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Curso para jornalistas traz ferramentas e técnicas para monitorar informação sobre a Covid-19

O First Draft disponibilizou de forma gratuita o curso “Cobrindo o coronavírus: um curso online para jornalistas”, para ajudar os profissionais de redação e comunicação a enfrentar o desafio de cobrir a COVID-19. A iniciativa fornece aos trabalhadores da notícia “as ferramentas práticas, técnicas e conselhos de que precisam para combater a ‘infodemia’ e produzir uma cobertura credível do coronavírus”, diz o anúncio do projeto (em inglês).

“Juntamente com a rápida disseminação do coronavírus, um “infodêmico” também está em marcha. Informações enganosas ou incorretas sobre a doença, como ela se espalha e como podemos nos proteger contra estão aumentando. Esse ambiente digital complexo apresenta desafios para jornalistas e repórteres”, ressalta o First Draft. Segundo a empresa, o curso foi projetado para ser pequeno, para que repórteres ocupados encontrem tempo para desenvolver habilidades, aprender sobre as melhores práticas e descobrir novas ferramentas e técnicas.

Além de meios para monitorar e verificar informações, o curso também traz tópicos que abordam como cuidar da saúde mental enquanto cobram a pandemia. O programa inclui métodos para entender o distúrbio da informação e como e por que a informação falsa se espalha; como monitorar informações relacionadas ao coronavírus na web; as principais ferramentas e técnicas para verificar o conteúdo online; e práticas recomendadas para diminuir a disseminação de informações erradas.

Inscrições podem ser feitas neste site, onde o profissional precisará criar um usuário.

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Coronavírus transforma rotina profissional de repórteres baianos

Por Joseanne Guedes e I’sis Almeida

Os telespectadores acostumados a assistir ao noticiário da TV Bahia/Rede Bahia foram surpreendidos pelo novo cenário das matérias de Vanderson Nascimento. A sala do jornalista ganhou ares de estúdio televisivo, desde que ele adotou o home office. Essa é apenas uma das transformações trazidas pelo novo coronavírus (COVID-19) para a rotina dos profissionais da imprensa, instados a se reinventar e descobrir novas formas de atuação. A pandemia tem reconfigurado o fazer jornalístico, provocou mudanças nos processos produtivos das notícias e já impacta o mercado da comunicação, criando um clima de incertezas sobre as garantias trabalhistas.

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) aproveitou as comemorações do Dia do Jornalista, celebrado no dia 7 de abril, e conversou com profissionais dos formatos impresso, online, rádio e televisão, para conhecer os principais desafios impostos pela doença e como anda o cotidiano dos trabalhadores da imprensa local.

Leia também: Aplausos aos jornalistas!

O jornalista Vanderson Nascimento integra o chamado grupo de risco para a COVID-19, no qual estão incluídos idosos e portadores de doenças crônicas (diabetes, hipertensão, asma). “Sou hipertenso. Para garantir a minha segurança, estou trabalhando de casa”, justifica o repórter. “Um pequeno set foi montado aqui mesmo na sala de casa, com todos os equipamentos e aplicativos disponibilizados pela emissora, para que eu possa continuar participando da cobertura”. Ele destaca que o avanço tecnológico tem ampliado as possibilidades nesses tempos de quarentena e isolamento social. “Eu já fiz reportagens completas pelo celular (veja aqui), entrevistas, além das entradas ao vivo nos telejornais”, afirma.

“Não está sendo fácil. Eu gosto da rua, de estar perto dos fatos, das pessoas, dos bairros de Salvador. Meu prazer é conhecer gente e contar suas histórias”, ressalta o jornalista. “Me sinto honrado quando vejo meus colegas nas ruas, independentemente da emissora e do veículo para o qual estejam trabalhando. Não é fácil e nem glamouroso. Somos gente. Sentimos medo, angústia”, reflete. Ele acredita que a informação precisa e de qualidade tem sido uma das armas no combate ao pânico, angústia e medos provocados como “efeitos colaterais” do vírus. “O jornalismo sério e profissional tem feito a diferença neste momento de tanta fake news. O mundo depois dessa pandemia certamente não será o mesmo. Nós e o jornalismo também não. Padrões foram quebrados. Realidades, adaptadas”, avalia Nascimento.

