ABI BAHIANA

ABI celebra 91 anos com live em homenagem a Glauber Rocha

“Nesses tempos estranhos, em meio à maior crise sanitária de nossa história, falamos de uma entidade que sobreviveu a golpes e contragolpes”. Com essa fala, o jornalista Ernesto Marques, presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), abriu a primeira live comemorativa dos 91 anos da ABI, nesta terça (17). A noite foi dedicada a uma figura proeminente da cultura baiana: o cineasta e jornalista Glauber Rocha. Com o tema “O script de um gênio do cinema”, o evento teve a presença do escritor, jornalista e poeta Florisvaldo Mattos, e do cineasta e dramaturgo José Umberto Dias. Já a mediação ficou com o jornalista Kau Rocha. 

Durante o evento, José Umberto anunciou uma valiosa doação para a ABI. Em breve, todo o acervo de matérias, fotos, vídeos e livros que ele garimpou sobre Glauber receberá os cuidados da equipe de restauro e conservação da Associação e estará disponível ao público.

O diretor de cultura da ABI, Nelson Cadena, saudou o ato. “A ABI consolida seu papel como guardiã da memória do cinema baiano. Tenho certeza que o acervo de José Umberto virá para nos enriquecer e dará visibilidade à importância que a ABI tem nesse sentido”, salienta o pesquisador.

Outra contribuição para preservação da memória do cineasta será a doação de fitas de uma conversa entre Glauber, André Setaro e João Ubaldo Ribeiro, na época ainda redator da Tribuna da Bahia. Nunca ouvidas, as fitas devem ser digitalizadas antes de serem compartilhadas.

Glauber jornalista 

Nas palavras de Ernesto Marques, a noite promoveu o encontro do Glauber jornalista com o Glauber cineasta. Justamente essa sinergia foi pauta do encontro. Florisvaldo Mattos, cuja apresentação “Glauber Rocha, o criador que eu conheci”, recordou o Glauber jornalista. Mattos integrou em Salvador o grupo da chamada Geração Mapa (revista Mapa, em 1957-58), liderado pelo cineasta Glauber Rocha e integrado por nomes como João Ubaldo Ribeiro, Sante Scaldaferri, Calasans Neto e Paulo Gil Soares.

Florisvaldo lembrou da manhã em que conheceu o jovem Glauber Rocha. “Nossa relação começou de uma forma certamente exótica. Eu estudava direito. Uma manhã, o porteiro veio me dizer que alguns rapazes me procuravam na portaria. Quem falou foi Glauber: ‘nós viemos aqui procurar Florisvaldo Mattos, porque ele publicou um poema e consideramos que se trata do melhor poema modernista da Bahia’”, relata.

A partir daí, Mattos passaria a entregar o grupo de conversas de Glauber. Influenciado por ele, passou a trabalhar como repórter no Jornal da Bahia, que surgia com uma nova proposta de jornalismo, menos centrado no formato da crônica. Florisvaldo conta que foi numa apuração de um caso de suicídio envolvendo um jovem que ganhou a aprovação de Glauber. “Passei a ser um repórter que poderia exercer vários tipos de narrativa”.

Foi também com a criação do suplemento dominical do Diário da Bahia que o cineasta marcou sua presença no jornalismo. “Glauber levou vários jovens que estavam se desenvolvendo na área do cinema. Lá, ele criou uma coluna social que seria exercida pela atriz Helena Ignez, sua esposa”, comenta Florisvaldo. 

Glauber Cineasta

Foi o Glauber Cineasta quem inspirou José Umberto, mas para ele Glauber era mais do que isso. “Ele era um homem com vertentes ligadas à literatura, ao jornalismo, ao cinema e, sobretudo, ao teatro. Era uma figura que aglutinava, muito inquieta, com muitas faces e muitas maneiras de se conduzir perante o cinema e perante a própria vida”, afirma Dias, seguidor dos passos de Glauber no cinema. 

José Umberto afirma que o que torna o diretor marcante para a história do cinema no Brasil é a ruptura que ele promove. Num momento marcado pelas pornochanchadas e pela produção do estúdio Vera Cruz, mais comercial, Glauber surge, influenciado por movimentos internacionais, como o neorrealismo italiano, a nouvelle vague e o cinema do diretor soviético Serguei Eisenstein. “Quando surge Glauber nesse momento, ele faz um trabalho de guerreiro contra o tipo de situação que o Brasil vivia no cinema. A visão de Glauber já era diferente”, reflete Dias.

