ABI BAHIANA

Acervos da ABI auxiliam pesquisas de historiadores

Alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia (PPGH/UFBA) movimentaram a sede da Associação Bahiana de Imprensa, nesta terça-feira (31). Com a tutoria da professora Maria de Fátima Novaes Pires, a turma assistiu à apresentação “Ernesto Simões Filho, um articulador da Política Baiana entre 1909-1954”, projeto da mestranda Luana Quadros.

Foto: Catharine Ferreira

Os historiadores visitaram os equipamentos culturais da ABI e conheceram acervos valiosos que já auxiliaram outros pesquisadores, nos âmbitos local e nacional.

Quadros adiantou detalhes do projeto que aborda a vida política de Ernesto Simões Filho, fundador do jornal A Tarde, em 1912. Ranulfo Oliveira – um dos presidentes mais longevos da entidade, também foi citado como figura importante nas articulações do político baiano. A partir de 1917, Ranulfo fez parte da equipe do jornal, onde atuou como diretor até o seu falecimento.

O tour incluiu a Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, o Museu de Imprensa e o Auditório Samuel Celestino, onde estão guardados os acervos da Casa da Palavra Ruy Barbosa, antigo Museu Casa de Ruy Barbosa.

Foto: Catharine Ferreira

A idealizadora do encontro de hoje foi a professora Fátima Pires, que oportunizou aos estudantes escolherem espaços de pesquisa na capital baiana.

Luana Quadros conheceu a Biblioteca Jorge Calmon em abril deste ano e encontrou na ABI um acervo que permite maior compreensão do universo da imprensa baiana até os anos 1950. Além de destacar a importância das fontes de pesquisa, ela ressaltou que a autora Ângela de Castro Gomes, doutora em ciência política, oferece subsídios teórico-metodológicos para trabalhar os documentos do acervo privado de Simões Filho.

“Desde que eu cheguei aqui, tive contato com algumas informações relacionadas a Simões Filho, algumas delas que eu já tinha. Mas aqui tem muito conteúdo sobre a imprensa baiana”, observa a pesquisadora.

A professora Maria de Fátima guiou o debate entre os estudantes após a explanação de Luana Quadros e o grupo foi acompanhado pelo 1º vice-presidente da ABI, Luis Guilherme Pontes Tavares.

*Catharine Ferreira é graduanda de Jornalismo da UFBA e estagiária da ABI.

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Lydia Cacho discute o papel do jornalismo no combate à exploração sexual de mulheres e crianças

“A esperança é um ato político e pessoal”. A frase sintetiza a participação da jornalista e escritora mexicana Lydia Cacho nesta edição do Fronteiras do Pensamento. O evento realizado na noite desta segunda-feira (30/10), no Teatro Sesc Casa do Comércio, teve apresentação da jornalista e radialista Cristiele França e foi mediado pela jornalista e professora Malu Fontes. A conferência destacou a atuação do jornalismo da defesa dos direitos humanos, abordou censura, sexismo nas redações, corrupção e outros desafios enfrentados por Cacho em mais de três décadas.

Lydia é uma das vozes mais destemidas e incansáveis do jornalismo investigativo na América Latina. Ela acredita no poder da reportagem para promover mudanças sociais, e dedicou a vida a contar histórias de crianças e mulheres exploradas sexualmente. A jornalista de escrita visceral se negou a ser observadora distante e brigou para dar voz a pessoas silenciadas, por meio de narrativas que lançaram luz aos lugares mais sombrios da sociedade, onde as violações aos direitos humanos florescem.

Aos 23 anos, ela começou a escrever para jornais de Cancún sobre arte e cultura. Mais tarde, começou a investigar e expor a violência contra as mulheres, enfrentando censura, perseguições, tortura e ameaças de morte, depois de publicar sobre o envolvimento de políticos e empresários mexicanos na pornografia infantil. Ao longo de mais de 30 anos de carreira, a jornalista sobreviveu a atentados violentos, sendo obrigada a conviver com escoltas armadas.

Na conferência, ela contou sobre a primeira vez que teve uma arma apontada para sua cabeça. “A partir daquele momento, entendi até onde poderia chegar um agressor contra uma jornalista que se atrevia a contar uma história verdadeira.” Cacho relembrou a traumática experiência do sequestro que sofreu, mas também dividiu com a plateia inúmeros casos em que enfrentou o crime organizado e conseguiu colocar poderosos na cadeia.

