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Agressão de PMs a jornalista do Lance! mobiliza entidades

Entidades brasileiras ligadas ao jornalismo saíram em defesa da liberdade de expressão e repudiaram as agressões e ameaças sofridas pelo repórter Bruno Cassucci, do LANCE!, no último domingo (30) em Santos (SP). Um agente apontou-lhe uma arma enquanto ele fotografava, com o celular, o local em que ocorreria uma briga entre torcedores do Santos e do Botafogo. Mesmo após identificar-se como jornalista, Cassucci foi agredido no rosto e teve uma bomba de efeito moral colocada dentro da calça. Jornalistas criaram abaixo-assinado pedindo punição aos agressores e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) abriu inquérito ontem (1º) para investigar o caso.

O Diretor Regional do Sindicato dos Jornalistas de Santos, Carlos Ratton, encaminhou um ofício ao coronel PM Ricardo Ferreira de Jesus, Comandante do 6º. BPMI – SP, para pedir providências contra os policiais envolvidos. “Isso é um absurdo e não pode acontecer novamente”, declarou à IMPRENSA. “Diante de toda essa atrocidade, dessa falta de preparo, dessa afronta à cidadania, ao trabalho e a dignidade humana, exijo a punição de todos os policiais que abordaram o jornalista Bruno Cassucci de Almeida, que em visita ao batalhão poderá identificar um por um. Na certeza que esse Comando tomará uma atitude contra esses péssimos exemplos de policiais militares”, diz um trecho do ofício.

Vila Belmiro virou praça de guerra depois do jogo - Foto: LanceNet
Vila Belmiro virou praça de guerra depois do jogo – Foto: LanceNet

Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) diz que a violência empregada contra o repórter é “injustificada e inaceitável, além de injustificada e inaceitável, um grave atentado à liberdade de expressão”. A Abraji falou sobre o papel da polícia e também exigiu punição aos agressores. “O equipamento de um profissional da imprensa não deve ser alvo de confisco, tampouco seus registros devem ser comprometidos. O episódio deste domingo é característico de contextos autoritários, em que revelar qualquer fato diverso do que o Estado pretende mostrar é considerado crime. O papel da Polícia Militar é proteger cidadãos e garantir à sociedade o direito de acesso a informações de interesse público”.

Na tarde desta segunda (1º/12), também em nota, o diretor executivo da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, classificou a ação como “vergonhosa”. A entidade ressaltou o despreparo da PM e cobrou uma punição aos policiais. “A agressão que Bruno sofreu, além de ter sido uma violência física absurda e covarde, atinge também aqueles a quem ele buscava levar  informações de interesse público. É, portanto, uma agressão à liberdade de expressão. O que se espera agora é que as autoridades investiguem o episódio, identifiquem e punam os culpados”.

Já o presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (Aceesp), Luiz Ademar, colocou-se à disposição de Bruno Cassucci. “Sempre mantivemos um bom diálogo com a Polícia Militar e repudiamos qualquer tipo de atitude truculenta. Assim como lutamos para afastar do futebol os torcedores violentos, também não vamos tolerar policiais violentos tentando proibir um jornalista de cumprir a sua função”. 

Confronto e agressão

A tensão teve início quando torcedores do Santos tentaram invadir a rua onde estavam os botafoguenses, que também partiram em direção ao time. Durante a briga, foram arremessadas bombas, pedras e paus. Mais tarde, o confronto passou a ser entre a PM e os santistas. A sede da organizada Sangue Jovem, na rua Paisandú, ao lado do estádio, foi invadida e várias pessoas ficaram feridas.

Bruno Cassucci foi detido, revistado e agredido sob a mira de uma arma quando tentava se aproximar do local para registrar o incidente. Um policial pegou o celular e apagou todas as imagens, enquanto o colega pegou uma bomba de efeito moral, colocou dentro da calça dele e ameaçou liberá-la. Em seguida, o PM solicitou um documento do jornalista, que foi liberado dez minutos depois com a condição de que não retornasse.

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Polícia invadiu a sede da torcida do Santos e destruiu materiais – Foto: reprodução/LanceNet

Em seu perfil no Facebook, ele relatou o episódio que classificou como “o pior dia” de sua carreira jornalística e “um dos piores” da sua vida. “Escrevo aqui não para fazer juízo de valor, nem generalizar uma classe que sei que é mal paga, mal equipada e que deveria servir a uma sociedade que em boa parte lhe detesta. Como jornalista, acredito que não há opinião sem informação, e é por isso que venho aqui relatar o que vivi na tarde desse domingo”, justificou.

O jornalista conta que no momento em que o PM apagava as imagens que registrou, outra autoridade pediu que ele não olhasse para trás. Instintivamente, ele desobedeceu a ordem e foi agredido no rosto. Carsucci tentou argumentar mais de duas vezes que estava apenas exercendo seu trabalho, mas não adiantou.