A influência dele vai além da escolha profissional de José Umberto. Partes da trajetória de ambos se encontram, como a atuação no Jornal da Bahia. Hoje, o interesse que Dias alimentou por Glauber ao longo dos anos se reflete na coleção que acumulou sobre o cineasta. “Esse acervo é resultado desse meu interesse, obsessão até. Porque é uma pessoa que realmente me norteou na vida em nível do conhecimento, não só do cinema”. 

A doação de José Umberto para a ABI vem em um momento onde a memória brasileira se encontra ameaçada pelo descaso. O cineasta lembra que parte do material deixado por Glauber foi destruída no incêndio da Cinemateca Brasileira (SP). Para ele, esse ato marca o reconhecimento da importância da Associação. “Essa Associação é uma grande instituição, que defende a democracia e a liberdade de expressão. É muito importante para nós que estamos aqui e que precisamos de ar puro”, elogia. 

O evento deu início a uma série de lives promovidas pela ABI em comemoração aos seus 91 anos. Estão previstos ainda quatro encontros até setembro. No dia 31 deste mês, a Associação irá promover o segundo evento online, com o tema “As MPs de Bolsonaro: mirou nos jornais, acertou na transparência”.

Se inscreva no canal da ABI no Youtube e ative as notificações, para não perder a programação especial:

31/08  – Como o esvaziamento das leis de transparência afeta o jornalismo?

08/09 – Assédio judicial – uma ameaça em toda parte

14/09 – O papel da imprensa: falhas e omissões

21/09 – Comunicação e acessibilidade

Confira a live de ontem (17/08):

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*Larissa Costa, estagiária de Jornalismo
Supervisão: Joseanne Guedes

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ABI BAHIANA

Acervo do crítico de cinema Walter da Silveira está disponível na internet

Por Mari Leal

Já está no ar o acervo digital do crítico de cinema Walter da Silveira. Lançado na noite deste sábado (10), por meio de evento online transmitido a partir do canal da ABI no Youtube, o site pode ser acessado pelo endereço walterdasilveira.com.br. A plataforma reúne imagens de filmes e registros da vida do próprio Silveira, além de correspondências trocadas entre os anos de 1950 e 1966. Entre os interlocutores de Silveira estão os cineastas Glauber Rocha, Alex Viany e Paulo Emílio Sales Gomes.

O evento de lançamento contou com a presença de dirigentes da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), instituição que possui a salvaguarda do arquivo físico de Silveira, da equipe de produção, pesquisadores e familiares do crítico de cinema.

Jornalista e presidente da ABI, Ernesto Marques agradeceu à equipe envolvida no desenvolvimento do projeto e destacou a importância da iniciativa diante dos enfrentamentos vividos pelo País. “Agradecimentos a toda equipe e a quem nos prestigia, deixando de lado as más notícias que nos abalam, mas não destroem a fé que a gente tem. A fé e a esperança de que o Brasil dos nossos sonhos se constrói rejeitando o obscurantismo negacionista”.

Estendeu agradecimentos de forma especial aos familiares de Walter da Silveira, e também às famílias de Glauber Rocha, Alex Viany e Paulo Emílio Sales Gomes, que autorizaram a inclusão de alguns itens de seus arquivos no site.

“Esse grande baiano que foi e é sempre presente, Walter da Silveira. Nossa gratidão e o desejo de que esses acervos dialoguem tanto quanto eles dialogaram. À família de Walter, agradecimento profundo pelo desprendimento e confiança depositadas na ABI”. Marques aproveitou o espaço para convocar profissionais ligados à área cultural a contribuírem para a preservação da memória do cineasta.

“Faço um convite a todos os amantes do cinema e outras formas de expressão artística e cultural, aos produtores, realizados, pesquisadores para quem se somem a nós no esforço de salvaguardar o conjunto de preciosidades legadas por Walter da Silveira”.

Em um relato emocionado, Paulo Ivan da Silveira, neto de Walter da Silveira, contou como construiu a relação com o avô, mesmo tendo nascido 15 anos após seu falecimento, ocorrido em novembro de 1970.

