ABI BAHIANA

Nasce o sol ao 2 de Julho

“Nasce o sol ao 2 de Julho,
Brilha mais que no primeiro
É sinal que neste dia
Até o sol, até o sol é brasileiro

Nunca mais, nunca mais o despotismo
Regerá, regerá nossas ações
Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações”

Trecho do Hino da Independência da Bahia

Hoje celebramos a Independência da Bahia. Ou melhor: Independência do Brasil na Bahia!

Celebramos o nosso povo guerreiro e sua luta para libertar o país do jugo português. Lembramos heróis e heroínas na Guerra da Independência, saudando a memória de nossas Marias.

Como bem destaca o pesquisador Louti Bahia, na página @amoahistoriadesalvador, foi uma luta do povo, uma guerra que uniu valentes de todas as partes do estado e do Brasil, para conquistar, de fato, a Independência no dia 2 de julho de 1823.

Que possamos nos inspirar nesse espírito para defender ideais de liberdade. Viva o Dois de Julho!

Ficamos por aqui, com esse trecho simbólico do Hino da Independência da Bahia:

“Nasce o sol ao 2 de Julho,
Brilha mais que no primeiro
É sinal que neste dia
Até o sol, até o sol é brasileiro

Nunca mais, nunca mais o despotismo
Regerá, regerá nossas ações
Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações

Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações!

Salve Oh! Rei das campinas
De Cabrito e Pirajá!
Nossa pátria, hoje livre,
Dos tiranos, dos tiranos não será.

Letra: Ladislau dos Santos Titara
Música: José dos Santos Barreto

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Artigos

1823-2023: Que se organize logo a edição comemorativa do Diário Oficial do bicentenário do 2 de Julho

Luis Guilherme Pontes Tavares*

Descontado o tempo de elaboração dos textos, da edição e design da publicação, da impressão, divulgação e lançamento, suponho que seja possível que, à semelhança do que a Imprensa Oficial do Estado (IOE), então dirigida pelo jornalista e político João Pacheco de Oliveira (1880-1951), fez em 02 de Julho de 1923, a Empresa Gráfica da Bahia (EGBA) seja capaz de organizar e publicar, no 2 de Julho de 2023, edição especial do Diário Oficial comemorativa do bicentenário da Independência do Brasil na Bahia.

Em 1923, o 1º centenário da Independência foi festejado pela IOE com a publicação de edição especial com cerca de 700 páginas, enriquecida com 53 textos assinados e outros produzidos por redatores da Imprensa Oficial e de outras instituições públicas e privadas. Só para citar alguns dos autores que trataram da conjuntura e da influência que teve o primeiro século do Brasil independente escolhi oito: Francisco Marques de Góes Calmon, que seria eleito governador no ano seguinte; o professor e político José Wanderley de Araújo Pinho; Aloysio de Carvalho e Aloysio de Carvalho Filho, pai e filho, ambos jornalistas e políticos; o historiador Braz do Amaral; o poeta e médico Egas Muniz Barreto de Aragão, conhecido como Péthion de Villar; o professor Octávio Torres e o cronista e engenheiro Silio Boccanera Júnior.

Capa do CD do 2 de Julho de 1923 | reprodução

Para a edição de 02 de Julho de 2023, ouso sugerir estes poucos e fundamentais nomes para a espelharem o que fizeram os colaboradores da edição de 1923, tratando da conjuntura e da influência que recebeu do século anterior. Eis os nomes e respectivas áreas de exame: Armando Avena (Economia); Sergio Siqueira (Cultura); Eduardo Salles (Agricultura); Nivaldo Andrade (Arquitetura); Wlamyra Albuquerque (História); Luiz Freire (Artes Plásticas); Manoel Barral Netto (Medicina); Maria Teresa Navarro de Brito Mattos (Documentação & memória); e Nelson Pretto (Educação). Com esses nove nomes, abro a lista que poderia se assemelhar em número e qualidade à relação de convidados de cerca de 100 anos atrás.

Edição fac-similar de 2004 – Há 17 anos, o governador de então autorizou à Secretaria da Cultura e Turismo, através da Fundação Pedro Calmon (FPC)/ Centro de Memória e Arquivo Público, a publicar edição fac-similar (impressa e digital) do DO de 1923. Na ocasião se constatou que restavam poucos e já danificados exemplares, sob os quais se debruçavam com frequência pesquisadores nacionais e estrangeiros. A edição fac-similar tem nas páginas iniciais as apresentações assinadas pelo secretário Paulo Gaudenzi; pelo diretor da FPC, escritor Claudius Portugal; e pela diretora do Arquivo, professora Marli Geralda Teixeira. A introdução foi elaborada pelo professor Cândido da Costa e Silva, da FFCH/UFBA.

