Em pauta

Uma biografia da Santa Irmã Dulce

Por Valber Carvalho*

            Pesquisar a vida de Irmã Dulce foi uma decisão tomada em abril de 2013, depois que fui convidado pela Assembleia Legislativa a escolher uma personalidade baiana para servir de tema para um livro. Naquele momento, três nomes emergiram imediatamente para a superfície do meu interesse. Um deles era o de Irmã Dulce.

            Conversei com alguns amigos antes de tomar a decisão, mas foi a minha querida e instigante irmã, Carmen Célia Carvalho Smith, nascida 14 anos antes de mim, quem me deu a régua e o compasso: “se eu fosse você faria a história de Irmã Dulce”. Perguntei o porquê de ela falar tão assertivamente e ela me devolveu: “você nasceu no ano de 1960 e por isso não viu, mas na década em que você era menino, e quando ainda ela não era uma unanimidade na sociedade, a atuação dela foi algo fora de série”.

            Ouvi com interesse aquele conselho e parti para a ação. Sem ter ainda me decidido, o nome de Irmã Dulce passou a ter um peso maior na escolha da decisão que deveria tomar nos próximos dias.

            Procurei a OSID, para conversar com o museólogo Osvaldo Gouveia, especialista na história dela e o grande responsável pelo Memorial de Irmã Dulce, instalado na sede das Obras, no bairro de Roma, na península itapagipana.

Foto: Roque Cerqueira

Depois de duas horas de conversa gravada, nos encaminhamos para a sala da superintendente das Obras Sociais, Maria Rita Lopes Pontes, onde ouvi mais relatos e então pude expor o estado de excitação que tomara conta da alma do jornalista, sempre que é levado “ao topo de um morro e consegue enxergar um rico e precioso vale, ainda não devidamente explorado em todos os seus minérios”. Sim. Estava mais que claro, eu tinha uma história para contar. Mas era um trabalho hercúleo: pesquisar e tentar entender, documentar e escrever sobre a vida da mais importante alma que já nasceu em nossa terra. Se muita coisa já se sabia e muita havia sido documentada, havia e sempre haverá muito ainda a ser escavado, processado e lapidado. Naquele 12 de julho de 2013, nascia o Projeto da Biografia de Irmã Dulce.

            A partir daí, o assunto foi mais e mais tomando corpo e estimulando o espírito do jornalista. Eu havia desenvolvido um método de trabalho, anos atrás, quando precisei pesquisar a trajetória de personagens que tiveram uma vida muito densa e e que haviam interagido com muitas pessoas e fatos importantes da história. Nesse método, primeiro busco trabalhar os “entrevistados-âncoras”, aqueles que servirão de pilastras para a sustentação do “edifício” da pesquisa que pretendo construir.

            Cada um desses âncoras me indica cinco, ou seis ou até 10 outros nomes de entrevistados importantes para a continuação da pesquisa. Cada entrevista traz um novo tijolo, e cada nova informação vai encorpando a argamassa, ao indicar novas áreas de pesquisa a serem trabalhadas. E assim vão se erguendo os andares da obra. Isso parece óbvio, e é. A diferença, no meu caso, é que considero fundamental escolher previamente, quem e quantos serão os tais âncoras que sustentarão o processo inicial da obra.

            Pouco mais de três meses de trabalho depois o que inicialmente parecia grande,  agora se apresentava tão gigantesco, que quase não se podia delimitar seu horizonte. Se fosse  possível comparar com uma figura geométrica, a vida de Irmã Dulce era como um poliedro com centenas ou até milhares de faces que refletiam diferentes aspectos da sociedade baiana e brasileira, porque em seu cotidiano ela interagia diariamente, durante décadas, com todos os atores sociais. Do mais rico ao mais pobre.

            Em síntese, eram intermináveis histórias e estórias que se consorciavam e se soprepunham, ou pareciam sobrepor-se, muitas vezes de maneira ilusória. Para entender tudo isso, uma pesquisa caprichada, longa e exaustiva se delineava à vista. Foi então que procurei o jornalista Paulo Bina, chefe da Assessoria de Imprensa da Assembleia Legislativa, para me desincumbir de qualquer compromisso com aquela entidade, por entender que o tempo para a execução da pesquisa era impossível de ser mensurado, e por isso somente o próprio fazer é quem seria o responsável por determinar o tempo de consecução.