“É uma noite de celebração. Uma noite de rememorar de onde nós viemos. Me conecto ao seu [de Walter da Silveira] humanismo e a sua intolerância com a mediocridade, com a mesquinharia. No fundo, é uma pessoa que puxa os nossos limites e nos convoca a sermos o melhor de nós mesmos. Essa voz dele ecoa em mim todo dia, no meu coração”. Ele afirmou ter “descoberto” o avô no teatro, ao ser escalado para interpretar Glauber Rocha. “Era como se eu tivesse fazendo uma conexão com meu avô”, descreveu Paulo Ivan.

A apresentação efetiva do site durante o evento foi feita pela produtora executiva do projeto, a cineasta Fabíola Aquino. “É um momento de imensa alegria elevar a memória de Walter da Silveira e todo seu legado”, destacou com entusiasmo.

Além das fotos e correspondências, a interface dispõe de uma linha do tempo, a qual detalha cronologicamente a vida e obra de Silveira, assim como uma área dedicada exclusivamente a depoimentos, com relatos de familiares e de personalidades importantes da história cinematográfica brasileira, a exemplo de Antonio Pitanga, Oscar Santana, Braga Neto, Roque Araújo e outros. Acessando o site o usuário dispõe também de um espaço de publicações, tanto de autoria do próprio Walter da Silveira quanto resultado de pesquisas a seu respeito, sendo possível o download de algumas destas. 

Coordenadora do projeto, a museóloga Renata Ramos, que também é responsável pelo Museu de Imprensa da ABI, foi enfática ao destacar a relação entre o lançamento do site e a preservação da memória de Walter da Silveira. Para ela, a “memória só é preservada quando a gente se apropria do documento e passa a conhecer, passa a valorizar. O trabalho desenvolvido pelo projeto, e que vai ter continuidade, é o mesmo que reconhecer e preservar a memória, não só de Walter, mas também de outros que estão inseridos no trabalho de Walter”.

A roda de conversa transmitida ao vivo também contou com a presença de Cyntia Nogueira, idealizadora do site e autora do livro Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil: críticas, artigos, cartas, documentos (Edufba); do historiador e pesquisador responsável, Adilson Mendes, e do pesquisador assistente, Mário Bezerra.

Participaram ainda o diretor de Cultura da ABI, Nelson Cadena; Daiane Silva, curadora da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Dimas); Henrique Dantas, representante da Associação de Produtores e Cineastas da Bahia (APC), e o jornalista Claudio Leal.

O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), por meio do Programa Aldir Blanc Bahia, via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

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Notícias

Livro com escritos de Walter da Silveira será lançado em webnário

Após três anos de imersão na obra do crítico e cineasta Walter da Silveira, a jornalista Cyntia Nogueira vai lançar no próximo dia 3 de novembro o livro “Walter da Silveira e o Cinema Moderno no Brasil – Críticas, Artigos, Cartas, Documentos”. A publicação é o primeiro produto desenvolvido a partir do acervo de Walter da Silveira em posse da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). O lançamento acontece às 19h, no YouTube da Fundação Cultural do Estado da Bahia (TV Funceb), durante o primeiro dia do Webnário Diálogos Audiovisuais, promovido pela Cinemateca da Bahia (Dimas/Funceb), em parceria com a Edufba, como parte das comemorações dos 50 anos de morte do intelectual considerado um dos mentores do Cinema Novo. O volume conta com fortuna crítica, seis ensaios inéditos, correspondências, fotografias e outros documentos históricos.

Dividido em seis capítulos, o livro apresenta um conjunto de críticas, teses e ensaios publicados por Walter da Silveira sobre o cinema brasileiro e baiano, além de uma seleção de seus artigos teóricos que visa introduzir e contextualizar alguns conceitos e métodos críticos adotados pelo autor. A publicação também reuniu um conjunto de 50 cartas trocadas com Alex Viany, Paulo Emílio Sales Gomes e Glauber Rocha, fac-símiles de documentos, fortuna crítica, linha do tempo e um dossiê com artigos inéditos sobre ação e pensamento do crítico cinematográfico.

“Além de lançar um olhar sobre sua ação e pensamento, também investigamos, através da obra de Walter, os caminhos traçados pelo cinema no Brasil e na Bahia, que resultam na tentativa de estruturar um cinema moderno no país”, comenta a organizadora do livro, Cyntia Nogueira, professora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cachoeira.

