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Consulta da CGI indica necessidade de fortalecer jornalismo profissional

Por Daniel Mello – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

O fortalecimento do jornalismo como forma de combater a desinformação foi um dos consensos formados a partir de consulta aberta pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). A entidade recebeu por cerca de três meses contribuições sobre forma de regulação e riscos oferecidos pelas plataformas digitais no país.

Foram recolhidas mais de 1,3 mil contribuições de pessoas físicas e de organizações governamentais, empresariais e do desenvolvimento científico e tecnológico.

A rápida disseminação de informações falsas ou distorcidas, transmitidas de forma intencional para obter resultados como influenciar em eleições, enfraquecer instituições ou disputar debates públicos foi um dos temas avaliados no processo.

Esse fenômeno, chamado de infodemia, é possibilitado, segundo as contribuições à consulta, por três fatores principais: a coleta e análise massiva de dados; a segmentação dos públicos em nichos específicos pelas plataformas; os sistemas algorítmicos com foco em aumentar o tempo de engajamento dos usuários nas plataformas e o retorno financeiro dos conteúdos feito fundamentalmente com publicidade.

As estratégias anticompetitivas também foram apontadas como um problema no setor. De acordo com o relatório elaborado com base nas contribuições, a concentração de dados nas plataformas se transforma em um grande poder econômico, que pode ser usado para atuar em outros mercados. Essa dinâmica prejudica ainda mais as possibilidades de concorrência. “Em deterioração de inovação e qualidade de produtos e serviços, com impactos também em outros âmbitos, como liberdade de expressão e proteção de dados”, acrescenta o documento.

Uma grande divergência nas contribuições está na transparência no funcionamento das plataformas. Enquanto as empresas defendem que essas informações passam por questões comerciais sensíveis relacionadas aos modelos de negócio, as organizações da sociedade civil argumentam que se trata de pontos de interesse público.

Projetos de lei
A regulação das plataformas atualmente é tema de diversos projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional, apesar de alguns assuntos levantados na consulta ainda não serem tratados pelo Legislativo. Um deles é o Projeto de Lei (PL) 2.630 de 2020, conhecido como Projeto de Lei das Fake News (notícias falsas).

Segundo a conselheira do CGI, Bia Barbosa, um dos temas com destaque na consulta tratados no PL é o aumento da responsabilização das plataformas por conteúdos com monetização ou impulsionamento. Ou seja, as empresas devem responder por conteúdos pelos quais os produtores recebem remuneração da plataforma ou que, por pagamento, ganharam mais alcance nas redes.

O financiamento do jornalismo profissional pelas plataformas digitais é tratado em outro projeto de lei, o 2.370 de 2019, após o tema ser desmembrado do PL das Fake News. “A questão do fortalecimento do jornalismo como uma saída para o enfrentamento à desinformação hoje não está mais dentro do [PL] 2.630, mas na sua origem a questão da remuneração do jornalismo, do uso de conteúdos produzidos por empresas jornalísticas, por iniciativas de jornalismo, pelas plataformas digitais, aparece como uma medida de mitigação desses riscos que estão colocados a direitos fundamentais e a democracia”, enfatizou Bia.

RELATÓRIO COMPLETO | CLIQUE AQUI
Sistematização das Contribuições à Consulta sobre Regulação de Plataformas Digitais

Texto: Agência Brasil
Foto: Desola Lanre-Ologun/Unsplash

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Alta lucratividade é o que mantém o mercado digital de fake news

As fake news propagam a desinformação sobre diversos temas. A época mais notável delas foi durante a pandemia da covid-19, quando espalharam tratamentos ineficazes, questionaram a qualidade da vacina e menosprezaram a pandemia. Porém, elas ainda estão presentes no dia a dia e têm a intenção de continuar no cotidiano da sociedade. “Estão identificando que a gente precisa construir uma espécie de ecossistema da governança digital. Não está só em uma mídia social, não está só em uma plataforma. Ela vai se espalhando, diferentes canais vão citando o outro. Você precisa criar um ecossistema que combine: ações estatais, de mercado, que incluam as moderações de conteúdo, mas também ações da sociedade civil, construído com base num equilíbrio entre liberdade de expressão e interesse público”, explica o professor Vitor Blotta, do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP.

