“Palavra é arma forte”, disse o presidente da ABI, Ernesto Marques, durante a sua participação no evento “Encontros ALB: Democracia e Liberdade de Expressão”, realizado na noite de hoje (6) pela Academia de Letras da Bahia. O jornalista evocou o trecho da canção “Palavra”, do poeta e compositor baiano Guilherme Menezes, para defender a liberdade de informar e denunciar o contexto cada vez mais perigoso para o exercício da atividade jornalística.
Disseminação de notícias falsas, manipulação de processos eleitorais, ameaças e tentativas de intimidações a profissionais da imprensa foram alguns problemas abordados por Marques. Segundo ele, o Brasil convive com “demonstrações claras de hostilidade contra jornalistas, temperadas com discurso odioso e culto à violência pretensamente justificada e misoginia”. O radialista aproveitou o espaço para destacar a importância de instituições democráticas e que atuam em defesa das liberdades individuais e coletivas.
“Não há espaços mais adequados para pessoas como nós, dissecarem com paciência histórica, o conjunto de coisas e circunstâncias articuladas nessa complexa imbricação de conjunturas locais, regionais e nacionais, com todas as conexões planetárias possíveis; a ponto de nos instar a reflexões como esta, sobre os riscos de a humanidade viver mais um período de obscurantismo”, defendeu.
Na véspera do Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, celebrado no Brasil desde 7 de junho de 1977, ele enfatizou a importância da liberdade de informação para a democracia brasileira. Preferindo não seccionar as liberdades democráticas, Ernesto Marques afirmou que “qualquer ameaça à liberdade de imprensa é uma ameaça a todas as liberdades”.
Assista a participação do presidente da ABI no “Encontros ALB”:
Ernesto Marques, presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), falou, nesta segunda-feira (6), sobre o novo formato do projeto “Memória da Imprensa – A História do Jornalismo Contada por Quem Viveu”, em entrevista na Rádio Metropole.
A nova versão será em formato de revista, digital e impressa, com depoimentos de jornalistas que marcaram a história da imprensa da Bahia. “Nós escolhemos 30 nomes representativos do que foi o jornalismo baiano entre finais de anos 60 até anos 90, e fizemos entrevistas em profundidade”, explica Marques.
Anteriormente, o projeto Memória da Imprensa consistia no lançamento de videodocumentários, mas a necessidade de se fazer cortes nas falas dos jornalistas para o formato de vídeo foi o que gerou a vontade de mudança.
Para Marques, a memória é o acervo mais importante que a ABI poderia ter. “São depoimentos de pessoas sobre fatos que elas viveram décadas atrás”, disse, ao explicar que os relatos podem ser distintos entre si. Ao exemplificar isso, ele relembra a história contada pelo fotojornalista Anízio Carvalho. “Ele foi escalado para cobrir a prisão de Lamarca e foi proibido de fotografar. Mas tem quem negue esse relato dele também”.
Depois de lançado, o projeto deve passar a integrar o Museu da Imprensa, localizado na sede da ABI, na Praça da Sé.
Nesta segunda-feira, 6 de junho, a Academia de Letras da Bahia (ALB) vai realizar mais uma edição do Encontros ALB, às 19 horas, com transmissão pelo canal da instituição no YouTube (clique aqui). O convidado da noite é o jornalista e radialista Ernesto Marques, presidente Associação Baiana de Imprensa (ABI), que abordará o tema “Democracia e Liberdade de Expressão”.
“Diante dos deliberados ataques à democracia, é importante trazer para a discussão o papel da sociedade civil e dos veículos de imprensa na luta contra o obscurantismo e a sombra do fascismo no Brasil atual”, afirma o antropólogo Ordep Serra, presidente da ALB. Para o pesquisador, quando notícias falsas, as conhecidas fake news, propagam mentiras e, muitas vezes, seus disseminadores usam a liberdade de expressão como justificativa para narrativas mentirosas, torna-se necessário contar com a responsabilidade e o compromisso ético da imprensa.