Outro oficial se aproximou e disse que ele estava ali para “defender torcedor” e que a imprensa apenas mostrava quando a polícia bate “nesses caras”. “A minha intenção era exatamente outra, ouvir algum responsável pela operação para tentar entender o que estava acontecendo”, alegou. “Saber que todos os dias abusos desse tipo e outros muito piores acontecem com gente que não sabe ou não tem como se expressar é o que preocupa. Sei de todos os privilégios que tenho por ser branco, não viver na periferia e ter tido a oportunidade de estudar. Se passo por situações como essa, com certeza há quem viva coisa muito pior diariamente”, finalizou.

*Informações do Portal Imprensa, Lance!Net e Abraji.

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PM prende 397, supera total de detenções de 2013 em apenas 2 manifestações

O número de detidos pela Polícia Militar nos protestos de rua na capital paulista neste ano já supera o registrado em todas as manifestações de 2013. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) contabilizou até ontem (24) pelo menos 14 jornalistas agredidos ou detidos pela Polícia Militar de São Paulo no último sábado (22), durante cobertura da manifestação “Se Não Tiver Direitos, Não Vai Ter Copa”, realizada no centro da capital. De acordo com levantamento da entidade, ao menos cinco repórteres sofreram “violações” mesmo depois de terem se identificado como membros da imprensa.

“Com estes, chegam a 57 os casos de agressões e detenções de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas cometidos por policiais militares desde junho de 2013 em São Paulo”, afirma a Abraji. De todas as ocorrências registradas nos últimos oito meses, em 56% das vezes o jornalista identificou-se como tal antes de ser agredido ou detido. Por isso, a entidade classifica a violência dos PMs como “deliberada”.

Dados obtidos pelo Estado com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) revelam que nos dois atos contra a Copa, realizados no dia 25 de janeiro e no último sábado (22), 397 pessoas foram encaminhadas a delegacias para averiguação ou acusadas de vandalismo – em todo o ano passado, foram 374 detenções. Só no sábado, foram 262 detidos.

Os dados refletem a mudança de estratégia da PM, que tenta dispersar os protestos com prisões antes de começarem as depredações. No dia seguinte ao ato, o comandante do policiamento na região central da capital, coronel Celso Luiz Pinheiro, disse que a polícia começou as prisões na Rua Xavier de Toledo, no centro, antes do quebra-quebra para se antecipar à ação dos black blocs, e classificou a operação como “um sucesso”. O tumulto começou em seguida.

A PM agiu contra um grupo de 150 pessoas, incluindo jornalistas, na estreia do pelotão ninja – policiais especializados em artes marciais que aplicaram golpes em vez de dispararem balas de borracha. O coronel pediu desculpas aos jornalistas que foram agredidos por policiais e disse que “excessos serão apurados” na corporação. “Não compactuamos com desvios de conduta”, afirmou.

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiou a ação. “Não é possível que a polícia paulista continue a praticar a brutalidade que vem praticando”, disse Celso Schröder, presidente da entidade. “A polícia não pode decidir o que deve ser divulgado.” Para o presidente da Abraji, José Roberto de Toledo, “tentar impedir o trabalho da imprensa é atentar contra o direito da sociedade à informação e, em última análise, contra a democracia”, disse.

A Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP) avaliou que houve excesso na repressão à manifestação ocorrida no centro da capital paulista. Segundo o presidente Marcos da Costa, que também é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem, “o expressivo número de detenções, inclusive de profissionais da imprensa, que foram cerceados no seu direito de exercer a profissão, mostra que houve excesso de autoridade.”

Segundo o coletivo Advogados Ativistas, a polícia fez um boletim de ocorrência coletivo no qual acusa os manifestantes por desacato, resistência, desobediência e lesão corporal. O crime de lesão estaria relacionado a uma policial militar que quebrou o braço durante o protesto. Segundo o advogado André Zanardo, os manifestantes estão sendo fotografados e fichados como uma forma de intimidação para as esvaziar as ruas. “Vão chamar essas pessoas para serem ouvidas nas próximas manifestações cerceando o direito das pessoas de se manifestar”.

Mesmo com o cerco policial e o grande número de manifestantes detidos no sábado, um novo protesto intitulado “Não vai ter Copa” está agendado nas redes sociais para o dia 13 de março. Desta vez, o transporte público estará na pauta. Até esta segunda-feira, cerca de 3.300 pessoas confirmaram presença no evento agendado pelo Facebook. Será o terceiro protesto do ano contra a realização da Copa do Mundo.

Informações de O Estado de S. Paulo, Estadão Conteúdo, EBC e RBA.

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