A Rede CoVida – Ciência, Informação e Solidariedade realizará nesta terça-feira (12), às 20h, o webinar “Como cobrir a pandemia de Covid-19 no Brasil?”. O evento online marca o lançamento de um material de apoio para os profissionais de comunicação. A produção inclui um manual com orientações para jornalistas, um glossário de termos e a newsletter “Ferramentas Covid-19”. Convidados discutirão temas relacionados à cobertura jornalística do novo coronavírus. As inscrições para participar através do Zoom podem ser feitas neste link e o público poderá interagir com a discussão. O webinar será transmitido pelo canal do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) no Youtube.
A CoVida foi criada há dois meses, pouco depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a pandemia de coronavírus. A iniciativa é do Cidacs/Fiocruz Bahia, em conjunto com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). O projeto conta com o apoio de colaboradores de outras instituições de pesquisa nacionais e internacionais. Entre os objetivos da rede está a síntese, produção e divulgação científica, visando informar a sociedade e orientar gestores. A Rede também é responsável por um painel de monitoramento do coronavírus no Brasil, atualizado em tempo real. A plataforma permite que o usuário visualize a evolução dos casos, os óbitos, a concentração da doença e a previsão da situação nos próximos dias em todos os estados no Brasil.
No evento mediado amanhã por Raíza Tourinho, jornalista e coordenadora da Comunicação da Rede CoVida, o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Marcelo Träsel, falará sobre o uso de dados na cobertura da Covid-19; a jornalista de Ciência do Jornal O Globo, Ana Lucia Azevedo, abordará a rotina jornalística na cobertura da pandemia; e a coordenadora de Comunicação e Jornalismo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Raquel Aguiar, que tratará da disseminação de informações no contexto do novo coronavírus. A jornalista Luciellen Lima, pesquisadora de comunicação da Rede CoVida, apresentará o material produzido pela frente de comunicadores e cientistas, criada há dois meses para enfrentar a pandemia do coronavírus através de pesquisas e divulgações.
O material preparado pela Rede CoVida reúne indicações para a cobertura no contexto brasileiro, apontando o que se deve evitar, quando ter cautela, quais os melhores caminhos a seguir e os cuidados ao analisar números e fazer comparações entre dados de países e regiões diferentes. O material especial destinado a jornalistas abarca ainda orientações de prevenção no trabalho da imprensa dentro e fora das redações. Essas informações estão presentes nas Orientações e na newsletter Ferramentas Covid-19. Além disso, o Glossário inclui mais de 70 verbetes amplamente utilizados no contexto da pandemia. A produção pode ser consultada na seção “imprensa” do site da Rede CoVida.
Comunicação como estratégia
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a comunicação voltada para o engajamento das populações no combate à pandemia está entre as ações mais eficazes para o controle do novo coronavírus. “Ajudar a atenuar um pouco os impactos da pandemia, ao levar informações confiáveis para as pessoas, é meu dever enquanto cidadã e jornalista”, destaca a coordenadora do Grupo de Comunicação da Rede CoVida e do Núcleo de Comunicação do Cidacs, Raíza Tourinho. Na Rede, ela é responsável pela gestão das necessidades de comunicação e das atividades da equipe de voluntários de comunicação, pelo atendimento à imprensa, pelo relacionamento entre a gestão e pesquisadores, pela interlocução com parceiros, organização dos webinários e auxilia na elaboração de estratégias de disseminação de conteúdo.
Em meio à enxurrada de conteúdos que estão sendo produzidos e divulgados no momento, Luciellen Souza Lima, doutoranda no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia – PósCom/UFBA e integrante da equipe de comunicadores do projeto, ressalta a importância desse trabalho. “A gente utiliza a comunicação como estratégia, como ferramenta para combater a desinformação e as fake news e salvar vidas”, afirma. Luciellen integra o Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line da Faculdade de Comunicação da UFBA (GJOL/Facom). Na CoVida, ela atua principalmente na produção de conteúdo jornalístico escrito e audiovisual, e na assessoria de imprensa.
