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Edição especial do ‘Charlie Hebdo’ se esgota em poucos minutos nas bancas de Paris

Ainda estava escuro em Paris quando muitas bancas exibiam cartazes dizendo “Não temos a Charlie Hebdo”. Estabelecimentos de várias regiões da capital francesa despertaram com longas filas e venderam em poucos minutos nesta quarta-feira (14) todos os exemplares disponíveis da histórica edição do jornal satírico Charlie Hebdo. É a primeira edição a circular uma semana após dois atiradores invadirem o escritório da publicação e matarem 12 pessoas, incluindo dois policiais e quatro cartunistas. A demanda acima do esperado fez com que a já recorde tiragem da publicação fosse ampliada de três para cinco milhões de exemplares, número mais de 80 vezes maior que a circulação normal de 60 mil.

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A busca pela edição, que circulou em seis idiomas – incluindo inglês, árabe e turco – foi impulsionada não apenas pelo choque provocado na França e no resto do mundo pelos ataques, mas também pelo fato de que o dinheiro das vendas será repassado às famílias das vítimas. Em três bancas na área da Praça da Bastilha, as filas começaram por volta de 6h20 (3h20, horário de Brasília), ainda escuro e debaixo de um frio de 5º. Às 6h40, não havia mais exemplar disponível. Cada banca dessa região recebeu, em média, 60 jornais.

Uma delas limitou a venda a um exemplar por pessoa, mas não adiantou muito: o estoque acabou em 10 minutos. Outras duas foram mais generosas e venderam no máximo dois jornais para cada cliente. Os que chegaram tarde demais foram avisados que uma nova remessa do “Charlie Hebdo” deve chegar entre quinta (15) e sexta-feira (16).

Capa

A capa do jornal, que tem oito páginas, mostra uma caricatura do profeta Maomé chorando e segurando um cartaz em que se lê “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), frase que virou símbolo depois do atentado que matou quatro cartunistas. Os irmãos Cherif e Said Kouachi, mortos pela polícia dois dias mais tarde, foram motivados pelas polêmicas charges do profeta Maomé feitas pela revista. Na edição atual, acima do desenho do profeta, está escrito “Tudo é perdoado”. O cartunista Renald Luzier (Luz) chorou nesta terça (13) na apresentação da nova edição, editada nas dependências do jornal francês “Libération”. “É antes de tudo um homem que chora”, disse Luz ao explicar o desenho de Maomé que ilustra a capa.

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A imagem do profeta do islamismo fica restrita à primeira página. Outras páginas fazem uma sátira com jihadistas. Um editorial faz homenagem aos mortos no ataque de 7 de janeiro. A edição apresenta ainda charges e textos publicados anteriormente pelos cartunistas e jornalistas que morreram. O jornal deve ser traduzido em cinco línguas e distribuído em mais de 20 países.

*Informações de El País, Folha de S. Paulo e UOL.

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Maré humana toma Paris em defesa da liberdade de expressão

Um verdadeiro mar de gente tomou conta das ruas de Paris neste domingo (11) para protestar contra o extremismo e defender a liberdade de expressão e a unidade. Em um país que declarou a República há mais de 225 anos, o ataque ao semanário satírico Charlie Hebdo – que deixou 12 mortos –, além das mortes da jovem policial abatida a tiros e das quatro pessoas na tomada de refém em um mercado parisiense de comida judaica, motivaram uma massa de cerca de 1,5 milhão de pessoas que se abarrotaram nas ruas da cidade. Em toda a França, foram cerca de 3,7 milhões que marcharam contra o terrorismo. Meia centena de líderes da Europa, África e Oriente Médio também participaram da histórica manifestação pela liberdade e democracia.

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A multidão, reunida sob um frio sol de inverno, alterna slogans como “Viva a França”, “Eu sou Charlie” e sua variação mais abrangente “Eu sou Charlie, judeu, policial”. Liberdade era a palavra mais ouvida entre a população francesa. A movimentação na capital francesa começou na Praça da República, onde jovens passaram a subir no monumento de Marianne, figura que representa a república francesa, onde estão grafadas as palavras Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Bandeiras da França foram levantadas no monumento e receberam a companhia de símbolos de outros países.

“Charlie, Charlie” era um dos gritos dos presentes, até que passaram a cantar “La Marseillaise”, hino nacional francês. Numerosos, os cartazes ‘Je Suis Charlie’ (na tradução ‘Eu Sou Charlie’) se espalharam por toda a praça e arredores. Nas ruas mais próximas da République, era impossível se mover enquanto a caminhada não começava. A imensa mobilização passou pela Bastilha e terminou na Praça da Nação, onde familiares das vítimas foram recebidos com silêncio e aplauso. Depois, o hino francês foi novamente entoado pela multidão, uma marcha que antes pregava a guerra, agora prega a união e a paz entre os povos. A presença massiva demonstrou também uma afirmação dos franceses em defesa da nação, em vez de expressar o medo ao terror. Nas ruas, a principal defesa da voz das ruas era pela livre expressão e pela liberdade de culto, como relatam os manifestantes.

Manifestação histórica

A grande manifestação deste domingo na capital francesa foi seguida de outras nas principais cidades do país. Esses protestos já foram precedidos por outros espontâneos realizados na quarta-feira passada, horas depois do ataque jihadista contra o jornal satírico Charlie Hebdo, que terminou com 12 assassinados e, no sábado, quando mais de 700.000 pessoas saíram às ruas de todo o país para expressar oposição ao terrorismo e ao antissemitismo. Nas manifestações de sábado, muitos dos participantes carregavam cartazes com a frase “Sou judeu”.

Pelo menos cem mil pessoas protestaram em Toulouse (sul), 40.000 em Lille (norte), 30.000 em Pau (sudoeste) e dezenas de milhares mais em outras cidades, para prestar uma homenagem às vítimas. Em cidades como Orleans, Rouen e Marselha, os manifestantes saíram às ruas mostrando lápis e capas do semanário atacado, que perdeu cinco de seus cartunistas. Eles mostravam cartazes com inscrições como “não tenho medo” e “contra o obscurantismo”.

*Informações da AFP, Terra e El País (Edição Brasil)

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