Os principais jornais europeus publicaram nesta quinta (8) um editorial conjunto em defesa da liberdade de expressão, enquanto os veículos de comunicação resolveram se unir para ajudar o jornal Charlie Hebdo a continuar circulando. Os poucos sobreviventes do jornal decidiram demonstrar que o Charlie Hebdo está ferido, mas não morto, depois do atentado da última quarta-feira. Eles contam uma vez mais com a ajuda de um jornal irmão em ideologia, o Libération. Foi também esse jornal que acolheu a redação do semanário satírico quando suas instalações foram destruídas por um coquetel molotov em 2011.
Agora, está prevista para semana que vem, com apoio de toda a imprensa francesa, uma nova edição do jornal, que deve ter mais de um milhão de exemplares.
De acordo com o editorial assinado pelos diários Le Monde, The Guardian, Süddeutsche Zeitung, La Stampa, Gazeta Wyborcza e EL PAÍS, a imprensa satírica agita e desperta consciência. O texto ressalta que a ação não é apenas um ataque à liberdade de imprensa e à liberdade de opinião, mas também aos valores fundamentais das sociedades democráticas europeias. “Já nos últimos meses, a liberdade de pensar e informar estava sob a mira, com a decapitação de outros jornalistas, norte-americanos, europeus e de países árabes, sequestrados e assassinados pelas mãos da organização Estado Islâmico”, destaca o texto. E avisa que os jornais europeus continuarão dando vida aos valores de liberdade e independência. “Continuaremos informando, investigando, entrevistando, editando, publicando e desenhando sobre todos os temas que nos pareçam legítimos, em um espírito de abertura, enriquecimento intelectual e debate democrático”.
Ao redor do mundo, tanto organizações trabalhistas quanto patronais criticaram veementemente os assassinatos. Desde o atentado terrorista, as mídias sociais e a cobertura das redes internacionais de TV cobram uma forte condenação por parte do mundo islâmico em relação ao episódio. Mas, a população muçulmana já condenou os ataques. O levantamento da cobertura jornalística no mundo árabe, feito por exemplo pela britânica BBC e pelo israelense “Haaretz”, mostra uma imprensa tão crítica quanto a europeia ou a americana. Na capa do jornal pan-árabe “al-Sharq al-Awsat” a manchete, em árabe: مذبحة في اجتماع التحرير. “Massacre na reunião editorial”, em português.
Uma das críticas mais contundentes veio, como talvez fosse de se esperar, do libanês “al-Nahar” –o editor-chefe, Gebran Tueni, e o colunista Samir Kassir foram mortos em 2005. O cartunista Armand Homsi desenhou, para esse jornal, um lápis afiado desafiando um rifle Kalashnikov. O editorial de quinta-feira dizia: “Todos os jornalistas assassinados são uma tocha iluminando o caminho para outros jornalistas. Não importa o quanto eles tentem silenciar a mídia, a palavra escrita continua a ser uma bomba relógio que um dia irá explodir na cara do terrorismo e de todos os terroristas”.
Caçada
Os dois supostos autores do atentado contra o jornal “Charlie Hebdo”, em Paris, integram “há anos” a lista de terroristas elaborada pelos Estados Unidos, informou à AFP um funcionário americano. Após o ataque ao jornal, Chérif e Said fugiram e foram vistos no norte da França, onde as forças da ordem fazem uma enorme operação, com mais de 80 mil agentes. A caçada prossegue nesta sexta-feira (9), mobilizando milhares de homens e cinco helicópteros. Os dois suspeitos falaram com a polícia por telefone e disseram que querem “morrer como mártires”, disse o parlamentar Yves Albarello, que é da cidade de Dammartin-en-Goële, onde ocorre o cerco, segundo a CNN. O atentado foi saudado nesta quinta-feira (8) pelo grupo Estado Islâmico, que chamou os irmãos de “heróis”.
Nascido em 28 de novembro de 1982 em Paris, francês de nacionalidade e apelidado Abu Isen, Chérif Kouachi integrava a chamada “rede de Buttes-Chaumont”, comandada pelo “emir”‘ Farid Benyettu. Ela era encarregada de enviar jihadistas para combater no braço iraquiano da Al-Qaeda, então liderado por Abu Mussab al Zarkaui. Detido pouco antes de viajar à Síria, Chérif foi julgado em 2008 e condenado a três anos de prisão, com 18 meses sob liberdade condicional.
Segundo o jornal “Guardian”, Chérif trabalhava na época como entregador de pizza e havia dito às autoridades que foi motivado a viajar ao Iraque por imagens de atrocidades cometidas pelas tropas americanas na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá. O suspeito era órfão de pais de origem argelina do oeste da França e tinha formação técnica em instrutor de educação física, ainda de acordo com o “Guardian”. Said também nasceu em Paris e tem nacionalidade francesa. Ele passou “vários meses” treinando com armamento de guerra com um membro da Al-Qaeda no Iêmen em 2011, antes de regressar à França, disse ao jornal “The New York Times” um funcionário americano. (Até o fechamento desta matéria, os suspeitos continuavam foragidos).
*Com informações do Jornal Nacional, El País (Edição Brasil), G1 e Folha de S. Paulo.