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Roda de Capoeira é reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade

Reconhecida internacionalmente como uma prática cultural multifacetada e multidimensional – que se manifesta como luta, dança, esporte e arte -, a manifestação afro-brasileira “Roda de Capoeira” recebeu na manhã desta quarta-feira (26), por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. A inscrição na prestigiada lista foi aprovada durante a 9ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda, que é realizada na sede da Unesco, em Paris, até amanhã (28).

O reconhecimento eleva o número de manifestações culturais brasileiras reconhecidas como patrimônio pela Unesco, que já inclui a dança carnavalesca pernambucana Frevo e o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, a Arte Kusiwa (espécie de pintura corporal realizada por índios do Amapá), e o Círio de Nazaré, manifestação religiosa típica do estado do Pará. De acordo com a Unesco, a capoeira simboliza a resistência negra no Brasil durante o período da escravidão. Seu reconhecimento como patrimônio, argumenta a organização, reforça o valor da herança cultural afro-brasileira.

De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a prática cultural é um dos maiores símbolos da identidade brasileira e está presente em todo território nacional, sendo praticada em mais de 160 países, em todos os continentes. A Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira foram reconhecidos como patrimônio cultural brasileiro pelo Iphan em 2008, e estão inscritos no Livro de Registro das Formas de Expressão e no Livro de Registro dos Saberes, respectivamente. Já no dossiê de candidatura, de 25 páginas, o Iphan destacava que o registro favorece a consciência sobre o legado da cultura africana no Brasil e o papel da capoeira no combate ao racismo e à discriminação.

Roda no Forte da Capoeira, em Salvador - Foto: Rita Barreto/SeturBA
Roda no Forte da Capoeira, em Salvador – Foto: Rita Barreto/SeturBA

“Meca da capoeira” no Brasil, a Bahia está em festa com o recebimento do título. “A salvaguarda vai garantir a difusão, para que a manifestação não desapareça. Agora, a capoeira deixa de ter um significado específico para o povo brasileiro e passa a ter um significado para a humanidade. Com isso, o Brasil recebe ainda mais responsabilidade na preservação e continuidade desse bem, que, embora procure manter uma identidade, é um patrimônio vulnerável porque muda constantemente, passa por transformações. Precisamos manter a tradição. Uma roda não tem começo e não tem fim”, comemora o professor Jaime Nascimento, historiador do Forte da Capoeira, no Santo Antônio Além do Carmo, onde funciona o Centro da Capoeira na Bahia. O lugar é referência na pesquisa e na memória da cultura capoeirista e conta com biblioteca, oficina de instrumentos, além de um espaço amplo para rodas de capoeira, com aulas nas academias nele abrigadas.

Para a ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler, o título é importante para a valorização e a difusão da capoeira. “O reconhecimento da Roda de Capoeira pela Unesco é uma conquista muito relevante para a cultura brasileira. A capoeira tem raízes africanas que devem ser cada vez mais valorizadas por nós. Agora, é um patrimônio a ser mais conhecido e praticado em todo o mundo”, afirmou em nota.

A presidente do Iphan, Jurema Machado, explica que as políticas de patrimônio imaterial não existem apenas para conferir títulos, mas para que os governos assumam compromissos de preservação de seus bens culturais, materiais e imateriais, como a Roda de Capoeira. Segundo ela, o título promove o aumento da visibilidade de bens culturais relacionados aos movimentos de luta contra a opressão, sobretudo àqueles pertencentes às comunidades afrodescendentes. “A roda de capoeira expressa a história de resistência negra no Brasil, durante e após a escravidão”.

26122357857298Jurema Machado acredita que o reconhecimento como patrimônio demarca a conscientização sobre o valor da herança cultural africana, que, no passado, foi reprimida e discriminada. “O reconhecimento internacional amplia as condições de salvaguarda desse bem. Os compromissos assumidos pelo governo para com essa salvaguarda envolvem ações de promoção, de valorização dos mestres, seja na inserção no mercado de trabalho, seja na preservação das características identitárias da capoeira ou na formação de redes, de cooperação e de transmissão de conhecimento”, completa.

Nem jogo nem dança

A Capoeira surgiu no Brasil durante ao período escravagista e desenvolveu-se como uma forma de socialização e resistência física e cultural entre os escravos. Como as lutas eram proibidas nas senzalas, os escravos reuniam-se em torno de rodas onde realizavam movimentos de artes marciais, porém sem contacto físico com o adversário, e ao embalo de música que conferiam à luta ares de dança. A sua prática foi proibida no Brasil até à década de 1930, mas em 1937 foi declarada desporto nacional pelo então Presidente Getúlio Vargas.

Até hoje, um capoeirista completo deve dominar a musicalidade e saber tocar o berimbau, instrumento típico que dá o ritmo aos movimentos. As reuniões para sua prática eram realizadas geralmente em campos abertos, com pouca vegetação, que à época eram chamados de capoeira, de onde vem o nome da luta. A prática é, ao mesmo tempo, dança, esporte e arte, jogo e brincadeira. A capoeira une todos os elementos em uma história que se confunde com a própria história do país, já tendo sido utilizada até em guerra, como a do Paraguai.

*Com informações do G1, Correio Braziliense e O Globo.

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