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Curso ajuda jornalistas a desenvolver estratégias para lidar com assédio online

Por Teresa Mioli, do Knight Center

Setenta por cento das mulheres jornalistas foram assediadas, ameaçadas ou atacadas, de acordo com um relatório da International Women’s Media Foundation (IWMF) e TrollBusters. Uma pesquisa global realizada para o relatório constatou que um terço das jornalistas considerou deixar o jornalismo por causa de ataques e ameaças online.

Aprender quem são os trolls online e quem os está apoiando, além de reforçar sua segurança digital e encontrar maneiras de enfrentar o assédio online, são habilidades essenciais para jornalistas mulheres em todo o mundo.

O curso gratuito, “Assédio Online: Estratégias para a Defesa dos Jornalistas”, ensinará mulheres jornalistas e seus aliados como se proteger online, como lidar com assédio online e como encontrar redes de apoio.

Este curso do Centro Knight é realizado em parceria com a IWMF e será realizado de 16 de novembro a 13 de dezembro.

“A ideia é que construamos técnicas que os jornalistas possam usar e esses serão passos práticos que as pessoas podem tomar. Não é apenas um foco em segurança digital; isso soa como uma palavra grande e assustadora”, disse a instrutora principal Ela Stapley. “Esses são realmente apenas passos básicos que você pode tomar como jornalista para ajudar a gerenciar seu perfil online e ajudar a recuperar a quantidade de informações que está na internet sobre você.”

Stapley se juntará a co-instrutoras baseadas em todo o mundo, incluindo Arzu GeybullaCatherine Gicheru Myra Abdallah. Cada especialista será responsável por um módulo semanal e falará sobre as estratégias que elas usaram para lidar com o assédio online.

Os módulos abordarão os seguintes tópicos: 

  • A primeira semana, ministrada por Geybulla, é uma introdução ao assédio online em todo o mundo, com estratégias de enfrentamento para lidar com isso.
  • A segunda semana, ensinada por Gicheru, aborda a privacidade online como jornalista e como se proteger melhor nos ambientes digitais.
  • A terceira semana, liderada por Stapley, vai olhar para os tipos de trolls que você pode encontrar online, quem são suas redes de apoio e como você pode documentar abusos.
  • Quarta semana, ministrada por Abdallah, fala sobre proteção de contas online, navegação segura e comunicações e sistemas de suporte online e off-line para jornalistas sendo assediadas.

Stapley disse que seu trabalho ao redor do mundo mostrou que o assédio é “uma questão cada vez mais complicada e global”.

“As técnicas que os assediadores usam podem ser diferentes, mas o objetivo é o mesmo: retirar as mulheres jornalistas da esfera pública e restringir a liberdade de expressão”, disse ela.

Devido à natureza global do assédio online, as instrutoras foram escolhidas por causa de sua experiência internacional e seu conhecimento da intersecção entre jornalismo e segurança digital em diferentes contextos.

Trabalhos recentes de Geybulla, uma jornalista freelance do Azerbaijão que atualmente está sediada em Istambul, analisa o uso de controles de informação e tecnologia autoritária. Gicheru, fellow do International Center for Journalists Knight e diretora de projeto do African Women Journalism Project, foi a primeira chefe de gabinete feminina na África Oriental. Stapley trabalhou em todo o mundo ajudando mulheres com necessidades de segurança digital como consultora de segurança digital com a IWMF e outras organizações. E Abdallah é chefe do departamento de mídia da Fundação Árabe para a Liberdade e Igualdade e gerente de comunicações da região árabe para o Women in News.

“Estávamos procurando para obter uma grande amplitude de pessoas em todas as regiões”, disse Stapley. “Isso ocorre porque o assédio online varia em termos do tipo de assédio que acontece em diferentes áreas ao redor do mundo.”

Embora as jornalistas sejam mais propensas a se apresentar agora para falar sobre ser assediada online, ainda há muitas pessoas nas redações ou trabalhando como freelancer que estão lidando com isso sozinhas. Algumas mulheres, disse Stapley, presumem que faz parte do trabalho.

