ABI BAHIANA Notícias

Combate ao racismo marca homenagem a Luiz Gama

Na passagem dos 132 anos de seu falecimento, o jornalista, advogado e poeta brasileiro Luiz Gama foi homenageado durante aula pública promovida pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI), em parceria com o Coletivo Libertai. O evento realizado neste domingo (31) reuniu artistas da música, poesia e outras expressões culturais e artísticas, no Largo do Tanque (Liberdade), local que ostenta um busto daquele que é considerado um dos mais ativos abolicionistas brasileiros. Desde 2012, a ABI dirige sua atenção ao soteropolitano nascido no bairro da Mouraria, em reverência à sua contribuição no processo de abolição no Brasil, através de sua poesia satírica que demole o racismo.

Estudioso da obra de Luiz Gama, o professor Silvio Roberto Oliveira rememorou a trajetória do poeta e sua luta diante da sociedade colonizadora. “Importante trazê-lo para o mundo atual, em que o racismo é uma doença crônica. O Brasil é um país doente e temos vários exemplos disso. Luiz nos ensinou a combater essa prática. A luta dele não terminou, continua viva em todos nós. Seus libelos servem para que não nos esqueçamos de lutar”, ressalta o autor da tese intitulada “Gamacopéia: ficções sobre o poeta Luiz Gama”.

Tributo Luiz Gama 2014-Foto-Márcio Luis
Busto de Luiz Gama, no Largo do Tanque (Liberdade) – Foto: Márcio Luis/Coletivo Libertai

O presidente da ABI, Walter Pinheiro, ressaltou a luta da entidade em defesa das liberdades de imprensa e expressão, bem como dos direitos humanos e do meio ambiente, além da procura constante pelo enaltecimento dos grandes vultos que marcam a história baiana e brasileira. De acordo com o dirigente, a obra de Luiz Gama deve ser eternizada. “Luiz Gama conseguiu libertar cerca de 500 escravos, marcando uma posição admirável na comunidade de sua época, a ponto de ensejar um funeral com mais de 3 mil pessoas, em uma São Paulo que tinha aproximadamente 40 mil habitantes. Isso não pode ser desconsiderado.

“Luiz Gama travou uma batalha muito grande contra os atos de racismo, que foi personificado naquela época pela escravidão. Mas, dizer que o racismo acabou é balela. No Brasil, o racismo continua. De forma que esse trabalho que Márcio desenvolve é algo a ser aplaudido e incentivado, para que a gente possa lutar pela igualdade e pelo benefício de toda a comunidade, exatamente no momento em que as notícias de racismo estão espalhadas. Luiz Gama vive!”, afirmou.

Walter Pinheiro foi questionado sobre a atuação da ABI no combate à criminalização dos jovens negros pela mídia, quando um dos participantes repudiou a postura de programas populares que expõem acusados na televisão. “A ABI tem ações nessa linha. Há quatro anos, junto com o Sinjorba [Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia] mobilizamos os órgãos do Executivo e o Ministério Público da Bahia para impedir essa prática. Houve um TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] para uma das emissoras flagradas em situações deletérias. Com o passar do tempo, a mesma emissora voltou a exibir cenas semelhantes, em que pessoas negras eram ridicularizadas e humilhadas e, novamente, nos pronunciamos. Nossa luta é permanente”, explicou o presidente.

Tributo Luiz Gama 2014- Foto: Márcio Luis/Coletivo Libertai
Foto: Márcio Luis/Coletivo Libertai

Para Márcio Luis, presidente do Coletivo Libertai, é importante o conhecimento da história, que, segundo ele, é sempre contada de forma deturpada. Ele se uniu ao poeta Jansen Nascimento, para declamar “Bodarrada”, nome popular do poema “Quem sou eu?”, escrito por Luiz Gama e editado em 1859. “Bode” é o apelido com que tentavam ridicularizar os que, tal qual Gama, eram negros. Já o poeta Edgar Velame levou Gregório de Matos e Augusto dos Anjos, em um recital cheio de emoção e protesto visceral contra as mazelas da Salvador atual.