Rotina
“Os pesquisadores se dividem em grupos por temas, alguns pesquisam sobre diagnóstico e outros sobre possíveis vacinas, por exemplo. Eles coletam artigos divulgados diariamente e, a partir disso, produzem notas técnicas, boletins, quinzenários, pareceres, etc. A equipe de comunicação pega esse material e cria estratégias para divulgar para os diversos públicos”, explica Luciellen Souza. Além do público alcançado por publicações no site e nas redes sociais, como Instagram, Facebook, Twitter, YouTube e WhatsApp, o grupo desenvolve estratégias específicas que direcionam conteúdos para jornalistas – orientações, releases e sugestões de pautas.
Os colaboradores também produzem materiais didáticos direcionados a gestores de saúde, hospitais, prefeituras e secretarias de saúde, visando os auxiliar nas tomadas de decisão. “Temos reuniões diárias com a equipe da comunicação, grupos de whatsapp segmentados para facilitar a comunicação rápida sobre os mais diversos temas em pauta, e fico disponível para a equipe o máximo que posso”, diz a pesquisadora, que ressalta o desafio de conciliar a atuação na rede com outros trabalhos e atividades domésticas. “Tenho que conciliar com as reuniões com os grupos de pesquisa, com os artigos que eu estou produzindo para publicar em revistas e minhas obrigações de casa mesmo”, conclui.
Para Raíza Tourinho, “os estudantes de graduação são essenciais para manter as atividades funcionando, visto que, em geral, têm mais tempo disponível para execução das tarefas”, salienta. Os voluntários têm a oportunidade de atuar com o acompanhamento de profissionais experientes e aumentar o portfólio, além de contribuir com um projeto relevante para o combate à pandemia. Todo o projeto vem sendo desenvolvido remotamente, em perspectiva de home office. Dificuldades como falta de equipamentos e estrutura são realidade. Raíza destaca que a maior parte da equipe não se conhecia previamente, então, foi preciso aprender a trabalhar em conjunto, lidando com agendas, competências e habilidades.
O Voces del Sur, projeto de monitoramento da liberdade de expressão e de imprensa na América Latina, lançou um guia que orienta como cobrir e elaborar reportagens sobre a pandemia do novo coronavírus. A entidade reúne organizações da sociedade civil em dez países: Argentina, Bolívia, Equador, Honduras, Peru, Uruguai, Venezuela, Nicarágua, Guatemala e Brasil, representado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
O guia aponta que “o trabalho da mídia afeta a geração de confiança na população. Mas, também não se comunicar adequadamente produz desconfiança e medo”. Intitulado “Jornalismo em tempos de #Covid-19: guia de cobertura latino-americana”, o manual alerta sobre como a imprensa tem papel fundamental no gerenciamento de crises de saúde e alertas globais.
Além de informações sobre os cuidados necessários para cobertura de uma crise sanitária, o manual também reúne informações sobre o primeiro contágio ocorrido Brasil, no dia 26 de fevereiro. O documento publicado em língua espanhola está disponível para download (baixar) gratuito no site do Voces del Sur e traz dicas para o trabalho em home office ou nas redações.
O First Draft disponibilizou de forma gratuita o curso “Cobrindo o coronavírus: um curso online para jornalistas”, para ajudar os profissionais de redação e comunicação a enfrentar o desafio de cobrir a COVID-19. A iniciativa fornece aos trabalhadores da notícia “as ferramentas práticas, técnicas e conselhos de que precisam para combater a ‘infodemia’ e produzir uma cobertura credível do coronavírus”, diz o anúncio do projeto (em inglês).
“Juntamente com a rápida disseminação do coronavírus, um “infodêmico” também está em marcha. Informações enganosas ou incorretas sobre a doença, como ela se espalha e como podemos nos proteger contra estão aumentando. Esse ambiente digital complexo apresenta desafios para jornalistas e repórteres”, ressalta o First Draft. Segundo a empresa, o curso foi projetado para ser pequeno, para que repórteres ocupados encontrem tempo para desenvolver habilidades, aprender sobre as melhores práticas e descobrir novas ferramentas e técnicas.
