Na noite desta terça-feira (16), a Câmara Municipal de Salvador (CMS) concedeu mais uma justa homenagem ao jornalista, escritor, poeta, compositor e agitador cultural Clarindo Silva: a Medalha do Mérito Cultural. A distinção, uma iniciativa do vereador Edvaldo Brito, reconhece a inestimável contribuição de Clarindo para a cultura soteropolitana e sua atuação em defesa do Centro Histórico.
A honraria é entregue a pessoas ou instituições que desenvolvam ações de promoção à cultura, bem como a personalidades de destaque cultural em Salvador. Em seu discurso de homenagem, o professor Edvaldo Brito fez um resgate do extenso currículo profissional de Clarindo. Das atividades exercidas desde a juventude até os cargos em que o Mestre Calá atuou mais diretamente na defesa do Centro Histórico, em órgãos como Ipac e Sudene, e a sua contribuição para a organização da Lavagem do Bonfim. “Ele é o homem que lutou permanentemente pelo tombamento do Pelourinho”, enfatizou.
Emocionado, Clarindo fez um agradecimento especial aos seus antepassados, direcionando com carinho aos seus pais e avós. Em tom solene, afirmou estar constantemente transformando o sonho de sua família – vinda de Conceição do Almeida, interior da Bahia – em realidade. Ao receber a medalha, ele também relembrou fases difíceis de sua trajetória, como sua época de escola e, fatalmente, o racismo enfrentado nas salas de aula, onde chegou a ser desacreditado por professores.
O momento foi compartilhado com a família, representada pela esposa de Clarindo, D. Maria do Carmo, e seus filhos Cléodo Mércio, Cláudia Marciana, Clériston Marcos e Cléa Mercedes.
“Essa homenagem reverbera outros momentos que já aconteceram antes aqui. Essa era a última honraria que poderia ser oferecida pelo município. Quando a gente pensa na história de meu pai, temos vários momentos de ascensão, de estagnação e de decadência do Centro Histórico de Salvador. Aí, a gente lembra que do seu grande exemplo de resistência diante de todas as adversidades em todo esse período”, afirma Cláudia Marciana.
Clarindo Silva tem sua trajetória no campo da escrita iniciada há mais de cinquenta anos, quando atuou como repórter policial nos jornais A Tarde, Jornal da Bahia e Tribuna da Bahia. Com o tempo, migrou da reportagem para a literatura, não deixando de usar a pena para a defesa intransigente do Centro Histórico de Salvador, região que tem em sua Cantina da Lua um bastião de resistência. Com a Medalha do Mérito Cultural, Clarindo completou a lista de todas as honrarias concedidas pela CMS.
À mesa, junto com o homenageado estavam o professor Edvaldo Brito; a secretária de Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães; a vereadora Marta Rodrigues; o desembargador Lidivaldo Reaiche; os vereadores Martha Rodrigues e Arnando Lessa; Magalhães, diretor de Turismo de Salvador; o jornalista James Martins e o presidente da Associação Bahiana de Imprensa, Ernesto Marques.
Já na plateia, além de amigos e familiares de Clarindo Silva, ilustres membros da política, cultura e imprensa baiana estiveram presentes na CMS. Dentre eles, o 1º vice-presidente da ABI, Luis Guilherme Pontes Tavares, e a 1ª secretária, Amália Casal. Bem como o jornalista Tasso Franco e a guia de turismo internacional, Creuza Carqueija – neta de Cosme de Farias.
Para a secretária Ângela Guimarães, é um justo reconhecimento por sua longa trajetória de contribuição cultural, social, de resistência. “Ele é um personagem do nosso Centro Histórico, é uma figura que concentra muito do sentido da resistência da população negra, que registra também uma memória ativa do nosso povo na construção dos sentidos dessa cidade conhecida como Roma Negra”.
A cerimônia contou com apresentações de artistas como Mario Ulloa, Carla Lis e Zéu Lobo, que no encerramento embalaram uma ala de baianas com muito samba de roda.
Viva o Pelô. Pelô vivo!
Com lágrimas nos olhos, pouco antes de encerrar seu discurso, Clarindo Silva fez um apelo aos presentes. “Vamos preservar o Centro Histórico!”, bradou.
Como não poderia deixar de ser, ele falou com saudade sobre os tempos áureos do Pelourinho e o processo de esvaziamento da região, bem como a luta pela revitalização desse espaço tão importante para baianos e baianas. Dentre os locais que Mestre Calá defendeu durante seu agradecimento, destaque para a primeira escola de Medicina do Brasil e o imóvel onde morou Ruy Barbosa, a futura Casa da Palavra, que pertence à ABI.