Quem anda pelo Centro Histórico de Salvador tem a percepção de que o tempo ali passa devagar. Entre seus casarões coloniais, igrejas, becos e vielas, a história do Brasil ainda pode ser contada. Ao lado dos cartões-postais da Cidade da Bahia, realidades paralelas: degradação e abandono em convivência tensa com a especulação imobiliária e o glamour prometido por investimentos sobre os quais pouco se sabe além dos tapumes dos canteiros de obras. As políticas públicas de preservação são duramente questionadas pela academia e pelos movimentos sociais, enquanto dividem o mundo da política como em um BA-VI em decisão de campeonato.
Para discutir o que tem sido feito pela manutenção do conjunto histórico, cultural e urbanístico da região, a quinta edição do Sarau da Imprensa debate o tema Arquitetura, Urbanismo, Centro Histórico: o Real Des-visto, com a arquiteta Iara Sydenstricker, a jornalista especializada em patrimônio material e imaterial Mary Weinstein e o superintendente regional do Iphan, Fernando Ornelas. O encontro será na quinta-feira (19), às 19h, na Associação Bahiana de Imprensa (ABI) – a escolha da data celebra o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, comemorado em 03 de maio – com atração musical de Ubiratan Marques & Asé Ensemble. A entrada é gratuita!
Mediador do projeto, o jornalista Ernesto Marques destaca as transformações na estrutura arquitetônica e urbanística vividas pela cidade nas últimas décadas, sobretudo desde a implantação do Pólo Petroquímico de Camaçari e a construção do Centro Administrativo da Bahia. Essas mudanças ganham contornos específicos quando a cidade é observada a partir do Centro Histórico – que compreende locais conhecidos mundialmente como o Pelourinho, Elevador Lacerda, praça Castro Alves e Mercado Modelo. O tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e o reconhecimento pela Unesco, como Patrimônio Histórico da Humanidade desde 1984, e não evitaram a degradação. Mais recentemente, a demolição de imóveis na área, sob o argumento do risco de desabamento, é recorrente e serve de alerta.
Centro Histórico de Salvador – A cidade de Salvador, fundada em 1549, foi a primeira capital do Brasil até 1763. Formado por edifícios dos séculos XVI ao XIX, onde se destaca pelo conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico, o Centro Histórico da capital baiana é um dos mais importantes do urbanismo português no país. Inscrito em 1984 na Lista do Patrimônio Mundial pela Unesco, a iniciativa não impediu a degradação da região, principalmente a partir da década de 1960, quando o centro antigo perdeu sua importância para as novas áreas de expansão urbana.
A jornalista e convidada do Sarau da Imprensa, Mary Weinstein, acredita que, quando falamos em preservação do patrimônio histórico das cidades em geral, o mundo está indo para um lado e o Brasil para o outro. “Salvador tem sido um exemplo desse processo. A cidade tem se dado ao luxo de perder, um a um, os seus casarões. Junto com eles, suas histórias, suas narrativas, como se um a mais ou um a menos não fizesse diferença. O Pelourinho, por exemplo, é visto como um estorvo porque requer recursos para ser preservado e mantido, porque, supostamente, os seus casarões só fazem cair e suas ruas só fazem produzir violência. é justamente o contrário. O Pelourinho é um privilégio que nos legaram e que desperdiçamos”, avalia.
Segundo a jornalista, as cidades vendem suas histórias, cujos testemunhos, cujos textos, estão nas edificações, das mais simples às mais elaboradas. “Há vários exemplos de cidades que construíram seu futuro sem destruir o passado. Por incrível que pareça, geralmente, o tempo destrói menos que as deliberações de governos que se mostram ignorantes, ou displicentes, ou negligentes. Estes é que decidem modificar uma memória, uma história, sem se preocupar com o passado do lugar”, critica.
O Centro Sangra – Para tentar barrar esse processo e preservar o que ainda existe, entidades como Movimento Sem Teto da Bahia, Associação de Moradores da Gamboa de Baixo, Movimento Nosso Bairro é 2 de Julho e Artífices da Ladeira da Conceição da Praia criaram o movimento O Centro Sangra, que luta pela preservação do Centro Histórico e denuncia a demolição de imóveis centenários, a especulação imobiliária na região e atos de expulsão e violência contra a população do local. Por outro lado, representantes governamentais são unânimes em reconhecer a insuficiência de recursos públicos para darem conta da conservação do conjunto arquitetônico do Centro Histórico para além dos monumentos.
Até hoje não se chegou a um consenso mínimo sobre como se daria a “redentora” participação do investimento privado que, inevitavelmente se dá a partir da redefinição das funções de cada área. “O tema é complexo e não se esgota num debate, mas a cidade precisa manter-se em reflexão enquanto todos os atores deste processo precisam dizer às claras o que pensam e desejam para o Centro Histórico”, provoca Ernesto Marques. O mediador dos debates dos Saraus da Imprensa insiste na necessidade de os empresários com investimentos na área se apresentarem ao debate público, e convidou Antônio Mazafera (Palace Hotel e Rua Chile) e Nílson Nóbrega (Hotel Fasano – Ed. A Tarde), mas o primeiro alegou compromissos fora da Bahia na data do evento, e o segundo não respondeu aos contatos da produção.
Atração musical – Para o encerramento da quinta edição do Sarau da Imprensa, teremos a apresentação de Ubiratan Marques & Asé Ensemble, que tem como base elementos da cultura afrobrasileira. O repertório conta com músicas como Yemanjá, Luiz, Ibeji, e as inéditas Lodô Inã e Orin Ori, compostas em parceria com Mateus Aleluia especialmente para o projeto. Ubiratan Marques & Asé Ensemble já realizou apresentações no projeto Concerto nas Igrejas, em espaços como Ordem Terceira do São Francisco, São Pedro dos Clérigos e Igreja do Rosário dos Pretos, além do Museu da Misericórdia.
Serviço
O Que: Arquitetura, Urbanismo e Centro Histórico serão temas do Sarau da Imprensa
Quando: dia 12 de maio de 2016, às 19 horas
Onde: Sede da Associação Bahiana de Imprensa – ABI (rua Guedes Brito, nº 1, edifício Ranulfo Oliveira, 8º andar, no Centro Histórico de Salvador)
Informações: Clube Press – Assessoria de Comunicação
Marcos Paulo Sales – Jornalista MTb 2246
Contato: (71) 4101-8288