Para a construção de um ecossistema saudável no meio digital também é necessário entender como a estrutura de plataformas onde as fake news se propagam, como o YouTube, funciona.

Monetização

O termo monetização vem da palavra money que, traduzido para português, significa dinheiro. Monetizar algo corresponde a ganhar dinheiro com aquilo. Por exemplo, o YouTube disponibiliza algumas formas de o produtor do conteúdo, ou seja, aqueles que produzem e publicam vídeos no aplicativo, monetizar as publicações e, assim, lucrar com elas.

Vitor Souza Lima Blotta – Foto: Arquivo pessoal

“Uma das formas é a monetização direta, você cria uma espécie de parceria: se você é um produtor de conteúdo, você vira, por exemplo, um parceiro do YouTube para receber recursos se você tem muitas visualizações. Um outro caminho é a plataforma recebendo diretamente pela divulgação de anúncios. Tem a ver com uma parceria que o YouTube faz muitas vezes pelo programa chamado Google AdSense e tenta direcionar bastante os anúncios para públicos de grande audiência. Outra modalidade são os grupos sociais com interesses políticos que financiam pessoas para produção de notícias, nesse caso fraudulentas, para conseguir divulgar ideologias, então também há um financiamento por grupos de interesse”, pontua Blotta.

A monetização é apenas um mecanismo para ganhar alguma renda com a produção, porém, na propagação de fake news, o conteúdo é extremamente relevante.

Conteúdo

O alto engajamento com notícias falsas é um grave problema, já que, além dos produtores e disseminadores monetizarem essas informações, torna-se muito mais difícil controlar a propagação delas. Blotta explica como funciona o ciclo do consumo de fake news: “Os algoritmos acabam funcionando como uma espécie de isca: outro vídeo já vai aparecendo antes de terminar o primeiro. Eles vão criando uma forma, não só no YouTube como em outras mídias sociais, de você continuar na plataforma, continuar interagindo sem sair e ininterruptamente. Quanto mais tempo as pessoas ficam na plataforma, maior a possibilidade de conseguir anunciantes, recursos. É um modelo para fisgar a gente, continuar fazendo com que a gente interaja como o vídeo um atrás do outro. Não dá tempo nem de você pensar”.

Mesmo com a existência de políticas de moderação na plataforma YouTube, a pesquisa da Unicamp, feita em parceria com Institute for Globally Distributed Open Research and Education e com a Universidade da Califórnia, as considera inconsistentes. “As pessoas criam novos perfis, diferentes, que às vezes demoram para ser identificados novamente”, comenta o professor.

Parte da continuidade da circulação de fake news pode ser relacionada também com o lucro da própria plataforma, como Blotta analisa: “Existe uma desigualdade no tratamento de diferentes canais: então, se o canal tem muita visualização, eles demoram mais para derrubar e isso provavelmente tem a ver com o retorno financeiro para a plataforma”.

Discussão

No Brasil, a discussão a respeito de ferramentas de controle de fake news ainda não é muito difundida, mas a educação midiática faz parte desse processo. Ensinar a população como ler notícias e como identificar as enganosas é necessário, porém, apenas isso não é suficiente, precisa de uma ação coordenada com outras vertentes, como minar o lucro dos produtores e da plataforma, segundo o professor. “Se a gente não orquestrar esse ecossistema da governança digital, vai ser muito difícil enfrentar o ecossistema da desinformação”, acrescenta Blotta.

Texto: Jornal da USP | Áudio: Rádio USP
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Fake News: Como verificar informações em diferentes formatos

Neste domingo, dia 30 de outubro, os brasileiros irão às urnas para o segundo turno das Eleições 2022. Já a Bahia terá a oportunidade de eleger seu novo governador. É preciso redobrar os cuidados com todo conteúdo que circula na rede ou em aplicativos de mensagens instantâneas, um meio já bastante conhecido pela capacidade de propagação de dados falsos.