Além de meios para monitorar e verificar informações, o curso também traz tópicos que abordam como cuidar da saúde mental enquanto cobram a pandemia. O programa inclui métodos para entender o distúrbio da informação e como e por que a informação falsa se espalha; como monitorar informações relacionadas ao coronavírus na web; as principais ferramentas e técnicas para verificar o conteúdo online; e práticas recomendadas para diminuir a disseminação de informações erradas.
Inscrições podem ser feitas neste site, onde o profissional precisará criar um usuário.
Os telespectadores acostumados a assistir ao noticiário da TV Bahia/Rede Bahia foram surpreendidos pelo novo cenário das matérias de Vanderson Nascimento. A sala do jornalista ganhou ares de estúdio televisivo, desde que ele adotou o home office. Essa é apenas uma das transformações trazidas pelo novo coronavírus (COVID-19) para a rotina dos profissionais da imprensa, instados a se reinventar e descobrir novas formas de atuação. A pandemia tem reconfigurado o fazer jornalístico, provocou mudanças nos processos produtivos das notícias e já impacta o mercado da comunicação, criando um clima de incertezas sobre as garantias trabalhistas.
A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) aproveitou as comemorações do Dia do Jornalista, celebrado no dia 7 de abril, e conversou com profissionais dos formatos impresso, online, rádio e televisão, para conhecer os principais desafios impostos pela doença e como anda o cotidiano dos trabalhadores da imprensa local.
O jornalista Vanderson Nascimento integra o chamado grupo de risco para a COVID-19, no qual estão incluídos idosos e portadores de doenças crônicas (diabetes, hipertensão, asma). “Sou hipertenso. Para garantir a minha segurança, estou trabalhando de casa”, justifica o repórter. “Um pequeno set foi montado aqui mesmo na sala de casa, com todos os equipamentos e aplicativos disponibilizados pela emissora, para que eu possa continuar participando da cobertura”. Ele destaca que o avanço tecnológico tem ampliado as possibilidades nesses tempos de quarentena e isolamento social. “Eu já fiz reportagens completas pelo celular (veja aqui), entrevistas, além das entradas ao vivo nos telejornais”, afirma.
“Não está sendo fácil. Eu gosto da rua, de estar perto dos fatos, das pessoas, dos bairros de Salvador. Meu prazer é conhecer gente e contar suas histórias”, ressalta o jornalista. “Me sinto honrado quando vejo meus colegas nas ruas, independentemente da emissora e do veículo para o qual estejam trabalhando. Não é fácil e nem glamouroso. Somos gente. Sentimos medo, angústia”, reflete. Ele acredita que a informação precisa e de qualidade tem sido uma das armas no combate ao pânico, angústia e medos provocados como “efeitos colaterais” do vírus. “O jornalismo sério e profissional tem feito a diferença neste momento de tanta fake news. O mundo depois dessa pandemia certamente não será o mesmo. Nós e o jornalismo também não. Padrões foram quebrados. Realidades, adaptadas”, avalia Nascimento.
O repórter Samuel Barbosa, do site BNews, também prefere a atuação externa. “No trabalho, gosto de movimento. Entre ficar na redação, no ar condicionado, e ir às ruas, eu não penso duas vezes. Estou sempre à disposição para sair. Essa coisa de home office é bacana durante três, quatro dias. Depois, começa a ficar chato, cansativo”, se queixa. Segundo ele, toda a empresa teve sua rotina alterada. A redação foi dividida em dois grupos. “Um dia eu trabalho em home office e no outro vou para lá”, explica. Com esse método, mais de 70% da equipe está em casa e, quem vai para a redação, não utiliza transporte público: motoristas da empresa fazem o deslocamento dos profissionais.
