Oligopólio ou democratização? O debate sobre a predominância das plataformas digitais na comunicação foi tema do GJOL Cast desta quinta (12). A iniciativa do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Digital (GJOL) da UFBA teve como convidado especial o professor Rosental Alves, criador do Simpósio Internacional de Jornalismo Online e diretor fundador do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. O evento (confira no Youtube) também contou com as participações do presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Ernesto Marques, e de Moacy Neves, presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba).
Alves, que possui uma longa trajetória no jornalismo digital e é pioneiro de pesquisa na área, pode observar de perto as mudanças que a chamada plataformização provocou na atividade jornalística. “Na verdade, essa plataformização foi algo que não conseguimos vislumbrar quando, nos anos 90, a gente viu a internet chegando. A web era descentralizada e aberta e a gente esperava que a geração web se desenvolvesse dentro dessa mesma estrutura de democratização de acesso. O que acabamos vendo foi uma espécie de corporativização da arquitetura aberta”, observa.
Nesse ponto, o professor lembra que foi estabelecida uma “troca” entre empresas e usuários: o uso das plataformas é gratuito, mas coletam-se os dados pessoais. Rosental alerta para a necessidade de uma nova regulamentação no que diz respeito aos dados que são recolhidos pelas plataformas. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados vai completar um ano de sanção em novembro e busca garantir o direito à privacidade, transparência e proteção dos dados de usuários nos meios digitais. A ABI publicou uma série de matérias sobre esse marco.
Jornalismo nas plataformas
Para além da relação empresa/usuário, a plataformização também força as empresas de mídia a se adaptarem aos seus mecanismos, através da adoção de uma série de ferramentas de negócios. “Você acaba tendo que se adaptar ao sistema do Facebook. Ou adotar o SEO [técnicas de otimização de busca para páginas na web] para aparecer na busca do Google. O fato de se adaptar em si não é malévolo. A briga, de fato, com as plataformas é a questão da monetização”, analisa Rosental.
Ernesto Marques, jornalista e presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), concorda que a questão da remuneração ainda não é suficientemente discutida entre os profissionais, entidades e empresas jornalísticas. “Isso tem reflexos muito importantes na viabilidade dos nossos projetos comunicacionais, sobretudo, daqueles jornalistas atuando no interior e dos comunicadores que, mesmo não sendo jornalistas, cumprem um papel muito importante na cobertura dos chamados desertos de notícias”.
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Além de Marques, o jornalista Moacy Neves, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba), recordou a série de seminários que a Federação Nacional dos Jornalistas promoveu pelo país, para tratar da taxação das plataformas como forma de financiar os veículos de mídia. “O jornalista tem que se preocupar com o lide, mas também tem que responder às exigências dessa plataforma em relação ao horário, à forma e como se produz a notícia para ela ser acessada. Essas plataformas lucram no país sem que elas gerem qualquer emprego ou renda”.
“A gente tem que tentar se adaptar a esse mundo, tentando corrigir as falhas éticas. É preciso envolver todos os participantes, como as associações, e não apenas ter um diálogo com as plataformas, mas tentar se capacitar. Nesse ponto, precisamos de um jornalismo inovador”, conclui o professor Rosental.
O evento foi mediado pela professora e diretora da Faculdade de Comunicação da UFBA, Suzana Barbosa. A iniciativa faz parte de uma série de eventos virtuais promovidos pelo GJOL, para discutir temas de pesquisa voltadas à área de jornalismo digital e está disponível no canal de Youtube do grupo.
*Larissa Costa é estagiária de Jornalismo, sob a supervisão de Joseanne Guedes