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Conflito em Gaza provoca suspensão de voos e limita ação da imprensa

Civis palestinos em uma Gaza densamente povoada não têm nenhum lugar para se esconder da ofensiva militar de Israel. “Literalmente, não há lugar seguro para os civis”, afirmou Jens Laerke, porta-voz do Escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Coordenação de Assuntos Humanitários, em entrevista coletiva. A entidade chama a atenção para a grave crise humanitária na Faixa de Gaza, onde um palestino morre a cada 35 minutos nos bombardeios israelenses contra a região. O conflito preocupa os Estados Unidos e países da Europa, levando as principais companhias aéreas a suspenderem seus voos para Israel, depois de um foguete cair próximo ao aeroporto de Tel Aviv. O projétil lançado da Faixa palestina acertou uma casa a menos de dois quilômetros do aeroporto Ben Gurion.

Em reunião extraordinária, em Genebra, o Conselho de Direitos Humanos da ONU declarou nesta quarta-feira (23) ser fortemente provável que Israel viole o direito internacional na região. A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, pediu uma investigação sobre os possíveis crimes de guerra cometidos por Israel e denunciou ataques indiscriminados do movimento islamita Hamas contra zonas civis israelenses. Citando casos ataques aéreos israelenses e bombardeios atingindo casas e hospitais no enclave costeiro como casos em que pode ter havido violações sistemáticas dos direitos humanos, ela falou em crimes de guerra.

De acordo com autoridades da Faixa de Gaza, hoje, no 16° dia do conflito, mais cinco palestinos morreram, incluindo duas crianças. Até o momento, o número de vítimas fatais na Faixa de Gaza chegou a 650 pessoas, enquanto Israel registrou 31 mortes, 29 soldados e dois civis. Um cessar-fogo em curto prazo é pouco provável, apesar dos apelos internacionais e dos esforços diplomáticos dos Estados Unidos e da ONU.

Testemunhas oculares da barbárie precisam se segurar para não passar as informações sobre o que está acontecendo em Gaza ou podem sofrer retaliações, como é o caso de Ayman Mohyeldin, o jornalista que presenciou e divulgou as mortes de Ismail, Zakaria, Ahed e Mohamed, de idades entre 9 e 11 anos, caçados por radar e finalmente atingidos pelos mísseis de Israel quando brincavam em um praia de Gaza, no último dia 16. A área foi bombardeada com frequência desde que Israel começou sua ofensiva no enclave, em 8 de julho, após uma onda de ataques de foguetes palestinos.

Jornalista americano de origem egípcia, ele é veterano. Trabalhou na Palestina para a Al Jazeera, para a CNN e para a NBC News, que o emprega atualmente. Desde que entrou para a NBC, em setembro de 2011, Mohyeldin informou sobre o mundo árabe. Ayman estava jogando futebol na praia com os quatro meninos momentos antes de serem assassinados. E foi, portanto, o jornalista a relatar com mais detalhes tudo que presenciou. Ele foi fundamental, tanto em mídias sociais e no ar, em transmitir ao mundo o horror visceral do ataque.

O mundo recebeu suas notícias, as imagens das mães e pais ao saber das mortes, o testemunho de Moutaz Bakr, o menino ferido, levado ao hospital após ter visto os outros morrerem. O repórter recebeu elogios nas redes pela cobertura e pelas informações que também postou no Twitter e no Instagram. Mas em seguida recebeu ordens da direção da NBC para deixar Gaza.

O argumento foi de retirada por “questões de segurança”, mas, segundo o jornalista Glenn Greenwald para o The Intercept, a NBC enviou outro correspondente para substituí-lo, “Richard Engel, juntamente com um produtor americano que nunca foi à Gaza e não fala árabe, para cobrir o ataque israelense em curso”.

A censura foi denunciada na internet, também pela rede antissionista norte-americana Jewish Voice for Peace, que condena Israel pela ocupação e os ataques a Gaza, e que fez um apelo, em sua página do facebook, para que o jornalista volte ao seu posto, e não seja punido “por fazer um trabalho honesto e corajoso”.

A outra vítima da censura é a jornalista Diana Magnay, da rede CNN, que trabalhava na fronteira entre Israel e Gaza. Ali, ela presenciou um grupo de israelenses torcendo e comemorando o lançamento de mísseis sobre Gaza. Ela relatou o fato em sua conta no Twitter e chamou o grupo de “escória”, apesar das ameaças que sofreu. “Os israelenses no monte acima de Sderot torciam enquanto bombas caíam em Gaza; eles ameaçaram destruir nosso carro se eu falasse alguma palavra errada. Escória”, escreveu no Twitter. A CNN pediu desculpas por Diana Magnay e transferiu a jornalista para Moscou.

