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Justiça Federal barra revisão da lei da Anistia e impede a apuração de crimes eleitorais pelo MPF

Tentativas do Ministério Público Federal de levar a julgamento envolvidos com crimes na ditadura militar não encontram respaldo entre juízes. O STJ nega também ao MPF apuração de crimes eleitorais nas eleições para 2014 e PGR ameaça ir ao STF contra proibição.

A Justiça Federal está barrando as tentativas do Ministério Público Federal (MPF) de punir agentes de Estado acusados de cometer crimes durante o período da ditadura. A tese defendida pelos procuradores federais de que determinados crimes, como o sequestro e a ocultação de cadáver, são considerados permanentes e não foram beneficiados pela Lei da Anistia de 1979 não encontra receptividade entre juízes federais. Após mais uma resolução que divide opiniões, o MP também não pode mais pedir a instauração de inquéritos policiais para investigação de crimes nas eleições de 2014. A Procuradoria-Geral da República (PRG) pediu ontem (14) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que volte atrás e derrube a regra que limita a ação do MP.

Desde que foi criado, há dois anos, o Grupo de Trabalho Justiça de Transição, vinculado à 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, apresentou sete denúncias à Justiça Federal. Três envolvem o sequestro de militantes políticos que se opunham à ditadura; e outras duas, o crime de ocultação de cadáver. Desse total, apenas três ações estão em andamento, patinando ainda na primeira instância; duas foram rejeitadas; uma aguarda a definição de um pedido de habeas corpus; e a sétima ainda não teve o mérito apreciado.

Além da barreira dos juízes, os procuradores também enfrentam dificuldades para obter provas suficientes para sustentar as denúncias. Quando o grupo de trabalho foi criado, imaginava-se que o número de denúncias seria bem maior do que as sete apresentadas até agora.

Em suas manifestações, os juízes têm rejeitado a tese dos procuradores de que os crimes têm caráter permanente e, portanto, não foram anistiados. Eles também não aceitam as referências a cortes internacionais, segundo as quais crimes contra a Humanidade não prescrevem e não podem ser anistiados. Os magistrados indicam sempre que se orientam pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O que mais citam é o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º 153, proposto pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Dois lados – O que se questionava naquele julgamento era o benefício da anistia para agentes de Estado envolvidos em casos de violações de direitos humanos. O STF rejeitou os argumentos da OAB e revalidou a interpretação de que a lei beneficiou tanto as vítimas de perseguições quanto perseguidores.

O grupo do MPF surgiu após a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que condenou o Brasil na ação que ficou conhecida como Caso Gomes Lund, por violações de direitos humanos no episódio da Guerrilha do Araguaia. De acordo com a sentença, o país é responsável pelo desaparecimento de 62 pessoas entre os anos de 1972 e 1974, durante a Guerrilha do Araguaia, e deve investigar e denunciar os autores dos crimes.

Manifestantes fazem protesto contra os crimes no período da ditadura/ Foto: Marcos Alves

A Corte afirma que as disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigação e punição de violações contra os direitos humanos são incompatíveis com a Convenção Americana dos Direitos Humanos. Ou seja, a Lei da Anistia vai contra um documento internacional assinado pelo Brasil e que o país deve respeitar.

Os procuradores já previam, por manifestações anteriores às denúncias, a resistência dos juízes. Eles devem, porém, continuar insistindo. O objetivo é levar a questão de volta ao STF, para debatê-la à luz da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Nas eleições, pode denunciar mas não pode instaurar inquérito

A Procuradoria-Geral da República (PRG) pediu ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que volte atrás e derrube a regra que impede o Ministério Público Federal de abrir investigações de crimes eleitorais em 2014. Caso o TSE não mude de ideia, o procurador-geral Rodrigo Janot já tem pronta a minuta de uma ação que pretende entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do tribunal.

No final do ano passado, o TSE, em sessão administrativa, aprovou uma resolução para as eleições de outubro tirando poderes dos procuradores de abrir inquérito sem pedir autorização para um juiz eleitoral, ao contrário do que ocorreu em 2010. A nova norma muda o entendimento do TSE. Antes, as resoluções determinavam que o inquérito policial eleitoral poderia ser instaurado por requisição da Justiça eleitoral e do Ministério Público. Porém, para as eleições de 2014 o MP foi excluído.