Cyntia Nogueira, organizadora do livro Walter da Silveira e o Cinema Moderno no Brasil | Foto: Marcelo Matos

Cyntia Nogueira reorganizou os textos escritos por Walter entre as décadas de 1940 e 1970. Foram realizadas pesquisas em seu acervo pessoal, depositado pela família em 2015 no Museu de Imprensa da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), onde está também sua biblioteca, – e em outros arquivos e acervos na Bahia, no Rio de Janeiro e em São Paulo. “A pesquisa no acervo e na biblioteca de Walter da Silveira, bem como o acesso a outras publicações raras sob salvaguarda do Museu de Imprensa da ABI, a exemplo do único número da revista Recôncavo (1953) e dos seis números da revista modernista Caderno da Bahia (1949-1951), foi fundamental tanto para a seleção e localização dos artigos, teses, cartas e documentos publicados no livro, quanto para produção de artigos inéditos de historiadores e pesquisadores convidados a escrever sobre seu pensamento crítico e atuação à frente do Clube de Cinema da Bahia”, destaca a jornalista.

De acordo com Cyntia, a análise dos diversos documentos pesquisados possibilitou uma compreensão mais aprofundada da multiplicidade e alcance da trajetória crítica e intelectual de Walter da Silveira, orientando também a investigação em outros arquivos em Salvador, no Recôncavo da Bahia, na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. “O livro é resultado de três anos de trabalho e espero que possa contribuir para o reconhecimento da importância e do caráter pioneiro do pensamento e ação de Walter da Silveira na construção dos caminhos do cinema no Brasil e na Bahia”, afirma a pesquisadora. Sua expectativa é que o livro abra novas perspectivas de estudos sobre a obra de Walter da Silveira e sua atuação como crítico, agente de formação, historiador e intelectual engajado na construção de um campo cultural e artístico para o cinema produzido no país.

Veja a programação do webnário abaixo:

03/11 (terça-feira) – 19h

Mesa 1 – Lançamento livro “Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil”, organizado por Cyntia Nogueira (UFRB). Apresentação: Flávia Goulart Rosa (Edufba). Mediação: Rafael Carvalho (UNEB). Comentário: Euclides Santos Mendes (UESB)

04/11 (quarta-feira) – 19h

Mesa 2 – A crítica e os caminhos do cinema brasileiro: diálogos de Walter da Silveira com Alex Viany, Paulo Emílio Sales Gomes e Glauber Rocha. 

Participantes: Arthur Autran (Ufscar), Adilson Mendes (Anhembi/Morumbi) e Cláudio Leal (jornalista). Mediação: Manuela Muniz

05/11 (quinta-feira) – 19h

Mesa 3 – Walter da Silveira, o Clube de Cinema e a invenção do cinema na Bahia

Participantes: Izabel Melo (UNEB), Cyntia Nogueira (UFRB), Luís Alberto Rocha Melo (UFJF), Mediação: Milene Gusmão (UESB)

O LIVRO (alguns conteúdos)

Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil

O livro apresenta os artigos de Walter da Silveira (1915 – 1970) sobre o cinema no Brasil e na Bahia, escritos entre 1943 e 1970. Ao lado de um conjunto relevante de críticas, ensaios, conferências e teses do autor, incluindo seleção de seus textos teóricos, estão reunidas na obra as cartas trocadas com outros dois grandes críticos e historiadores do cinema brasileiro, Alex Viany e Paulo Emílio Sales Gomes, e com o crítico e cineasta Glauber Rocha. Além disso, documentos, fortuna crítica e um dossiê de artigos inéditos visam apresentar e contextualizar a importância de suas ações e pensamento para o desenvolvimento das ideias sobre cinema independente e para afirmação da crítica e do cinema modernos. 

Informações adicionais sobre o livro:

SUMÁRIO

ARTIGOS DO AUTOR (103 artigos escritos entre os anos de 1943 e 1970)

– O cinema como arte e a função da crítica (25 artigos)

– Perspectivas do cinema brasileiro (40 artigos)

– Origens do cinema baiano (38 artigos)

CORRESPONDÊNCIAS

  • Cartas para Alex Viany
  • Cartas para Paulo Emílio Sales Gomes
  • Cartas para Glauber Rocha

ARTIGOS INÉDITOS

– Walter da Silveira: um pioneiro, por Luís Alberto Rocha Melo

– Aspectos da crítica cinematográfica comunista no Brasil: o diálogo entre Alex Viany e Walter da Silveira, por Arthur Autran

– Walter da Silveira e Paulo Emílio: a plataforma de um cinema moderno no Brasil, por Adilson Mendes

