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MPF quebra sigilo de fonte de repórter e reconhece erro

A íntegra da troca de mensagens entre um repórter do jornal O Globo e um investigado pela Polícia Federal consta da minuta do Ministério Público Federal (MPF) que fundamentou a Operação Cadeia Velha, no Rio de Janeiro. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) alertou que a divulgação do contato profissional do jornalista Bruno Góes com o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB-RJ), viola o princípio constitucional do sigilo da fonte e expõe o profissional.

Procurado por O Globo, o MPF reconheceu que a exposição da identidade do jornalista foi indevida e modificou a peça, que está publicada no site da instituição. Tarjas pretas passaram a cobrir o nome do jornalista em documentos que o identificavam. Mas, quem já havia baixado as peças teve acesso aos dados que não deveriam ser divulgados.

A Abraji lamentou o episódio e espera que o MPF reveja procedimentos para que a prática não se repita. O sigilo da comunicação com jornalistas é o que garante a obtenção de informações de interesse público e não pode ser quebrado sob qualquer hipótese.

Entidades condenam a prática – Não foi a primeira vez neste ano que autoridades divulgaram indevidamente a conversa entre um jornalista e uma fonte. Em maio deste ano, foi revelado um diálogo entre Reinaldo Azevedo e Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG), gravada em escuta autorizada pela Justiça. A Polícia Federal não encontrou indício de crime, mas a Procuradoria-Geral da República (PGR) incluiu a gravação no conjunto de áudios anexados ao inquérito que levou à prisão de Andrea. Quando o áudio veio a público, a Abraji, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) emitiram notas condenando a divulgação.

A Abraji considerou que a apuração de um crime não pode servir de pretexto para a violação da lei, nem para o atropelo de direitos fundamentais como a proteção ao sigilo da fonte, garantido pela Constituição Federal. A ABI afirmou que foi violado o sigilo da fonte e cometida uma grave ofensa contra a liberdade de imprensa. Também em nota de maio, o presidente da OAB, Claudio Lamachia, criticou a divulgação e afirmou que “não se pode combater o crime cometendo outro crime”.

*Informações da Abraji e O Globo

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ABI BAHIANA

Memória Negra: ABI exibirá documentário sobre Abdias Nascimento

Em comemoração ao mês da Consciência Negra, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) receberá na Sala de Exibição Cinematográfica Roberto Pires uma sessão especial do filme Abdias Nascimento Memória Negra, um documentário dirigido pelo cineasta baiano Antônio Olavo. A obra, a ser exibida nesta quinta-feira (23), às 19h, conta a trajetória desse ícone da cultura negra, cuja obra e atuação política ao longo do século XX são essenciais para a compreensão do papel do negro na sociedade brasileira.

Segundo o diretor Antônio Olavo, foi utilizado como eixo central para o filme um longo depoimento que o Abdias Nascimento concedeu à sua equipe em 2005. “A partir desta referência maior, abrimos ‘janelas’ para contar um pouco da história do movimento negro no século XX no Brasil, pois entendemos que a trajetória de Abdias se confunde com a história de luta e organização do negro no Brasil neste período”, afirmou Olavo, exaltando a importância do Abdias poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras.

Quem for à exibição na ABI, vai encontrar “um filme que  nos conduz a uma profunda reflexão sobre a questão racial no Brasil, e perceber que a luta pela igualdade racial e uma sociedade justa vem de longe e continua necessária, ontem como hoje”, garante Antônio Olavo, também autor dos documentários “Paixão e Guerra no Sertão de Canudos” (1993), “Quilombos da Bahia” (2004), “A Cor do Trabalho” (2014) e da série documental “Travessias Negras” (2017). Ele ressalta que o convite para a sessão não está restrito a pessoas negras. “Lutar por uma sociedade em que haja a diversidade é tarefa de todos e todas”.

História – Abdias Nascimento nasceu em uma família negra e pobre da cidade de Franca, interior do Estado de São Paulo. Participou da Frente Negra Brasileira na década de 1930, e fundou o Teatro Experimental do Negro, em 1944. Em 1945, organizou a Convenção Nacional do Negro, e, 1950, o I Congresso Negro Brasileiro. Anos depois, em 1968, Nascimento fundou o Museu de Arte Negra. Exilado pela ditadura militar, percorreu o mundo ministrando aulas e conferências em várias universidades norte-americanas e europeias, sempre denunciando a discriminação racial no Brasil. Ao retornar do exílio, participou da histórica fundação do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNUCDR), em 7 de julho de 1978. Depois, em 1983, assumiu pelo PDT uma cadeira na Câmara Federal, tornando-se o primeiro deputado a exercer o mandato defendendo os direitos civis dos afro-brasileiros. Faleceu em 24 de maio de 2011, aos 97 anos, vítima de uma pneumonia que se complicou e agravou problemas cardíacos. (leia mais sobre Abdias Nascimento na página do Museu Afro).

