Nelson Cadena*
Antes de ser advogado, jurista, político, ensaísta, diplomata, Ruy Barbosa foi jornalista. Continuou jornalista durante toda sua trajetória profissional e, falecido em 1º de março de 1923 – o seu centenário transcorre na próxima quarta-feira – recebeu as homenagens da imprensa de todo o Brasil, nas edições do dia seguinte e de seus profissionais, os repórteres, no translado do corpo, até a estação de trem de Petrópolis onde embarcou para a capital do país. Seguraram nas alças do caixão: Pedro Thimoteo do Jornal do Brasil; Guimarães Junior do Jornal do Commercio; Franklin Palmeira da Gazeta de Notícias; Alfonso Várzea de O Paiz; Mário Magalhães de A Noite; Vicente Medeiros de O Dia; J. Medeiros de O Combate e Paulo Cleto de A Pátria.
Ruy estreou na imprensa acadêmica, digamos alternativa, com apenas 20 anos, cursando o segundo ano da faculdade de Direito de São Paulo. Fundou com Luiz Gama, Bernardino Pamplona, Benedito Otoni e Américo de Campos, o Radical Paulistano, cuja linha editorial preponderante era a defesa dos escravizados. Mais tarde fundo O Ypiranga. Estreou na grande imprensa, em 1872, tinha 23 anos, como redator do Diário da Bahia, um ano após sua estreia no júri como advogado. Três anos depois assume a direção do jornal. A pauta em defesa do elemento servil, através da série de artigos que titulou de “Conscrição e pelos escravos” teve tamanha repercussão que a tipografia do Diário editou folhetos com os artigos, a venda revertida em favor do fundo de emancipação.
A sua produção jornalística não tem parâmetro de laudas, caracteres, qualquer medida que possamos cogitar. Foram alguns milhares de artigos publicados, em mais de meio século, como redator e editorialista nos jornais: Radical Paulistano, O Ypiranga, Diário da Bahia, Jornal do Commercio, Revista da Liga do Ensino, O Imparcial, Gazeta da Tarde, Correio da Manhã de Lisboa, O Paiz, Diário de Notícias, Jornal do Brasil, A Imprensa, dentre outros. Dos três últimos foi sócio proprietário. Em 1889 adquiriu o quase falido Diário de Notícias em sociedade com Luiz de Andrade, diretor da Revista Ilustrada e Antônio Azeredo, ex-proprietário de A Tribuna; em 1893 adquiriu o também quase falido Jornal do Brasil, em sociedade com Joaquim Lucio de Albuquerque Mello, dentre outros.
Em 1898 fundou A Imprensa. Escreveu editoriais diários durante três anos, até 1901, as vezes dois a três editoriais por edição e outros, periodicamente, durante a gestão de Alcindo Guanabara, na segunda face do jornal. Foi através da imprensa que Ruy Barbosa divulgou o seu ideário e se transformou no maior polemista de seu tempo, debatendo com outros grandes escribas, as mais relevantes temáticas de ordem jurídica, política, diplomática e até linguística.
Na sua estreia como editorialista nos maiores jornais do país afirmou os seus princípios. Declarou “O Paiz” afinado com “as ideias mais progressistas de nossa época”; no Jornal do Brasil, onde fez oposição ao presidente Floriano Peixoto que ordenou sua prisão “Vivo ou morto”, se declarou “constitucionalista e legalista”; no Diário de Notícias ergueu a bandeira da “federação imediata” confrontando outros chefes liberais; em A Imprensa afirmou o privilégio da Constituição e não das individualidades: “As imunidades parlamentares não são apanágio das pessoas, mas propriedade da nação e defesa sua”.
A morte de Ruy foi manchete em todos os grandes jornais do país, que exaltaram a sua genialidade e a sua áurea midiática como bem ressaltou no seu necrológico o Jornal do Commercio: “Poucos homens na era moderna gozaram em tempo assim tão largo de admiração popular”.
[Texto originalmente publicado no Jornal Correio* em 23 de fevereiro de 2023]
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