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Vietnã amordaça a Internet

DEU NO EL PAÍS – Phan Chi Dung chega à reunião dez minutos antes da hora prevista. Somente as duas canetas, uma vermelha e outra preta, revelam seu trabalho como intelectual e jornalista. “Não trago papéis. É perigoso.” Desde que em 2007 começou a denunciar os casos de corrupção vinculados à elite dirigente do Partido Comunista, Phan Chi vive todos os dias esperando voltar a ser preso. “Querem controlar a democracia”, alerta. Atualmente são 29 os jornalistas e blogueiros que permanecem detidos no país. Controlar a Internet é uma obsessão para um Governo que transformou o Vietnã na quarta maior prisão do mundo para os cidadãos da web.

Dinh Dang Dinh, um antigo soldado e professor de química, era em dezembro de 2011 um dos ativistas e blogueiros ambientalistas mais influentes no Vietnã por sua luta contra as minas de bauxita na cordilheira central. O tribunal provincial de Dak Nong o condenou em agosto de 2012 a seis anos de prisão por “conduzir propaganda” contra o Governo. Foi acusado de escrever e publicar na Internet documentos contrários aos interesses do Estado. Seu julgamento só durou três horas e a apelação, 45 minutos. Na cadeia, Dang Dinh foi maltratado e somente três meses antes de morrer, em abril do ano passado, foi autorizado a receber tratamento hospitalar para o câncer de estômago de que padecia. A história de Dang Dinh é uma das 75 sobre presos de consciência recompiladas pela Anistia Internacional em seu relatório Vozes Silenciadas, de 2013. Essa é apenas a ponta do iceberg em um país no qual a imprensa escrita está em mãos do partido único e a censura impede a publicação de livros críticos à história oficial. The Trader of Saigon (O Comerciante de Saigon), da escritora britânica Lucy Cruickshanks, foi um dos últimos a entrar nessa lista.

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Phan Chi Dung foi preso em 2012 por denunciar vários escândalos de corrupção entre a elite dirigente do país – Foto: Pablo L. Orosa

Amparado em uma legislação ambígua e pouco precisa, o Executivo vietnamita mantém há alguns anos uma forte política repressiva contra ativistas, jornalistas, blogueiros e defensores dos direitos humanos. O Código Penal de 1999 é usado contra quem levante a voz para denunciar abusos do poder e corrupção. “Entre 2007 e 2010 a situação melhorou um pouco, mas logo o Governo iniciou uma campanha de prisões”, recorda Phan Chi. Ele foi uma das vítimas. Depois de 25 anos trabalhando para o partido, em 2003 ele decidiu deixar o posto de funcionário – “eu menti ao povo”, reconhece – e começou a denunciar as ilegalidades do sistema. Sua batalha para revelar os escândalos de corrupção vinculados à família do primeiro-ministro Nguyễn Tấn Dũng o levou à prisão em 2012. “Foram à sede da empresa onde minha irmã mais nova trabalha e lhe recomendaram que me aconselhasse a deixar de criticar o Governo.” Phan Chi não se amedrontou e acabou sendo preso durante cinco meses, acusado de publicar propaganda contra o Governo (Artigo 88 do Código Penal) e empreender atividades para derrubar a Administração do Estado (Artigo 79). “Finalmente, tiveram de libertar-me porque não tinham provas”, afirma, sem levantar demais a voz. Não há indícios de vitória em suas palavras.

Internet, o inimigo da nova era

Os meios de comunicação privados estão proibidos no Vietnã, algo que era suficiente para calar as vozes discordantes até que houvesse a disseminação da Internet e dos blogues políticos, com grande influência nas novas gerações. “É estúpido tentar censurar um livro ou uma informação quando ela está disponível na web. Basta dar um clique para encontrar o que se procura”, afirma Kieu, um jovem estudante da província de Vinh que chegou a Hanói há quatro anos para estudar economia.