Risco na pauta
Mesmo com todas as medidas de prevenção contra a doença, algumas emissoras e veículos já confirmaram casos de Covid-19 em suas equipes. No dia 04 de abril, a rede Globo afirmou em nota que ao total, oito jornalistas da emissora contraíram a doença. Um dos apresentadores da Rádio Guaíba de Porto Alegre-RS, Juremir Machado da Silva, 58 anos, e outros dois profissionais da organização também estão infectados pelo novo coronavírus. A Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab) confirmou na tarde desta quinta-feira (9) o 19º óbito pela Covid-19 no estado e 559 casos da doença. Ao todo, 59 municípios da Bahia já registram casos de pacientes infectados. Estes dados representam notificações oficiais compiladas pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Bahia (Cievs-BA). Os estudos continuam indicando o isolamento social como principal providência para conter o vírus.
Para quem o home office não é uma realidade, a única opção é seguir todos os protocolos recomendados pelos órgãos de saúde, durante a missão de levar informação aos lares baianos. Exposta diariamente ao risco de contaminação pela Covid-19, a repórter Tainá Reis, da TV Aratu/SBT, afirma que a primeira mudança foi relacionada à higiene e prevenção, para garantir o máximo de proteção. “É preciso atenção com o entorno e aderir a um distanciamento das pessoas, passamos a destinar um microfone exclusivamente para os entrevistados, temos álcool em gel nos carros, spray antibactericida para higienizar os equipamentos usados e luvas”, lista.
De acordo com a jornalista, é possível notar também uma alteração de comportamento em relação à imprensa. “As pessoas adotaram um tratamento mais hostil e agressivo, principalmente a população mais carente”, revela. “Tem sido difícil, desgastante e, muitas vezes, frustrante atuar como uma profissional da imprensa em um país onde o líder máximo do Estado tenta excluir a credibilidade da categoria, nos transformando em mentirosos e manipuladores”, reclama.
“Não há como negar que o trabalho da imprensa é imprescindível nesse cenário”, defende Tainá Reis. A prova disso, para a repórter, foi o decreto assinado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro no dia 23 de março, enquadrando os serviços da imprensa como essenciais no enfrentamento da pandemia. O informe publicado em uma edição extra do Diário Oficial da União indica que sejam resguardados o exercício pleno e o funcionamento de todos os meios de comunicação e divulgação.
“Mesmo diante de ataques incessantes, é nessas horas que percebemos a importância de uma imprensa profissional, livre e pautada em valores que versam sobre o bem-estar social”, analisa Matheus Simoni, chefe de redação no Grupo Metrópole. Vivenciando o dia a dia da redação, o jornalista acredita que o antídoto para este momento é uma atuação com serenidade, apreço aos critérios jornalísticos e foco em uma cobertura livre de informações sem credibilidade. “A pauta principal é cobrir os avanços do coronavírus, o risco para a população e como a doença afeta o cotidiano da população”, ressalta.
Praticamente toda a rotina do Grupo Metrópole foi alterada. Desde a forma de chegar à empresa, os cumprimentos. “Álcool gel e outros instrumentos de higiene se tornaram quase que colegas de trabalho”, brinca. Todas as atividades externas e coberturas na rua foram suspensas. As entrevistas passaram a ser feitas por telefone ou Skype. “Por causa do contato direto com microfones no estúdio da rádio, cada apresentador ou repórter ganhou uma espuma própria para ser usada durante os programas”, conta o jornalista.
Interior baiano
A produtora e apresentadora da rádio da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb FM), Aline Luz, destaca as principais mudanças provocadas pela Covid-19 na emissora situada em Vitória da Conquista. Segundo ela, a redação está com equipe reduzida e a jornada de trabalho também encurtou. Parte do trabalho está sendo realizada de casa. “Em pouco tempo, tivemos que encontrar caminhos para informar, com ética e equilíbrio, sobre uma doença cujas variantes continuam a ser descobertas”, disse. Ela cita ainda “a falta de dados por parte das autoridades no tempo exigido pela audiência e a enorme janela aberta pelas redes sociais, cujos utilizadores são, ao mesmo tempo, emissores e receptores da notícia”, afirma a jornalista.
