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Anistia Internacional destaca crise de segurança no Brasil e pede reforma da polícia

A Anistia Internacional destacou em seu relatório anual, a ser divulgado mundialmente nesta quarta-feira (25), o agravamento da crise da segurança pública no Brasil, com uma curva ascendente na quantidade de homicídios, e listou recomendações a serem tomadas para começar a reverter a situação. Intitulado “O Estado dos Direitos Humanos no Mundo”, o documento abrange pesquisas feitas em 160 países durante o ano de 2014 e início de 2015, avaliando questões relacionadas à segurança e à situação dos direitos humanos nesses locais. Dentre as sugestões, estão a elaboração de um plano nacional para redução imediata dos assassinatos, com uma articulação entre os governos federal e estaduais, e a desmilitarização e reforma das polícias no País.

Na seção brasileira, que tem 10 páginas, a entidade faz uma retrospectiva de fatos preocupantes de violação de direitos. Mais uma vez, a violência policial é o foco principal. A entidade, que há mais de 30 anos denuncia os abusos cometidos por policiais nas ruas, faz um alerta para o aumento dos homicídios – já ultrapassam a marca de 56 mil casos por ano. O capítulo dedicado ao Brasil também aborda as rebeliões com mortes violentas em presídios superlotados e os casos de tortura. Ao citar os protestos feitos antes da Copa do Mundo, a Anistia Internacional, afirma que eles foram reprimidos pela polícia com ”força excessiva e desnecessária” e destaca o caso do cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, morto enquanto trabalhava. Ele foi atingido por um rojão lançado por dois manifestantes.

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De acordo com o relatório, a Bahia é um dos estados do país que apresenta maior número de casos de homicídio e de violação de direitos humanos. Dentre os exemplos de violação citados está o caso da família de Jorge Lázaro, que teve dois dos seis filhos assassinados em menos de cinco anos em Salvador. Por meio da assessoria de comunicação, a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) não quis tratar sobre o documento. “A SSP-BA não comenta pesquisas ou estudos, pois não existe metodologia unificada em todo o país para contabilizar o número de homicídios”, informou.

De acordo com o coordenador nacional da campanha “Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto”, Hamilton Borges, os dados apresentados pelo estudo são fruto de uma política de segurança que tem como modelo as práticas violentas adotadas durante a ditadura militar. “Com os atuais dispositivos de segurança, a população negra e pobre foi etiquetada com a permissão para ser abatida. Vivemos uma política criminal sem senso crítico”, afirmou.

A Anistia pediu atenção especial por parte das autoridades brasileiras. “A falta de priorização do tema da segurança pública no País tem vitimado tanto agentes de segurança quanto a população – destacando-se uma parcela jovem, negra, pobre e radicada nas periferias”, destacaram os analistas. O diretor-executivo da Anistia no Brasil, Atila Roque, classificou como “inadmissível” o nível de homicídios registrado no País. “Cultivamos a ideia de um país pacífico, mas convivemos com números de homicídios que superam situações onde existem conflitos armados e guerras. É inadmissível que haja cerca de 56 mil vítimas de homicídios por ano, a maior parte composta de jovens, e este não seja o principal tema de debate na agenda pública nacional”, disse.

Roque reagiu contra a prática de “justiça pela próprias mãos”, que encontrou vários exemplos no Brasil durante o ano passado, e pediu inteligência no combate ao crime. “Enquanto prevalecer o discurso de violência e uma espécie de Estado de exceção, que corrobore a percepção de que a vida de uns vale mais do que a de outros, viveremos a barbárie. ‘Bandido bom é bandido morto’ é uma filosofia em que todos saem perdendo. Perde o Estado que coloca a vida de seus agentes de segurança em risco e abre mão de enfrentar o crime com inteligência; e perde a sociedade, brutalizada e acuada pelo medo da violência”, analisou Atila Roque.

Após relatar casos de repercussão como o desaparecimento do pedreiro Amarildo, no Rio de Janeiro, dados de letalidade das polícias militares, rebeliões com mortes em presídios, em especial em Pedrinhas, no Maranhão, a entidade fez três recomendações. A primeira delas diz respeito à elaboração de um “plano nacional de metas para a redução imediata de homicídios”. A organização pede também a desmilitarização e a reforma da polícia, “estabelecendo mecanismos efetivos de controle externo da atividade policial, promovendo a valorização dos agentes, aprimorando sua formação e condições de trabalho”. Por fim, recomendou a implementação plena de um programa de defensores de direitos humanos, “que proteja lideranças nos campos e nas cidades promova ampla discussão sobre a origem das violações que os afetam”.

*Informações do Estadão, A Tarde e O Globo.