No final de 2013, o Governo aprovou o chamado Decreto 72, que proíbe a publicação online de material considerado crítico ao Executivo ou que possa prejudicar a segurança nacional. O decreto, condenado energicamente pelas organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, especifica que as redes sociais, como Twitter e Facebook, só podem ser usadas para “publicar ou trocar informação pessoal”. De fato, embora não exista uma proibição oficial, desde setembro de 2013 o acesso ao Facebook no Vietnã está bloqueado – o que não impede a maioria dos vietnamitas de acessar facilmente a rede social. “A Internet é só uma ferramenta. Se para os cidadãos a rádio fosse a única possibilidade de escutar vozes alternativas e informações sobre temas não tratados pelos meios de comunicação, ou tratados sob o filtro do Partido Comunista, estou certo de que teríamos o país cheio de receptores piratas de rádio que seriam vendidos no mercado negro”, garante o representante do Repórteres Sem Fronteira (RSF) no país, Benjamin Ismail.

Os esforços do Governo para manter o controle da informação se concentram principalmente em jornalistas e blogueiros. “Há dois anos mantêm uma forte campanha contra nós”, insiste Phan Chi. Em janeiro de 2013, 14 jovens blogueiros foram condenados a penas entre 3 e 13 anos de prisão com base no artigo 79, depois de participarem em Bangcoc de uma oficina de formação organizada pelo Viet Tan, partido que defende uma reforma pacífica no país e que o Governo qualifica como terrorista.

Até o aparecimento da Internet, o controle dos meios de comunicação permitia dominar as vozes críticas ao Governo -Foto: Pablo L. Orosa
Até o aparecimento da Internet, o controle dos meios de comunicação permitia dominar as vozes críticas ao Governo – Foto: Pablo L. Orosa

O caso mais midiático foi o do prestigiado blogueiro Nguyen Van Hai, mais conhecido como Dieu Cay, detido em abril de 2008, apenas sete meses depois de ter fundado o Clube dos Jornalistas Livres, com outros dois blogueiros— Phan Thanh Hai e Ta Phong Tan. Foi acusado de um delito de fraude fiscal e, posteriormente, de ”propaganda antigovernamental” por suas críticas às relações entre os Governos do Vietnã e da China. Dieu Cay foi sentenciado em dezembro de 2012 a 12 anos de prisão. Ele manteve durante 35 dias uma greve de fome para denunciar as más condições dos prisioneiros da província de Nghe Na. Em outubro, Dieu Cay foi posto em liberdade e conduzido ao aeroporto de Noi Bai, em Hanói, de onde tomou um voo para os Estados Unidos, sem poder despedir-se da família.

Embora faça parte do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (ICCPR, na sigla em inglês) e seja membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Vietnã viola sistematicamente os princípios legais internacionais sobre liberdade de expressão. O país ocupa o posto 175 de um total de 180 países no índice anual de liberdade de imprensa elaborado pelo Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em 2015, só à frente da China, Síria, Turcomenistão, Coreia do Norte e Eritreia.

Desde a eleição de Nguyen Phu Trong para o cargo de secretário-geral do Partido, em janeiro de 2011, a situação dos jornalistas piorou consideravelmente. “Nunca tantos blogueiros haviam sido presos”, ressalta o porta-voz do RSF, que atribui esse aumento dos “confrontos e detenções à maior atividade e eficiência dos jornalistas e ativistas na web”. “É, sobretudo, uma nova geração de cidadãos que se inspira nos mais velhos, ainda muito ativos, para recuperar o impulso na luta pela liberdade de imprensa e informação”, resume Ismail. Atualmente, 29 blogueiros e jornalistas permanecem detidos no Vietnã, o que faz do país a quarta prisão do mundo para os internautas, só atrás da China, Irã e Síria, segundo dados dessa organização.

As cópias piratas de livros proibidos e romances estrangeiros ocupam um posto de destaque nas numerosas livrarias clandestinas que abarrotam as calçadas do centro de Hanói e Ho Chi Minh. Depois de uma breve conversa, os vendedores ambulantes oferecem também quase qualquer obra censurada. A batalha do Governo está nos meios de comunicação. “Podem controlar a imprensa escrita, mas não a Internet”, enfatiza Phan Chi, que com outros 64 jornalistas faz parte da primeira associação de jornalistas independentes do país (a IJAVN), criada em junho. Contam com uma página na Internet que recebe mais de 300.000 visitas diárias. “As pessoas querem informação livre e verídica, querem saber a verdade sobre a economia, a sociedade…”, afirma.