Mais 8 casos de coronavírus foram confirmados nesta quarta-feira (8) em Vitória da Conquista, totalizando 15 casos, de acordo com o Boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde. Até às 17h de ontem (8), foram registrados 288 casos com suspeita de infecção pela Covid-19, dos quais: 169 casos suspeitos foram descartados laboratorialmente e 5 por vínculo epidemiológico. 40 aguardam resultado da análise laboratorial e 59 aguardam coleta de amostra.
“Alguns colegas que fazem parte do grupo de risco estão em casa, o que já reduz a quantidade de pessoas na redação”, contou Aline Luz. As reuniões de pauta têm acontecido virtualmente. Segundo ela, desde o início, o veículo vem disponibilizando EPI’S, álcool em gel e redobrando a limpeza e higienização dos equipamentos de trabalho, como microfones, computadores e mesa. “Apesar de todas as precauções, é sempre um risco. Mas, esse é o papel do jornalista, essencial para combater a desinformação e o vírus”, ressalta.
A utilização de um microfone extra, higienização dos equipamentos e uma distância segura dos entrevistados também passaram a fazer parte da rotina de repórteres e cinegrafistas da Record TV Cabrália, com sede em Itabuna. “Trabalho na redação, mas é impossível não manter contato com as equipes que fazem externa. A empresa tem seguido as recomendações que as organizações de saúde preconizam desde o início dessa pandemia”, garante a radialista Lorena Lustosa, produtora executiva da emissora. “O desafio é manter a calma e o equilíbrio emocional diante de tantas notícias preocupantes que chegam até nós”, confessa.
Itabuna já registra 16 casos confirmados de pacientes infectados pela Covid-19. “O momento exige transparência e clareza e nós precisamos impedir que o pânico tome conta da população. Temos cumprido o nosso papel social. É preciso, inclusive, parabenizar os profissionais que estão nas ruas, arriscando suas vidas para trazer a notícia da melhor forma possível”, destaca Lustosa.
Quarentena x produção
Durante a quarentena, a falta de eventos públicos impactou diretamente no trabalho realizado pelo jornalista e empreendedor Evilásio Júnior, em Salvador. Depois de atuar em alguns dos principais veículos da imprensa baiana, ele resolveu lançar, há pouco mais de cinco meses, um projeto independente. O site que leva seu nome entrega uma cobertura bastante diversificada sobre os bastidores da política da Bahia, com matérias e entrevistas exclusivas. Agora, o isolamento social tem inviabilizado algumas pautas. “Sem os eventos, há escassez de assuntos políticos. Por exemplo, a cobertura do período de janela partidária foi prejudicada”, ressalta.
Segundo o jornalista, o principal desafio é conseguir criar pautas que fujam do tema coronavírus. Além da dificuldade de acesso às fontes, ocasionada também pela suspensão do funcionamento das casas legislativas, Evilásio Júnior diminuiu o ritmo por motivo de saúde. “Eu tive uma virose, possivelmente o coronavírus. Sou ex-fumante, fui asmático quando criança e estou no grupo de risco. Tive febre e falta de ar. Fiz medicação para gripe, nebulizações diárias e repousei, na medida do possível. Ficou um resquício de tosse”, releva. Mesmo sem diagnóstico, Evilásio seguiu as recomendações dos órgãos da Saúde e observou no autoisolamento os sintomas, para não correr o risco de contaminar outras pessoas. Seus pais estão na Ilha de Itaparica desde dezembro. “Tive que convencê-los a não retornar”, conta.
Para Evilásio Júnior, o período mostra “quanto o ser humano é ínfimo e não se dá conta da própria insignificância”, ao passo que evidencia “a incontestável importância” social do jornalismo. “Incluir a atividade como essencial é reconhecer a realidade, apesar de toda a falta de respeito do presidente com os profissionais. Sem o jornalismo, a pandemia teria um impacto ainda pior no país”, enfatiza.