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Sob pressão, Brasil lança nota sobre a Venezuela e cita atos contra opositores de Maduro

O clima de tensão se intensificou na Venezuela e há o temor de que o conflito volte às ruas de vez após os protestos desta terça (24) em Táchira, onde um adolescente de 14 anos, Kluiver Roa, morreu em circunstâncias ainda não esclarecidas, durante violentos confrontos entre manifestantes oposicionistas e as forças de segurança. Pressionada, a diplomacia brasileira lançou ontem a segunda nota em quatro dias sobre a crise venezuelana. Para os padrões do Governo Dilma Rousseff, o texto subiu o tom contra Nicolás Maduro e afirmou que “medidas” “que afetam diretamente partidos políticos e representantes democraticamente eleitos” na Venezuela são motivo de “crescente atenção”. Foi uma referência direta à prisão do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, na quinta-feira, sob acusação de conspiração, e às buscas feitas na sede do partido oposicionista Copei em várias cidades da Venezuela nesta semana. Na nota na sexta, o caso de Ledezma não havia sido citado. O texto desta terça também critica o chamado de opositores a “abreviar” o mandato de Maduro.

O governo brasileiro está sob intensas críticas, provenientes do mundo político doméstico, analistas e de ONGs de direitos humanos, pela suavidade com que trata os últimos movimentos do governo Maduro. O argumento repetido por Brasília é que não pode ultrapassar o limite da ingerência e que é preciso preservar o status de mediador no conflito. Um trio de chanceleres da Unasul, formado por Brasil, Colômbia e Equador, planeja para os próximos dias nova visita a Caracas para continuar as gestões da organização sul-americana e do Vaticano na crise. São crescentes as críticas à limitação da Unasul na questão. A própria decisão de Brasília de enviar recados de maneira individual, por meio das duas notas do Itamaraty, reforça essa impressão.

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“O governo brasileiro considera imperiosa a pronta retomada do diálogo político auspiciado pela Unasul por meio da Comissão de Chanceleres, que tem contado com o decidido apoio da Santa Sé. Nesse sentido, reitera sua disposição de contribuir de forma ativa com o governo venezuelano e com todos os setores envolvidos na Venezuela para a retomada desse diálogo. O Brasil insta os atores políticos venezuelanos, assim como  as forças sociais que os apoiam, a absterem-se de quaisquer atos que possam criar dificuldades a esse almejado diálogo”, diz a nota. A crise venezuelana deve ser um tema de conversas entre os mandatários do Mercosul, do qual a Venezuela faz parte, durante a posse do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, no domingo.

*Informações do El País (Edição Brasil) e do Ministério das Relações Exteriores via Portal Brasil.

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Edição histórica do satírico francês ‘Charlie Hebdo’ chega ao Brasil

A primeira edição da revista satírica francesa Charlie Hebdo após o ataque terrorista que matou 12 pessoas no último dia 7, em Paris, chega ao Brasil na próxima segunda-feira (26), em francês. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, os 10 mil exemplares da publicação que será distribuída pela Abril poderão ser encontrados em redes de livrarias como Saraiva, Cultura e Fnac, além de bancas de São Paulo, do Rio de Janeiro e de outras 15 capitais. O preço previsto é R$ 29,90. A edição especial também está à venda em outros 30 países, com tiragem internacional de 130 mil. No dia 17 (sábado), o jornal anunciou que voltaria a ampliar sua tiragem de cinco para sete milhões, superando em muito os habituais 60 mil exemplares.

“Na França ele custava cerca de € 3, mas para trazer temos outros custos, como frete, logística e importação. Nós tentamos trazer uma parte em inglês também, mas não estava disponível. A procura de outros países estava grande”, afirma Rodrigo Agmont, gerente comercial da Dinap. Em comunicado divulgado pela Dinap, braço de distribuição da Abril, o diretor geral Bruno Tortorello conta que muitos pontos de venda no país foram questionados por clientes procurando um exemplar do jornal satírico. “Os brasileiros estão cada vez mais engajados e, com a chegada da edição histórica do Charlie Hebdo, terão acesso a esta grande mobilização mundial pela liberdade de expressão.”

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Quando foi lançada na França, no último dia 14, a primeira edição publicada após o ataque à redação da revista se esgotou em minutos nas bancas de jornais do país. Em Londres, na sexta (16/01), houve filas em livrarias e bancas já nas primeiras horas da manhã, para comprar exemplares em apoio ao semanário satírico. Na capa desta edição, o profeta Maomé é retratado chorando e segurando um cartaz com a frase “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie), sob os dizeres “Tout est pardonné” (Tudo está perdoado), o que gerou novos protestos violentos ao redor do mundo.

Líderes muçulmanos criticaram o que consideram uma nova provocação do periódico. Manifestações contrárias à última edição da Charlie Hebdo começaram no Paquistão e se espalharam rapidamente para a Turquia e para o Oriente Médio. No Níger, país do Norte da África, dez pessoas morreram e igrejas cristãs foram incendiadas no último domingo, 18 de janeiro. Os ataques contra a sede da publicação e contra um mercado judaico, em Paris, entre os dias 7  e 9 de janeiro, deixaram 19 mortos, foi reivindicado pela Al-Qaeda no Iêmen, que atribuiu a ação a uma ‘vingança’ pelas caricaturas do profeta Maomé.

