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Jornalismo hiperlocal do Coreto ecoa as vozes de Poções

Desde os termos adotados nas editorias, como “Oxente” para falar de política e “Repente” quando o assunto é produção cultural, até o próprio nome Coreto – monumento famoso do município baiano de Poções –, toda a identidade do recém-lançado site de notícias foi guiada pela temática nordestina. Buscando a maior representação possível da realidade poçoense, o projeto idealizado pelas jovens jornalistas Raquel Rocha e Leila Costa pode ser definido pelo slogan “Ecoamos a voz da cidade”. E foi justamente essa preocupação com as demandas locais que desencadeou a primeira cobertura de expressão do veículo.

Com grande repercussão estadual, a pauta trazia o caso de um adolescente transexual impedido de usar seu nome social na escola. Sua mãe, a microempreendedora Janaína Brito, procurou uma vereadora para sancionar um projeto que garantisse o direito no município. Mas um pastor evangélico soltou um áudio com conteúdo transfóbico contra o projeto e expondo o estudante. A família passou a ser alvo de ataques da comunidade religiosa do município e chegou a ter a casa apedrejada. 

Leila Costa e Raquel Rocha | Foto: Divulgação

Leila Costa e Raquel Rocha garantem que elas foram as primeiras a apurar e publicar o caso. Depois de quatro anos de planejamento, as duas jornalistas, formadas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), conseguiram tirar o site do papel com o apoio do programa “Acelerando a Transformação Digital”, promovido pela Meta Journalism Project, Abraji e pelo International Center for Journalists (ICFJ). E mostraram, através da apuração desse episódio de transfobia que o jornalismo importa muito.

O site passou a funcionar oficialmente no final de maio, com um evento na Câmara Municipal de Poções. Mas a ideia surgiu bem antes, em 2018, no laboratório de Jornalismo Impresso da Universidade. O contato com projetos independentes inspirou as duas, ainda estudantes, a pensarem em algo que teria “a cara de Poções. Outro fator que as motivou foi a preocupação com a falta de um jornalismo aprofundado na cidade. No bojo de iniciativas como o Avoador e o Conquista Repórter, o Coreto vem mostrando as pontencialidades do chamado “jornalismo hiperlocal”, um conceito utilizado para definir a cobertura de uma área geográfica ou de uma comunidade específica, que não são usualmente pautadas pela mídia tradicional, como forma de garantir maior participação popular. (Leia mais aqui).

Segundo o último levantamento do Atlas da Notícia, a cidade de Poções não chega a caracterizar-se como um deserto de notícias – conta com blogs e rádios. Mas as jovens profissionais questionam o conteúdo produzido por esses veículos online. “Esses blogs não falam da própria cidade se não for na página policial”, critica Leila Costa. O Coreto surge, então, com a proposta de oferecer reportagens de fôlego, bem apuradas, voltadas para a produção cultural e para o resgate da história do município.

Aos poucos, o veículo busca construir uma cobertura apropriada de Poções e municípios próximos que possuem pouca ou nenhuma presença jornalística, como Nova Canaã, Iguaí e Planalto. As profissionais possuem um ritmo de produção próprio, porque – mesmo com o incentivo do projeto de aceleração e com a colaboração pontual de quatro universitários –, elas esbarram em um problema comum a diversos projetos de mídia independente: precisam equilibrar a iniciativa com os trabalhos que lhes garantem renda. 

Além disso, é também aos poucos que a necessidade do jornalismo vai sendo compreendida pela população local. “Em Conquista, você já sabia quem poderia entrevistar sobre determinado assunto. Aqui, você precisa buscar e ainda tem a demora do retorno, principalmente do poder público”, pontua Leila. Para se aproximar do público, o Coreto também procura fomentar a escuta da opinião pelas redes sociais, o que possibilita a pluralidade de produção de notícias locais.

Empreendedorismo e oportunidades

Raquel Rocha conta que o Coreto representa também uma oportunidade para continuar a trabalhar com jornalismo. Ela relata que quem se forma nessa área acaba saindo da região para buscar emprego. “Os profissionais que estão aqui, quando trabalham, não trabalham com jornalismo”, afirma. “Aqui a oportunidade para a gente é o mercado de comunicação, geralmente com publicidade, redação de conteúdo ou social media”. Enquanto o site não é monetizado, a jovem tira sua renda de trabalhos na área de marketing.  