Samuel Barbosa

O repórter Samuel Barbosa, do site BNews, também prefere a atuação externa. “No trabalho, gosto de movimento. Entre ficar na redação, no ar condicionado, e ir às ruas, eu não penso duas vezes. Estou sempre à disposição para sair. Essa coisa de home office é bacana durante três, quatro dias. Depois, começa a ficar chato, cansativo”, se queixa. Segundo ele, toda a empresa teve sua rotina alterada. A redação foi dividida em dois grupos. “Um dia eu trabalho em home office e no outro vou para lá”, explica. Com esse método, mais de 70% da equipe está em casa e, quem vai para a redação, não utiliza transporte público: motoristas da empresa fazem o deslocamento dos profissionais.

Risco na pauta

Mesmo com todas as medidas de prevenção contra a doença, algumas emissoras e veículos já confirmaram casos de Covid-19 em suas equipes. No dia 04 de abril, a rede Globo afirmou em nota que ao total, oito jornalistas da emissora contraíram a doença. Um dos apresentadores da Rádio Guaíba de Porto Alegre-RS, Juremir Machado da Silva, 58 anos, e outros dois profissionais da organização também estão infectados pelo novo coronavírus.  A Secretaria Estadual de Saúde da Bahia (Sesab) confirmou na tarde desta quinta-feira (9) o 19º óbito pela Covid-19 no estado e 559 casos da doença. Ao todo, 59 municípios da Bahia já registram casos de pacientes infectados. Estes dados representam notificações oficiais compiladas pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Bahia (Cievs-BA). Os estudos continuam indicando o isolamento social como principal providência para conter o vírus.

Tainá Reis

Para quem o home office não é uma realidade, a única opção é seguir todos os protocolos recomendados pelos órgãos de saúde, durante a missão de levar informação aos lares baianos. Exposta diariamente ao risco de contaminação pela Covid-19, a repórter Tainá Reis, da TV Aratu/SBT, afirma que a primeira mudança foi relacionada à higiene e prevenção, para garantir o máximo de proteção. “É preciso atenção com o entorno e aderir a um distanciamento das pessoas, passamos a destinar um microfone exclusivamente para os entrevistados, temos álcool em gel nos carros, spray antibactericida para higienizar os equipamentos usados e luvas”, lista.

De acordo com a jornalista, é possível notar também uma alteração de comportamento em relação à imprensa. “As pessoas adotaram um tratamento mais hostil e agressivo, principalmente a população mais carente”, revela. “Tem sido difícil, desgastante e, muitas vezes, frustrante atuar como uma profissional da imprensa em um país onde o líder máximo do Estado tenta excluir a credibilidade da categoria, nos transformando em mentirosos e manipuladores”, reclama.

“Não há como negar que o trabalho da imprensa é imprescindível nesse cenário”, defende Tainá Reis. A prova disso, para a repórter, foi o decreto assinado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro no dia 23 de março, enquadrando os serviços da imprensa como essenciais no enfrentamento da pandemia. O informe publicado em uma edição extra do Diário Oficial da União indica que sejam resguardados o exercício pleno e o funcionamento de todos os meios de comunicação e divulgação.

“Mesmo diante de ataques incessantes, é nessas horas que percebemos a importância de uma imprensa profissional, livre e pautada em valores que versam sobre o bem-estar social”, analisa Matheus Simoni, chefe de redação no Grupo Metrópole. Vivenciando o dia a dia da redação, o jornalista acredita que o antídoto para este momento é uma atuação com serenidade, apreço aos critérios jornalísticos e foco em uma cobertura livre de informações sem credibilidade. “A pauta principal é cobrir os avanços do coronavírus, o risco para a população e como a doença afeta o cotidiano da população”, ressalta.

Praticamente toda a rotina do Grupo Metrópole foi alterada. Desde a forma de chegar à empresa, os cumprimentos. “Álcool gel e outros instrumentos de higiene se tornaram quase que colegas de trabalho”, brinca. Todas as atividades externas e coberturas na rua foram suspensas. As entrevistas passaram a ser feitas por telefone ou Skype. “Por causa do contato direto com microfones no estúdio da rádio, cada apresentador ou repórter ganhou uma espuma própria para ser usada durante os programas”, conta o jornalista.

Interior baiano

A produtora e apresentadora da rádio da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb FM), Aline Luz, destaca as principais mudanças provocadas pela Covid-19 na emissora situada em Vitória da Conquista. Segundo ela, a redação está com equipe reduzida e a jornada de trabalho também encurtou. Parte do trabalho está sendo realizada de casa. “Em pouco tempo, tivemos que encontrar caminhos para informar, com ética e equilíbrio, sobre uma doença cujas variantes continuam a ser descobertas”, disse. Ela cita ainda “a falta de dados por parte das autoridades no tempo exigido pela audiência e a enorme janela aberta pelas redes sociais, cujos utilizadores são, ao mesmo tempo, emissores e receptores da notícia”, afirma a jornalista.