*Informações do Portal IMPRENSA, Folha de S. Paulo e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

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O maior julgamento da história do Supremo não será televisionado

Supremo se fecha após desgastes e traumas do julgamento do mensalão

(DEU NO EL PAÍS) – “Vamos fazer nosso trabalho, e não chicana, ministro”, disse o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa ao colega Ricardo Lewandowski na última das várias e tensas discussões que marcaram o julgamento do mensalão e que ainda parecem ecoar no Plenário da maior Corte do país. Após julgar o maior caso de sua história em 53 transmissões de televisão e internet ao vivo — o que permitiu a milhares de brasileiros aprender, entre outras coisas, que “chicana” é um artifício para atrasar julgamentos —, o STF se prepara para tratar do novo maior caso de corrupção do Brasil sem expor seus ministros ao vídeo.

Nove meses depois desse último e desgastante embate público entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, o STF mudou seu regimento interno para deixar de julgar políticos com foro privilegiado no Plenário — desde maio de 2014, esses julgamentos são feitos pela Segunda Turma da Corte, composta por apenas cinco dos 11 ministros do tribunal. A mudança, que é questionada formalmente pela Câmara dos Deputados (leia mais em Câmara questiona mudança, abaixo), foi feita em nome da celeridade, mas uma fonte que frequenta os bastidores do Supremo garante que a maior discrição das deliberações da Segunda Turma pesou na hora de o tribunal optar pela alteração.

Sem título-vertAs sessões da Segunda Turma são abertas e qualquer pessoa pode frequentá-las, mas essas reuniões nunca foram transmitidas em vídeo, porque ocorrem ao mesmo tempo que as reuniões da Primeira Turma, e o STF nunca quis privilegiar um dos grupos com exibições ao vivo. O advento da internet, contudo, permitiria transmissões em streaming de vídeo, mas, consultado pelo EL PAÍS, o Supremo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “ainda não há previsão para transmissão das sessões das Turmas do STF”. Ou seja, se nada mudar até fevereiro, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar a denúncia contra os estimados 100 políticos investigados pela Operação Lava Jato, o maior caso de corrupção da história do país será julgado longe dos olhos da maioria da população brasileira.

A Segunda Turma do STF comporta no máximo 235 espectadores — 126 em suas poltronas fixas e 109 em cadeiras que podem ser acrescentadas, a depender da necessidade. Para além dessas dezenas de privilegiados, quem quiser ter acesso direto a detalhes do julgamento de políticos pela Corte Suprema terá de ficar atento às imagens que as emissoras de tevê podem coletar durante 10 minutos em cada reunião das Turmas ou solicitar cópias da íntegra das sessões em áudio e vídeo à Secretaria de Comunicação Social do STF. Em vias do julgamento do maior caso de corrupção da história do país, a mudança divide o mundo jurídico.

Para Wadih Damous, presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB e um dos maiores críticos da forma de condução do julgamento do mensalão, o STF acerta ao optar pela discrição. “Acho a medida correta, julgamento não é espetáculo. Quando há elementos externos de pressão, em que só pode haver um resultado possível, que é a condenação, saímos do estado de direito e entramos no autoritarismo”, defende o jurista. O advogado Gustavo Badaró, que defendeu Silvio Pereira no julgamento do mensalão, também vê benefícios na alteração, pois sem televisão “os ânimos não estarão tão acirrados” e “não haverá votos tão longos ou citações e demonstrações de erudição que em nada acrescentam ao julgamento da matéria”.

Apesar de concordar que as transmissões ao vivo podem influir nos julgamentos, o professor de Direito Penal da FGV Thiago Bottino acredita que a exposição das sessões contribui para a transparência do Judiciário e para a educação da população brasileira. “Os prós são superiores aos contras. Não televisionar vai trazer algumas perdas, como a impossibilidade de controlar o Judiciário. Do ponto de vista do acusado absolvido, também seria importante exibir o resultado”, diz Bottino, que menciona os ganhos alcançados com a transmissão de julgamentos de grande repercussão como os de ações afirmativas e de pesquisa com células-tronco (esses casos de repercussão geral seguem sendo julgados pelo Plenário do STF).

Também professor da FGV, o especialista em Direito Constitucional Joaquim Falcão é ainda mais contundente em sua defesa da transparência nos julgamentos. “No caso do mensalão, o Supremo se impôs, com legitimidade. O Supremo ganhou com o mensalão. Não justifica se fechar. Temos pesquisas que mostram que, quando se falava em Justiça, antes desse julgamento, o que vinha na cabeça do cidadão eram crimes e prisão. Agora, quando se fala em Justiça, as pessoas relacionam ao Supremo. Isso foi um conquista”, argumenta o professor, segundo quem o Brasil divide com a Inglaterra e o México o pioneirismo nas transmissões de julgamentos — um tema que também começa a ganhar força nos Estados Unidos. “O caminho é o da transparência, e não o da proibição de veiculação”, defende Falcão.

*Texto de Rodolfo Borges para o El País (Edição Brasil)

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