“Este não é o caso”, disse ela. “Pode haver estratégias e você pode fazer importantes redes de apoio.”

O curso é voltado para mulheres jornalistas, mas aberto a homens e mulheres que desejam desenvolver estratégias para lidar com possíveis casos de assédio online, que infelizmente estão se tornando mais frequentes em todo o mundo. Também é relevante para chefes de redação que desejam ajudar suas equipes a lidar com assédio e trollagem online.

As atividades do curso consistem em videoaulas, leituras e apostilas, participação em fóruns de discussão e testes semanais.

Os alunos que completarem os questionários semanais com sucesso e participarem dos fóruns de discussão podem ganhar um certificado de participação ao final do curso. A taxa administrativa para o certificado é de USD 30. É concedido pelo Knight Center for Journalism in the Americas e atesta a participação no curso. Nenhum crédito formal de curso de qualquer tipo está associado ao certificado.

Como todos os cursos do Knight Center, este MOOC é assíncrono, o que significa que você pode completar as atividades no seu próprio ritmo e nos horários que melhor se adequem à sua programação. Há prazos recomendados para que você não fique para trás.

“Temos o prazer de fazer parceria com a IWMF neste importante curso, que é liderado por uma equipe estelar de instrutores que trarão uma perspectiva global para seus ensinamentos”, disse Mallary Tenore, diretora associada do Knight Center for Journalism in the Americas. “Este curso oferecerá dicas valiosas para jornalistas que sofreram assédio online em primeira mão, aqueles que querem se proteger melhor online e aqueles que querem apoiar outros que estão lidando com essas questões. Nossa esperança é que os alunos deste curso saiam com estratégias práticas que possam implementar para se sentirem mais seguros no trabalho.”

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Facom celebra 60 anos da TV na Bahia com live na quinta-feira (19)

Em 19 de novembro de 2020, a televisão na Bahia completará 60 anos de sua implantação, um marco que merece ser relembrado, comemorado e discutido, como forma de reflexão sobre o cenário local e nacional. É com esse objetivo que a Faculdade de Comunicação da UFBA (FACOM │UFBA) promove nesta mesma data, às 18h, a roda de conversa “A TV na Bahia: 60 anos — conhecer a história para refletir sobre as mudanças”. O evento é aberto, gratuito e com transmissão on-line, pelo Zoom (https://facom.social/tvnabahia) e Facebook da Faculdade de Comunicação, com certificação aos participantes da primeira plataforma.

Comporão o debate os seguintes profissionais da TV e pesquisadores da história da Televisão da brasileira: o jornalista, pesquisador da TV no Brasil e diretor de televisão Gabriel Priolli; o jornalista, escritor e apresentador de TV Pablo Reis; e o jornalista, pesquisador e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Sérgio Mattos. A mediação fica por conta do jornalista e professor da FACOM Washington de Souza Filho.

Para Gabriel Priolli, que trabalha e escreve sobre TV desde 1975, o encontro é uma oportunidade de refletir sobre o papel da televisão local. “Algo que me preocupa é que, até agora, já com 70 anos de TV no Brasil, ela ainda é muito pensada e produzida no eixo Rio-São Paulo. O que se entende por TV nacional é uma TV paulista e carioca, sendo que o país é grande, diverso. E não há, ainda, uma história da TV nacional que conte o que aconteceu em todos os lugares do país”, justifica o pesquisador. Também é o que acredita o professor Washington de Souza Filho. “Para mim, essa é uma oportunidade de propor o debate sobre a necessidade de se conhecer a história da televisão nos estados”, acredita.

A atividade é promovida pelo Núcleo de Comunicação e Extensão da FACOM, por meio do projeto “Em Casa com a FACOM”. Para mais informações sobre o evento, acesse: www.facom.ufba.br

Conheça abaixo mais sobre os convidados:

Sérgio Mattos é jornalista, mestre e doutor em comunicação pela Universidade do Texas, Estados Unidos. Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). É autor de mais de 50 livros e de dezenas de artigos e capítulos de livros. Suas pesquisas concentram-se na História da Mídia, principalmente a televisão, além do tema emblemático da censura aos meios de comunicação.

