Oito pontos na cabeça e escoriações pelo corpo. Esse foi o saldo de uma agressão sofrida por um jornalista da capital baiana, na madrugada deste domingo (5). Marivaldo Filho, editor do site de notícias Bocão News, usou seu perfil em uma mídia social para divulgar o relato da violência praticada por policiais militares. A denúncia, amplamente repercutida por internautas e pelos veículos de comunicação online, causou revolta em profissionais da imprensa e na população baiana. Entidades que atuam em defesa da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa condenaram o episódio e exigem punição dos responsáveis pelo ataque ao jornalista. “Como presidente da ABI, repudio fortemente as agressões sofridas pelo editor Marivaldo Filho, conforme denúncia do Bocão News, com ele me solidarizando, e com os demais companheiros do site, assegurando que a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) atuará junto às autoridades estaduais, para que este atentado à liberdade de expressão não fique impune”, afirma Walter Pinheiro.
De acordo com o jornalista, na saída de uma festa, no bairro do Bonfim, ele assistiu um amigo ser agredido e resolveu fazer imagens da ação. “(…) presenciei agressões covardes de policiais militares a um amigo somente porque ele tinha colocado um copo de cerveja em cima do carro de um dos policiais que estava sem farda. Além de procurar desentendimento por um motivo tão banal, foi ‘auxiliado’ pelos outros, fardados, que espancaram o rapaz sem nenhum motivo. Indignado com o que vi, resolvi tirar uma foto da viatura. Um dos policiais percebeu que fiz o registro e veio me questionar. Gritou e mandou eu apagar a foto. Respondi que não apagaria porque não tinha feito nada de errado. Ele perguntou se eu era advogado do rapaz agredido. Respondi que era jornalista. Foi a senha para o terror começar”, relatou. Marivaldo recebeu ordem de prisão por “desacato e desobediência”, ao se recusar a apagar a imagem.
“Antes de ser algemado e colocado na viatura da forma mais agressiva que vocês possam imaginar, recebi, antes, muitos socos na cabeça. Já atordoado, o policial devolveu meu celular para que desbloqueasse e ele pudesse apagar a bendita foto. (…) Insatisfeito por eu não estar conseguindo acertar a senha, o policial pegou um objeto do chão (que acredito que tenha sido uma pedra) e socou com o objeto pontiagudo em minha cabeça, provocando um ferimento que resultou em oito pontos. Vi meus amigos chorando, sofrendo comigo, impotentes”. Só depois de conseguir desbloquear o celular para o policial apagar a foto, o jornalista foi algemado e conduzido à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro de Roma. “A minha esperança é de que um dia eu consiga me sentir protegido pela polícia. O que aconteceu comigo não é um fato isolado. Acontece aos montes nos bairros pobres e continuam invisíveis. Como comunicador, como cidadão, tenho a obrigação moral de não me calar e cobrar uma posição do Estado e irei tomar todas as medidas judiciais cabíveis”, desabafou. Na postagem, Marivaldo disse ainda que vai procurar a corregedoria da polícia nesta segunda-feira (6), para denunciar o fato.
Em uma nota de revolta e protesto contra o que chamou de “brutal e covarde agressão”, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba) adotou um tom de indignação e prometeu acompanhar o caso “até as últimas consequências”. “Estes homens, que adotaram posturas próprias de malfeitores, receberam da autoridade estadual a função de proteger a sociedade baiana, o que torna mais grave a violência empregada contra um cidadão e jornalista, que, por dever de ofício, registrava uma agressão anterior contra um jovem (…). Vários outros casos de intimidação com filmagem dos jornalistas por policiais militares fardados, ameaças veladas ou reais através de diálogo pessoal, telefonemas, emails e uso de redes sociais se tornaram uma prática corriqueira nos momentos em que a atividade profissional do jornalista choca-se contra interesses escusos daqueles que agem sob o manto de uma corporação, mas que desonram sua farda e até os conceitos mais básicos de civilidade. Reuniões, apelos, notas e ofícios encaminhados pelo Sinjorba à Secretaria de Segurança Pública da Bahia e ao Comando da Polícia Militar da Bahia não resultaram em medidas práticas e visíveis contra a ação dessa minoria que envilece a PM da Bahia”. O Sinjorba informou que o documento seria encaminhado à Associação Bahiana de Imprensa, Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia, Federação Nacional dos Jornalistas, Federação Interamericana de Imprensa, Organização Internacional do Trabalho, Anistia Internacional, ONU e órgãos de imprensa.
O governador da Bahia, Rui Costa, em seu perfil no Facebook, se posicionou sobre o caso. “Determinei ao secretário de Segurança, Maurício Barbosa, e ao comandante da PM, coronel Anselmo Brandão, a apuração rigorosa dos acontecimentos noticiados. Reitero que os policiais militares da Bahia têm o dever de garantir a segurança da população e a paz nas ruas, conforme os preceitos legais”, escreveu o governador. Através da assessoria de comunicação o Comando Geral da PM informou que até o momento, não há registro formal nos órgãos correcionais da Corporação sobre o fato. Em nota, a PM ainda afirma que irá apurar as circunstâncias do ocorrido, com a finalidade de buscar a verdade dos fatos, e caso haja a confirmação do relatado, irá aplicar as medidas previstas em lei.
*Com informações do G1/Ba e Bocão News.