No TSE, os votos que decidiram pela mudança não foram unânimes. De um lado, o relator da nova norma, ministro Dias Toffoli, defendeu que, na Justiça Eleitoral, o poder de polícia é inerente ao juiz eleitoral. Já para o ministro Marco Aurélio, o sistema para instauração de inquéritos não provém do Código Eleitoral, mas do Código Penal. Marco Aurélio apontou ainda uma incongruência no que se reconhece ao Ministério Público a titularidade da ação penal e limita a provocação pela entidade da instauração do inquérito.

Informações de O Estado de S. Paulo, Agência Folhapress e Revista Conjur.

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Expulsão de jornalista norte-americano da Rússia aumenta preocupações com liberdade de expressão

A Rússia emitiu um comunicado nesta terça-feira (14), em que proíbe por cinco anos a entrada do jornalista norte-americano David Satter no país. O jornalista, que sempre criticou abertamente o presidente russo, Vladimir Putin, encontrava-se em Moscou desde setembro de 2013, trabalhando para a Radio Free Europe/Radio Liberty, emissora financiada pelo governo dos EUA. No entanto, foi banido da Rússia depois de ter relatado as manifestações contra a quebra do pacto entre a União Europeia e a Ucrânia.

David Satter é o primeiro jornalista impedido de permanecer na Rússia desde a Guerra Fria

Satter, de 66 anos, trabalhou como correspondente na Rússia do Finantial Times e do Wall Street Journal e é autor de três livros sobre a União Soviética e a Rússia. Durante a cobertura das manifestações na Ucrânia contra uma associação do país à Rússia, Satter ficou sabendo que sua presença era “indesejada”. A embaixada americana em Moscou emitiu nota oficial criticando a decisão do governo da Rússia.

O tratamento dado por Moscou ao repórter aumentou as preocupações sobre a liberdade de expressão antes da Olimpíada de Inverno de Sochi, em fevereiro. A última vez que a Rússia começou um jornalista americano foi em 1982, quando a Guerra Fria ainda abalava o mundo. A vítima na época foi Andrew Nagorsky, correspondente-chefe da Newsweek.

De acordo com comunicado emitido pelo Serviço de Migração da Rússia, o jornalista teria violado regras de permanência no país e a decisão de não permitir sua volta ao país não teria razões políticas. “David Satter permaneceu na Rússia em um período superior ao permitido por lei. Ele foi multado e submetido à deportação administrativa após a decisão do tribunal”, disse a nota. A decisão de expulsar o jornalista do País foi determinada pela justiça russa no fim de novembro.

Segundo a página pessoal de Satter, o jornalista viajou até Kiev, capital da Ucrânia, para uma exibição do seu filme “Age of Delirium”, um documentário sobre o declínio da União Soviética, e foi abordado por um diplomata da embaixada russa que lhe entregou um comunicado que dizia: “Os órgãos competentes decidiram que a sua presença no território da Federação Russa não é desejada. Você está proibido de entrar na Rússia”.

“Esta é a forma como geralmente são expulsos os espiões. Em quatro décadas de trabalho na Rússia nunca tinha visto esta fórmula aplicada a um jornalista. Isto significa que, por alguma razão maluca, me consideram uma ameaça à segurança”, disse Satter ao The Guardian.

Com informações de O Globo, BBC e Reuters.

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Caso Pedrinhas: Ministério da Justiça cria um comitê para gerir o caos e anuncia mutirão judicial

A atual crise carcerária do Maranhão, que teve início no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís – de onde líderes de facções têm ordenado estupros, incêndios a ônibus e realizado decapitações de presos –, gerou uma repercussão negativa na imprensa estrangeira. Em veículos dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Espanha e Argentina, a situação é considerada desumana. Diante das denúncias de graves violações dos direitos humanos, nesta quinta-feira (9), o drama nas penitenciárias do Maranhão se converteu oficialmente em uma crise nacional, inclusive com ameaça de intervenção federal no Estado.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se reuniu com a governadora Roseana Sarney (PMDB), e anunciou um pacote de medidas emergenciais para tentar debelar o caos prisional. Em um ano, 62 pessoas foram assassinadas dentro de penitenciárias, várias delas acabaram decapitadas.

As principais medidas são: a remoção de 25 presos que lideram facções criminosas para penitenciárias federais, a realização de um mutirão judicial para analisar a situação de todos os detentos do Estado, a criação de um núcleo para dar assistência psicológica aos familiares dos condenados e de outro núcleo para capacitar os agentes responsáveis pela segurança dos presídios. Todas as ações serão gerenciadas por um comitê estadual supervisionado pelo governo federal.