            A solidão da decisão tomada naquele momento, significou vivenciar uma sensação extremamente desafiadora, porém ainda mais gratificante. Experimentei abandonar a segurança de um navio que tinha hora para zarpar e embarcar num pequeno bote sem possibilidade de ancoragem durante meses e anos. Se havia muitos motivos para acabar perecendo naquele oceano de tantos personagens e assuntos, com possibilidade de serem explorados, havia também a alegria da investigação criteriosa, e as comemorações silenciosas de cada remada em direção a uma nova descoberta.

            Como a imensa maioria dos que haviam convivido com Irmã Dulce nos primeiros tempos já acumulavam mais de 80 ou de 90 anos de idade, decidi priorizar as entrevistas com aqueles que tinham convido com a religiosa nas eras pioneiras. Era uma questão aguda de tempo conseguir material inédito, antes que a perda definitiva das memórias preciosas daqueles homens e mulheres, apagasse os últimos registros dos períodos mais desafiadores e menos documentados da trajetória de Irmã Dulce. Somente depois de fazer isso é que me senti confortável de apontar a proa da pesquisa em busca de documentos e jornais antigos.

            No primeiro ano de trabalho, fiz apenas 17 longas entrevistas, no segundo ano já eram 120, no terceiro já acumulava 250, e assim a obra foi ganhando altura. Ao fim de seis anos de trabalho, eram cerca de 500 entrevistados. Prioridade um, para os  mais importantes e/ou os mais idosos, personagens que não poderiam deixar de serem ouvidos. No segundo momento, após essas entrevistas, o trabalho pôde ser dividido entre a caça por novas entrevistas e a busca diária por documentos.

            Milhares de documentos escritos foram lidos e catalogados, informações primárias oficiais – de dentro e de fora da Igreja – ou outras publicadas em jornais de todo o país, serviram para embasar as informações valiosíssimas de centenas de relatos orais gravados, muitos deles completamente inéditos.

            Hoje, se a obra ainda não estava pronta, há a certeza de que a fundação é segura e forte, mas por sua vez, o “edifício” ainda não está pronto e “habitável” para os olhos dos leitores.

            Nesse momento, dias após Maria Rita Souza Britto Lopes Pontes ter deixado de ser apenas a nossa querida Irmã Dulce, Anjo Azul dos Alagados e o maior exemplo de solidariedade-cidadã vivido por nossa sociedade, para se tornar a primeira Santa da Igreja Católica nascida em solo brasileiro, convido a todos para o lançamento do livro no segundo semestre de 2019, livro que desde já aviso que não será meu.

            Porque a nossa personagem é tão grande e tão incrivelmente humana, que o livro é dela, de Irmã Dulce. E até lá, se Deus quiser!

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*Valber Carvalho é jornalista e escritor.

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ABI BAHIANA

ABI vai homenagear Lygia Sampaio com a Medalha Ranulpho Oliveira

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) aprovou a outorga da Medalha Ranulpho Oliveira à artista plástica e museóloga Lygia Sampaio, na última reunião de diretoria, no dia 12/09. A proposta foi encaminhada pelo jornalista Ernesto Marques, vice-presidente da instituição, e aprovada pelos diretores. A homenageada trabalhou na ABI por 30 anos (de 10 de janeiro de 1974 a 30 de setembro de 2016) e ajudou a criar o Museu de Imprensa da ABI, um espaço de preservação e valorização da história da imprensa.