Vietnã é a quarta prisão do mundo para internautas

Phan Chi sabe que é vigiado. “Meu telefone, meu email e meu Skype estão sob controle. Só não podem controlar a minha mente”, diz, enquanto prepara metodicamente outro dos cigarros Fine com os quais acompanha o café. Sentados à única mesa ocupada no ponto mais alto da cafeteria Sỏi Đá, um dos locais da moda em Saigon, Phan Chi não perde nenhum detalhe do que se passa a seu redor; “Podemos ser presos a qualquer momento”, lembra com insistência.

A campanha de controle empreendida pelo Governo do Vietnã é equiparável à do Executivo chinês: os provedores independentes de notícias foram obrigados a aumentar a vigilância, enquanto se multiplicam as prisões e julgamentos em virtude da nova e draconiana legislação. Em muitos casos, como o de Dieu Cay, que permaneceu quase dois anos sem poder falar com sua família, os blogueiros presos passam longos períodos incomunicáveis. Segundo o relatório da Anistia Internacional, os julgamentos estão “distantes dos padrões internacionais de justiça”. “Não há presunção de inocência nem a oportunidade de examinar as testemunhas, e com frequência falta acesso a uma defesa competente”, diz o documento. Ao mesmo tempo, muitos familiares e amigos dos dissidentes são assediados. “Nosso trabalho é perigoso não só para nós, mas para nossas famílias”, admite Phan Chi.

Apesar das dificuldades, os jornalistas vietnamitas não pensam em ceder. “Nós falamos em nome das pessoas. Não temos nenhuma desculpa para deixar de fazer isso.” Nos últimos anos, a sociedade civil não deixou de desenvolver-se. A pressão dessas organizações, sustentadas pela comunidade internacional, permitiu melhorias nos direitos humanos e na democracia. “As pessoas já falam da fraqueza do Governo, dos problemas econômicos, da corrupção…”, destaca Phan Chi. Um “regime mentiroso” não poderá continuar sendo assim indefinidamente.

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Escândalo que envolve mulher do presidente mexicano provoca demissão de jornalista

De todos os países da América Latina que oferecem riscos e obstáculos para o exercício da profissão de jornalista, o México é o caso de maior gravidade. O número de profissionais mortos devido a denúncias feitas a líderes de cartéis ou políticos e empresários envolvidos com o narcotráfico é de 97, entre 2010 e 2015. Mas a pressão sobre a imprensa, que no interior é realizada de modo sangrento, na capital do país se exerce de modo mais engenhoso e político. Um desses movimentos causou a demissão da veterana jornalista Carmen Aristégui da rádio MVS, onde mantinha um programa diário de mais de quatro horas. A queda de braço entre a jornalista e a emissora foi acompanhada ao vivo pelos ouvintes.

Aristégui, 51, é a jornalista mais famosa do México, conhecida por seu trabalho como crítica do governo e possui também um programa de comentários de notícias da América Latina na rede CNN. Em 2014, foi eleita mulher mais poderosa do país pela “Forbes”. No entanto, o anúncio da demissão ocorre meses depois que ela e sua equipe trouxeram à tona um escândalo de possível tráfico de influência envolvendo o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, e sua mulher, a atriz Angélica Rivera. De acordo com as investigações, a primeira-dama mexicana comprou uma mansão luxuosa do grupo chinês Higa, que fazia parte do consórcio vencedor de uma licitação milionária para a construção de um trem de alta velocidade no país.

A denúncia, que afetou a imagem de Peña Nieto, desencadeou uma verdadeira novela em torno da chamada “Casa Blanca”. Um dos pontos altos foi o vídeo que a primeira-dama gravou em resposta à jornalista, no qual defendeu com evidente hipocrisia que a propriedade havia sido comprada com seu salário de atriz televisiva. Mas, logo o contrato foi anulado e Angélica colocou a casa à venda.

Liberdade de expressão

A declaração de que Aristegui e sua equipe fazem parte da recém-criada Méxicoleaks — uma plataforma web em que cidadãos podem denunciar de forma anônima e segura abusos e corrupções — teria sido o estopim da demissão, e põe em alerta a liberdade de expressão no país. Querendo se distanciar da Méxicoleaks, a MVS emitiu comunicado advertindo que não permitiria que seus profissionais usassem recursos técnicos ou financeiros para o projeto, e demitiu os repórteres Daniel Lizárraga e Irving Huerta — ambos da equipe de Aristegui — alegando que eles usaram a marca da rádio sem autorização. A jornalista então aproveitou o seu programa matinal ao vivo para defender a plataforma e a independência jornalística, além de exigir a recontratação dos dois funcionários. “Eles deveriam ser premiados, não mandados embora”, disse a jornalista em pronunciamento após a demissão. No entanto, anteontem a emissora decidiu demiti-la.