Capa da edição fac-similar (2004) | reprodução

A apresentação do secretário Paulo Gaudenzi (1945-2004) esclarece: “No intuito de conservar os exemplares restantes do histórico Diário Oficial – que se encontram ameaçados de deterioração pelo intenso manuseio –, preservar a memória histórico documental e, principalmente, facilitar o acesso a tão importante documento, é que o Governo do Estado da Bahia, por intermédio da Secretaria da Cultura e Turismo e da Fundação Pedro Calmon, traz a público esta edição”. Em sua introdução, o professor Candido Costa e Silva, como que complementando o texto do secretário, acrescenta o seguinte comentário sobre os convidados do DO do centenário: “Oitenta anos adiante, imaginava fossem mais evidentes as referências aos colaboradores. O tempo, porém, foi mais esponja do que buril”.

Aprendi a valorizar o DO comemorativo do centenário da Independência do Brasil na Bahia nas pós-graduações que cumpri desde o final da década de 1980 até o início da década 2000. Em ambas, estudei a IOE – denominada depois de Imprensa Oficial da Bahia (IOB) e EGBA. Em 2005 e 2008, quando organizei a 1ª e a 2ª edições do Apontamentos para a história da Imprensa na Bahia, tive a oportunidade de incluir dois textos originais do DO de 1923: “A Imprensa na Bahia em cem anos”, do jornalista Aloysio de Carvalho (Lulu Parola) e “Imprensa Official do Estado”, do redator Honestilio Coutinho, textos que se avizinharam no famoso DO, um iniciando na página 215 e o outro na página 219.

Valorizemos, pois, o tesouro de informações que é o DO de 1923 e tentemos, quiçá, fazer com que a edição do DO comemorativa do bicentenário venha a ser tão admirável como a anterior.

Oxalá!

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*Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É 1º vice-presidente da
ABI. [email protected]

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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Notícias

IGHB promove palestras, lançamento de livro e exposição para comemorar o 2 de Julho

Para comemorar os 198 anos da Independência do Brasil na Bahia, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia vai promover, de 1º a 27 de julho, palestras, lançamento de livro e exposição no canal youtube e redes como Instagram e Facebook. A agenda será gratuita e estará à disposição do público.

No dia 1º de julho (quinta), às 16h, acontece o lançamento do livro “O processo da Independência do Brasil no Recôncavo Baiano (Política, Guerra e Cultura) 1820-1823” (Edufba), de autoria do historiador cachoeirano Manoel Passos Pereira. A transmissão, pelo canal do Youtube do Instituto, será mediada pelo historiador Jaime Nascimento e terá a participação do jornalista e pesquisador Jorge Ramos, que debaterá com o autor.

Com o tema “A Chama da Esperança”, a edição deste ano homenageia a atuação de nossos heróis da independência, mas reverencia também a todos os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia do Covid-19. Para marcar o 2 de julho, às 08h, no Largo da Lapinha, será realizado o hasteamento das bandeiras, que contará com a presença do prefeito da capital, Bruno Reis, do governador da Bahia, Rui Costa, do deputado Adolfo Menezes, presidente da Assembleia Legislativa da Bahia e do presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Eduardo Morais de Castro.
Por conta da pandemia, não haverá acesso do público.

Durante a cerimônia, os Caboclos estarão posicionados do lado de fora, vestidos pelo artista plástico João Marcelo, de “Verde Esperança”. Na sequência, a Pira do Fogo Simbólico, aqui nomeada simbolicamente como a “Chama da Esperança”, será acesa por dois profissionais de saúde, em um gesto que representa a luta do povo da Bahia na batalha contra a pandemia. Na ocasião, ainda acontece uma coletiva de imprensa com as autoridades presentes, como também a deposição de flores aos heróis da independência no busto do General Labatut.

A exposição “Personagens da Guerra pela Independência do Brasil”, além de fotografias pertencentes ao acervo do IGHB estarão nas redes sociais de 01 a 10 de julho. O objetivo é proporcionar aos baianos a oportunidade de conhecer de perto as imagens dos homens e mulheres que tiveram um papel decisivo na epopeia do 2 de Julho e que contribuíram, de alguma maneira, para a vitória na guerra que consolidou a Independência do Brasil.

Serão exibidos quadros (com textos descritivos) que retratam as figuras de Maria Quitéria, João das Botas, General Labatut, Lord Cochrane, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque (Barão de Pirajá), Antonio de Souza Lima, Encourados de Pedrão, Ladislau Titara e José Santos Barreto e Joana Angélica, além de Pedro Rodrigues Bandeira, um dos deputados baianos nas Cortes de Lisboa, na mesma época da guerra.

Quatro palestras e um projeto ligados ao 2 de julho integram a agenda da programação. A primeira será pronunciada pelo professor Alfredo Matta, dia 6 de julho, às 17h, com o tema “Independência da Bahia: projetos concorrentes de futuro dos sujeitos da História”. Nos dias 20 e 27 serão palestrantes os professores Lina Aras (UFBA) e Sergio Guerra Filho (UFRB). “Julhienses – Cartazes em celebração aos heróis do Dois de Julho” é tema de projeto e palestra que serão apresentados pelo designer Daniel Soto Araujo, dia 13 de julho, às 17h (youtube/ighbba).