Aline Luz

Mais 8 casos de coronavírus foram confirmados nesta quarta-feira (8) em Vitória da Conquista, totalizando 15 casos, de acordo com o Boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde. Até às 17h de ontem (8), foram registrados 288 casos com suspeita de infecção pela Covid-19, dos quais: 169 casos suspeitos foram descartados laboratorialmente e 5 por vínculo epidemiológico. 40 aguardam resultado da análise laboratorial e 59 aguardam coleta de amostra.

“Alguns colegas que fazem parte do grupo de risco estão em casa, o que já reduz a quantidade de pessoas na redação”, contou Aline Luz. As reuniões de pauta têm acontecido virtualmente. Segundo ela, desde o início, o veículo vem disponibilizando EPI’S, álcool em gel e redobrando a limpeza e higienização dos equipamentos de trabalho, como microfones, computadores e mesa. “Apesar de todas as precauções, é sempre um risco. Mas, esse é o papel do jornalista, essencial para combater a desinformação e o vírus”, ressalta.

A utilização de um microfone extra, higienização dos equipamentos e uma distância segura dos entrevistados também passaram a fazer parte da rotina de repórteres e cinegrafistas da Record TV Cabrália, com sede em Itabuna. “Trabalho na redação, mas é impossível não manter contato com as equipes que fazem externa. A empresa tem seguido as recomendações que as organizações de saúde preconizam desde o início dessa pandemia”, garante a radialista Lorena Lustosa, produtora executiva da emissora. “O desafio é manter a calma e o equilíbrio emocional diante de tantas notícias preocupantes que chegam até nós”, confessa.

Lorena Lustosa

Itabuna já registra 16 casos confirmados de pacientes infectados pela Covid-19. “O momento exige transparência e clareza e nós precisamos impedir que o pânico tome conta da população. Temos cumprido o nosso papel social. É preciso, inclusive, parabenizar os profissionais que estão nas ruas, arriscando suas vidas para trazer a notícia da melhor forma possível”, destaca Lustosa.

Quarentena x produção

Durante a quarentena, a falta de eventos públicos impactou diretamente no trabalho realizado pelo jornalista e empreendedor Evilásio Júnior, em Salvador. Depois de atuar em alguns dos principais veículos da imprensa baiana, ele resolveu lançar, há pouco mais de cinco meses, um projeto independente. O site que leva seu nome entrega uma cobertura bastante diversificada sobre os bastidores da política da Bahia, com matérias e entrevistas exclusivas. Agora, o isolamento social tem inviabilizado algumas pautas. “Sem os eventos, há escassez de assuntos políticos. Por exemplo, a cobertura do período de janela partidária foi prejudicada”, ressalta.

Segundo o jornalista, o principal desafio é conseguir criar pautas que fujam do tema coronavírus. Além da dificuldade de acesso às fontes, ocasionada também pela suspensão do funcionamento das casas legislativas, Evilásio Júnior diminuiu o ritmo por motivo de saúde. “Eu tive uma virose, possivelmente o coronavírus. Sou ex-fumante, fui asmático quando criança e estou no grupo de risco. Tive febre e falta de ar. Fiz medicação para gripe, nebulizações diárias e repousei, na medida do possível. Ficou um resquício de tosse”, releva. Mesmo sem diagnóstico, Evilásio seguiu as recomendações dos órgãos da Saúde e observou no autoisolamento os sintomas, para não correr o risco de contaminar outras pessoas. Seus pais estão na Ilha de Itaparica desde dezembro. “Tive que convencê-los a não retornar”, conta.

Evilásio Júnior

Para Evilásio Júnior, o período mostra “quanto o ser humano é ínfimo e não se dá conta da própria insignificância”, ao passo que evidencia “a incontestável importância” social do jornalismo. “Incluir a atividade como essencial é reconhecer a realidade, apesar de toda a falta de respeito do presidente com os profissionais. Sem o jornalismo, a pandemia teria um impacto ainda pior no país”, enfatiza.