Leia também: ONU exige ‘investigação imediata’ de mortes em presídio do Maranhão

No encontro, o ministro e a governadora também decidiram que a Força Nacional (um grupo de policiais de diversas unidades da federação) fará até o fim de fevereiro a segurança do complexo penitenciário de Pedrinhas, onde aconteceram a maior parte das mortes, além de vários estupros de mulheres e familiares de presos.

Após o encontro, a governadora prometeu ainda fazer algo que, até agora, em seus quase cinco anos de mandato, não conseguiu: zerar o déficit de vagas em cadeias. Hoje, o Estado tem cerca de 5.400 detentos em 2.200 vagas. Segundo a governadora, até o mês de dezembro, serão construídas cinco novas prisões que juntas terão mais 2.800 vagas.

‘Onda de violência acontece porque Maranhão está mais rico’, diz governadora

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, afirmou que o aumento da violência no estado que administra ocorre porque houve elevação da riqueza. “O Maranhão está atraindo empresas e investimentos. Um dos problemas que está piorando a segurança é que o Estado está mais rico, o que aumenta o número de habitantes”, defendeu a governadora, em sua primeira entrevista após a morte em série de presidiários e dos ataques feitos nas ruas por facções, que resultaram na morte de uma menina de seis anos, em um incêndio a ônibus.

No entanto, o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dá conta de um Maranhão – governado há décadas pela família Sarney – que frequenta assiduamente as piores posições em rankings de desenvolvimento humano e social do Brasil. O estado tem um índice de desenvolvimento humano igual ao do Brasil em 1980, que era de 0,683. Mais de 40% dos domicílios urbanos vivem com meio salário mínimo, tem a segunda maior taxa de mortalidade infantil (39,2 por mil nascidos vivos), e a segunda menor expectativa de vida no Brasil (67,6 anos).

Roseana afirmou ainda que foram contabilizadas quatro mortes no sistema penitenciário maranhense em 2012 e, até setembro do ano passado, 39. “Até setembro estava dentro do limite que se esperava”, disse, ao argumentar que os óbitos aconteceram somente em uma unidade do complexo de Pedrinhas, onde duas facções disputam o domínio do tráfico e da cadeia. A governadora esteve reunida nesta quinta-feira (9) com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que anunciou um plano para tentar conter a crise no Maranhão. Informações do Globo.

Intervenção federal

No início da semana, parte da imprensa brasileira anunciou que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, iria pedir a intervenção federal no Estado por conta da crise prisional. A assessoria do procurador, porém, informou que ele ainda não decidiu como se posicionar e que não há um prazo para isso.

Na prática, se houver uma intervenção no Estado, a governadora perderia sua autonomia e as decisões seriam tomadas por algum representante da União escolhido pela presidenta Dilma, de quem Roseana e o pai dela, o senador e ex-presidente José Sarney, são aliados de primeira hora. A intervenção foi pedida por juízes e promotores vinculados aos Conselhos Nacional de Justiça e do Ministério Público. Três ONGs de direitos humanos também solicitaram a intervenção.

O pedido de intervenção federal em casos de direitos humanos em presídios não costuma ter resultado no Brasil. Em 2008, por exemplo, a Procuradoria Geral da República pediu a intervenção no Estado de Roraima por conta do caos penitenciário no presídio de Urso Branco. Na ocasião, as autoridades e ONGs constataram várias afrontas aos direitos humanos. Quase seis anos depois, o pedido não foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal. No caso do Maranhão, integrantes do governo afirmam que a influência do senador José Sarney (PMDB-AP) no Judiciário afastaria a chance de o STF aprovar uma intervenção federal no Maranhão.

Com informações de O Globo, Agência Brasil, El País e Folha de S. Paulo.

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ONU exige ‘investigação imediata’ de mortes em presídio do Maranhão

A Organização das Nações Unidas denuncia o “estado terrível” das prisões no Brasil e exige que o governo abra investigações para apurar as graves violações dos direitos humanos ocorridas no Maranhão, diante das imagens divulgadas – inclusive com decapitações de presos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís -, e processe os responsáveis. “Apelamos às autoridades para realizarem uma investigação imediata, imparcial e efetiva dos fatos e processar as pessoas consideradas como responsáveis”, disse Rupert Colville, porta-voz da Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay.

Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos ataca sistema carcerário brasileiro e cobra que os responsáveis pela violência sejam processados

Em um comunicado divulgado na manhã desta quarta-feira, 8, em Genebra, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos insistiu em atacar a situação das prisões no Brasil. “Lamentamos ter que, mais uma vez, expressar preocupação com o terrível estado das prisões no Brasil e apelar às autoridades a tomar medidas imediatas para restaurar a ordem na prisão de Pedrinhas e em outras prisões do País”, indicou Colville. A ONU ainda pede que a “superlotação seja reduzida e que condições dignas sejam oferecidas para pessoas privadas de liberdade”.

Não é a primeira vez que o Brasil é criticado pela ONU por causa das condições carcerárias. Desde 2003, informes e inspeções ao País realizadas pela entidade mostram que as prisões representam violações aos direitos humanos. Nesse período, a ONU alerta que pouco mudou.

“Estamos incomodados por saber das conclusões do recente relatório do Conselho Nacional de Justiça, revelando que 59 detentos foram mortos em 2013 no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, assim como as últimas imagens de violência explícita entre os presos”, diz Colville.

Cabe ao Maranhão resolver violência, diz ministra

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), Maria do Rosário, disse nesta terça-feira, 07, que cabe ao Governo do Maranhão solucionar a violência dentro e fora dos presídios do Estado. Para ela, as medidas de autoridades locais foram “insuficientes para preservar a vida” dos presos, apesar de sucessivos alertas do governo federal, e cabe a elas a “retomada adequada do controle”.

Apesar das declarações da ministra, o descaso, a falta de vagas e de investimento no sistema penitenciário também já vinham sendo apontados pelas autoridades, como nos mutirões feitos pelo Conselho Nacional de Justiça. As penitenciárias são precárias e superlotadas. Há 1,9 preso por vaga no sistema maranhense, o que coloca as prisões do Estado no 7.º lugar entre as mais lotadas do País.

Entre os anos de 2000 e 2013, os homicídios em São Luís e na região metropolitana cresceram 460%. Foram 807 mortes em 2013. Contribuiu para a epidemia de violência o fato de o Maranhão ter a menor relação de policiais por habitante no Brasil: 1 para cada 710 moradores, proporção que em Brasília, a mais alta, é de 1 para 135 pessoas.

De dentro do presídio, criminosos ordenaram quatro ataques a ônibus e a uma delegacia em São Luís

O Complexo Penitenciário de Pedrinhas, com 2,5 mil detentos, registra episódios de barbárie com 62 mortes desde o ano passado, fruto da guerra entre facções de presos. Dali, partiram ordens para ataques que aterrorizam a capital, São Luís. Conforme a ministra, a SDH recebeu desde 2011 relatos de 31 situações graves em Pedrinhas, repassando todas elas ao Estado. “Lamentavelmente, nós nem sempre encontramos encaminhamento para aquilo que buscamos realizar”, comentou.

A ministra disse que o governo federal está disponível para ajudar, mas o restabelecimento de uma situação de normalidade é das autoridades do Estado, comandado pela governadora Roseana Sarney (PMDB). “É uma situação gravíssima, dentro das penitenciárias e fora. Estamos, em tudo o que diz respeito ao governo, dispostos a contribuir. Mas não somos os gestores do sistema”, afirmou. “As medidas que foram tomadas, no âmbito do Estado, não foram suficientes e é preciso, sim, uma retomada adequada do controle, para que redes criminosas não permaneçam aterrorizando a população e os presos.”

Denúncia de violação

Líderes de facções criminosas exigem sexo de parentes de detentos para evitar execuções

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, começou a analisar nesta terça-feira (7) documentos sobre violação de direitos humanos no Presídio de Pedrinhas, em São Luís, no Maranhão, para um possível pedido de intervenção federal no Estado. Ele já recebeu denúncias de decapitações e violência sexual dentro do sistema penitenciário feitas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e um relatório de defesa apresentado pelo governo maranhense. Uma intervenção por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a partir de um pedido de Janot, seria a única possível.

Ainda assim, a execução da medida passa pela União, que também pode decretar uma intervenção sem ouvir outros poderes. O Planalto não cogita uma medida drástica contra a governadora aliada Roseana Sarney (PMDB), ressaltam assessores. O artigo 34 da Constituição prevê intervenção federal num Estado para assegurar, por exemplo, o “direito da pessoa humana”.

Informações da Agência Estado e O Estado de S. Paulo

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