O também artista visual cria e cola cartazes em grande formato (lambe) sobre o Dois de Julho em Salvador, ocupando vias públicas do Centro Histórico da capital baiana com representações dos personagens da Guerra de Independência do Brasil na Bahia. “Esse projeto pretende permitir que as heroínas e heróis do Dois de Julho estejam ao nosso lado ao longo dos caminhos soteropolitanos nos lembrando e nos inspirando”, explica Daniel, cujos registros, que iniciaram em 2018 estão no instagram @julhienses.

O IGHB promove diversas atividades culturais e é o guardião do Pavilhão 2 de Julho, no Largo da Lapinha, onde estão os dois principais símbolos da maior festa cívica do país: o Caboclo e a Cabocla. Uma das instituições apoiadas pelo programa Ações Continuadas a Instituições Culturais, iniciativa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA) através do Fundo de Cultura da Bahia (FCBA), também tem apoio institucional da Fundação Gregório de Mattos nos festejos do 2 de Julho.

*Informações são do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia

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Notícias

O “2 de Julho” na mídia

Por Nelson Cadena*

No ano seguinte ao fim da Guerra da Independência, um jornal baiano descreveu os festejos do 2 de Julho, vamos chamar assim por força de hábito, que na verdade não passou de um desfile militar igual a tantos outros realizados antes do conflito. A matéria foi publicada em 6 de julho de 1824, no jornal O Grito da Razão. A sua importância está na detalhada descrição do evento, o que desqualifica a versão assumida por muitos historiadores de que nasceu como resistência, seria um movimento popular. Não era, mesmo.

Comemoração no centenário – Foto: Reprodução

O equívoco dessa percepção, já tive a oportunidade de escrever neste espaço a respeito, nasceu da falaciosa história contada por Manoel Querino: o índio velho que teria desfilado, por iniciativa do povo, numa carroça abandonada que populares resgataram no campo de guerra de Pirajá. Uma versão que Manoel Querino e, apenas ele, ouviu como tradição popular, mais de 80 anos após o suposto fato ocorrido.

A longa reportagem de O Grito da Razão nos dá conta do Te-Deum na catedral, da impecável formação dos batalhões militares, da marcha pelo Centro da cidade, a salva de tiros nas fortalezas, “na maneira do costume”, ressaltou o jornal. A narrativa fala dos “Vivas” às autoridades, da cidade toda iluminada à noite, “algumas pessoas o fizeram por três dias”, esclarece. Esses elementos descritos eram comuns nas festas cívicas desde o século XVIII, nenhuma novidade, e o papel do povo era assistir, não integrava nenhum cortejo. Aplaudia das sacadas, das janelas, ou mesmo, da rua. Outra reportagem, publicada no ano seguinte, descreveu a exibição do retrato do imperador no palanque. Tudo muito oficial. Cadê o povo?

Um dia, o povo de fato se incorporou ao desfile, a partir de 1828, com a introdução do carro do Caboclo no cortejo e logo mais dos batalhões patrióticos formados por civis, inclusive o da imprensa. Pela mesma época, os jornais passaram a publicar edições especiais comemorativas da efeméride do 2 de Julho. A mais antiga que eu conheço é de 1832, edição extraordinária da Gazeta da Bahia, contendo sonetos e um hino da independência até hoje inédito, de autoria desconhecida. Logo mais, em 1836, nasce um jornal denominado “Pirajá”, circulava na semana da festa. As publicações aqui referidas eram impressas na Tipografia da Viúva Serva & Filhos.

Três anos depois é lançado o “Dois de Julho”, distribuído pelo Jornal Aurora. Com o mesmo nome de Dois de Julho circularam nesta cidade jornais alusivos ao evento em 1849 e 1858 e ao longo do século XIX outras publicações específicas e suplementos da grande imprensa. No século XX, Abílio Bensabath, notável publicista, o maior de seu tempo, editor de publicações especiais, lança a Revista Cívica publicada anualmente contendo matérias históricas e muitos anúncios.

Por ocasião do centenário da independência, em 1923, Bensabath se superou. A revista circulou com mais de 60 páginas, farta matéria editorial e reclames. Nessa data histórica do centenário, os principais jornais de Salvador publicaram suplementos e chamadas abrangendo toda a primeira página, vide O Imparcial, A Tarde e o Diário da Bahia. Dentro de quatro anos certamente teremos edições especiais da imprensa em suas várias plataformas, comemorativas do bicentenário.

*Nelson Cadena é jornalista e publicitário. (Texto publicado pelo jornal Correio, no dia 28/06/19)

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