A participação no programa de aceleração foi o que garantiu o lançamento do projeto, postergado, segundo ela, também pela questão da falta de financiamento. “Durante esses quatro anos a gente tentou de todas as formas tirar o Coreto do papel. Mas eu penso que a gente conseguiu no momento exato”, recorda a jornalista, lembrando que a dupla já havia recorrido a rifas, ao financiamento coletivo e vaquinha, mas sem retorno. 

A participação no programa de aceleração permitiu que as duas pudessem entender como empreender na área. “A gente não tinha essa visão ainda porque nós não somos ensinados a enxergar o jornalismo como um negócio”, reflete Raquel. As idealizadoras do Coreto foram orientadas pela jornalista Adriana Barsotti, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF). Para Raquel, esse foi o primeiro passo para a manutenção do site, que, espera, poderá contar com fontes de renda através de propaganda, conteúdo patrocinado e doações. Além do conteúdo noticioso, o projeto ainda prevê três frentes de atuação: palestras e eventos sobre jornalismo local, consultorias para empresas e produção de eventos.

De acordo com a jornalista, o esforço pelo projeto teve retorno através do feedback da cobertura do caso de transfobia na cidade, com comentários e mensagens em redes sociais parabenizando as duas jornalistas pelo trabalho. “A gente não pode falar de uma democracia se não há informação democratizada, em um lugar onde apenas os grandes centros têm acesso à informação de qualidade”, analisa. “O jornalismo hiperlocal vem justamente para suprir essa falta que existe nas democracias”. 

Jornalismo importa

Ainda na faculdade, as duas jovens profissionais participaram do “Jornalismo Importa”, grupo de extensão da Uesb. Orientadas pela professora Carmen Carvalho, elas puderam colaborar também com o site Avoador, que é referência de jornalismo local. A professora, que esteve presente no lançamento do Coreto, mostra-se animada com a iniciativa. “Precisamos de um jornalismo local feito por profissionais capacitados, com ética, que estejam comprometidas com os fatos e com uma proposta de mudança da realidade social”, defende a docente. 

A iniciativa do Avoador veio para mudar a visão local que se tem da prática. Segundo a professora, faltava aos veículos da cidade o comprometimento com a inovação. “O site Avoador é também uma maneira de fazer uma provocação para o mercado de Vitória da Conquista, onde estão muitos estudantes. Em muitos casos, em vez de transformarem o local onde podem trabalhar, eles se adequam a uma realidade onde, muitas vezes, não produzem jornalismo de qualidade, com apuração e comprometido com os fatos”, observa. 

“Nós temos que ter uma responsabilidade com quem estamos formando e com o mercado onde a gente está. Se for apenas para ficarmos assistindo a tudo, não estaremos compromissados com a transformação e com os problemas da região”, argumenta a professora. Ela cita ainda a iniciativa do Conquista Repórter como mais um empreendimento local que vem mostrando a qualidade de um jornalismo empenhado na mudança. 

Leia mais:

“É uma felicidade incrível ver o que profissionais recém-formados estão se propondo a fazer no local onde estão. Mesmo com todas as dificuldades que é fazer jornalismo hiperlocal no interior da Bahia, quando as pessoas não têm muito conhecimento ou letramento digital para entender a diferença do que é uma reportagem daquilo que é uma informação que não tem apuração. Estamos num processo de evolução”, avalia Carmen. “Se o jornalismo passa por dificuldades, por outro lado esse é um dos melhores momentos que temos, porque as pessoas estão percebendo que podem criar suas próprias oportunidades, que podem fazer a diferença onde elas estão”, completa a professora.

*Larissa Costa é graduanda de Jornalismo pela Facom/UFBA.

*Edição: Joseanne Guedes, jornalista/supervisora de estágio.

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Entidade internacional lança guia de cobertura eleitoral em português

Aprender as regras e leis que regem a disputa eleitoral; determinar ferramentas e métodos para manter você, seus dados e suas fontes seguros; e listar as tendências, fontes e ameaças que podem desencadear histórias e investigações valiosas. Essas são as principais contribuições de um guia lançado pela Global Investigative Journalism Network (GIJN) e agora traduzido para a língua portuguesa. O “Guia de Eleições para Repórteres Investigativos“, escrito pelo jornalista Rowan Philp, está disponível no site da organização. (Confira Introdução, Capítulo 1Capítulo 2Capítulo 3 e Capítulo 4).

Em 2022, pelo menos nove países realizarão eleições nacionais importantes. O Brasil é um deles. No mundo todo, o contexto eleitoral enfrenta ameaças crescentes de campanhas de desinformação, interferência estrangeira, o autoritarismo crescente e outros problemas. No Brasil, soma-se a esse cenário o constante questionamento da validade do sistema eleitoral, incitado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores.

