Atribui-se a Ruy Barbosa a frase “Plantou carvalho para as gerações do futuro e não couve para o prato de amanhã”. Preparando-se para o futuro e seguindo os ensinamentos do intelectual, jornalista, diplomata, político, escritor e jurista, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) reunida em colegiado com outras 12 instituições ligadas à trajetória de Ruy preparou uma programação especial para o centenário de falecimento do jurista, em 1° de março de 2023. A série de eventos faz parte da agenda “Ruy, 100 anos depois”, anunciada na manhã desta sexta (5), Dia Nacional da Cultura e também dia em que nasceu Ruy. A programação reserva atividades junto à sociedade baiana e uma novidade: a reabertura do Museu Casa de Ruy Barbosa.
Sob a mediação da jornalista Suely Temporal, o evento contou com a exibição de um documentário sobre o jurista, seguido do anúncio da agenda. O objetivo do centenário de falecimento é que se possa ampliar o conhecimento que existe atualmente sobre Ruy Barbosa e disseminá-lo junto à sociedade, principalmente os mais jovens.
“Não é somente para render um tributo muito justo a um dos personagens mais importantes da nossa história. Não é somente para preservar um conjunto precioso de documentos históricos. É para defender valores. É para a gente ser grato a figuras como Ruy, que lutaram ao longo da nossa história”, destacou o jornalista Ernesto Marques, presidente da ABI. O dirigente recordou que a ideia do centenário partiu da necessidade sentida de manter acesa a memória do exemplo que foi Ruy Barbosa. “É algo tão importante que nós, baianos e também os brasileiros, não temos o direito de não lembrar, não apenas da figura de Ruy, mas, sobretudo, do que ele nos legou de pensamento do estado brasileiro, sobre a nossa República, sobre o estado federativo e a importância da Federação”.
Acompanhado pelo presidente da Assembleia Geral da ABI, Walter Pinheiro, e outros membros da diretoria executiva da instituição, Ernesto Marques convidou todo o colegiado para trabalhar em conjunto pela revitalização do Museu Casa de Ruy Barbosa. O número 71 da antiga Rua dos Capitães encontra-se fechado atualmente. Com a intervenção urbanística da Prefeitura e do Governo do Estado, a expectativa é de que o museu também se modernize e possa reabrir com um formato mais interativo. “Museus não podem ser meros depósitos de objetos antigos, são equipamentos culturais vivos, dinâmicos. Não é um lugar para se guardar apenas o passado, os museus são espaços onde o passado dialoga com o presente e onde se pode conversar com o futuro a partir dessa reflexão”, afirma o presidente.
Como presidente da Comissão Executiva do centenário e representante da Câmara Municipal de Salvador (CMS) e da Academia de Letras da Bahia (ALB), o professor Edvaldo Brito enfatizou a responsabilidade que é prestar homenagens a uma figura como o “Águia de Haia”. “Quando se me pergunta quem é Ruy Barbosa, novamente vou repetir que é jornalista, que é jurista, que é político? Não. Quem quer que possa divulgar a memória de Ruy terá que repetir que Ruy Barbosa é um gênio, porque em tudo que ele fez, em tudo que ele atuou, projetou para os dias de hoje”.
Em uma fala emocionada, o professor recordou a grandeza da sombra que Ruy Barbosa projetou. Para ele, ainda não houve quem fizesse par à figura do jurista. Mas, para Edvaldo Brito, o seu maior legado vem da atuação política de Ruy, sempre em defesa do povo brasileiro e da pátria. “Me foi perguntado que Ruy faria se visse o Brasil nessa situação; Eu respondi ‘agiria’. Nós todos em nome de Ruy vamos agir. Ele agiria porque não se conformaria que, numa pandemia como essa, em que estava em jogo ou está em jogo o povo brasileiro, houvesse ainda quem pensasse que pudesse centralizar o poder nas suas mãos ou em um pequeno território como Brasília”, completa.