Confira a seguir um bate-papo com o cineasta Antônio Olavo sobre o filme: 

ABI – A que se deve o pouco conhecimento do público sobre figura tão importante para a nossa história e cultura?

Foto: Bahiadoc

Antonio Olavo – No Brasil, as elites implantaram uma ideologia dominante que arrastou para uma zona de invisibilidade personalidades importantes da nossa história, especialmente aquelas ligadas às lutas e aos movimentos sociais do povo negro e do povo indígena. Para muitos desses homens e mulheres, que protagonizaram períodos definidores dos rumos do país, foi negado o justo direito do registro e o reconhecimento. Em uma sociedade desigual e preconceituosa como a brasileira, desde os primórdios de sua formação houve a consolidação de uma memória das elites brancas, como se observa nos grandes esforços dedicados à preservação dos casarões, palacetes e acervos pessoais dessa elite, muitas vezes com investimento de dinheiro público. Outro exemplo dessa política discriminatória são as denominações das ruas, avenidas e logradouros públicos, quase todas com os nomes da elite, perenizando uma memória como se fosse única e absoluta, imposta ao nosso inconsciente. Contudo, nas últimas décadas tem crescido um movimento contra-hegemônico de afirmação de uma outra memória, movimento esse que recupera e difunde trajetórias daqueles e daquelas que lutaram por sociedade justa e uma vida digna. E assim, ao afirmar outra memória, estamos contribuindo para contar outra história do Brasil. Abdias Nascimento faz parte desse nosso panteão de grandes vultos da história. Ele dedicou toda sua longa vida (1914 – 2011) em defesa dos direitos do povo negro, e em seu tempo, foi reconhecido e admirado, como ator, diretor, escritor, deputado federal, senador entre muitas outras atividades que exerceu. Cabe a nós continuar celebrando a sua memória.

Qual o seu principal objetivo ao contar a história de Abdias e como surgiu a ideia de fazer o documentário?

Ao perceber que a trajetória de Abdias estava entrelaçada com parte das lutas do povo negro no Brasil, resolvi construir uma linha do tempo que falasse de sua história de vida, que se inicia em 1914, destacando as lutas contra o racismo já nos anos 1930, a fundação do Teatro Experimental do Negro em 1944, sua inserção no movimento negro brasileiro contemporâneo e sua ativa participação parlamentar. No filme, a história de Abdias funciona como eixo narrativo, abrindo janelas para contar  as lutas do povo negro no século XX no Brasil. A ideia de fazer o documentário surgiu de Carlos Moore, etnólogo e escritor cubano, grande amigo e companheiro de Abdias por mais de 50 anos, que deu a mim e a Raimundo Bujão a difícil e honrosa missão de fazer um documentário sobre esse personagem único. Filmamos vários encontros com Abdias, em Salvador e no Rio de Janeiro, mas enfrentamos muitas dificuldades na captação de recursos para concluir o filme, iniciado em 2005. Mas em 2008, graças ao apoio da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, conseguimos concluir e tivemos a felicidade de fazer o lançamento em março de 2008, em um Teatro Castro Alves lotado, com a presença honrosa de Abdias, celebrando seus 94 anos.

Sua obra é repleta de filmes que resgatam a força e as cores do Brasil. Qual a importância de trazer essa temática, especialmente no mês da consciência negra?

Abdias Nascimento Memória Negra foi nosso terceiro longa-metragem, antes fizemos Paixão e Guerra no Sertão de Canudos (1993) e Quilombos da Bahia (2004), e nosso interesse em produzir esses documentários sempre foi o de contribuir para a valorização da memória social, particularmente a memória negra, na Bahia e no Brasil. E isso é algo que sempre deve estar presente em nosso cotidiano, independente do dia ou do mês. Evidentemente que em novembro há uma concentração de atividades e uma discussão e reflexão maior sobre as questões raciais, mas precisamos que a Consciência Negra esteja presente todos os dias do ano.