Pablo Reis é jornalista, escritor e formado pela FACOM há 22 anos. Atualmente é gerente de conteúdo e inovação do Grupo Aratu. É autor de Clube Bahiano de Tênis: 100 anos de lutas e glórias. Ganhador de nove prêmios de jornalismo, estaduais e nacionais.

Washington José de Souza Filho é jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e professor da Faculdade de Comunicação da instituição. Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade da Beira Interior, com reconhecimento pela UFBA, pesquisador-membro do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-line. Como jornalista, trabalhou em emissoras de televisão, jornais e revistas da Bahia e de outros Estados do País, além da experiência de atuar como consultor de treinamento de jornalismo de televisão em Angola.

Gabriel Priolli é jornalista, diretor de televisão e trabalha desde 1975 com TV, fazendo, produzindo e escrevendo sobre TV, refletindo e ensinando. Iniciou a carreira na TV Cultura de São Paulo, onde foi de repórter a apresentador e diretor responsável pela programação. Foi membro do Conselho de Comunicação Social do Congresso, do Conselho Superior do Cinema e do Conselho Consultivo do Sistema Brasileiro de TV Digital. Atualmente, trabalha com consultoria em comunicação política, televisão e jornalismo.

SERVIÇO
O quê: Roda de conversa “A TV na Bahia: 60 anos — conhecer a história para refletir sobre as mudanças”.
Quando: 19/11/2020, às 18h
Onde: no Zoom (https://facom.social/tvnabahia) com transmissão pelo Facebook da FACOM (obs: para ter direito ao certificado da atividade, acessar o evento pelo Zoom).

*Texto: Núcleo de Comunicação e Extensão | NCE (FACOM | UFBA)

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ABI BAHIANA Notícias

Cresce número de comunicadores que disputam as eleições municipais na Bahia

A voz do povo é uma expressão que costuma ser usada para a mídia e para as eleições. Com essa semelhança, não há estranheza que profissionais da imprensa também apareçam nas telas das urnas. Na Bahia, as eleições municipais que começam a ser decididas no próximo domingo (15) contam com um aumento, em relação à 2016, de 21,9% de candidaturas de jornalistas e redatores; locutores e comentaristas de rádio e televisão e radialistas; fotógrafos e assemelhados, relações públicas e comunicólogos – de acordo com as ocupações declaradas ao Tribunal Superior eleitoral (TSE). O salto foi de 223 para 272 candidaturas.  

Levantamento feito pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI) junto ao TSE revela que, dos 417 municípios baianos, 120 tem pelo menos um candidato ou candidata profissional da comunicação. Numericamente, destacam-se em candidaturas de comunicadores Salvador, com 22, e Feira de Santana, com 21. Essas candidaturas também se concentram em Porto Seguro (9), Itabuna (7), Alagoinhas (6) e Senhor do Bonfim (5). 

Ser uma pessoa conhecida através dos meios de comunicação encoraja muitas candidaturas, especialmente no contexto atual. É o que acredita Samuel Barros, doutor em Comunicação e Cultura com pesquisa na área política. “Em uma campanha mais curta e espremida entre tantas outras preocupações é compreensível que pessoas que já têm reconhecimento público tenham sido elevadas à condição de candidato”, afirma. No entanto, o especialista adverte que este não pode ser tomado como um elemento único na identificação de um “bom candidato”.

“É preciso lembrar que uma imagem pública positiva não garante eleição para ninguém. É preciso que as pessoas entendam essa imagem como adequada para o cargo que o candidato disputa. E me parece que o eleitorado já entendeu que um bom radialista, apresentador de TV ou jornalista não necessariamente resultará em um bom prefeito ou vereador”, pondera Samuel, que já atuou em campanhas políticas e atualmente é professor da UFRB e do Póscom-UFBA e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD). 