Com informações do El País (Edição Brasil), Guia Global, RFI e Folha de S. Paulo.

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ABI BAHIANA Notícias

Literatura brasileira perde o grande João Ubaldo Ribeiro

Autor de clássicos da literatura nacional, o escritor baiano João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro morreu aos 73 anos, no início da manhã desta sexta-feira (18), vítima de uma embolia pulmonar, em sua residência no Leblon (RJ). Aclamado internacionalmente como um dos maiores escritores de sua geração, João Ubaldo usava sua memória de uma lendária Itaparica (BA), terra onde nasceu, na construção de personagens tão triviais que parecem velhos conhecidos e imprimia em suas obras um humor de coisas simples, ao ponto de parecerem estranhas ao olhar urbanizado. Para os apreciadores desse talentoso contador de histórias, a partida de Ubaldo representa uma perda irreparável para o patrimônio literário da humanidade.

Foto: André Durão/Folhapress
Foto: André Durão/Folhapress

Com a despretensão de um observador em férias, que assiste e anota, João Ubaldo produziu livros como “Viva o Povo Brasileiro” e ‘Sargento Getúlio”, que constam da maior parte das listas dos cem melhores romances brasileiros do século. Coincidentemente, seu último romance, “O Albatroz Azul”, fala sobre vida, morte e renovação, em uma bela homenagem a Itaparica. Inclusive, João lutava ultimamente para não ver construída a ponte que pretende ligar Salvador à ilha pela qual sempre apaixonado.

Apesar de ser formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e possuir mestrado em Administração Pública e Ciência Política pela Universidade da Califórnia do Sul, João Ubaldo teve uma marcante passagem pelo Jornalismo e nunca chegou a advogar. Foi repórter, redator, chefe de reportagem e colunista do Jornal da Bahia; colunista, editorialista e editor-chefe da Tribuna da Bahia, além de contribuir para jornais da Alemanha (“Diet Zeit”), Inglaterra (“The Times Literary Supplement”), Portugal (“Jornal de Letras”), São Paulo (“Folha de S. Paulo”) e Rio de Janeiro. Ele também era colunista do Jornal A Tarde, onde escrevia aos domingos, no Caderno 2+. A última coluna assinada por ele foi publicada no domingo, 13, com o título “Maus perdedores”.

Diversas instituições brasileiras que tiveram sua história marcada pela passagem do escritor divulgaram notas de pesar. Jornalistas, escritores, poetas e leitores de todo o país se manifestaram surpresos nas redes sociais com o falecimento de Ubaldo. A Associação Bahiana de Imprensa, da qual João Ubaldo era sócio desde 1980, lamentou a perda do escritor. Em sua página, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia também expressou pesar. “A Fundação Pedro Calmon lamenta a morte de João Ubaldo Ribeiro, uma perda imensa para literatura universal”.

João Ubaldo imprimia em suas obras um humor de coisas simples - Foto: Tomas Rangel/Folhapress
João Ubaldo imprimia em suas obras um humor de coisas simples – Foto: Tomas Rangel/Folhapress

Ao longo da carreira, João Ubaldo ganhou diversos prêmios literários, entre eles duas edições do Jabuti (1972 e 1984), como Melhor Autor e Melhor Romance do Ano; Prêmio Anna Seghers (Alemanha, 1996); Prêmio Die Blaue Brillenschlange (Suíça) e Prêmio Camões (1998). A convite do Instituto Alemão de Intercâmbio, ele passou um ano em Berlim, na década de 1990, e depois fixou residência no Rio de Janeiro, onde se casou com Berenice de Carvalho Ribeiro e teve dois filhos. Além deles, o escritor já possuía duas filhas do casamento anterior, com Mônica Maria Roters.

O poeta e jornalista baiano Florisvaldo Mattos, que também se formou em Direito mas optou pelo Jornalismo, tem de João as melhores recordações. “Ele era um grande amigo, homem de uma sensibilidade extraordinária. Eu acompanhei a construção de “Sargento Getúlio” e li o primeiro capítulo do romance desse que foi um escritor de alta ordem criativa. Ele teve uma bela passagem pelo jornalismo, onde foi um brilhante cronista. Com  certeza, é uma grande perda para todos nós. Ele era um grande itaparicano e defendia a preservação da ilha e de seu patrimônio natural”. Mattos lembrou ainda que João tomou posse na Academia de Letras da Bahia (ALB) apenas no ano passado, depois de tantos anos como membro da Academia Brasileira de Letras, na qual ocupa a cadeira de número 34.

