Em mais um caso de ameaça contra a integridade física de jornalistas no Rio de Janeiro, a equipe de reportagem do diário carioca Extra foi intimidada enquanto cobria a operação da Polícia Federal relacionada a uma investigação de fraude que chega a R$ 15 milhões. Na edição de terça-feira (13), a primeira página do jornal estampou apenas uma manchete: “Janjão vai depor sobre ameaças”. A matéria informa sobre os desdobramentos das intimidações que o ex-assessor dos Correios, João Maurício Gomes da Silva, fez aos jornalistas do diário na última sexta-feira, 9, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A 32ª DP (Taquara) investiga o caso.
Após as ameaças, o jornal publicou na capa uma chamada para o prosseguimento da série de reportagens, desta vez assinada por todos os profissionais do Extra e do Expresso – repórteres, editores, fotógrafos, diagramadores e diretores dos jornais. “A reportagem de Flávia Junqueira, ameaçada por Janjão, é assinada por todos os profissionais do Extra, para lembrar que a luta contra a corrupção não é trabalho solitário de um repórter, mas dever de todo jornalista”, diz o texto da capa.
O carro do jornal – em que a jornalista Flávia Junqueira estava acompanhada pelo fotógrafo Fábio Guimarães e o motorista Bruno Guerra – foi seguido e abalroado duas vezes pelo veículo do suspeito, que chamou a repórter pelo nome, indicando a quem se destinava a ameaça. De acordo com o jornal, Janjão jogou o carro contra o veículo em que estavam a repórter Flávia Junqueira e o fotógrafo Fábio Guimarães. A colisão só foi evitada porque o motorista Bruno Guerra conseguiu desviar. Indiciado pela Polícia Federal por peculato em outubro passado, Janjão é apontado como parte do esquema de cirurgias superfaturadas para desvio de verba do plano de saúde de funcionários do Correios.
Desde agosto, a jornalista, que revelou com exclusividade as primeiras suspeitas sobre a atuação irregular do grupo, tem publicado diversas reportagens sobre as investigações. Na manhã da sexta-feira, a equipe cobria uma operação de busca e apreensão, realizada pela Polícia Federal na casa do acusado. O suspeito estacionou seu automóvel de modo a impedir a movimentação do carro de reportagem, mas o motorista do jornal conseguiu sair de lá e foi seguido.
Entidades cobram investigação
Em contato com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o diretor de redação do Extra, Octávio Guedes, enfatizou que a proposta uniu a equipe em defesa da ação jornalística. “Isso é uma resposta à violência sofrida, dizendo que nós vamos continuar fazendo jornalismo”. Ele afirma que o veículo vai adotar essa postura como procedimento padrão às suítes de matérias referentes a jornalistas agredidos. “Todo mundo que é tolerante ou justifica qualquer tipo de violência está sendo cúmplice de uma violência maior”, afirmou à Abraji. Em nota, a Abraji demonstrou preocupação com o episódio, e cobrou que seja garantida pelas autoridades a segurança da equipe. “Qualquer tipo de intimidação e violência contra profissionais da imprensa no cumprimento de sua função essencial de informar é um atentado direto à liberdade de expressão e à democracia”.
A Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) repudiou as ameaças e intimidações sofridas pela equipe. De acordo com o Portal dos Jornalistas, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) considerou o fato da maior gravidade e duplamente condenável: “Primeiro, porque é uma agressão, e segundo, porque há, claramente, uma intenção de constranger a jornalista, assustá-la para tentar influenciar na cobertura e evitar que informações cheguem aos leitores”.
O Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio também emitiu nota de repúdio e enviou ofícios ao Ministério da Justiça, secretarias da Comunicação Social e dos Direitos Humanos, Secretaria-Geral da Presidência da República, Governo do Estado do Rio, Secretaria de Segurança Pública e ministérios públicos estadual e federal, reivindicando providências imediatas para garantir uma investigação rigorosa do caso. “Esse é um ataque à sociedade. Nesse caso, o jornalista não é atingido apenas como cidadão, mas por cumprir um papel de defensor da população e seus direitos. Desde maio do ano passado, já são mais de 60 casos de jornalistas ameaçados no Rio”, ressaltou Paula Máiran, presidente da entidade.
*Informações de O Globo, Portal Comunique-se, Abraji e Portal dos Jornalistas.