Para ajudar a sociedade nessa filtragem, agências de checagem têm se articulado em conjunto, em ações que ajudam a combater a desinformação eleitoral. Pouco antes do primeiro turno, sete organizações formaram uma coalizão para apurar conteúdos com potencial para comprometer as escolhas dos eleitores e dão dicas de como identificar notícias falsificadas na internet. Uma dessas iniciativas de jornalismo colaborativo é o Projeto Comprova, liderado pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

Diversas entidades ligadas à atividade da imprensa também estão com ações em curso para combater as chamadas fake News, a exemplo da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado da Bahia (Sinapro), que se uniram na campanha “Fake News. Quem compartilha também mente”. A campanha tem o objetivo de chamar atenção do público sobre os danos causados não só por quem cria, mas também por quem compartilha conteúdo falso.

“Como doença ética deste capítulo da história da humanidade, escrito em tempo mais ou menos real, e em múltiplas versões ‘impressas’ sobre múltiplas plataformas, a compulsão por compartilhar bem merece ser tratada como problema de saúde pública”, compara o presidente da ABI, Ernesto Marques.

Segundo ele, como remédio, a “lógica punitivista” das propostas de penalizar com cadeia e indenizações tem eficácia bastante questionável. “A cura para essa doença ética negadora da própria natureza humana não está em nenhuma lei dura. O melhor e talvez o único antídoto é a leitura. Leitura no sentido mais amplo possível, compreendendo todas as possibilidades sensoriais de absorver informações”, defende o dirigente.

Para tentar barrar essa onda de manipulação através de boatos nocivos à democracia, jornalistas do Projeto Comprova compartilharam dicas práticas para verificar conteúdos em formato de texto, imagem, vídeo, áudio e gráfico. Confira abaixo as principais medidas para checagem de dados duvidosos. (Leia a íntegra no site da Abraji)

TEXTO

  • Confira a data em que ele foi publicado
  • Quem é o autor do texto
  • Entenda em que lugar aquele texto foi publicado
  • Veja se aquela mesma informação consta em outros veículos
  • Vale a pena divulgar mesmo sem saber se é verdade?

IMAGEM

  • Reflita sobre que a imagem te faz sentir. Mexer com a emoção das pessoas é um recurso comum em conteúdos desinformadores
  • Observe inconsistências na imagem e foque nos detalhes. Busque indícios de manipulação, como diferenças na iluminação, cortes… e também indícios que possam identificar a localização
  • Busca reversa de imagem: Colocar a imagem no Google ajuda a saber os lugares onde aquela imagem já foi publicada e se é antiga, por exemplo
  • Ferramentas de verificação de imagens, como uma extensão do Google Chrome chamada InVID, que é uma toolbox com várias ferramentas diferentes para verificação de vídeos e fotos

VÍDEO/ÁUDIO

Faça perguntas:

  • Dá para saber quem é o autor? 
  • Quando ele foi gravado? 
  • O conteúdo faz sentido? 
  • Quem enviou a gravação para você ou como ela chegou até você? 
  • Quem ou que grupo teria interesse em divulgar esse vídeo/áudio? 

GRÁFICO

  • Verifique a credibilidade e periodicidade da empresa jornalística
  • Veja se a reportagem mostra a fonte dos dados divulgados, entrevista com os autores e origem das informações
  • Confirme a fonte do gráfico: Universidade, centro ou instituto de pesquisa relevante; Instituições ou autarquias do poder público
  • De olho na eleição: pesquisas eleitorais que têm finalidade de divulgação precisam ser registradas na Justiça Eleitoral. É por isso que os veículos de imprensa divulgam o número de inscrição da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
  • Pesquise nos sites eleitorais o número da pesquisa e confirme os dados: Patrocínio da pesquisa; Autoria; Amostra coletada; Região dos entrevistados; Metodologia