Quem também está seguindo a quarentena é a jornalista Marília Moreira. Desde o dia 18 de março, ela saiu de casa poucas vezes, sempre para comprar alimentos. A repórter do Jornal Correio*, assim como parte da equipe, está trabalhando de casa. De acordo com ela, a redação do veículo tem cerca de 50 profissionais, incluindo estagiários, repórteres, fotógrafos, editores e diagramadores. Nesse período de home office, as reuniões de pauta são diárias. Para Marília, um dos maiores desafios tem sido manter o foco e separar o tempo do trabalho, para não comprometer outras atividades do dia a dia. “Com as pessoas distantes, as mudanças naturais de uma rotina de jornal acabam interferindo no volume de trabalho, apesar das reuniões por videoconferência. É preciso uma sincronia fina, para que não se chegue ao fim do expediente tão esgotado mentalmente”, analisa.
“No início, acho que todos nós estivemos perdidos e amedrontados. Jornalistas, autoridades e população, todos guiados pelo medo e pela angústia”, constata. Marília critica as primeiras coberturas sobre a pandemia. “Muitas construções jornalísticas, além de informar precisamente sobre a gravidade da doença, alimentaram o pânico e a ansiedade”, afirma. Para ela, as apurações se mostraram “incompletas”, por causa, principalmente, do “enxugamento das redações e a própria dificuldade imposta por esse tipo de cobertura”, opina. “Foi preciso que nós, jornalistas e cidadãos, recriássemos acordos no consumo e na produção das informações. Vimos o jornalismo se transformar em poucas semanas, variando abordagens e pautas”. Atuando na editoria de cultura, ela tem contribuído para trazer novos enquadramentos ao tema e, assim, fazer respirar as páginas do jornal.
Incertezas
Além de enfrentar as mudanças na rotina profissional, os funcionários do Correio* estão lidando com incertezas trabalhistas. Segundo o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), um comunicado interno emitido pela empresa informa sobre redução de 25% dos salários, com redução de 25% da carga horária de trabalho. O documento enumera cinco medidas tomadas de forma imediata pela Rede Bahia: redução de gastos em 5%; revisão de contratos com fornecedores; fim de investimentos por tempo indeterminado; proibição de horas extras; e a readequação da remuneração dos funcionários. Os efeitos da recessão e da perda de anunciantes já causavam prejuízos ao grupo, como o fechamento das afiliadas de Barreiras e Juazeiro. A pandemia do coronavírus agravou o quadro.
Na última sexta-feira (3), o Sinjorba afirmou ter enviado um ofício ao setor de Recursos Humanos do Jornal Correio*. No texto, a entidade pede a suspensão da medida, embora reconheça que a Medida Provisória 936/2020, publicada em 1° de abril, “entrega a prerrogativa ao empregador de propor a redução salarial, bem como firmar acordos individuais com seus empregados, sem a anuência do Sindicato”. O Sinjorba alega que “mesmo com as dificuldades que todas as empresas no Brasil enfrentarão com a pandemia do coronavírus, não é hora ainda de a empresa apressar decisões”, diz o texto.
“É um desafio enorme manter a serenidade e a calma diante de tantas notícias negativas”, comenta o jornalista Matheus Simoni. Ele destaca que “a saúde mental em tempos de pandemia tem sido um artigo de luxo” e usa o vigor dos seus 27 anos para encorajar os colegas a buscar nas relações familiares a base para atravessar essa dificuldade. “É fundamental saber priorizar as atividades com essas pessoas. Foi na falta disso tudo que a gente percebeu a importância desses momentos”, reflete. “Vamos nos reinventar, orientar a equipe a desacelerar e encontrar alternativas para passar o tempo de isolamento. A imprensa profissional sai mais fortalecida desta pandemia”, aposta Matheus.
Para Vanderson Nascimento, neste momento de tantas incertezas, o papel da imprensa tem sido fundamental. “Pesquisas já mostram a credibilidade dos veículos sérios e dos seus profissionais com a sociedade”, observa. É através da imprensa que a sociedade tem acesso às orientações sobre o “coronavírus”, uma palavra desconhecida para a maioria há apenas três meses. “Depois que tudo isso acabar, teremos novas formas de viver a vida e de trabalhar, independente da área de atuação. E se puder, fique em casa. É para o bem de todo mundo”, aconselha o repórter.