Saída dos bastidores
A presença de jornalistas nas equipes de campanhas é quase que obrigatória. Foi nessa posição que Luciana Oliveira, 39 anos, atuou em eleições anteriores. Este ano, saiu dos bastidores e agora disputa a vice-prefeitura de Vitória da Conquista pelo PCdoB. Ela acredita que sua atuação profissional na comunicação pública, no executivo e no legislativo, despertou o interesse pela política. 

Jornalista concursada da Câmara de vereadores de sua cidade, Luciana acredita que não é necessariamente a exposição na mídia que ajuda um comunicador na política institucional. “O que acredito mesmo que destaca o comunicador é se tem uma trajetória profissional pautada pela ética, profissionalismo e seriedade. Independente da disputa eleitoral, prezo por esses valores. É o que nos destaca positivamente em qualquer circunstância“, defende. 

O rádio vive
Já para o radialista Mário Bay (DEM), 56 anos, atualmente candidato a vereador por Camaçari, saber as demandas da cidade é um dos diferenciais do comunicador que disputa uma eleição. “O rádio atinge uma camada de pessoas mais pobres. Eu diria que quem realmente conhece as necessidades dos cidadãos são as pessoas do rádio. Aqui o povo pede tudo, liga pedindo comida, pede melhorias na rua, pede dinheiro para um remédio. Essas lacunas me mostraram que eu precisava usar esse conhecimento, não por politicagem, mas pelo povo”, justifica. 

Bay, que apresenta o matinal Alô Alô Cidade, na Sucesso FM, conta que, inicialmente, resistiu a entrar para a política, mas acabou se candidato por ver que há uma necessidade de mudança do quadro na Região Metropolitana de Salvador. Ele, que tem mais de 15 anos de profissão, concorreu às eleições em 2012, mas diz que não foi para valer, era mais para “testar o nome”. Agora, está confiante.

Os radialistas e locutores são os que têm o maior peso nos números de candidaturas de comunicadores, são 141 este ano na Bahia, e estão presentes principalmente no interior do estado. A radialista Sônia Amorim (PP), 54 anos, já foi presidente do Sindicato dos Radialistas da sua cidade, Itabuna, onde concorre às eleições. Para ela, o microfone é de fato uma dos principais diferenciais competitivos no interior. Sônia está no grupo de comunicadores que disputa uma eleição pela primeira vez e se diz pronta para fiscalizar o executivo municipal.

“Sempre estive envolvida [indiretamente] na política, mas só agora, depois de muitos anos envolvidas com as problemáticas da minha cidade, sendo a porta voz das comunidades, adquirindo conhecimento mais profundo do verdadeiro papel de um vereador, é que me sinto preparada para assumir uma vaga no legislativo itabunense, fazemos muito através do rádio, mas podemos fazer muito mais”, promete Sônia. 

Seguindo a legislação eleitoral, apresentadores de rádio e TV estão afastados de sua atuação desde o dia 11 de agosto. É proibido a menção nominal em quadros e até mesmo em nomes de programas, sendo autorizado apenas participarem na posição de entrevistados. 

Doutor Samuel Barros | Foto: Acervo Pessoal

Atuação
A presença forte de radialistas parece contradizer, pelo menos nas disputas municipais, o entusiasmo que as últimas eleições têm demonstrado com as redes sociais. “O novo chegou, mas o velho ainda está aí. A sociabilidade política não é mais a mesma, mas eu teria muita cautela com apostas que apontem para mudanças muito aceleradas de instituições e práticas culturais seculares”, afirma Samuel Barros. 

Em um momento de constantes ataques aos veículos de comunicação e aos jornalistas, Samuel acredita que muitas das críticas que são feitas à mídia, como instituição, não costumam atingir pessoalmente os comunicadores, que em geral preservam imagens públicas bem avaliadas. 

Nomes da disputa
De acordo com os dados declarados ao TSE, além de nove candidatos à vice-prefeito, temos no estado cinco comunicadores que disputam prefeituras. No grupo está o radialista Carlos Geilson (Pode), que quer ser prefeito de Feira de Santana. Com mais de 40 anos de experiências nas rádios, Geilson já atuou em diversas emissoras da cidade que representa o segundo maior colégio eleitoral do estado. Entre elas a Popular FM e a Transamérica FM, sendo conhecido principalmente pelo ‘Programa Carlos Geilson’, veiculado na Rádio Subaé AM.