Nascido em Ipirá, Ernesto Marques é radialista e jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da UFBA (Facom). No jornalismo, atuou como repórter em emissoras comerciais de Salvador e na imprensa sindical. Foi assessor parlamentar, assessor de imprensa do governador Jaques Wagner e secretário de Comunicação de Vitória da Conquista, com o prefeito Guilherme Menezes. Foi também presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Rádio, Televisão e Publicidade e integra a diretoria da Associação Baiana de Imprensa desde 2002, assumindo a presidência da entidade em setembro de 2020.
O Encontros ALB: democracia e liberdade de expressão é um evento gratuito e aberto ao público. Para participar basta acessar o canal do YouTube da Academia de Letras da Bahia, no dia 06 de junho, às 19 horas. Os participantes terão a oportunidade de receber um certificado de participação. O link para inscrição será disponibilizado durante a transmissão. O projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.
Serviço
Encontros ALB: democracia e liberdade de expressão – 06/06/2022, 19 horas youtube.academiadeletrasdabahia.org.br Gratuito (com emissão de certificado) Facebook e Instagram @academiadeletrasdabahia
Neste 01 de junho de 2022, quando comemoramos o 214ª aniversário da estreia do Correio Braziliense, jornal fundado em Londres pelo gaúcho Hipólito José da Costa Furtado de Mendonça (1774-1823), recordo a visita que fiz a Colônia do Sacramento, no Uruguai, em maio de 2013, com o propósito, também, de conhecer a terra natal deste brasileiro nascido na então Colônia Cisplatina, entregue por Portugal a Espanha em 1828.
Hipólito da Costa manteve o Correio Braziliense ou Armazém Literário em circulação durante 14 anos, entre 01 de junho de 1808 e 01 de dezembro de 1822, e esse periódico mensal teve 175 edições tão fartas de páginas que mais se assemelhavam a revista. Hipólito da Costa embarcava exemplares para Portugal e para o Brasil, pois tratava de ambos em artigos com que propunha reformas e dias melhores.
Esclareço as informações anteriores: Hipólito da Costa nasceu em Colônia do Sacramento quando essa povoação fazia parte do território nacional. “A família de Hipólito mudou-se, juntamente com outros retirantes, para a região de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Mais tarde, ele viveria também em Porto Alegre. Aos 19 anos, Hipólito matriculou-se na Universidade de Coimbra, em Portugal, vindo a graduar-se em Direito, Filosofia e Matemática, em 1798”, conforme nos informa a edição de 05 de junho de 2018 do Portal Press. Acrescento: ele tornou-se funcionário da Corte, foi preso em Lisboa e coube à maçonaria inglesa o seu resgate e embarque para Londres. Jamais retornou ao Brasil e, portanto, viveu quase 2/3 dos seus dias na Europa.
O Brasil distinguiu Hipólito da Costa como Patrono da Imprensa Brasileira e, por iniciativa do empresário das comunicações e político Assis Chateaubriand (1892-1968), os restos mortais do criador do Correio Braziliense, depois de dezenas de anos de negociação, foram transladados da Inglaterra para o Brasil. Repousam, desde 1991, num monumento edificado no Museu da Imprensa Nacional, em Brasília (veja no final o link a esse respeito). Somam-se duas outras homenagens, a última delas a inscrição do nome de Hipólito da Costa no Livro de Heróis da Pátria, conforme determinou a Lei Federal 12.283, de 06 de julho de 2010.