De acordo com a GIJN, o guia foi desenvolvido para oferecer uma ampla gama de ferramentas, técnicas e recursos para ajudar os repórteres investigativos a se aprofundarem em quase todas as eleições.

O guia fornece, entre outros recursos, uma estrutura de como os jornalistas podem monitorar o autoritarismo crescente nas democracias, incluindo uma lista de táticas antidemocráticas cada vez mais usadas para influenciar as eleições. Além de orientações para manter os repórteres seguros enquanto estiverem seguindo o rastro de campanhas, a organização também compartilhou várias ferramentas projetadas para lidar com os prazos apertados e a enxurrada de informações que caracterizam o período eleitoral.

Em seu texto introdutório, Philp destaca como a erosão das instituições democráticas é comumente velada por fachadas legais e pretextos de emergência, enquanto a violência eleitoral patrocinada pelo Estado é reduzida ao mínimo ou atribuída a atores terceirizados.

“A mídia independente e os jornalistas investigativos precisam cavar além da superfície de eleições cada vez mais precárias, ao mesmo tempo em que protegem suas informações, a si mesmos e a própria liberdade de expressão de ataques multifacetados e com interesses antidemocráticos”, afirma o jornalista Rowan Philp. Fazer isso exige coragem, planejamento, apoio colaborativo, fontes corajosas e ferramentas novas e inovadoras para lidar com essas ameaças.

Em parceria com o projeto Comprova, a a GIJN realizou ontem (19) o webinar “Eleições no Brasil 2022 – Dicas de investigação”, que reuniu os jornalistas Breno Pires, da Revista Piauí; Juliana Dal Piva, do UOL; Jamile Santana, da Transparência Pública, sob a moderação de Sérgio Lüdtke, editor-chefe do Comprova.

Confira algumas das muitas dicas trazidas pelo Guia:

1- Familiarize-se com as leis e processos de gestão eleitoral local, disposições constitucionais e organizações cívicas em seu país.

2- Uma boa higiene digital e precauções de segurança inteligentes são essenciais. Use criptografia em seus dispositivos.

3- Segurança física em protestos políticos: Confira o abrangente kit de ferramentas do CPJ para segurança em eventos polêmicos – desde opções de roupas até riscos de COVID-19 e gás lacrimogêneo.

4- Planeje reportagens sobre ameaças de violência eleitoral. Conheça também a Ferramenta de Gestão de Risco Eleitoral, desenvolvida pela International IDEA.

5- Observe tendências notáveis, como monopólios políticos da mídia ou interferência estrangeira. Confira o Rastreador de interferência autoritária, produzido pela Alliance for Securing Democracy.

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ABI BAHIANA Blog das vidas

Diretoria da ABI lamenta a morte do conselheiro Carmelito Almeida

A noite desta segunda-feira (18) foi de profundo pesar no grupo da Diretoria da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), após o quadro diretivo da entidade receber a notícia da morte do radialista Carmelito Valter de Almeida, membro do Conselho Consultivo e sócio da ABI desde 1987. “Carmelo”, como era conhecido entre os colegas da imprensa esportiva baiana, sofreu um infarto aos 88 anos. O sepultamento do comunicador será nesta terça-feira, às 16h, no Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação, em Salvador.

Carmelito atuou por muitos anos na Rádio Sociedade da Bahia. Referência no rádio esportivo e citado como um dos melhores plantonistas, ele sempre foi reconhecido por sua voz marcante, tendo integrado equipes famosas que tinham, entre outros, nomes como Martinho Lélis, Djalma Costa Lino, Genésio Ramos e Jorge Sanmartin. Foi bancário e, atualmente, trabalhava como corretor de imóveis.

A notícia do falecimento de Carmelito causou comoção entre os profissionais da imprensa e provocou matérias em diversos veículos. A Associação Bahiana dos Cronistas Desportivos – ABCD também publicou nota lamentando a morte do radialista.

Entre os diretores da ABI, o clima é de consternação. “Perdemos hoje um grande amigo e fiel companheiro”, registrou o diretor do Departamento Social, Nelson José de Carvalho, que destacou características do amigo. “Carmelito sempre foi identificado pela humildade, simplicidade nos gestos, explícito amor pela ABI, onde dificilmente faltava as reuniões. Era um companheiro querido por todos e desfrutava de sólido conceito moral, profissional, social e familiar”, afirmou. “Ele cumpriu sua missão entre nós com muita dignidade, afetividade e honradez, partindo para a vida eterna iluminado pelo Nosso Senhor do Bomfim e Santa Irmã Dulce. Saudades”, concluiu o diretor.