“O fundamental é fazer a aproximação com um polo e cultura extremamente vivo. Cultura que é reclamada pela população marginalizada e excluída. Precisamos transcender as paredes da instituição. Temos que ir às ruas e olhar de perto o que está acontecendo”, afirmou o diretor de Cultura da ABI, Luis Guilherme Pontes Tavares, que agradeceu as presenças do diretor da ABI, Valter Lessa; do presidente do Instituto dos Advogados da Bahia, Antonio Luis Calmon Teixeira; e do presidente da Associação Protetora dos Desvalidos (SPD), Atharcilio Barreto.

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Caso Geovane: Em reunião na SSP, ABI e Sinjorba cobram investigações das ameaças sofridas por jornalistas

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) e o Sindicato dos trabalhadores em Rádio, Tv e Publicidade (Sinterp) se reuniram, na tarde de ontem (28), com órgãos de segurança, para discutir casos de ameaças a jornalistas, com destaque para as intimidações ocorridas a partir da cobertura do caso Geovane, jovem encontrado morto depois de uma abordagem policial. Na sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP), os órgãos de imprensa foram recebidos pelo secretário Maurício Barbosa, que esteve acompanhado pela secretária de Comunicação Social, Marlupe Caldas, e pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro.

Na última quarta-feira (27), a ABI enviou ao governador Jaques Wagner um documento em repúdio à intimidação dos profissionais, em que a entidade cobra providências imediatas sobre o episódio e exorta o Governo do Estado a cumprir o seu papel na garantia da liberdade de informação. Segundo informações do jornal Correio*, no encontro desta quinta, o presidente da ABI, Walter Pinheiro, pediu ações mais enérgicas do comando contra os maus profissionais, além de recordar casos de abuso policial contra jornalistas durante as manifestações na Copa das Confederações.

A denúncia sobre as ameaças sofridas pelos jornalistas que cobriram o caso Geovane veio à tona no último dia 18, através de nota oficial do Sinjorba, onde a entidade relata as intimidações. De acordo com o documento, durante entrevista coletiva concedida pelas autoridades policiais, no dia 15 de agosto, um dos jornalistas recebeu solicitação para que se identificasse e foi surpreendido com a declaração de que “é muito bom saber quem escreve sobre a gente”. Na sequência, foram feitas graves ameaças, por telefone, a repórteres dos jornaisA Tarde e Correio*, jornal que publicou a primeira matéria sobre o caso. Nas ligações, duas pessoas que se identificaram como policiais militares fizeram o alerta: “tomem cuidado, porque a tropa está com o sangue no olho!”.

Segundo o jornal Correio*, durante a reunião, a presidente do Sinjorba, Marjorie Moura, afirmou que há esforços por parte do comando-geral da Polícia Militar para melhorar o relacionamento entre jornalistas e policiais, no entanto, a dirigente relata a existência de PMs que, de forma intimidadora, tentam impedir o trabalho dos repórteres. “É preciso averiguar não apenas esse fato, mas tantas outras ameaças feitas de forma anônima e no dia a dia nas ruas”.

Após os relatos dos representantes dos jornalistas, o secretário Maurício Barbosa, alegou que a falta de denúncia formal dificulta a aplicação de penalidades mais severas a policiais que dificultam a atuação dos jornalistas. “Para adotarmos medidas mais efetivas contra este tipo de conduta é preciso que as vítimas formalizem as denúncias”. De acordo com ele, depoimentos e a colaboração para busca de provas são indispensáveis para o encaminhamento de um inquérito policial coeso à Justiça.

No entanto, o diretor da ABI, Agostinho Muniz, alerta que, independentemente da formalização de denúncias, o Governo precisa proteger os profissionais. “Cobramos a intensificação das investigações e a garantia de proteção aos jornalistas, porque não se sabe se a ausência de denúncia é porque eles não têm interesse ou se estão com medo de represálias, já que, ao que parece, um grupo de policiais está envolvido no caso. Inclusive, suspeitamos que os profissionais tenham sido orientados pelas empresas a não prestarem queixa. Nosso temor é o agravamento da situação, que já é muito séria”, revelou o dirigente.

