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A verdade é dura. A Globo apoiou a Ditadura

Esta manchete tem origem nos cartazes dos recentes movimentos de rua que se espalharam por  quase todas as grandes e médias cidades do país. Lá estava mais que uma frase, uma advertência que calou fundo nas Organizações Globo. “A verdade é dura. A Globo apoiou a ditadura”. A pressão popular no mundo sensível da informação e da comunicação provocou senão acelerou um mea culpa em gestação  interna nas Organizações Globo.

Quase cinquenta anos depois o jornal O Globo faz um mea culpa pelo apoio ao movimento militar de 1964 que desaguou na ditadura por longos vinte e quatro anos. O mea culpa, certamente mais que um erro editorial, veio no bojo do Projeto Memória que relata os 88 anos do Globo, destacando especialmente a digitalização do jornal e uso de novas tecnologias.
Para dar ressonância ao mea culpa pelo apoio ao golpe  em editorial de 01/O9 e lastrear a envergadura do Projeto Memória,  o Globo entrevistou lideranças políticas e representantes da sociedade civil.  Além da relevância desta iniciativa no uso de tecnologias da comunicação, o mais importante foi o reconhecimento do jornal no apoio ao golpe militar de 1964, considerado um erro editorial do Globo, e assim dar um passo importante num acerto de contas com a História do país.

Para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o reconhecimento do erro sobre o golpe de 64 foi “algo digno de aplauso”:

— Foi uma postura muito madura, admirável, do Globo, ao tocar numa questão importante sobre a trajetória do jornal e do país.

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) acrescentou que usar a tecnologia para permitir o acesso ao conhecimento é um exemplo a ser seguido. Sobre o apoio ao golpe, disse que a abordagem do caso pelo jornal merece ser ressaltado:

— A revisão de conceitos engrandece a história do Globo.

Historiador, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que aprendeu que os jornais são os diários da humanidade, e sua leitura é imprescindível.

— Mostrar o registro diário dos fatos do Brasil e do mundo, nesses 88 anos, com a tecnologia que hoje nos favorece, é uma coisa espetacular. Como fui preso em 1986, fui lá olhar o que o jornal dizia. Tenho um arquivo enorme de recortes de jornais, que agora vai começar a ser substituído — disse Alencar .

Acrescentou ainda que a iniciativa do GLOBO deveria servir de exemplo:

— Para que a “resposta ao clamor das ruas” não seja mero discurso, assim como O Globo reconhece o coro “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura” e admite que errou ao louvar o golpe que ano que vem completa meio século, as instituições políticas também precisam ouvir o “Não me representa” e mudar radicalmente de postura.

O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP), que militou contra a ditadura, acredita que o olhar crítico sobre o próprio passado tem um papel de relevância histórica. Para o senador, é importante o reconhecimento de erros em posições tomadas no passado.

— O Globo tem razão em reconhecer seu erro. Eu fui contra o golpe, então acho importante, depois dessa reflexão, o jornal ter concluído que foi realmente um erro ter apoiado uma sublevação militar contra um governo democraticamente eleito. Tem um interesse histórico nisso. Eu saúdo essa iniciativa — disse o senador.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, também elogiou a postura do jornal ao comentar o golpe:

— O jornal tomou uma atitude corajosa ao admitir que cometeu um equívoco editorial. Algo que até hoje não foi feito por outros veículos de comunicação de expressão nacional, que também se manifestaram a favor dos militares.

Para o historiador Nereu Cavalcanti, o posicionamento do Globo sobre episódios do passado serve de lição permanente para a cobertura jornalística do presente e do futuro:

— É uma reflexão para que o jornal sempre que for tratar de questões que envolvam políticas de governos, seja União, estados ou municípios, também busque saber o que a sociedade pensa sobre os temas, não ficando apenas com o lado oficial.