A maior homenagem, todavia, foi a mudança do Dia Nacional da Imprensa para a data inaugural da publicação do Correio Braziliense: 01 de junho. Antes, essa comemoração era em 10 de setembro, data em que a Gazeta do Rio de Janeiro, periódico respaldado pela Corte, começou a circular em 1808. A mudança foi formalizada pela Lei Federal 9.831, de 13 de setembro de 1999, sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
O reconhecimento de Hipólito da Costa como Patrono da Imprensa Brasileira é aceitável e não se reclamaria jamais a reversão do que foi decidido, ainda que o Correio Braziliense não tenha sido impresso em território brasileiro. Importa mais o fato de que o autor era brasileiro e o periódico debatia questões afins com o futuro daquele jovem país sul-americano que deixaria de ser colônia portuguesa em 1822, por coincidência, ano do falecimento dele. Polêmica, porém, é a decisão do Estado brasileiro de mudar a data do Dia Nacional de Imprensa de 10 de Setembro para 1º de Junho.
A mudança obtida foi, sem dúvida, êxito da coesão gaúcha na defesa de sua história e de sua cultura e da competência dos políticos daquele Estado. Até 1974, os gaúchos acatavam o 10 de setembro como Dia da Imprensa, tanto que naquele ano e nesse dia, Porto Alegre ganhou o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, ao qual ainda não tive oportunidade de visitar (abaixo, link a respeito desse equipamento cultural do RS). Surpreende, todavia, a postura indiferente dos cariocas, que tanto poderiam reclamar a permanência da data porque o Gazeta do Rio de Janeiro, respaldado pela Corte liderada pelo príncipe regente Dom João, foi, de fato, o primeiro jornal, ademais impresso em território brasileiro.
Tudo o que foi escrito até agora me remete ao jornalista baiano Cipriano José Barata de Almeida (1762-1838), que poderia figurar ao lado de Hipólito da Costa como um dos patronos da Imprensa (combativa) brasileira. Há semelhanças na biografia de um e de outro. Como Hipólito, Cipriano também estudou em Coimbra e retornou a Portugal como deputado provincial para auxiliar no debate e redação da nova constituição. Seu compromisso, apaixonado, era a soberania brasileira e a inobservância disso o levou a abandonar a Corte e retornar ao seu país natal.
Cipriano Barata formou-se em Medicina (cirurgião); foi dono de pequeno engenho no Recôncavo baiano e participou da Sedição Intentada na Bahia em 1798. O professor doutor Luis Henrique Dias Tavares (1926-2020), estudioso desse movimento do século XVIII, o admirava e foi por isso que influenciou à Academia de Letras da Bahia (ALB) a coeditar com a Assembleia Legislativa o livro do professor carioca Marco Morel: Cipriano Barata na Sentinela da Liberdade foi publicado em 2001. Em breve, o autor publicará nova edição, revista e ampliada, da obra.
Colaborei, como produtor editorial, da coedição da ALB com a Assembleia e, na ocasião, para ilustrar a capa da obra, se encomendou ao artista plástico baiano Henrique Passos o retrato de Cipriano. Essa obra se distingue, na modesta iconografia sobre o criador e redator do Sentinela da Liberdade, porque agrega elementos de brasilidade – ramo de café, chapéu de palha e paletó de algodão cru – ao personagem. Distinguir Cipriano seria ato de reconhecimento e gratidão, ele que, de modo destemido, manteve seu jornal circulando até mesmo quanto estava atrás das grades de prisões da Bahia, do Rio de Janeiro e de Pernambuco.
Creio que políticos, autoridades e intelectuais baianos jamais se movimentaram para transladar os restos mortais de Cipriano Barata – ele foi sepultado em Natal, no RN, em 07 de junho de 1878. Alcançara, apesar das imensas adversidades, extraordinários 75 anos de idade! Encerro com o registro de que a ABI, em 19 de dezembro de 2012, após entendimentos com o então presidente do Legislativo baiano, deputado Marcelo Nilo, recebeu e fixou numa das paredes do 2º andar do Edifício Ranulpho Oliveira o retrato de Cipriano Barata que Henrique Passos pintou para a capa do livro de Marco Morel.
*Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É 1º vice-presidente da ABI. [email protected]
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