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Ato no Largo do Tanque destaca legado de Luiz Gama

A chuva que ensaiou permanecer sobre o Largo do Tanque na manhã desta quarta-feira, 24 de agosto, não impediu a representativa homenagem a Luiz Gama, na praça que leva o seu nome. Com a presença de jornalistas, advogados, professores e pesquisadores, o ato convocado pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI), em homenagem aos 140 anos da morte de Gama, reverenciou a memória e o legado do poeta, jornalista, advogado, educador e Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil.

O baiano Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882) era filho de mulher negra, Luiza Mahin, e de um fidalgo português. Nascido livre, na Rua do Bângala, na Mouraria, foi vendido como escravo pelo pai quando tinha 10 anos de idade e traficado para São Paulo. Se alfabetizou somente na adolescência, mas aos 29 anos já era apreciado autor literário. Suas principais contribuições se deram no campo da literatura, educação, política, imprensa e do direito.

Gama entendia a mídia como espaço de poder e usava artigos jornalísticos para projetar suas ideias de emancipação. Ele lutou pela libertação de mais de 500 negros mantidos em regime de escravidão. Faleceu em São Paulo, na data de 24 de agosto de 1882, notabilizado pela defesa da liberdade.

Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil concedeu a Gama o título de advogado, em reconhecimento à sua atuação no campo jurídico. “Ele foi um advogado como poucos, criou jurisprudência, libertou pessoas escravizadas usando a lei”, destacou o advogado Antonio Luiz Calmon Teixeira, sócio honorário da ABI e agraciado em 2014 com a Medalha Luiz Gama, pelo Instituto dos Advogados Brasileiros. Calmon Teixeira evocou a sabedoria popular para falar de Gama. “As pessoas não morrem na medida em que são lembradas. No caso de Gama, não é exagero dizer que ele está fadado à eternidade. Ele continua vivo, comentado, homenageado”, celebrou.

O professor, historiador e advogado Jair Cardoso dos Santos é autor do livro “Entre as leis e as letras: Escrevivências identitárias negras de Luiz Gama” (1ª ed., 2017, Quarteto Editora). Ele ressaltou a trajetória de Gama na desconstrução de discursos. “Sua biografia é de tirar o fôlego. Ele foi um gigante da história do Brasil e jamais poderá distanciar-se da memória do povo brasileiro, diante da grandeza de seus feitos. Temos nele muitas representações. Nossa literatura tem nele um marco. É a iniciação do eu-lírico negro. Ele ressignifica a estética negra em seus poemas. É o negro, pela primeira vez, falando dele mesmo e do seu povo”, analisou o escritor. “A ausência dele traz a exigência de estarmos sempre lembrando do seu legado, para que as gerações mais novas nunca esqueçam desse ideal de igualdade, de liberdade, incorporado na figura de Luiz Gama”, concluiu.

A professora e geógrafa Regina Célia Rocha, presidente da Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), posiciona Luiz Gama como um dos intelectuais e construtores do pensamento nacional. “Um grande homem, que lutou pelas causas sociais e merece todas as homenagens. Ele deixa um legado muito importante para a população negra, principalmente para os mais jovens”.

Clarindo Silva, agitador cultural, jornalista e empresário do Centro Histórico de Salvador, ficou surpreso ao constatar que, nas proximidades da Praça Luiz Gama, as pessoas desconheciam a figura que empresta o nome ao local. “Falta uma política de educação. Se nossos políticos seguissem Paulo Freire, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, o nosso país não estaria desse jeito. Ninguém aqui sabe quem foi Luiz Gama”, criticou o jornalista.

A guia turística Creusa Carqueija, neta e afilhada de Cosme de Farias, traçou um paralelo entre as vivências e atuações de seu avô e Luiz Gama. “A disponibilidade, a inteligência e a humildade dessas duas grandes figuras são icônicas. “Luiz Gama é o pai da advocacia gratuita no Brasil, Cosme de Farias criou a campanha contra o analfabetismo. Temos uma grande dívida com esses homens. A escola deveria ensinar quem são eles, porque é necessário que a juventude saiba”, defendeu. Ela aproveitou para convidar a sociedade a se mobilizar pela celebração, em 2025, dos 150 anos de Cosme de Farias, uma das mais potentes vozes da luta pela justiça social no país.

O jornalista e pesquisador Luis Guilherme Pontes Tavares, 1º vice-presidente da ABI, recitou, ao pé do busto do jurista baiano, o trecho da crônica de seu funeral, escrita por Raul Pompéia. Emocionado, Tavares depositou flores no busto de Gama e fez questão de lembrar que a ABI tem homenageado o abolicionista desde o início da década de 2010, quando se associou à iniciativa do Coletivo Libertai, liderado pelo agitador cultural Márcio Luis, de celebrar as datas de 21 de junho (dia do nascimento 1830) e 24 de agosto (dia do falecimento).