Quem também está seguindo a quarentena é a jornalista Marília Moreira. Desde o dia 18 de março, ela saiu de casa poucas vezes, sempre para comprar alimentos. A repórter do Jornal Correio*, assim como parte da equipe, está trabalhando de casa. De acordo com ela, a redação do veículo tem cerca de 50 profissionais, incluindo estagiários, repórteres, fotógrafos, editores e diagramadores. Nesse período de home office, as reuniões de pauta são diárias. Para Marília, um dos maiores desafios tem sido manter o foco e separar o tempo do trabalho, para não comprometer outras atividades do dia a dia. “Com as pessoas distantes, as mudanças naturais de uma rotina de jornal acabam interferindo no volume de trabalho, apesar das reuniões por videoconferência. É preciso uma sincronia fina, para que não se chegue ao fim do expediente tão esgotado mentalmente”, analisa.

“No início, acho que todos nós estivemos perdidos e amedrontados. Jornalistas, autoridades e população, todos guiados pelo medo e pela angústia”, constata. Marília critica as primeiras coberturas sobre a pandemia. “Muitas construções jornalísticas, além de informar precisamente sobre a gravidade da doença, alimentaram o pânico e a ansiedade”, afirma. Para ela, as apurações se mostraram “incompletas”, por causa, principalmente, do “enxugamento das redações e a própria dificuldade imposta por esse tipo de cobertura”, opina. “Foi preciso que nós, jornalistas e cidadãos, recriássemos acordos no consumo e na produção das informações. Vimos o jornalismo se transformar em poucas semanas, variando abordagens e pautas”. Atuando na editoria de cultura, ela tem contribuído para trazer novos enquadramentos ao tema e, assim, fazer respirar as páginas do jornal.

Incertezas

Além de enfrentar as mudanças na rotina profissional, os funcionários do Correio* estão lidando com incertezas trabalhistas. Segundo o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), um comunicado interno emitido pela empresa informa sobre redução de 25% dos salários, com redução de 25% da carga horária de trabalho. O documento enumera cinco medidas tomadas de forma imediata pela Rede Bahia: redução de gastos em 5%; revisão de contratos com fornecedores; fim de investimentos por tempo indeterminado; proibição de horas extras; e a readequação da remuneração dos funcionários. Os efeitos da recessão e da perda de anunciantes já causavam prejuízos ao grupo, como o fechamento das afiliadas de Barreiras e Juazeiro. A pandemia do coronavírus agravou o quadro.

Na última sexta-feira (3), o Sinjorba afirmou ter enviado um ofício ao setor de Recursos Humanos do Jornal Correio*. No texto, a entidade pede a suspensão da medida, embora reconheça que a Medida Provisória 936/2020, publicada em 1° de abril, “entrega a prerrogativa ao empregador de propor a redução salarial, bem como firmar acordos individuais com seus empregados, sem a anuência do Sindicato”. O Sinjorba alega que “mesmo com as dificuldades que todas as empresas no Brasil enfrentarão com a pandemia do coronavírus, não é hora ainda de a empresa apressar decisões”, diz o texto.

Redação da Rádio Metrópole – Foto: Reprodução

“É um desafio enorme manter a serenidade e a calma diante de tantas notícias negativas”, comenta o jornalista Matheus Simoni. Ele destaca que “a saúde mental em tempos de pandemia tem sido um artigo de luxo” e usa o vigor dos seus 27 anos para encorajar os colegas a buscar nas relações familiares a base para atravessar essa dificuldade. “É fundamental saber priorizar as atividades com essas pessoas. Foi na falta disso tudo que a gente percebeu a importância desses momentos”, reflete. “Vamos nos reinventar, orientar a equipe a desacelerar e encontrar alternativas para passar o tempo de isolamento. A imprensa profissional sai mais fortalecida desta pandemia”, aposta Matheus.

Para Vanderson Nascimento, neste momento de tantas incertezas, o papel da imprensa tem sido fundamental. “Pesquisas já mostram a credibilidade dos veículos sérios e dos seus profissionais com a sociedade”, observa. É através da imprensa que a sociedade tem acesso às orientações sobre o “coronavírus”, uma palavra desconhecida para a maioria há apenas três meses. “Depois que tudo isso acabar, teremos novas formas de viver a vida e de trabalhar, independente da área de atuação. E se puder, fique em casa. É para o bem de todo mundo”, aconselha o repórter.

 

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Em combate à desinformação, Projeto Comprova inicia checagem sobre coronavírus

O Projeto Comprova iniciou um expediente especial para checar informações sobre o coronavírus. Os 24 veículos de comunicação que integram a iniciativa vão monitorar redes sociais e aplicativos de mensagens em busca de informações duvidosas sobre a Covid-19. Fazem parte da coalizão do Comprova veículos impressos, radiofônicos, televisivos e digitais de grande alcance, como Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, SBT, Band News FM e UOL, entre outros.