Na tarde de sua demissão, centenas de pessoas rodearam a sede da emissora com faixas que diziam: “Eu sou Carmen” e “Fora, Peña!”, enquanto uma campanha online arrecadou mais de 200 mil assinaturas pedindo sua reintegração. A jornalista vinha sendo uma das vozes mais engajadas em pedir justiça pelos 43 estudantes desaparecidos de Ayotzinapa. Aristégui disse que sua demissão era resultado do “vendaval autoritário” que julga estar por trás do silêncio dos meios de comunicação.

A demissão de Aristégui chega num momento em que o presidente Enrique Peña Nieto enfrenta uma queda de popularidade, hoje por volta dos 25%, devido à propaganda negativa do país no exterior por conta da violência e aos maus resultados na economia. Com a aproximação da eleição de meio de mandato, onde o PRI pode perder a maioria de apoio que hoje possui no Congresso, Peña Nieto e seus aliados tentam fazer com que o caso dos 43 estudantes desaparecidos ‘suma’ dos noticiários. Os grupos Azteca e Televisa têm pactos informais com o governo, para evitar veicular notícias negativas com relação à violência no país. Nesse sentido, Aristégui era uma espécie de voz solitária, junto a algumas publicações, como a revista “Proceso”, a expor casos de corrupção que envolvem esferas superiores, assim como o encobrimento de vários crimes cometidos pelo narcotráfico e por políticos envolvidos com o comércio ilegal de drogas.

*As informações são de Sylvia Colombo para a Folha de S. Paulo e de O Globo.

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RSF disponibiliza dez sites bloqueados por autoridades em ação contra a censura

Em uma iniciativa inédita para contornar a bloqueio de sites por governos que violam os direitos humanos, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) está usando a técnica conhecida como ‘espelhamento’ para duplicar os locais censurados e colocar as cópias nos servidores de gigantes da internet como a Amazon, Microsoft e Google. Desde ontem (12/3), estão disponíveis dez meios de comunicação digitais que foram bloqueados por autoridades em 11 países como Cuba, China e Rússia. A ação é para comemorar o dia internacional contra a censura cibernética. De acordo com a EFE, para promover a campanha “Liberdade colateral“, um sistema replica os endereços e permite que a organização obtenha as páginas censuradas pelos governos para disponibilizar o acesso aos internautas.

Os cubanos, por exemplo, poderão consultar a página da agência independente Hablemos Press, fundada em 2009. Graças aos seus trinta correspondentes em 15 províncias do país, a entidade pôde denunciar as violações dos direitos humanos cometidas pelo regime, o que provocou a censura em 2011. Já os iranianos, vão ter acesso, pela primeira vez desde o ano 2000, ao site Gooya News, um meio marcado pelo pluralismo, já que divulga notícias da oposição e do regime, mas é proibido no interior do país pelas autoridades.

A RSF disse ainda que criará “espelhos” hospedados em grandes servidores, como o Google e Amazon, para reabrir estes meios, cujo bloqueio pelas autoridades do país provocaria graves prejuízos econômicos às empresas. “Para ajudar a tornar notícias e informações disponíveis nesses países livremente informados, todos os internautas são convidados a participar nesta operação, colocando esta lista em redes sociais com a hashtag #CollateralFreedom”, apela a entidade.

Na Bahia…

A recente censura do blog político “Por Escrito”, editado pelo jornalista Luís Augusto Gomes, chama atenção pela sutileza. Conhecido por sua posição autônoma e independente, o veículo foi invadido e retirado do ar após o ataque de hackers. Os piratas da internet chegaram a hastear, em comemoração, uma “bandeira” de ocupação do site, que teve que ser reconstruído. Para Luís Augusto, o caso evidencia a situação da imprensa e da liberdade de expressão no Brasil. “É um atentado contra a liberdade de expressão, um crime político que simboliza o risco que correm todos os veículos de comunicação do meio digital. No Brasil, não estamos livres dos que têm ojeriza ao debate e à livre circulação de ideias”, defendeu o jornalista, que costuma publicar duras críticas ao governo, além de bastidores e reflexões sobre o cenário político baiano e nacional. Motivo pelo qual, aliás, já foi alvo de discursos inflamados proferidos por parlamentares na Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, quando o “Por Escrito” publicou uma matéria sobre a disputa pela presidência da Casa.