Em 2020, a ABI comemorou os 190 anos do nascimento de Luiz Gama por meio de uma live com a professora doutora Ligia Fonseca Ferreira, autora do livro “Lições de resistência” (Edições SESC São Paulo, 2020). “Faço eco a estudiosos do personagem, como a professora Ligia Fonseca Ferreira, Roberto Oliveira, Elciene Azevedo e Jair Cardoso, que está aqui conosco hoje. Tivemos a oportunidade de ouvir aqui depoimentos que dão conta de que Gama não morreu. Gama está vivo”, afirmou Luis Guilherme.

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ABI homenageia Luiz Gama no 140º aniversário de morte

Luis Guilherme Pontes Tavares*

Nesta quarta-feira, 24 de Agosto, às 10h, na Praça Luiz Gama (Largo do Tanque), a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) homenageará o poeta, jornalista, advogado, educador e abolicionista que dá o nome à praça. Neste dia, completam-se 140 anos de sua morte em 1882. Além da ABI, a Fundação Gregório de Mattos (FGM), a Ordem dos Advogados do Brasil-BA, a quase bicentenária Sociedade Protetor dos Desvalidos (SPD) e universidades baianas estarão representadas no ato de colocação de flores ao pé do busto do Doutor Gama.

Busto de Luiz Gama, no Largo do Tanque, em Salvador

A ABI tem homenageado Luiz Gama desde o início da década de 2010, quando se associou à iniciativa do Coletivo Libertai, liderado pelo agitador cultural Márcio Luiz, de celebrar as datas de 21 de junho (dia do nascimento 1830) e 24 de agosto (dia do falecimento). A propósito, o Libertai promoveu, na área de lazer do Vale dos Barris, a exibição do filme Doutor Gama, do cineasta paulista Jeferson De, lançado em agosto do ano passado e exibido em salas de cinema de todo o Brasil.

O baiano Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882), filho de mulher negra e de português, foi homenageado, em São Paulo, com o seu reconhecimento pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) como profissional do Direito graduado e foi laureado com o Título de Professor Honoris Causa pela USP. Em Salvador, além de nome de praça, Luiz Gama é nome de rua na Capelinha de São Caetano. Ademais, tem bustos em praça pública e na sede da OAB-BA.

A vida e a obra de Luiz Gama é objeto de estudo, na atualidade, dos professores Silvio Roberto Oliveira, da UNEB, Elciene Azevedo, da UEFS, e Jair Cardoso, da SPD. A biografia de Gama é extraordinária: nascido livre, foi vendido como escravo pelo pai quando tinha 10 anos de idade. Foi traficado para São Paulo, onde trabalhou em casa grande e lavoura, onde se alfabetizou, onde virou servidor público, poeta, rábula, maçom, jornalista, educador e se consagrou como um dos principais abolicionistas brasileiros.

*Luis Guilherme Pontes Tavares é jornalista, produtor editorial, 1º vice-presidente da ABI.

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“Luiz Gama no campo de batalha”: Podcast 451 MHz dedica episódio ao abolicionista

O Podcast 451 MHz dedicou seu vigésimo primeiro episódio ao jurista, escritor e abolicionista Luiz Gama (1830-1882). Ligia Fonseca Ferreira, autora do livro Lições de Resistência. Artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro (São Paulo: Edições SESC, 2020), e Silvio Almeida, advogado, doutor e pós-doutor pelo departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), foram entrevistados pelo editor Paulo Werneck, para tratar da vida e obra do filho de Luíza Mahin. Os convidados debateram a atualidade do advogado autodidata que lutou com as armas do direito e do jornalismo contra o sistema estrutural racista no Brasil.