Também disputam prefeituras o fotógrafo Marcos Ribeiro (Pode), na cidade de Palmeiras, e o radialista e cerimonialista Jiliarde Santana (PSC), na disputa para o comando da prefeitura de Marcionílio Souza. A candidata do PTB à prefeitura de Cristópolis, Gloriene, identificou-se como jornalista e redatora e a candidata à Prefeitura de Abaré Tati Oliveira (DEM) declara como ocupação a profissão de comunicóloga.

A capital baiana já teve um radialista que virou prefeito (Fernando José) e um prefeito que virou radialista (Mário Kertész). Mário, inclusive, foi o mentor da candidatura do comunicador célebre pelo bordão “mato a cobra e mostro o pau” nos programas populares que o fizeram conhecido. Nesta eleição, oficialmente, há apenas candidatos a vereador que se identificam como profissionais da comunicação. Entre eles estão o apresentador da Band Bahia Uziel Bueno (DEM), que já assumiu a posição de vereador como suplente na Câmara Municipal de Salvador e também a de deputado estadual; a jornalista da TV ALBA Mirian Nery (PMN); Marzzo Silva (Avante), que foi repórter do programa Na Mira (TV Aratu) e é, atualmente, comentarista esportivo da rádio Excelsior; Priscila Chammas (Novo), que foi repórter do Jornal Correio* e atuou em assessoria de comunicação, além do médium e apresentador de TV Aritana de Oxóssi (PP). 

Os números de candidaturas de comunicadores podem ser ainda maior, isso por conta da declaração feita pelos candidatos ao TSE. O radialista Magno Lavigne (Rede), por exemplo, seria o único comunicador nas chapas em disputa pela prefeitura de Salvador. Ele é o vice da chapa encabeçada pelo deputado federal João Carlos Bacelar (Pode), mas ao TSE indicou como ocupação ser advogado. Em Camaçari, outro exemplo, Carluze Barper (PSDB), cujo mote da campanha para vereadora é “a jornalista do povo”, declarou ao TSE ser empresária. Em Conquista, o prefeito e candidato à reeleição, Hérzem Gusmão (MDB), é jornalista e radialista, mas declarou como ocupação “prefeito”. 

Conheça o perfil dos candidatos e consulte a lista

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Covid-19 acende alerta para a saúde mental de jornalistas

O jornalismo, assim como em outras áreas, sofreu e vem sofrendo com a perda de profissionais da imprensa, vítimas da Covid-19. Além dos desafios impostos pela própria doença, jornalistas enfrentam redução salarial, demissões em massa, além das pressões com os frequentes ataques realizados pelo próprio presidente da república. Quando somatizadas as questões de gênero, a situação pode ser ainda mais delicada e complexa.

No início do mês de junho, a jornalista Camila Marinho, repórter da Rede Bahia, testou positivo para o novo coronavírus de forma assintomática e precisou se afastar da televisão pelo período de 14 dias, recomendado pelas organizações de saúde. Em “Um sopro de esperança”, reportagem publicada pela Associação Bahiana de Imprensa contando histórias de recuperação de jornalistas que tiveram o novo coronavírus, ela relatou os impactos da notícia na época para a sua família e como isso afetou a relação com seus dois filhos. Laísa Gabriela, assessora de imprensa autônoma, não se infectou com a doença, mas o home office trouxe impactos profundos em sua atuação. De acordo com a jornalista, alinhar a rotina da filha com a do trabalho, tem sido muito difícil.