Em reunião de Diretoria, realizada nesta quarta-feira (11), a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) decidiu encaminhar uma declaração às autoridades encarregadas pelas investigações dos ataques orquestrados por hackers ao blog “Por Escrito”. O objetivo da ABI é exigir rigor na apuração e na punição dos responsáveis por mais essa violação que atenta contra a liberdade de imprensa.

 Confira alguns sites já espelhados e disponibilizados pela RSF:

  1. Grani.ru , bloqueado na Rússia, está agora disponível em https://gr1.global.ssl.fastly.net/
  2. Fergananews.com bloqueado no Cazaquistão, Uzbequistão e Turcomenistão, está agora disponível em https://fg1.global.ssl.fastly.net/
  3. O Tibet Post International , bloqueado na China, está agora disponível em https://tp1.global.ssl.fastly.net/
  4. Dan Lam Bao, bloqueado no Vietnã, está agora disponível em https://dlb1.global.ssl.fastly.net/
  5. Mingjing Notícias , bloqueado na China, está agora disponível em https://mn1.global.ssl.fastly.net/news/main.html
  6. Hablemos de Imprensa , bloqueado em Cuba, está agora disponível em https://hp1.global.ssl.fastly.net/
  7. Gooya Notícias , bloqueado no Irã, está agora disponível em https://gn1.global.ssl.fastly.net/
  8. Centro do Golfo para os Direitos Humanos , bloqueadas em Emirados Árabes Unidos, está agora disponível em https://gc1.global.ssl.fastly.net/
  9. Bahrain Espelho , bloqueado no Bahrein e Arábia Saudita, está agora disponível em https://bahrainmirror.global.ssl.fastly.net/

*Com informações do Portal IMPRENSA, EFE e Collateral Freedom.

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Governos driblam efeitos libertadores da Internet para criar mordaça na era digital

Duas convicções se assentaram no pensamento contemporâneo sobre o jornalismo. A primeira é que a Internet é a força que mais tem revolucionado os meios de comunicação. A segunda é que a Rede e as ferramentas de comunicação e informação que gerou, como YouTube, Twitter e Facebook, estão transferindo o poder dos Governos para a sociedade civil e os blogueiros, cibercidadãos ou os chamados “jornalistas cidadãos”. É difícil não estar de acordo. Entretanto, essas afirmações escondem o fato de que os Governos estão tendo o mesmo sucesso que a Internet na hora de invadir os meios de comunicação independentes e condicionar a informação que chega à sociedade.

Além disso, em muitos países pobres ou de regime autocrático as ações governamentais pesam mais que a Internet na hora de definir como e quem produz e consome a informação. Há um fato surpreendente que ilustra isso: a censura está em pleno apogeu na era da informação. Em tese, as novas tecnologias tornam mais difícil, e em última instância impossível, para os Governos controlar o fluxo da informação. Alguns afirmam que o nascimento da Internet pressagiava a morte da censura. Em 1993, John Gilmore, um pioneiro da Internet, declarava à Time: “A Rede interpreta a censura como um obstáculo a contornar”.

Hoje, muitos Governos aprenderam a driblar os efeitos libertadores da Internet. Como os empreendedores, estão recorrendo à inovação e à imitação. Em países como Hungria, Equador, Turquia e Quênia, as autoridades imitam ditaduras como Rússia, Irã e China, censurando notícias críticas e criando suas próprias empresas estatais de comunicação. Também estão criando ferramentas mais sutis para atacar os jornalistas. Dessa forma, a esperança de que a Internet permitiria a proliferação de fontes de informação independentes e diversas se tornou realidade apenas para uma parte minoritária da humanidade, a que vive em democracias consolidadas.