Paulo considera “Lições de Resistência” como “candidato a um dos lançamentos mais fortes do ano”. Do mesmo modo que fez na live de comemoração aos 190 anos de Luiz Gama, realizada pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI), no episódio, a professora doutora Ligia Fonseca Ferreira ressalta a importância do reconhecimento de Luiz Gama para a sociedade brasileira, fazendo uma comparação com o escritor Machado de Assis, nascido no mesmo dia que Gama, nove anos após o jurista. Ela lembra o fato do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, traduzido em inglês e vendido nos EUA, ter esgotado sua primeira edição em menos de 24 horas. (Veja aqui)

Ao ser perguntado sobre como conheceu a vida e obra de Luiz Gama, Silvio confessa nunca ter ouvido falar de Gama durante seus cinco anos de graduação e ainda e todo seu mestrado. Somente entre os anos de 2005 e 2006, quando já atuava no direito, foi que veio se deparar com questões intrínsecas ao fato de ser um advogado negro no Brasil. “Foi nesse momento que eu comecei a pensar no Luiz Gama porque eu comecei a me pensar como advogado. Como advogado negro. Tanto que eu sou um advogado tributarista”. Um advogado especialista em direito econômico, advogado que trabalha com direito empresarial, eu tenho escritório que trabalha com isso há 10 anos”, relata.

Em resumo sobre o episódio, o site da revista Quatro Cinco Um destaca alguns trechos de Silvio onde ele opina que o desconhecimento da vida e obra de Luiz Gama no país é “índice da miséria moral, intelectual e política” dos cursos de direito e do Brasil de hoje. “O papel que eu assumi, junto com a professora Lígia Ferreira, foi trazer o Luiz Gama para o campo de batalha”, complementa o advogado.

O podcast 451 MHz pode ser ouvido gratuitamente no site da revista e também nos principais tocadores de podcasts. Ele é publicado na primeira e na terceira sexta-feira de cada mês. A direção é da jornalista Paula Scarpin, da Rádio Novelo, start-up de podcasts que produz o 451 MHz para a Associação Quatro Cinco Um.

Acesse o episódio

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Abolicionista Luiz Gama é inscrito na OAB após 133 anos de sua morte

Em cerimônia histórica, o jornalista, advogado e poeta baiano Luiz Gama terá o nome inscrito oficialmente nos quadros da advocacia nacional, quando será concedido o título pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O evento intitulado “LUIZ GAMA: Ideias e Legado do líder abolicionista” acontece nos dias 3 e 4 de novembro, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. O soteropolitano nascido no bairro da Mouraria prestou relevante contribuição ao processo de abolição no Brasil. A homenagem, após 133 anos de sua morte, já é considerada por estudiosos de sua obra um justo reconhecimento à trajetória do advogado e sua luta diante da sociedade colonizadora.

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Busto de Luiz Gama, no Largo do Tanque (Liberdade), em Salvador – Foto: Reprodução

Negro nascido em 1830, Luiz Gama chegou a ser escravizado. Ao chegar a São Paulo, conseguiu a liberdade, tornando-se importante jornalista, poeta e militante político de posições republicanas e abolicionistas. Tentou formar-se advogado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas, apesar de formalmente livre, o racismo não permitiu.

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Ainda assim, Luiz Gama tornou-se advogado provisionado, com autorização para atuar nos tribunais em defesa de escravos que lutavam por liberdade. Exemplo ímpar do exercício da advocacia, ele conseguiu libertar cerca de 500 escravos, marcando uma posição admirável na comunidade de sua época, a ponto de ensejar um funeral com mais de três mil pessoas, em uma São Paulo que tinha aproximadamente 40 mil habitantes.

 

Programação:

“LUIZ GAMA: Ideias e Legado do líder abolicionista”
Local: Universidade Presbiteriana Mackenzie – Auditório Ruy Barbosa
1º DIA – 03/11 (terça-feira)
Manhã
09:30– 11:00 – Conferência: O legado de Luiz Gama
Conferencista: Professor Dr. Silvio Almeida (UPM)
11:00 – Ato: caminhada ao túmulo do Luiz Gama no cemitério da consolação (leitura de poema – convidado a confirmar)
Inscrições aqui 
Noite
19:00 -21hs – Cerimônia de entrega do título de advogado a Luiz Gama e leitura do relatório da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB Federal.
Inscrições aqui 
2º DIA – 04/11 (quarta-feira)
Manhã
09:30 – 11:00 -MESA – Escravidão e formação econômica: Professor Dr. Dennis de Oliveira (ECA/USP), Professor Dr. Márcio Farias (Museu Afro-brasileiro) – Mediação: Professora Alessandra Benedito (UPM)
11:00 – 12:30 MESA –Direitos sociais e estrutura – Professor Dr. Adilson José Moreira (UPM) e Professora Dra. Dulce Maria Senna (USP) . Mediação: Professora Bruna Angotti
Inscrições aqui 
Noite
19:00 – 20:30 MESA – Segurança Pública e População Negra – Gabriel Sampaio (Secretário de Assuntos Legislativos SAL/MJ), Professor Dr. Humberto Fabretti (UPM). Mediação: Tamires Gomes Sampaio
Inscrições aqui

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