No cinquentenário do golpe de 1964, a diretoria da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) decidiu se pronunciar perante a sociedade e aos jornalistas sobre o posicionamento da entidade frente ao golpe militar e à ditadura. Depois de debater questões relacionadas ao contexto histórico e à conjuntura política do país, elaborou uma nota que faz uma autocrítica e mostra que a ABI cometeu equívocos e omitiu-se, deixando de agir com agilidade e firmeza como deveria, no cumprimento de seus postulados em defesa das liberdades democráticas.
Leia a íntegra do documento (pdf aqui):
ABI E O GOLPE DE 1964
A Associação Bahiana de Imprensa – ABI junta-se a tantos que, na Bahia e no Brasil, neste cinquentenário do golpe militar, renovam na lembrança do povo brasileiro, principalmente das gerações mais jovens, o horror que foi o regime ditatorial que aniquilou liberdades, violou direitos, torturou e ceifou vidas e fez imergir o país no mais longo período autoritário da sua História.
Consciente da necessidade de se buscar a verdade, sobretudo em respeito aos que ainda choram entes queridos desaparecidos, a ABI tem priorizado o tema nas pautas de suas últimas reuniões, em debates maduros, colaborando com as evocações trazidas pela data.
Assim, realizou, em abril, a Mesa Redonda Imprensa e Censura, onde se ouviu depoimentos inéditos de jornalistas que passaram pela torturante experiência profissional sob o regime de exceção instalado, marcado por drástica censura à imprensa, perseguições, prisões, cassações, torturas e mortes.
O marco dos 50 anos do golpe tem sido oportuno para uma revisão histórica, de modo que as gerações atuais e futuras possam compreender melhor esse período dramático da vida brasileira e fortaleçam a disposição de lutar e defender, permanentemente, o estado democrático de direito.
Nesse sentido, a ABI também faz sua autocrítica, perante a sociedade e os jornalistas, ao lembrar que, naquele momento nebuloso, omitiu-se, em alguns aspectos, deixando de agir da forma aguerrida e tenaz como deveria, no cumprimento de seus postulados em defesa das liberdades democráticas.
Consta, por exemplo,que, à época, fez publicar um convite aos seus filiados “para tomarem parte da ‘Marcha da Família com Deus pela Democracia’, em Salvador, que foi uma homenagem às Forças Armadas e um gesto de apoio ao golpe militar.
Entende a atual diretoria que houve, ali, um equívoco, ferindo a própria razão de ser desta entidade, a exigir esta autocrítica, pois se tratou de apoio explícito à destituição do então presidente João Goulart, que ocupava legitimamente o cargo.
Uma das marcas da arbitrariedade do regime,além das torturas e mortes, entre as vítimas muitos jornalistas, foi justamente a supressão da liberdade de imprensa e da livre manifestação do pensamento, através de censura radical aos meios de comunicação e de outras formas de expressão, o que, de pronto, estaria a exigir imediato repúdio desta instituição.
Fazemos esse reparo em nossa própria história, por entender que o compromisso da entidade é de sempre lutar pela sagrada e inegociável liberdade de imprensa e pela livre manifestação do pensamento.
Desta forma, a ABI reafirma-se, no presente e com um olhar no futuro, como intransigente defensora da democracia, dos princípios republicanos, das liberdades públicas, dos direitos individuais e coletivos, tendo sempre como fundamento básico a preservação da vida e da dignidade da pessoa humana.
Salvador, 29 de abril de 2014.
Antônio Walter Pinheiro
Presidente