Com informações do Correio*

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ABI promove aula pública sobre o abolicionista baiano Luiz Gama

Neste domingo (31), a partir das 10h, no Largo do Tanque, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI), em parceria com o Coletivo Libertai, promove mais uma homenagem ao jornalista, poeta e advogado Luiz Gama, cujo busto foi colocado ali pela Fundação Gregório de Mattos, órgão da Prefeitura Municipal de Salvador. A ABI promoverá a aula pública a céu aberto que será ministrada pelo professor Silvio Roberto Oliveira, titular da UNEB, e autor de estudo sobre a poesia de Gama.

O evento de domingo seguirá durante a tarde, sob o comando do Coletivo Libertai, promovendo oficinas de malabares e customização de máscaras, intervenções poéticas e apresentação das bandas “Vivi Akwaaba”, “Val da Mata e a Barca”, “Fumêsoul” e “A rua se conhece”, cujos músicos residem, em sua maioria, na Liberdade e em São Caetano. Este é o quarto ano consecutivo que o Coletivo, sob o comando do animador cultural Márcio Luis, promove o Tributo a Luiz Gama.

LUIZ GAMA

Cartaz do Tributo a Luis Gama 2014O baiano Luiz Gama notabilizou-se no país desde a segunda metade do século XIX por causa da sua atuação como jornalista, poeta e advogado (rábula). Sua atuação como abolicionista rendeu a alforria a mais de 500 escravizados. Mas esse reconhecimento se deu muito mais em São Paulo, devido aos primeiros anos trágicos da vida dele. Filho da negra Luiza Mahin com português de posses, porém de identificação ignorada, Luiz, apesar de ter nascido livre, foi vendido como escravo pelo próprio pai, que se encalacrara no jogo.

Luiz Gama seguiu para Santos (SP) junto a um lote de escravos e foi adquirido por fazendeiro do interior paulista. O filho do seu proprietário, em férias na fazenda, alfabetizou Gama, cujas aspirações pela liberdade ele não escondia. Daí a fuga e a brava luta para confirmar-se como livre. Atuou no serviço público, como escrivão de delegacia, e aproximou-se, na capital paulista, daqueles que lutavam pela abolição. Foi parceiro de Ruy Barbosa no jornalismo, assim como do italiano Angelo Agostini, famoso ilustrador de publicações pelas quais Gama passou.

O culto a Luiz Gama é maior em São Paulo. Há busto dele no Largo do Arouche, no centro da cidade, e seu túmulo, no Cemitério da Consolação, é mantido até hoje, sempre limpo e com flores. Seu velório, em 1882, é apontado como o mais concorrido de São Paulo. Centenas de pessoas conduziram seu esquife desde o Brás até a Consolação, o povo o homenageando pelo destemor e respeito com que ele passou na vida.

A bibliografia a respeito de Luiz Gama é numerosa e alguns estudos foram produzidos como teses da Unicamp (Universidade Estadual da Campinas). É exemplo, o estudo “Gamatopéia”, com o qual o professor Silvio Roberto foi aprovado no doutorado de Letras daquela universidade. Gama, ademais, é patrono de uma as cadeiras da Academia de Letras de São Paulo. Na Bahia, devido à Revolta dos Malês, conduzida na Salvador de 1835 por negros islamizados, os estudos estão mais voltados para a mãe de Gama, Luiza Mahin, que teria participado do levante.

A ABI dirige sua atenção para o abolicionista desde 2012. Em 21 de junho daquele ano, dia em que ele nascera em 1830 num sobrado da Mouraria, bairro central de Salvador, o presidente da ABI, jornalista Walter Pinheiro, foi, em companhia de diretores, ao Largo do Tanque depositar flores ao pé do busto de Luiz Gama. Naquele ano e em 2013, a ABI compareceu ao evento comandado apenas como observadora. Em 2014, no entanto, resolveu fechar corrente com o Coletivo Libertai e promover a aula.

*Por Luis Guilherme Pontes Tavares – Diretor de Cultura da ABI

 

SERVIÇO 

O que: Aula Pública – Tributo a Luiz Gama

Quando: 31 de agosto de 2014, às 10h

Onde: Largo do Tanque

Quanto: Gratuito

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Caso Geovane: ABI pede ao governador condenação pública das ameaças a jornalistas por policiais

Em carta dirigida ao Governo do Estado da Bahia, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) demanda esclarecimentos das intimidações feitas por policiais a jornalistas que atuaram na cobertura do caso Geovane Mascarenhas de Santana, e pede ao governador Jaques Wagner que condene publicamente tais práticas, que, como ressalta o documento (pdf aqui), “comprometem a plena situação da liberdade de informação social neste Estado”.