“Conseguimos condenar pela primeira vez na história da América Latina um líder de uma rede criminosa de tráfico e exploração de meninas e meninos. Ele era um empresário hoteleiro multimilionário com hotéis na praia. Foi condenado a 113 anos de prisão por exploração sexual, pornografia infantil e infantil”, relatou.

Os desafios não a impediram de treinar casas de acolhimento de mulheres e a colaborar para a elaboração de leis contra o tráfico de seres humanos, pornografia infantil e violência contra mulheres no México, Guatemala, Colômbia, República Dominicana, Bolívia, Espanha, Afeganistão e Nicarágua. Ela é a fundadora e diretora do Centro de Atendimento Externo para Mulheres Maltratadas em Cancun, CIAM.

Cacho publicou 23 livros, dirigiu e apresentou a minissérie educativa sobre ética na infância Somos Valientes (2018) e foi produtora e roteirista da série documental Peace Peace Now Now (2021), ambas da Apple TV.

“Eu aprendi algo com meu professor de Criminologia há muitos anos. Ele nos ensinou que esperança é simplesmente acreditar que o futuro será melhor que o passado. Mas a esperança é construída a partir do compromisso individual”, refletiu a jornalista.

“A esperança não vem do céu nem está nas igrejas ou nos desejos que você envia ao universo. A esperança é um fato e um ato político e pessoal. Tem a ver com o que eu estou disposto a fazer para que o futuro deste país, desta comunidade, desta família, seja diferente do passado”.

Lydia Cacho, jornalista

A professora Malu Fontes, em uma de suas intervenções com dúvidas do público, falou da expressão “mexicanizacao”, ao se referir à crescente violência que assola o Brasil. Questionada sobre como o país pode lidar com o processo de narcotização, Lydia evocou as pessoas a reagirem e terem esperança. “Há muito poucos criminosos poderosos. A sociedade civil e os jornalistas são mais e as pessoas boas são mais do que as pessoas más”, afirmou.

Nesta terça, 31 de outubro, às 20h, será a vez do poeta baiano James Martins, colunista do Jornal Metropole, mediar a conversa entre a psicanalista Vera Iaconelli e o neurocientista e biólogo Sidarta Ribeiro participarem da conferência.

Vera Iaconelli, renomada psicanalista, mestre e doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo, é autora de obras influentes, como “Mal-estar na Maternidade” e “Criar Filhos no Século XXI”. É uma das vozes mais respeitadas quando se trata de questões de parentalidade e psicanálise. Ao seu lado estará Sidarta Ribeiro: biólogo, doutor em comportamento animal e especialista em substâncias psicoativas. Autor do best-seller “O Oráculo da Noite” e do livro “Sonho Manifesto: Dez Exercícios Urgentes de Otimismo Apocalíptico”.

⚠️ O Disque 100 encaminha e monitora denúncias de violência contra crianças e adolescentes. O serviço atende de qualquer parte do Brasil. A ligação é gratuita, anônima e com atendimento 24h. Já o Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher.

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Comadres na Flica: Emiliano José lança livro sobre a presença das mulheres no jornalismo baiano

Quarto volume da série #MemóriasJornalismoEmiliano, o livro “As comadres estão chegando” foi lançado no manhã de hoje (27) pelo escritor, jornalista e diretor da Associação Bahiana de Imprensa, Emiliano José.

Durante o encontro, o autor contou sobre o seu processo criativo e ressaltou a participação das homenageadas na construção da obra. Ao relembrar da trajetória de profissão, o grupo também abordou a importância da luta pela obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercer o ofício.

O debate “As comadres estão chegando – presença das mulheres no jornalismo baiano” contou com a presença das comadres Jaciara Santos, Mônica Bichara, Isabel Santos e Joana D’Arck. Além delas, estiveram presentes Suely Temporal, 2ª vice-presidente da ABI e Jorge Ramos, 2° secretário da entidade.