Até mesmo as mulheres mais jovens têm sentido como a pandemia alterou a dinâmica de suas vidas. Esse é o caso de Thais Borges, 27 anos, jornalista do Correio*, “quarentenada” desde março quando o jornal decidiu dividir sua equipe em alguns setores, um dele, o setor de cobertura das notícias de final de semana. Com isso, Thais passou a trabalhar majoritariamente em casa, mas confessa que não estava preparada para a situação. “Não me preparei para o home office. Trabalho na mesa de jantar da sala e moro atrás de um supermercado. Moro aqui há 6 anos e não tinha idéia de que fazia tanto barulho porque eu passava o dia todo fora de casa trabalhando”, explica. 

Em março de 2020, no ínicio das contaminações ocorridas no Brasil, o governo federal definiu como essenciais as atividades e serviços da imprensa como medida de enfrentamento à pandemia. O decreto foi publicado no dia 22 daquele mês em edição extra do Diário Oficial da União. Em maio, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) pedia através de nota, medidas para prevenir e combater o coronavírus nas redações do estado. (Veja aqui). De lá para cá, as empresas se viram obrigadas a adotar diferentes estratégias para continuidade dos trabalhos, entre rodízio de jornalistas e trabalho home office. Os repórteres televisivos, que antes não apareciam em frente às câmeras de máscara adotaram essa além de outras medidas de distanciamento social para evitar o contágio e não levar riscos para os colegas de trabalho e familiares. No entanto, os repórteres televisivos não são os únicos profissionais da imprensa em atuação e todos, de alguma forma, sofreram com as mudanças impostas pela nova doença.

Entre o trabalho e a maternidade 

Milhares de profissionais continuam a trabalhar, nas rádios, assessorias e até mesmo em esquema home office, como é o caso de freelancers. Laísa Gabriela, é assessora de imprensa autônoma. Ela relata que o isolamento social tudo mudou tudo. “Na pandemia tudo ficou mais caótico e parece que intensificou. Você precisa cumprir as demandas, as pessoas cobram bastante e, às vezes, não têm tanta compreensão do cenário que estamos vivendo, desabafa.  

Em agosto, uma pesquisa coordenada pela Comissão Nacional de Mulheres da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) divulgou dados com diagnóstico das condições de trabalho em home office das jornalistas que são mães no contexto da pandemia. A Comissão identificou que as jornalistas mães têm sobrecarga de trabalho na pandemia. 629 profissionais jornalistas de todos os estados do Brasil responderam o questionário da entidade. (Acesse o relatório completo da Fenja aqui).

Os resultados apontam que a principal função exercida dentro do jornalismo pelas mulheres que são mães é de Assessora de Imprensa (40,06%), seguida da atuação como repórter (15,9%). O regime de trabalho da maioria está sendo realizado em home office (59,78%), seguido pelas profissionais que estão em regime misto, hora com trabalho remoto e hora em atividades presenciais. 

Laísa, que é jornalista há mais de 10 anos e assessora artistas do rap, conhece bem essa realidade. Para lidar com o excesso de demandas e com o trabalho exclusivamente em casa, a jornalista recorre a terapia e a ajuda da mãe na criação da filha. “O dia a dia está sendo bem puxado. O principal problema é conseguir me adequar à rotina de Ayana”, conta. 

Home office também precisa de rotina

Tatiana Mendes, clínica, especialista em terapia cognitivo comportamental, diz que o home office tem afetado bastante a saúde mental dos profissionais da imprensa. “Por estar em casa, muitos não estabelecem horário de trabalho, não tem lazer e não priorizam o horário de descanso. Isso pode gerar uma cobrança pessoal além do necessário, fazendo com que ela trabalhe por mais horas”, alerta Tatiana. “É necessário criar uma rotina saudável. Para ela, Estar em home office não significa trabalhar mais, tudo deve ser dosado. “Nada em excesso funciona ou tem bom resultado”, diz a psicóloga. 

Home office sim, rua também

O regime misto de trabalho também marcou 2020. Muitas empresas adotaram esquema de rodízio de jornalistas para conseguir evitar as contaminações nos veículos noticiosos. A jornalista Thais Borges atua no jornal Correio* há oito anos. Antes mesmo de entrar em esquema home office, ela precisou se distanciar do trabalho na redação. Em março, a irmã que morava em Portugal, antes mesmo de tomar conhecimento sobre o primeiro contágio no Brasil, resolveu sair do país europa e voltar ao Brasil.