Ainda ficou com dúvida? Busque uma agência de checagem. Entre em contato pelo número de WhatsApp de algumas dessas agências:

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Fake News: Agências de checagem unidas no combate à desinformação eleitoral

Imagine saber que um programa de governo pretende promover perseguição a religiosos. Ou que um instituto de pesquisa vai cancelar entrevistas com apoiadores de determinado candidato. E ainda: que urnas apresentam votos pré-registrados. Para combater a desinformação eleitoral, sete organizações de checagem reeditaram a coalizão de 2018. AFP Checamos, Aos Fatos, Boatos.org, Projeto Comprova, E-Farsas, Fato ou Fake e Lupa atuaram entre os dias 1º e 2 de outubro, apurando conteúdos com potencial para comprometer as escolhas dos eleitores, no primeiro turno das Eleições 2022. Iniciativa será repetida no final de semana do segundo turno.

De acordo com a CNN, todas as checagens publicadas e republicadas pelas organizações foram marcadas nas redes sociais com a hashtag #CheckBR, de modo a facilitar a busca por informações confiáveis sobre o pleito.

Diversas entidades ligadas à atividade da imprensa estão com iniciativas em curso para combater as chamadas fake news. Uma dessas ações é a campanha “Fake News. Quem compartilha também mente”, lançada na semana passada numa parceria entre o Sindicato das Agências de Propaganda do Estado da Bahia e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI).

  • O Portal Imprensa elencou 9 conteúdos eleitorais falsos checados pela CheckBR:

1) Alexandre de Moraes não pediu retirada de vídeo em que Bolsonaro aparece emocionado. A gravação na verade foi feita durante um culto no Palácio do Planalto em dezembro de 2019.

2) Vídeo que mostra confusão entre petistas em Aracaju é de 2013 e não tem relação com ato de Lula. Imagens foram gravadas em 2013, durante Processo de Eleições Diretas do PT daquele ano, em Aracaju (SE).

3) Plano de governo de Lula não prevê legalização de drogas ou perseguição a religiosos, como sustenta um vídeo que circula nas redes.

4) O aplicativo Pardal, da Justiça Eleitoral, não foi utilizado para o envio de queixas sobre urnas eletrônicas durante as eleições de 2022, ao contrário do que afirmam publicações nas redes. 

5) É falso que Datafolha orienta pesquisadores a cancelar entrevista com apoiadores de Bolsonaro. Vídeo engana ao afirmar que o Datafolha não entrevista eleitores de Jair Bolsonaro em suas pesquisas de intenção de voto. O autor da gravação diz ter sido abordado por uma pesquisadora em Niterói que, ao ver que estava vestido com camisa do presidente, cancelou a entrevista. 

6) É falso que urnas tinham votos pré-registrados para Lula em Serafina Corrêa (RS). Imagens falsamente atribuídas na verdade retratam uma ação policial na região metropolitana de Manaus, em 2018. Policiais militares não apreenderam urnas eletrônicas com votos computados para o ex-presidente. 

7) É falso que Polícia Federal identificou urnas com votos já registrados em Brasília. Em agosto, a equipe técnica da PF participou da inspeção de todas as etapas do sistema eletrônico de votação, e não há registros de problemas. Vulnerabilidades em urnas citadas em vídeo de 2014 de Diego Aranha, professor assistente de segurança de sistemas na Universidade de Aarhus, na Dinamarca, já foram corrigidas.

8) Vídeo de urna em porta-malas de Uber em Campo Grande não mostra irregularidade. Segundo o TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul), os cartórios eleitorais entregam as urnas devidamente lacradas, na semana que antecede as eleições, aos presidentes das seções eleitorais, que ficam responsáveis pelo transporte do equipamento até o local da votação.

9 ) Notícia sobre bloqueio do WhatsApp no Brasil é de 2015, não atual. Portanto, é falso que uma decisão judicial recente determinou a suspensão do WhatsApp no Brasil por dois dias. Vídeo usado nas peças de desinformação foi exibido na GloboNews em 16 de dezembro de 2015.

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