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Emiliano José lança na Flica “As comadres estão chegando”

Quarto volume da série #MemóriasJornalismoEmiliano, “As comadres estão chegando” será lançado no dia 27 de outubro, às 10h, pelo escritor, jornalista e diretor da Associação Bahiana de Imprensa, Emiliano José. A estreia do livro virtual acontece na Festa Literária Internacional de Cachoeira e o debate “As comadres estão chegando – presença das mulheres no jornalismo baiano” também faz parte da programação do evento.

A arte da capa do ebook é do designer e publicitário Miguel Cotrim

O livro foca na presença feminina nas redações dos jornais locais a partir do final dos anos 1970 e início dos 80. Nessa época, ambientes ainda majoritariamente masculinos. As protagonistas dos capítulos são Isabel Santos, Jaciara Santos, Mônica Bichara, Joana D´Arck, Carmela Talento e Ana Maria Vieira, todas ativas na profissão. 

Seguindo a construção anterior, o livro foi escrito de forma participativa e integra comentários dos leitores que acompanhavam as crônicas postadas diariamente na página de Emiliano no Facebook. Por meio dessa estratégia literária, temos um vislumbre da recepção do público e das homenageadas que fizeram questão de acompanhar a narrativa, contribuindo com mais detalhes.

O autor conta que a célebre trajetória das comadres na imprensa baiana foi um fator preponderante para o sucesso da obra. 

“Eu passei meses trabalhando via Facebook, era publicação diária e devo dizer que a receptividade sempre foi muito boa, porque, afinal de contas, eu estava tratando de mulheres com uma uma grande inserção na vida baiana no meio jornalístico”, admite Emiliano. “O livro tem uma boa receptividade muito mais pelas protagonistas do que pelo próprio autor, viu?”

Na segunda parte do livro, Jaciara Santos – diretora de Comunicação da ABI –  revela suas experiências na editoria de Segurança, ao lado do editor Erival Guimarães. Ela conta que enfrentou seus medos e o preconceito com essa editoria tão pouco desejada por seus colegas de profissão. 

A jornalista também assume que não é nada corajosa – ao contrário do que muitos pensam. Na maior parte do tempo, só se dava conta do perigo ao retornar para a redação ou para casa. Mas, conta que sempre buscou praticar o ofício de forma justa, dando um viés mais humanizado aos seus textos. 

“É uma área em que a gente lida com o melhor e o pior do ser humano. E rapidamente descobri: ninguém é só mocinho/mocinha nem só vilão/vilã. E investi forte nessa busca de mostrar que nenhuma pessoa é superior ou inferior a ninguém”, relembra Jaciara. 

Foto: Antonio Queirós

Para o autor, as comadres simbolizam a irrupção das mulheres nas redações do jornalismo baiano. Sua relação de amizade era tão forte que o deixava admirado diante de tanta solidariedade, sororidade e carinho ao longo das décadas. 

E complementa: “Descobri mulheres fortes, talentos pouco valorizados. Vi de perto o quanto podem as mulheres no exercício da reportagem. Como são capazes de dividir-se entre os cuidados de suas crias e as tarefas da profissão. Vi como é difícil ser mulher, mãe e profissional de jornalismo. E como elas davam conta de tudo isso. Fosse o caso, chegavam à redação com o bebê num carrinho, e cumpriam as pautas. Afrontaram o machismo sem fazer alarde”. O machismo, observa o escritor, “se não acabou, porque é resistente, sofreu um grande abalo”.

Inspirações e mais detalhes da obra

O prefácio do ebook é do também jornalista e escritor Elieser Cesar, que, de certa forma, inspirou Emiliano. Em 2019, a crônica “As comadres”, sobre a amizade do “quadrilátero comadrístico” – referindo-se às colegas Isabel, Mônica, Jaciara e Joana, nasceu sob a autoria de Elieser. 

Ele conta que conheceu Jaciara, Isabel, Mônica e Carmela quando chegou ao Jornal da Bahia, em 1983. Joana, a caçula, depois, quando ela trabalhava na Tribuna da Bahia e Ana Vieira, como assessora de imprensa. 

“A crônica ‘As Comadres’ surgiu num papo descontraído com Joana D’arc, quando disse a ela: ´Vou escrever uma crônica sobre vocês’. Sentei e escrevi. Que bom que ensejou o livro de Emiliano, para o qual fiz o prefácio e conto um pouco desse texto “, esclarece Elieser, adiantando um pouco do que o público pode esperar da obra.

Fotos: Antonio Queirós
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