– Walter da Silveira e o Clube de Cinema da Bahia, por Izabel de Fátima Cruz Melo

– Walter da Silveira e o I Festival de Cinema da Bahia (1951), por Cyntia Nogueira

– Afinidades eletivas: as trocas intelectuais e afetivas entre Walter da Silveira e Glauber Rocha, por Manuela da Silva Muniz

DOCUMENTOS

FORTUNA CRÍTICA

– Na Bahia a coisa é séria (1962), por Paulo Emílio Sales Gomes

– Perfis baianos (1962), por Paulo Emílio Sales Gomes 

– Cinema na Bahia (1963), por B.J. Duarte

– Walter da Silveira e o cinema (1967), por Octavio de Faria

– Cinema Liceu, domingo de manhã (1970), por Glauber Rocha

– Cinema – Cultura – Bahia (1970), por Alex Viany

– Walter da Silveira: advogado do cinema (2010), por Orlando Senna

– Walter da Silveira: entre a solidariedade e a solidão (2010), por Luís Alberto Rocha Melo

ÍNDICE DE ARTIGOS

CRONOLOGIA

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ABI BAHIANA

No prelo! Acervo doado à ABI pela família de Walter da Silveira gera primeiro livro

Por Joseanne Guedes e Rayssa Pio

“Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil” é o título do primeiro produto desenvolvido a partir de acervo de Walter da Silveira em posse da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). O livro-arquivo, em fase final de editoração, é derivado de uma pesquisa coordenada por Cyntia Nogueira, professora do curso de Cinema e Audiovisual da UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. O projeto que deu origem à obra teve início no ano do centenário de Walter da Silveira, 2015, mesmo período em que grande parte do seu acervo foi doada pela família à ABI. O material se juntou a 330 títulos da biblioteca pessoal do crítico e cineasta, comprados pela Associação em 1972, dois anos depois do seu falecimento. 

Cerimônia de doação do acervo de Walter da Silveira, em 2015 | Foto: Luiz Hermano Abbehusen

A doação, formalizada em uma cerimônia que reuniu na ABI importantes figuras da cena audiovisual – como Guido Araújo e Bertrand Duarte -, foi possível graças à cineasta Márcia Nunes. Amiga da família, ela conheceu a ABI na inauguração da Sala Roberto Pires e apresentou à instituição a filha de Walter, Kátia da Silveira.  Na época, Cyntia Nogueira estava fazendo doutorado e se mostrou entusiasmada com a possibilidade de explorar acervo inédito de um dos maiores pensadores sobre cinema no Brasil.

O objetivo da construção de um produto da pesquisa “Pensamento Crítico de Walter da Silveira”, de acordo com segundo Cyntia Nogueira, foi “apresentar e contextualizar a ação e pensamento de Walter para a emergência de um cinema independente em Salvador e na Bahia nos anos 50”. O livro é dividido em cinco partes: Artigos do autor, Correspondências, Dossiê, Documentos e Fortuna Crítica. Em ‘Correspondência’, são trazidas cartas que Walter trocou com Alex Viany, Paulo Emílio e Glauber Rocha. O ‘Dossiê’ reúne seis artigos e resenhas inéditos sobre a ação e pensamento do crítico. Em ‘Documentos’, são mostradas algumas imagens do acervo fotográfico presente no Museu de Imprensa da ABI. ‘Fortuna Crítica’ apresenta artigos sobre Walter da Silveira escritos por importantes críticos brasileiros como Paulo Emílio Sales Gomes, Alex Viany, B. J. Duarte e Octávio de Farias. 

Hoje, a ABI detém a maior parcela do acervo total original de Walter da Silveira, acondicionados no Museu de Imprensa e na Biblioteca Jorge Calmon. São cerca de 2000 livros na biblioteca e 13 caixas de documentos e fotografias no museu. 

Ernesto Marques destaca a necessidade de valorização da memória | Foto: Joseanne Guedes

Ernesto Marques, vice-presidente da ABI, destaca a importância do acervo e da contribuição da ABI na preservação desse material, e demonstra a sua preocupação com a memória da imprensa baiana. “A gente valoriza o gesto da família que doou e o trabalho – lento e caro – de restauração e conservação que tem sido feito pela ABI. Mostrar o livro que está no forno é mostrar o valor da nossa instituição, que cuida bem da memória. Não é para que [os documentos] fiquem apenas bem conservados. É para que estes estejam acessíveis, numa condição de conforto e de segurança, para quem nos procura para realizar pesquisa histórica/ documental”, ressalta. 