No último ano, Carmelito dedicou atenção especial à sua esposa Ana, cujo estado de saúde inspirava cuidados. Mas sempre foi assíduo nas atividades da ABI, como lembra o presidente da entidade, Ernesto Marques. “Com todas as suas limitações e ainda tendo que amparar sua esposa, o que mais me chamava atenção em Carmelito era a sua determinação de estar presente. Nas reuniões de Diretoria, raramente falava, atuava na comissão que avalia admissão de novos associados. No celular, pelo menos uma vez por semana trocava algumas palavras com os amigos para os quais enviava saudações afetuosas. Caminhou pela vida e deixou nas pegadas a marca da leveza”, disse o jornalista.

Carmelito Almeida em confraternização da Diretoria da ABI, 2016 | Foto: Joseanne Guedes

“Assim como Cid Moreira foi para o ‘Jornal Nacional’, Carmelito Almeida era a voz oficial do Plantão Esportivo”, afirmou o jornalista e radialista Antônio Matos, diretor financeiro da ABI. Segundo Matos, Carmelito era o locutor que, durante as transmissões de uma partida de futebol, informava o andamento dos resultados dos outros jogos realizados, naquele momento, pelo Brasil e exterior. “A Rádio Sociedade da Bahia era a emissora de maior audiência no estado e uma das mais potentes do país”, recorda. “Educado, gentil e muito querido, ‘Carmelo’ vai deixar saudade”, constata Matos, autor do livro “Heróis de 59”, sobre a história por trás da conquista da primeira estrela do Esporte Clube Bahia.

Pedro Daltro, seu companheiro nos Diários Associados, no final dos anos 50, também manifestou pesar pelo falecimento do colega. Já o presidente da Assembleia Geral da ABI, Walter Pinheiro, conheceu Carmelito em 1973, quando foram colegas no Banco Irmãos Guimarães. “Costumava ouvi-lo na Rádio Sociedade. Depois, na ABI, integrou o nosso Conselho Diretor, sempre dedicado às atividades e muito cortês. Perdemos um grande companheiro, que deixa muitos bons exemplos e saudades”, observou Pinheiro.

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Eleições do Sinjorba acontecem nos dias 27 e 28 de julho

De acordo com a Comissão Eleitoral responsável pelas eleições do Sinjorba – Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia, apenas a chapa “SINJORBA FORTE, JORNALISMO FORTE” se habilitou para concorrer ao pleito. No formato online, a eleição da nova diretoria acontecerá nos dias 27 e 28 de julho. Em vez do tradicional voto impresso, em urnas na sede do Sindicato e volantes, além de urnas nas sedes das oito regionais, este ano o jornalista sindicalizado e em dia com suas obrigações estatutárias vai poder votar pelo computador ou celular, com login e senha que serão previamente enviados a todos os eleitores aptos.

Podem votar todos os jornalistas sindicalizados até o dia 27 de abril de 2022 e que estejam em dia com suas mensalidades. Os que estão com pendências, podem aproveitar as facilidades existentes e se regularizar até o dia 25 de julho, ficando apto ao voto.

A Diretoria da entidade aprovou um programa de parcelamento das mensalidades, permitindo que todos os que têm interesse em regularizar sua situação possam fazê-lo em até 12 vezes, através do PIX ou via cartão de crédito. Além disso, em maio de 2019, uma assembleia da categoria aprovou a anistia de todos as pendências dos filiados com o Sinjorba, dos anos anteriores. Agora, com o programa de parcelamento, a categoria ganhou mais uma facilidade para se regularizar.

Segundo o jornalista Moacy Neves, presidente do Sinjorba, este é um momento que os jornalistas precisam ter uma entidade forte para defender a dignidade e o respeito profissional.

Para ele, a categoria precisa estar unida em torno do Sindicato e da Fenaj, ou assistirá o avanço da precarização da profissão. “Podemos até esgotar o estoque de reclamação da nossa situação nas redes sociais e nos grupos da categoria, mas só mudaremos este quadro com luta e organização coletiva, não há outra receita”.

Quer regularizar sua situação?
Procure o Sinjorba: [email protected] | WhatsApp: 71 3321-1914 |https://sinjorba.org.br/

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