 

SERVIÇO

Documentário Abdias Nascimento Memória Negra

Dia 23 de novembro, às 19h

Local: Sala de Exibição Roberto Pires (sede da Associação Bahiana de Imprensa – ABI, Ed. Ranulfo Oliveira, Rua Guedes de Brito, 1 – Praça da Sé, 2º andar)

Mais informações: Portfolium Laboratórios de Imagens (Antônio Olavo – 7199120-0697)

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Jornalistas lançam livro sobre a história da televisão no Brasil

Alguns dos mais importantes profissionais da TV foram entrevistados pelos jornalistas Flávio Ricco e José Armando Vannucci, para compor o livro Biografia da Televisão Brasileira – um painel amplo desse veículo que desde 1950 cativa corações e mentes brasileiros, e que se tornou um símbolo da cultura nacional. De acordo com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o livro traz em dois volumes de 464 páginas cada provavelmente a maior, mais extensa e significativa pesquisa sobre a história da televisão no Brasil, com conhecimento, diversão e informação.

A obra recém-lançada pela Matrix Editora não segue uma ordem cronológica da primeira até a última página, mas o faz dentro de cada assunto tratado ao longo de seus 54 capítulos.

No primeiro volume, entre outros temas estão os pioneiros e sonhadores da TV. O aparecimento da Tupi, Record, Excelsior, Globo e Bandeirantes. Como as emissoras acabaram direcionando suas primeiras programações para o público feminino. Como eram exibidos os programas em cidades diferentes, num tempo em que não havia satélite, e como a força das novelas ajudou a moldar a programação, fazendo o sucesso de atores e atrizes.

No segundo volume, a evolução do jornalismo televisivo e das transmissões esportivas. Os programas de rádio tornam-se o grande referencial das emissoras de TV, fornecendo conteúdos e formatos. A evolução da teledramaturgia. Quem foram e quem são os grandes comunicadores. A chegada dos seriados, dos reality shows e das novas tecnologias, entre tantos outros assuntos importantes. A capa é de autoria de Hans Donner.

*Informações da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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Mapeamento inédito do jornalismo brasileiro revela “deserto de notícias”

Em um momento de mudanças de paradigmas e de emergência da ideia de pós-verdade, é necessário se voltar a perguntas básicas, como: para que servem as notícias locais ou regionais? Como elas se relacionam com uma noção mais ampla de cidadania? Para ajudar a entender a configuração do jornalismo no país, a edição especial do Observatório da imprensa traz um mapeamento inédito do jornalismo em todo território brasileiro. Criado como um banco de dados aberto ao público a ser atualizado anualmente, o Atlas da Notícia revelou que mais de quatro mil municípios vivem em deserto de notícias, desprovidos de qualquer cobertura jornalística local.

O estudo foi produzido a partir de dados da ANJ (Associação Nacional de Jornais), a Secom (Secretaria de Comunicação do Governo Federal) e por meio de crowdsourcing, um processo colaborativo para agregar conhecimento. O Atlas pretende produzir um panorama dinâmico da profunda transformação do jornalismo — sobretudo o que produz notícias de interesse público no âmbito regional e local — em meio à chamada revolução digital e a uma persistente crise econômica.

Foram identificados, na primeira etapa do projeto, 5.354 veículos — entre jornais impressos e sites —, em 1.125 cidades de 27 unidades federativas. Um universo que compreende aproximadamente 130 milhões de pessoas, mais de 60% da população brasileira. Todos os estados do nordeste possuem, em média, um veículo mapeado a cada 100 mil habitantes. Os números indicam o predomínio dos meios impressos (63% contra 37% dos digitais).

Este primeiro retrato do jornalismo brasileiro revela que, quando se trata de apurar e publicar notícias, o território brasileiro repete o padrão histórico de grandes desigualdades socioeconômicas. Enquanto as regiões sul, sudeste e o Distrito Federal concentram a enorme maioria dos veículos, sejam impressos ou digitais, as regiões mais pobres, como o norte e nordeste são aquelas com o maior número dos chamados “desertos de notícias”: 4.500 municípios brasileiros (70 milhões de habitantes) não têm registros de jornal impresso ou site jornalístico.

Esta legião de brasileiros — quase 35% da população nacional — não dispõe de notícias sobre sua própria comunidade, onde não se cobre, entre outras coisas, a Prefeitura ou a Câmara Municipal – o que compromete a capacidade decisória dos cidadãos.

O levantamento é fruto de uma parceria entre o Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo e o Volt Data Lab, e se inspira no America’s Growing Deserts of News da revista Columbia Journalism Review.

Entenda a metodologia aqui.

*As informações são do Observatório da Imprensa.

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