de Salvador
vi O Sono de
Salvador Dalí levado por
um pássaro de uma única asa
ele cruza nuvens que dançam…
se encostam… se abraçam…
se separam…
a todo instante
a todo agora
agora não mais
quem viu, viu
quem não viu, não mais verá
essas imagens únicas
sucessão dos hic et nunc
ensaiam o ritual da despedida
do incandescente sol
lento ruma para seu túmulo
morrer bem no seio da ilha de Itaparica
sem levantar uma única poeira
um cisco sequer…

Foto: Aloísio da Franca Rocha Filho

e

antes do raiar da aurora
a dicção das estrelas diz
é noite ainda e a lua
já lançava seu rosto narcísico
seus cabelos prateados
flutuavam antes do mergulho fatal
nas águas de Kirimurê
por trás da ilha de Itaparica
sem salpicar um único pingo
Iemanjá… os Orixás… Todos os Santos…
em sagrado ritual
e reverências lhe recebem
com cantos e danças…

e

enquanto o horizonte crepuscular do
universo segue magnificamente
belo e harmonioso
na Terra dos homens
ele destrói florestas
faz guerras, genocídios
homem, por que não ser mais natureza?
por que não ser mais animal?
para ser Homem mais humano?

_______

*Aloisio da Franca Rocha Filho é professor e jornalista; ex-diretor da Associação Bahiana Imprensa (ABI)
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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