O desembargador e representante do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), Lidivaldo Reaiche, iniciou sua fala saudando a iniciativa da ABI em propor o “Ruy, 100 anos depois”. “A ABI é a instituição ideal para organizar essas festividades. Com todo o seu caldo cultural, com toda a sua pluralidade, está aqui demonstrando a razão de liderar essa movimentação”. O desembargador recordou a relação do Tribunal de Justiça com a figura de Ruy, até a reunião de ambos no edifício do Fórum Ruy Barbosa, encampado pelo governador Otávio Mangabeira. “Criticaram Otávio Mangabeira dizendo que ele tinha construído um elefante branco, que a Bahia era uma província, que aquele fórum era um monumento e ele respondeu dizendo ‘O fórum não é para a minha época, o fórum é para o futuro’”, recorda.
Agenda do centenário
“O principal doador do que hoje compõem o acervo da Casa de Ruy Barbosa foi o brilhante advogado e professor Rubem Nogueira. Nós aqui mais uma vez agradecemos a família e fazemos um tributo à memória de Rubem. Agradecemos seu desprendimento em se desfazer de peças que com certeza lhe eram muito caras para compartilhar isso com a Bahia”, saúda Ernesto Marques, a memória do professor e jurista, que também foi um grande pesquisador da vida de Ruy. A criação da medalha Rubem Nogueira é uma honraria instituída pela ABI que será concedida a figuras importantes para a história do Museu Casa de Ruy Barbosa. A jornalista e filha de Rubem Nogueira, Gilka Andrade, esteve presente durante o anúncio da agenda. “Essa homenagem nos causou muita emoção. Com certeza, meu pai estaria muito feliz com isso. Foi merecido”, afirma Andrade.
A agenda do centenário terá a edição e reedição de livros sobre a trajetória do jurista; uma série de seminários sobre as várias facetas de Ruy, com especialistas de todo o Brasil, entre março de 2022 a março de 2023; e um curso a ser oferecido pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) sobre aquele que foi o maior intelectual da lei no Brasil, voltado para associados e estudantes de História e Direito. Para os mais jovens, a agenda prevê o “Ano de Ruy Barbosa”, ações voltadas para estudantes secundaristas e universitários, que contará com o apoio da comissão organizadora e coordenação das Secretarias de Educação do Estado e de Salvador.
Estão também previstas como parte das atividades a exposição temática em shopping; a criação de um hotsite sobre sua vida e legado; a criação de um selo comemorativo do evento; a produção e exibição de documentários sobre Ruy, com previsão de distribuição por plataformas de streaming, e de vídeos animados para redes sociais.
O encerramento da atividade resolveu uma surpresa: a doação de uma obra rara, editada logo após a morte de Ruy, o livro “Ruy Barbosa em memória”, feita por Eduardo Moraes de Castro, presidente do IGHB. “O IGHB tem a sua biblioteca, com 45 mil livros, que tem o nome de Ruy Barbosa. Eu encontrei essa preciosidade e achei que estaria muito melhor no Museu Casa de Ruy Barbosa. Por isso que trouxe essa contribuição”, afirmou. Emocionado, o jornalista Jorge Ramos, diretor do Museu Casa de Ruy Barbosa e também diretor do IGHB, recebeu o livro. “Aqui estão fotografias, documentos, inclusive uma reportagem do primeiro julgamento que Ruy Barbosa participou ao defender no Tribunal de Justiça da Bahia uma jovem negra, escravizada, que fora violentada por um rico proprietário de terras. Ruy, sabendo que a moça não tinha advogado, se ofereceu. Com muita honra, a ABI agradece por essa contribuição”.
Também prestigiaram o evento Luis Guilherme Pontes Tavares, 1º vice-presidente da ABI; a arquiteta Milena Tavares, representante da Fundação Gregório de Mattos; Zulu Araújo, presidente da Fundação Pedro Calmon; Cybele Amado, diretora-geral do Instituto Anísio Teixeira; Osvaldina Cezar e Rosana Souza, representantes da Santa Casa de Misericórdia da Bahia; Wilson Andrade, pela Associação Comercial da Bahia; Ordep Serra, presidente da Academia de Letras da Bahia.
*Larissa Costa, estudante de Jornalismo, estagiária da ABI.
Edição: Joseanne Guedes