O ano novo é uma boa pedida para que as pessoas organizem suas metas, sejam pessoais ou profissionais. É tempo de reorganizar carreiras, traçar propósitos e apreender conhecimentos que permitam melhorar sua atividade profissional. Se você é jornalista, poderá aproveitar as dicas passadas pela jornalista Selene San Felice, que sobreviveu a um massacre na redação do jornal “The Capital Gazette” de Annapolis, região a 50 km de Washington. Felice escreveu um artigo para o Instituto Poynter de Estudos de Mídia, com dicas sobre como entrevistar vítimas de trauma.
Em 28 de junho de 2018, o atirador Jarrod Warren Ramos realizou o ataque que deixou cinco mortos no jornal The Gazzete. Desde que o massacre aconteceu, Felice se viu colocada diante de situações embaraçosas. Ela conta que foi subornada, assediada e continuamente re-traumatizada por repórteres que não sabiam como lidar com sua história.
Situações de assédio
Segundo San Felice, não importa o quão sensível você seja enquanto jornalista, há algumas situações em que somente vivenciando o profissional, talvez, conseguirá entender. Para ilustrar o tópico originalmente intitulado em tradução literal para o português como “gafe”, a jornalista exemplificou o assédio sofrido logo após o massacre. Repórteres incessantemente tocavam a campainha da casa de seus pais. Para ela, aquilo soava como a continuidade dos tiros no dia do atentado.
Para evitar a situação desconfortável de “bater à porta sem ser convidado”, San indica que: “se puder, esgote todos os esforços para alcançar um indivíduo traumatizado”, utilize internet ou telefone antes de aparecer na porta deles.
Sem suborno!
Ofertar “mimos” à sua fonte é tão intimidador quanto subornar através de dinheiro. No artigo, a jornalista diz que a “gota d’água” foi quando um repórter incessantemente buscou aproximar-se dela e não conseguindo, ele comprou flores para lhe presentear. “Passar de repórter para assunto de história significava que eu sempre recebia condolências antes dos repórteres fazerem perguntas. Eu sabia que tudo era sincero em algum nível”, pondera . “Mas ficou difícil distinguir o que era genuíno de repórter para repórter, ou que atos de bondade implicavam que eu basicamente devia entrevistas às pessoas porque estava no negócio”, completa.
Evite que uma vítima experimente novamente o trauma
A jornalista nesse trecho do artigo fala brevemente sobre como evitar que a vítima passe por um processo de “re-traumatização”. “Faça sua lição de casa. Assista, leia e ouça o máximo de entrevistas que eles já fizeram. Vasculhe suas mídias sociais. Tente o máximo possível para mantê-los fora dos lugares obscuros para os quais elas não têm que retornar”, aconselha.
Psicólogos costumam definir o processo chamado de re-traumatização por Selene San Felice como um estímulo ao TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático). O estresse pós-traumático é definido como a dificuldade de se recuperar de um ou mais eventos traumáticos. Neste caso, situações invasivas, como uma entrevista mal conduzida, podem estimular vítimas de trauma a desenvolverem TEPT.
Acima de conduzir a entrevista, consiga retirar a vítima do ambiente do trauma
Uma das dicas finais da jornalista chama bastante atenção. Se, para entrevistar uma pessoa vítima de um massacre, você precisa pô-la metaforicamente no lugar onde tudo aconteceu, saiba também como retirar essa pessoa de lá. “Tenha estratégias prontas para aplicar quando uma fonte se angustia ou reage negativamente durante a recontagem dos fatos. Esteja pronto para puxar a corda do paraquedas!”, ela diz.
As dicas de Selene San Felice para o Poyinter nos fazem refletir sobre as vezes que recolocamos as vítimas sob seus traumas, mas não fazemos esforços para trazê-las de volta à realidade, onde o episódio não ocorre mais.
Uma das dicas mais valiosas que a jornalista pôde compartilhar com os profissionais do jornalismo é que devemos ter empatia, independentemente de que trauma a vítima que você entrevista tenha sofrido. “Conheça sua fonte além do que aconteceu com ela ou com uma pessoa amada. Descubra o que os faz felizes. Pergunte a eles o que os faz sentir-se fortalecidos em sua vida ou sobre a vida de seus entes queridos”, diz um dos trechos do artigo.
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*I’sis Almeida é estagiária da ABI sob a supervisão de Joseanne Guedes.