“(…) os fatos requerem, além de imediatos esclarecimentos, declaração pública de V. Excia. Condenando tal prática e assumindo o dever que lhe é atribuído pela Constituição do Estado da Bahia, art. 277, como um dos responsáveis pelas garantias do direito da comunicação e da informação social, contra todas as formas de violência”, diz trecho da carta, que será encaminhada para as demais entidades nacionais e internacionais de defesa da liberdade de imprensa, destacando-se a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Nacional de Jornais (ANJ), Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Repórteres Sem Fronteiras (RSI), Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) e Comitê Internacional da Cruz Vermelha – Divisão de Imprensa.

Leia também: Ameaças a jornalistas que cobriram caso Geovane preocupam a ABI

Hoje (28), às 15h, na sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP), a ABI participa de uma reunião entre representantes do Sinjorba e Sinterp-Ba, o secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, e o comandante da Polícia Militar, Alfredo Castro, onde serão discutidas as ameaças aos jornalistas e outros problemas enfrentados pela categoria, como as agressões da PM durante as coberturas jornalísticas.

Confira a seguir a íntegra do documento:

 

EXMO. SR.

JAQUES WAGNER

GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA

NESTA

            Sr. Governador,

            A ASSOCIAÇÃO BAHIANA DE IMPRENSA (ABI), entidade criada em 1930, que se destina, prioritariamente, à defesa da plena liberdade de imprensa, diante de recentes acontecimentos e graves episódios que ainda se estão desenrolando, vem manifestar intensa preocupação e solicitar providências cabíveis a V. Excia, pelo que se segue:

1 – Conforme Nota de Repúdio encaminhada a V. Excia. pelo Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), com data de 18/08/2014, foram relatadas graves ameaças feitas, por telefone, a repórteres dos jornais Correio* e A Tarde, os quais trabalhavam na cobertura de desaparecimento do cidadão Geovane Mascarenhas de Santana, logo após o mesmo ter sido perseguido pelas ruas, preso, agredido e conduzido em viatura da Polícia Militar, fato ocorrido em 02/08/14.

            A agressão e prisão do cidadão estão gravadas em filme e, como mostra, teriam sido praticadas por agentes policiais, em viatura do Estado. Durante entrevista coletiva, concedida por autoridades policiais, um dos jornalistas recebeu solicitação para que se identificasse, quando foi feita uma comprometedora declaração: “é muito bom saber quem escreve sobre a gente”.

2 – Pior ainda foi a sequência, quando, conforme a Nota do Sinjorba, repórteres do jornal Correio* teriam recebido telefonemas de duas pessoas que se disseram policiais militares, fazendo o alerta: “tomem cuidado, porque a tropa está com o sangue no olho!”.

3 – Em seguida, dias depois, foram identificados pedaços de um corpo humano, que seriam daquele cidadão, sendo que os pedaços foram espalhados em diferentes bairros e lugares da Cidade de Salvador – um requinte de barbaridade e selvageria!

4 – Ora, Senhor Governador, a Associação Bahiana de Imprensa entende que esses fatos comprometem a plena situação da liberdade de informação social neste Estado e os fatos requerem, além de imediatos esclarecimentos, declaração pública de V. Excia. condenando tal prática e assumindo o dever que lhe é atribuído pela Constituição do Estado da Bahia, art. 277, como um dos responsáveis pelas garantias do direito da comunicação e da informação social, contra todas as formas de violência.

5 – A Associação Bahiana de Imprensa informa que encaminhará este relato para as demais entidades nacionais e internacionais de defesa da liberdade de imprensa, destacando-se a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Nacional de Jornais (ANJ), Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Repórteres Sem Fronteiras (RSI), Comitê de Proteção ao Jornalista, Comitê Internacional da Cruz Vermelha – Divisão de Imprensa.

Atenciosamente,

Salvador, 22 de agosto de 2014.

Antônio Walter Pinheiro

Presidente

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