Além do acervo disponível na ABI, a pesquisa financiada pelo Fundo de Cultura da Bahia contou com diversos arquivos de outras bibliotecas de Salvador e do Recôncavo, da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e da Cinemateca Brasileira. A historiadora Manuela Muniz participou da pesquisa de acervo junto com Cyntia e o designer Gil Maciel foi responsável pelo projeto gráfico e editorial. O projeto teve parceria da Editora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da diretora Flávia Rosa e das revisoras Mariana Rios e Sandra Batista. 

Acervo

O acervo de Walter da Silveira passou por processos de restauração e higienização quando foi recebido pela Associação, em 2015. Segundo a museóloga da ABI, Renata Ramos, cerca da metade da documentação que seria destinada ao Museu de Imprensa  estava em bom estado de conservação. Entre os arquivos, estão fotos pessoais, de filmes nacionais e internacionais, alguns cartões postais, fotogramas, fotos de atores, manuscritos, cartas, agendas, recorte de jornais, e outros. De acordo com Ramos, a documentação foi analisada, verificada e acondicionada. “A memória de Walter agora está sendo preservada através do livro e não só através da documentação original”, pontuou.

Valésia Vitória examina obras do acervo de Walter da Silveira | Foto: Joseanne Guedes

Já a documentação que foi destinada à Biblioteca Jorge Calmon, estava bastante degradada, depois de décadas guardada no escritório montado num dos cômodos do amplo apartamento da família, no bairro da Graça, em Salvador. Grande parte do material composto por livros, revistas, catálogos, periódicos e enciclopédias apresentava desgastes do tempo, acidez, rasuras, insetos e fungos.

Os documentos doados passaram inicialmente por uma quarentena, com fungicidas e inseticidas. “O processo de quarentena evita que técnicos e pesquisadores adquiriram doenças de pele e outras alergias”, explica Valésia Vitória, bibliotecária da ABI. Em seguida, o material passou por uma higienização e, por último, foi registrado, catalogado, classificado e acondicionado. “Para a preservação da documentação é muito importante o tratamento de restauro e acondicionamento adequado. É um processo diário de análise, investigação, estudo, pesquisa”, acrescenta a bibliotecária. 

Todo o material danificado foi separado e enviado para Marilene Oliveira, técnica do Laboratório de Restauro e Conservação da ABI. A higienização geral é feita a cada três meses, quando é realizada a limpeza do espaço, das estantes, dos livros, tanto no museu e quanto na biblioteca.

Sobre Walter

Walter da Silveira (1915-1970) foi um dos mais importantes críticos e historiadores do cinema brasileiro, soteropolitano fomentador da cultura audiovisual baiana. Diplomado pela Faculdade de Direito da Bahia em 1935, foi advogado das causas populares, professor, crítico, ensaísta, historiador, pesquisador, cineclubista, ativo teórico do cinema e político.  Ele fundou o Clube de Cinema da Bahia (1950), além de ter organizado festivais de cinema e um curso de cinema em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). 

Cyntia Nogueira destaca que “ele defendeu de forma precursora um projeto de emancipação político-econômica e artística para o cinema brasileiro”. Ela acrescenta que “suas reflexões sobre o papel e a função da crítica cinematográfica foram fundamentais para estimular a articulação entre crítica, teoria e realização de filmes”, avalia a professora.

Segundo o artigo “Walter da Silveira e o Clube de Cinema da Bahia”, de Thiago Barboza de Oliveira Coelho, as críticas de Silveira tendiam a ser interpretações das obras, e não julgamentos. Walter  produziu seu primeiro artigo sobre cinema aos vinte anos de idade, no jornal da Associação Universitária da Bahia, sob o título “O Novo Sentido da Arte de Chaplin”, uma reflexão crítica a respeito do filme “Tempos Modernos”. No final de sua vida, já havia escrito para mais de 30 jornais. Seu primeiro artigo de caráter historiográfico sobre o Clube de Cinema da Bahia publicado na Revista Recôncavo, em edição única de janeiro de 1953, está entre as publicações raras restauradas pela ABI.

*Rayssa Pio é estagiária da ABI, sob a supervisão de Joseanne Guedes.

 

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