A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) publicou ontem (26) a edição de 2020 do Relatório Anual da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, em um evento online e com coletiva de imprensa virtual. Transmitido através do Facebook da Fenaj, o lançamento integrou a programação do Fórum Social Mundial de 2021. A mediação foi da jornalista Samira de Castro e a apresentação e interpretação dos dados, realizada pela presidenta da entidade, Maria José Braga. De acordo com o documento, em 2020, foram 428 casos de ataques – incluindo dois assassinatos – o que representa um aumento de 105,77% em relação a 2019.
O Relatório Anual da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil é realizado através da coleta de dados de denúncias à Federação ou a um dos Sindicatos de Jornalistas, feitas pelas próprias vítimas da violência ou outros profissionais da mídia, além da compilação de notícias publicadas pelos variados veículos de comunicação. Os casos são agrupados em categorias de tipos de violência, que podem variar de ano para ano, em razão das ocorrências registradas. Segundo o levantamento, o ano que passou foi o mais violento desde o começo da década de 1990, quando a entidade sindical iniciou a série histórica.
(Veja o relatório completo aqui).
O ano de 2020 ficou marcado por 2 casos de assassinato, 32 agressões físicas e 76 casos de agressões verbais/ataques virtuais. Outras categorias levantadas são: ameaças/intimidações; ataques cibernéticos; atentado; censura, com 85 casos; cerceamento à liberdade de expressão por meio de ações judiciais; descredibilização da imprensa; impedimentos do exercício profissional; injúrias raciais/racismo; sequestro/cárcere privado e violência contra a organização dos trabalhadores/sindical. Outros dados denunciam, por exemplo, o número da violência por gênero.
Os homens foram o principal alvo dos ataques, porém, a presidenta da Federação chamou a atenção para o crescimento das agressões contra as mulheres. “Os ataques virtuais ou verbais presenciais sempre têm um caráter misógino, machista e muitas vezes, literalmente, têm cunho sexual. Então, é muitíssimo grave”, alerta.
Na categoria de agressor, o presidente Jair Bolsonaro foi responsável, sozinho, pelo maior percentual de ataques. Foram registrados 175 casos de ataques proferidos pelo o chefe de Estado, sendo 145 genéricos e generalizados a veículos de comunicação e a jornalistas, 26 casos de agressões verbais, um caso de ameaça direta a jornalistas, uma ameaça à TV Globo e dois ataques à FENAJ.
Dados subestimados
Para Maria José Braga, o bolsonarismo se configura numa das maiores demonstrações de apologia à violência como resoluções de conflitos sociais, o que, na análise da dirigente, é um perigo para uma sociedade democrática. “A gente mais uma vez expressa a preocupação da FENAJ com esses números. Como eu tenho dito praticamente todo ano, nós sabemos que esses números são subestimados, muitos casos de agressões contra jornalistas não chegam ao conhecimento dos sindicatos e da Federação Nacional dos Jornalistas, principalmente os ataques verbais e virtuais”, reconhece.
No fechamento de sua fala, antes de partir para as perguntas dos jornalistas inscritos na coletiva de imprensa, a presidenta alertou para a importância da categoria fazer denúncias. “Às vezes, os profissionais acham que não precisam registrar, que não precisam refazer uma denúncia pública e uma denúncia oficial buscando os órgãos competentes para identificação e punição dos culpados”, lamenta Braga.
“Os casos de censura interna de veículos de comunicação ainda são subestimados, mas a gente entende que esse número já mostra a gravidade da situação e mostra como o Estado brasileiro, que antes era omisso na violência contra jornalistas, não tomando medidas efetivas para proteção da categoria, agora é o principal agressor, por meio da Presidência da República”, reforça a presidenta da Fenaj.
Como denunciar
A Federação Nacional dos Jornalistas indica que jornalistas, no livre exercício da atividade profissional, vítimas de ataques ou agressões que se enquadrem em qualquer categoria reportem os casos para os sindicatos dos quais são associados. Segundo Maria José Braga, são os sindicatos os principais responsáveis por acolher os profissionais e mostrar à sociedade que eles não estão sozinhos. “A FENAJ está presente nos estados, claro, por meio dos seus diretores, mas também dos sindicatos que é quem presta assistência direta ao profissional jornalista. Os sindicatos estão sempre dispostos a apoiar o profissional, já que na maioria dos casos não abrem ações coletivas”, indica a presidenta.
Na Bahia, o Sindicato dos Jornalistas (Sinjorba) é responsável pela representação da categoria e conta com uma aba no site, onde consta toda a legislação brasileira referente à atividade profissional como por exemplo, código de ética, Constituição e Lei do Estágio. (Confira).
Assista também a apresentação do relatório e a entrevista coletiva da presidenta da FENAJ.
*I’sis Almeida é estagiária de jornalismo da ABI sob a supervisão de Joseanne Guedes.