“Para onde vamos é sempre ontem”, diz um verso do escitor baiano Ruy Espinheira Filho, poeta da memória, que presidiu a comissão que concedeu a João Ubaldo Ribeiro o Prêmio Camões, na Portugal de 2008. “Perda imensa. João escreveu dizeres fundamentais, em meio a histórias e pessoas tão simples, com sonoridade nas palavras e equilíbrio na prosa. Tenho muito orgulho de ter trabalhado e convivido com ele”, contou Espinheira Filho, em um misto de surpresa e emoção.

O jornalista e professor de Literatura Celso Silva, que leciona para jovens com idades entre 15 a 18 anos, nas escolas de Salvador – além de atender ao público de cursinhos preparatórios para vestibulares -, destaca o caráter regional da obra de João Ubaldo, que exaltava a cultura e os costumes do Nordeste brasileiro. “Não há adjetivos, elogios e até hipérboles suficientes para definir a importância desse simples e grande João para a literatura baiana, brasileira e mundial. Ele sempre valorizou o negro, a mulher, o índio, o nordestino, o candomblé”.

Para Silva, o escritor deixou um importante legado. “Apesar de sua obra ser marcada pelo ponto de vista em relação a nossa cultura, não podemos esquecer que ele é respeitado internacionalmente. O mundo reconhece o talento de João Ubaldo. Quando ele escreveu “Sargento Getúlio”, o livro foi traduzido para o inglês. Mas, os tradutores não conseguiram traduzir as gírias nordestinas. Aí, o próprio João fez uma tradução tão perfeita que ganhou prêmio como tradutor nos Estados Unidos”, lembra. “O querido Ubaldo deixa obras como ‘Sargento Getúlio”, “O sorriso do lagarto” e a obra-prima “Viva o povo brasileiro”. Nesta última, ele narra 300 anos de história do Brasil, porém contada aos olhos do negro, do índio, de quem foi explorado. Ainda cria a heroína Maria da fé, uma mistura de negros, brancos, índios, europeus, a mistura que nos formou. Maria da fé: fé de esperança e Maria por representar todas as mulheres deste país. Se não fosse Maria, seria José ou João. Viva o povo brasileiro. Viva João Ubaldo Ribeiro”, completa o professor.

Reprodução/site Releituras
Reprodução/site Releituras
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ABI BAHIANA

ABI sente profundamente a morte de João Ubaldo Ribeiro

A Associação Bahiana de Imprensa vem registrar seu enorme pesar pelo falecimento, aos 73 anos, do escritor e jornalista baiano João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro, vítima de uma embolia pulmonar, na manhã desta sexta-feira (18). Sócio da ABI desde 1980 e autor de clássicos da literatura nacional, João Ubaldo era aclamado internacionalmente como um dos maiores escritores de sua geração, justamente porque era daqueles cuja mágica se abre ao leitor desde a primeira página. Ele usava sua memória de uma lendária Itaparica (BA), terra onde nasceu, na construção de personagens tão triviais que parecem velhos conhecidos e imprimia em suas obras um humor de coisas simples. A partida desse ilustre contador de histórias, sem dúvidas, representa uma perda irreparável para o patrimônio literário da humanidade. Viva João Ubaldo Ribeiro!

Salvador, 18 de julho de 2014

Walter Pinheiro

Presidente da ABI

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Artigos Pensando a imprensa

Dilemas do jornalismo impresso na busca de um novo modelo de negócio

Sérgio-Mattos
Sérgio Mattos

As novas tecnologias digitais e a multiplicidade de fontes noticiosas têm causado impactos diretos na produção, comercialização, distribuição e consumo de informações, afetando o modelo de negócios dos meios de comunicação, principalmente o segmento do meio impresso. Utilizando a estrutura de análise do contexto socioeconômico, político e cultural do Brasil, o artigo “Dilemas do jornalismo impresso na busca de um novo modelo de negócio”, do jornalista e professor Sérgio Mattos*, descreve, discute e identifica tendências do mercado brasileiro, além de apresentar os esforços que as empresas jornalísticas estão fazendo para encontrar um novo modelo de negócio que permita a sobrevivência e sustentabilidade do jornalismo na plataforma impressa.

Baseado em dados empíricos, o trabalho originalmente apresentado durante o VI Fórum EPTIC (MATTOS, 2013) procura também estabelecer conexões e analogias que justifiquem o que está ocorrendo no jornalismo impresso brasileiro, já que tanto os jornais populares como os jornais de distribuição gratuita estão crescendo em todo o país. Clique aqui para acessar o artigo.

*Sérgio Mattos é formado em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre e doutor em comunicação pela Universidade do Texas, Austin (EUA). Atualmente, coordena o curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

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