No site Observatório da Imprensa,  o jornalista Alberto Dines salienta

“Impensável, mas aconteceu. Com destaque, solenidade e brio, sem justificativas mornas, dubiedades ou disfarces, o Globo, carro-chefe das Organizações Globo, o maior grupo de mídia do Brasil e um dos mais importantes do mundo, admitiu – depois de discussões internas que duraram anos – que o apoio ao golpe militar de 1964 foi um equívoco. Também o apoio à ditadura que se seguiu ao longo dos 21 anos seguintes. Não foi a única confissão. O jornal também reconheceu a tíbia cobertura das Diretas Já resultou de um erro de avaliação político-jornalístico. Porém contestou as acusações de ter conspirado para derrubar Getúlio Vargas em 1954 e de tentar a manipulação dos resultados da eleição de Leonel Brizola para o governo do Rio, em 1982 Não foi a única confissão. O jornal também reconheceu que a tíbia cobertura da campanha (Caso Proconsult).

O jornal pretendia lançar o Projeto Memória meses atrás, antes dos protestos de junho, mas assume que o clamor das ruas veio provar que o reconhecimento do erro era necessário. “A lembrança [do apoio aos militares] é sempre um incômodo para o jornal, mas não há como refutá-la. É História”.

Abaixo o editorial do jornal o Globo sobre o erro editorial

Apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro

Reproduzido do Globo.com, 31/8/2013

Desde as manifestações de junho, um coro voltou às ruas: “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. De fato, trata-se de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura.

Já há muitos anos, em discussões internas, as Organizações Globo reconhecem que, à luz da História, esse apoio foi um erro.

Há alguns meses, quando o Memória estava sendo estruturado, decidiu-se que ele seria uma excelente oportunidade para tornar pública essa avaliação interna. E um texto com o reconhecimento desse erro foi escrito para ser publicado quando o site ficasse pronto.

Não lamentamos que essa publicação não tenha vindo antes da onda de manifestações, como teria sido possível. Porque as ruas nos deram ainda mais certeza de que a avaliação que se fazia internamente era correta e que o reconhecimento do erro, necessário.

Governos e instituições têm, de alguma forma, que responder ao clamor das ruas.

De nossa parte, é o que fazemos agora, reafirmando nosso incondicional e perene apego aos valores democráticos, ao reproduzir nesta página a íntegra do texto sobre o tema que está no Memória, a partir de hoje no ar:

Fontes: O Globo 01/09/2013 – Dines, Alberto. Observatório da Imprensa, ed. 03/09

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Instituto Vladimir Herzog inaugura a exposição “Resistir é preciso…”

No próximo dia 5 de agosto, Brasília será palco da abertura da exposição “Resistir é preciso…”, projeto idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog com a proposta de manter viva na memória dos brasileiros a luta da imprensa contra a ditadura, período em que inúmeros profissionais de comunicação foram presos, torturados e assassinados.

A mostra reunirá painéis, cartazes, obras de arte e depoimentos em vídeo. De Brasília, a exposição seguirá para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Por meio de uma “linha do tempo”, pretende contar a História da resistência à ditadura que se instalou no Brasil em 1964 e permaneceu no poder até a eleição indireta de Tancredo Neves, em 1985. Ao longo de mais de duas décadas, intelectuais, artistas, sindicalistas, estudantes, e representantes de diversos setores da sociedade civil lutaram pelo restabelecimento da democracia no Brasil.

A exposição “Resistir é Preciso…” evidencia as lutas pela reconstrução democrática e as diversas correntes de oposição ao regime ditatorial. Nas bancas de jornal, na clandestinidade e no exílio, cidadãos brasileiros resistiram à ditadura e cumpriram um papel de fundamental relevância durante todo o processo de redemocratização do País.

Em Brasília a exposição estará aberta aos visitantes de 5 de Agosto a 22 de Setembro. Em São Paulo, a mostra ficará em cartaz de 12 de Outubro a 6 de Janeiro de 2014. No Rio de Janeiro, o público poderá visitar a exposição de 12 de Fevereiro a 7 de Abril de 2014. Em Belo Horizonte, “Resistir é Preciso…” poderá ser vista de 4 de Agosto a 5 de Outubro de 2014.

Fonte: Associação Brasileira de Imprensa

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