Eles vão atuar para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre coronavírus compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. “A imprensa como um todo tem feito uma ótima cobertura direcionada para o coronavírus. O conteúdo informativo e de serviço está muito bom. Mas o conteúdo de verificação da desinformação que circula nas redes precisa ter seu alcance reforçado”, explica Sérgio Lüdtke, editor do Comprova.

Sem fins lucrativos, o Comprova recebe sugestões de conteúdos duvidosos para a verificação. No site, há o canal “Pergunte ao Comprova”, e os boatos também podem ser enviados por WhatsApp (11 97795-0022). Para acompanhar as verificações que serão produzidas, basta acessar o site do projeto e as redes sociais (Twitter e Facebook). Os 24 veículos membros da coalizão também replicarão as verificações em seus canais.

“Queremos desbancar os boatos nocivos, mas também instrumentalizar jornalistas e o público em geral para identificar as características dos embustes e ajudar a filtrar desinformação de forma autônoma”, afirma o presidente da Abraji, Marcelo Träsel. O expediente especial sobre o novo coronavírus conta com patrocínio de Google News Initiative (GNI), Facebook Journalism Project, First Draft News, WhatsApp; e apoio da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

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Mídia e Gestão

A mídia burguesa e o álcool gel

Por Paulo Nunes*

Somente agora, e de forma tímida, a grande mídia burguesa está saindo de seus estúdios de apresentação, de seus boletins diários e entrevistas com infectologistas, médicos e especialistas para mostrar o outro lado do álcool e gel. Refiro-me aos pobres das periferias que não têm condições financeiras nenhuma de adquirir o produto para se proteger do coronavírus, o Covid-19.

Não é só isso. Moradores pobres que vivem em favelas e barracos não têm nem água nas torneiras e sabão para lavar as mãos. Essas pessoas, há muito tempo, vivem aglomeradas em cômodos apertados, sem saneamento básico, onde todos dormem juntos. Os jornalistas devem sair de seus confortos dos computadores, subir os morros e atravessar a linha de pobreza para mostrar essa triste realidade.

Quando se manda que todos lavem as mãos com álcool e gel, a impressão que passa é que toda população brasileira, com profundas desigualdades sociais, pode comprar o material, que subiu de preço pelos gananciosos. Gostaria de indagar quem olha para esse povo e vai fornecer o álcool e o gel?

Há dias que venho fazendo essa observação, mas sendo criticado por muita gente. Passou do tempo dos veículos de comunicação cobrarem providências urgentes por parte do poder público (municipal, estadual e federal), e não ficar fazendo de conta que vivemos num país rico, sem esses terríveis desníveis sociais de calamidade pública.
Outro problema que já venho falando é quanto a situação dos desempregados, daqueles trabalhadores intermitentes, comissionados e dos informais que dependem do que produzem para comprar suas necessidades básicas, principalmente os alimentos do dia a dia.

Quem vai socorrer essa gente, da qual pouco a mídia comenta e entrevista, mostrando o quadro de penúria, principalmente agora? Não estou aqui para contrariar a recomendação de que todos fiquem em suas casas, mas existe uma tremenda omissão da imprensa que pouco noticia como esses brasileiros esquecidos vivem, estão vivendo e vão viver daqui para a frente para enfrentar a luta contra o Covid-19.

Existe um plano dos governantes para atender esses milhões que já vivem em plena pobreza, com a tendência de piorar mais ainda com o confinamento e a falta de dinheiro para se proteger do vírus e se alimentar? Até o momento, só demagogias, falatórios, discurso e nada de concreto.

Na verdade, não existe um plano para sanar esse problema, e a nossa mídia não explora esta questão que pode se transformar numa convulsão social e invasão de casas comerciais, mercados, farmácias e supermercados. Como solucionar o problema das pessoas que têm doenças crônicas e precisam de fazer hemodiálises, quimioterapia e outros tratamentos inadiáveis, sem o transporte para deslocamentos para cidades e clínicas que prestam esses serviços?

É um alerta que fica, e um apelo para que a mídia comece mais firme a noticiar essa situação que pode se tornar crítica e caótica, se não forem tomadas as devidas medidas por parte do poder público. Mais uma vez, vamos deixar essa gente de lado e fazer de conta que ela não existe?

*Paulo Nunes é advogado e jornalista, editor do Blog do Paulo Nunes.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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