“Não me preparei para a pandemia. Na semana seguinte após buscar minha irmã, no aeroporto não voltei mais para a sede. Estou trabalhando de casa desde março e fico sozinha na maior parte do tempo, mas não é legal porque nãoh é meu ambiente de trabalho”, conta a jornalista. Escalada para as edições de final de semana, a jornalista vez ou outra precisa estar na rua quando a produção de suas matérias demandam personagens específicos. “Às vezes a gente está procurando um personagem que você sabe que você vai encontrar em determinado lugar. Se você não está conseguindo falar com ninguém no telefone, temos essa opção. De casa acaba ocorrendo essa limitação”, explica Thais. 

Além de jornalista, Thais é graduanda em Letras e faz mestrado na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela conta que uma dos principais desafios da profissão neste momento é conseguir se desconectar. “WhatsApp virou trabalho. No meu tempo livre, fico o mínimo possível nele. As demandas não necessariamente chegam no seu horário de trabalho porque [cada um tem o seu]. Eu vou mandar uma mensagem para uma fonte no meu horário de trabalho e não necessariamente a fonte vai responder no meu expediente”, relata a jornalista. 

Para Thais, uma das coisas que a ajudou a desestressar  na pandemia foi ter “pets” em casa. “Tenho um cachorro e uma coelha que são minhas alegrias. São seres que precisam de você que tão alí e vão te dar carinho incondicional. Claro que você não tem que usar pet como muleta, mas são bichinhos que vão ajudam muito na saúde mental”.

A iniciativa das empresas é fundamental

De acordo com Livia Castelo Branco, psiquiatra e médica assistente da clínica Holiste, os jornalistas são profissionais considerados da “zona de risco” para problemas de saúde mental, pois têm horários irregulares, pressão por horários e pautas, risco de violência com as fontes (o que pode gerar ansiedade) e desvalorização do trabalho. Para a especialista, estar atento às demandas individuais dos profissionais é uma das atitudes positivas para o desenvolvimento do bem-estar emocional dos colaboradores no ambiente de trabalho, no caso da imprensa. 

Flexibilização de horário, tipo ou carga de trabalho; promoção; grupos de discussão sobre as demandas atuais; incentivo a adoção de hábitos saudáveis de vida, tais como atividade física, alimentação adequada e horários regulares de sono. Essas  são algumas das possibilidades de estimular a qualidade de vida no trabalho. Livia considera ainda que incentivar o acompanhamento psicológico, independente de demandas específicas no trabalho, simplesmente para manutenção da saúde mental, é interessante. 

A psicóloga Tatiana Mendes concorda. “O jornalismo é uma profissão que exige um esforço e uma demanda diferenciados São profissionais que lidam com o dia a dia de notícias, sejam elas consideradas boas ou ruins, o que pode afetar seu estado de humor”, afirma.

A qualidade de vida no trabalho é essencial para proporcionar ao trabalhador uma atenção maior a sua saúde mental. “Se o trabalhador está em um ambiente que lhe possibilita estar atento a essa demanda, é perfeito, porém, sabemos que a maioria dos ambientes de trabalho reforça a prática exploradora de tarefas diárias sem respeitar ou dar atenção à saúde mental de seus funcionários”, pondera Mendes. 

Dicas para o autocuidado

Para Livia Castelo Branco, dedicar-se a atividades de lazer, engajar-se na socialização, atividade física, dieta rica em fibras, higiene do sono e acompanhamento psicológico, são possibilidades para que os trabalhadores tenham maiores possibilidades de estímulo ao bem-estar. No caso de insatisfação intensa e crônica com o trabalho, ela considera que a mudança de emprego seja a melhor solução.

Tatiana traz dicas semelhantes. “Cuidar do corpo e da mente tem que ser um autocuidado frequente e não apenas quando aparece um sintoma ou estresse exacerbado”, diz Mendes.

*Graduanda de Jornalismo, estagiária da ABI.

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