Protesto pela liberdade de expressão na Venezuela - Foto: Alejandro Cegarra/AP
Protesto pela liberdade de expressão na Venezuela – Foto: Alejandro Cegarra/AP

Na Venezuela, dois dos principais jornais, críticos ao Governo, foram vendidos a empresas misteriosas. Lá, uso da Internet está crescendo a grande velocidade, apesar do ambicioso programa de censura aplicado pelo governo. Alguns de seus métodos permanecem ocultos, e vieram à luz em outros países. Um deles consiste em assumir o controle de veículos independentes por meio de empresas fantasmas e falsos compradores. Segundo Tamoa Calzadilla, que até o ano passado era diretora de investigação do Últimas Notícias, o jornal de maior circulação da Venezuela, nem na Europa nem nos Estados Unidos se faz ideia da quantidade e variedade de pressões a que os jornalistas de seu país são submetidos.

Calzadilla pediu demissão em sinal de protesto depois que compradores anônimos assumiram o controle do jornal e o novo diretor exigiu mudanças injustificadas em uma reportagem investigativa sobre os protestos contra o Governo. “Essa não é a censura de sempre, onde põem um soldado na porta do jornal e agridem os repórteres”, dizia-nos Calzadilla. “Em vez disso, compram o jornal, prestam queixa contra os jornalistas e levam-nos a julgamento, escutam suas conversas e transmitem-nas pela televisão estatal. É a censura do século XXI.”

Alegações de difamação também são claramente visíveis, conforme o Relatório de Transparência do Google, que foi lançado pela primeira vez em 2009. Ele compila os pedidos de governos para remover conteúdos de plataformas de empresas. O Brasil está classificado no topo da lista. O país também é o segundo com o maior número de ordens judiciais para remoção de mensagens publicadas no Twitter, entre julho e dezembro de 2014, aponta o relatório elaborado pela própria rede social. Ao registrar 27 decisões cumpridas, o país fica atrás apenas da Turquia, onde a rede social atendeu 328 determinações. Os Estados Unidos estão na terceira posição, com seis ordens judiciais. O levantamento mostra que o contexto político do Brasil catalisou as decisões judiciais contra os conteúdos publicados. Das 27 ordens emitidas, 18 delas estavam relacionadas às campanhas eleitorais. A Turquia e o Brasil também estão no top do ranking chamado “conteúdo retido”, no qual a mensagem fica indisponível apenas em um território específico. Aqui, a situação ocorreu com 101 publicações.

Além disso, jornalistas e defensores da liberdade de imprensa identificam a censura judicial como o segundo problema mais importante a afetar os jornalistas brasileiros e os meios de comunicação em geral, ficando atrás apenas da violência contra a imprensa. Agências de notícias e jornalistas são frequentemente submetidos à intimidação na forma de múltiplas ações judiciais que tentam impedir a cobertura de questões de interesse público, como parte de um fenômeno crescente na imprensa brasileira.

 Censura pelo mundo

Na Hungria, a Autoridade dos Meios de comunicação tem o poder de recolher informação detalhada sobre os jornalistas e sobre a publicidade e os conteúdos editoriais. No Paquistão, a autoridade reguladora estatal suspendeu a licença de radiodifusão da Geo TV, o canal mais popular do país, depois que o serviço secreto prestou contra a empresa uma queixa por difamação, após o assassinato de um dos jornalistas mais famosos da rede. Na Turquia, a legislação relativa à Internet confere à Direção de Telecomunicações autoridade para eliminar qualquer site ou conteúdo “a fim de proteger a segurança nacional e a ordem pública, bem como para evitar um crime”. Na Rússia, o presidente Vladimir Putin está reconfigurando a paisagem midiática à imagem e semelhança do Governo. Em 2014, vários veículos de comunicação foram fechados ou mudaram sua linha editorial de um dia para outro em resposta à pressão governamental.

A China é o país onde ficam mais patentes as contradições geradas pela Rede. A nação com mais usuários da Internet e o crescimento mais veloz da população conectada é também o maior censor do mundo. Dos 3 bilhões de internautas do mundo, 22% vivem na China (nos Estados Unidos, quase 10%). Pequim criou o que se chama de “Great Firewall” (grande firewall, o filtro da Internet) para bloquear conteúdos, incluindo páginas de informação estrangeiras. Calcula-se que dois milhões de censores controlam a Internet e a atividade dos usuários.

*Informações do El País, Portal IMPRENSA e ABI (Associação Brasileira da Imprensa).

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