Foto: Fernando Vivas/Ag. A Tarde

A passagem dos 90 anos de Lygia Sampaio, no dia 18 de agosto, foi mais um motivo para distingui-la, conforme a proposta de Ernesto Marques, dando ao gesto o triplo significado do reconhecimento, da gratidão e da cordialidade. “Lygia Sampaio é merecedora de reconhecimento e de homenagens também como a artista plástica que se perfilou com colegas, sobretudo homens, que participaram do Salão Baiano de Belas Artes, em 1949, com seus pincéis, espátulas e cinzéis, como aderentes do modernismo. A mais recente exposição dela – “60 anos de pena e pincel” – foi realizada no Museu de Artes Sacras da UFBA em outubro de 2014”, informa a proposta aprovada no dia 12.

O texto de justificativa da proposta acrescenta: “A fusão da artista plástica com a museóloga permitiu a Lygia Sampaio atuar com destacado brilho na equipe do Núcleo de Artes do Desenbanco dirigido pela também museóloga Sylvia Athayde (1940-2015). Ela também auxiliou Sylvia no Museu de Arte da Bahia (MAB). Some-se a essas duas tarefas a contribuição que ela deu a Superintendência de Turismo de Salvador (Sutursa) na década de 1960. Todo esse cabedal lastreou a ação de Lygia Sampaio na ABI”.

Leia também: Lygia Sampaio expõe no Museu de Arte Sacra 60 anos de trajetória

*Informações de Luís Guilherme Pontes Tavares (jornalista, diretor da ABI)

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Notícias

200 anos de história consumidos pelas chamas do descaso

Fósseis, múmias, registros históricos, obras de arte. Mais de 20 milhões de itens históricos e científicos foram destruídos no incêndio que aconteceu no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, na noite deste domingo (2). O acervo da instituição que completou 200 anos este ano começou a virar cinzas por volta das 19h e o fogo só foi controlado no fim da madrugada desta segunda-feira (3). Como boa parte da estrutura do prédio era de madeira e o acervo tinha material inflamável, as chamas se espalharam rapidamente. Pedaços de documentos queimados foram parar em vários bairros da cidade, transformando em poeira não só uma parte importante da história do Rio de Janeiro ou do Brasil, mas registros fundamentais para a história mundial.

O Museu Nacional é uma instituição autônoma, integrante do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro e vinculada ao Ministério da Educação. Como museu universitário, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a instituição tem perfil acadêmico e científico. O museu abrigava um acervo histórico desde a época do Brasil Império, tendo servido de residência para um rei e dois imperadores. Além de ter sido residência oficial da família real no Brasil entre 1816 e 1821, o prédio histórico foi palco para a primeira Assembleia Constituinte da República, entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891, que marcou o fim do império no Brasil.

A tragédia teve grande repercussão entre as entidades e personalidades que atuam no cenário cultural. Pesquisadores, professores e artistas usaram as redes sociais para lamentar a perda. Uma manifestação tomou conta da entrada da Quinta da Boa Vista, onde fica o Museu Nacional, em apoio à instituição na manhã desta segunda-feira (3). Grande parte dos manifestantes formada por estudantes da UFRJ.

Em meio a manifestações e denúncias sobre a situação de descaso com o patrimônio histórico brasileiro, políticos de diferentes partidos e candidatos em campanha eleitoral também usaram as redes sociais para falar sobre o incêndio. A Agência Lupa realizou uma checagem e descobriu que só 2 dos 13 programas presidenciais falam em proteção a museus, evidenciando a quase invisibilidade da área cultural. Confira aqui

Descaso – Apesar de sua importância histórica, o Museu Nacional também foi afetado pela crise financeira da UFRJ e há pelo menos três anos funcionava com orçamento reduzido, segundo reportagem do Bom Dia Brasil, em maio. A situação chegou ao ponto de o museu anunciar uma “vaquinha virtual” para arrecadar recursos para reabrir a sala mais importante do acervo, onde fica a instalação do dinossauro Dino Prata. A meta era chegar a R$ 100 mil.

Para a museóloga do Museu de Imprensa da ABI, Renata Ramos, a tragédia expõe o descaso com nosso patrimônio histórico e a falta de uma política que proteja os museus brasileiros. “Como a maioria dos nossos museus, o Museu Nacional vinha sofrendo com a falta de reforma e os cortes no orçamento. Foi uma perda inestimável para a memória mundial”, lamentou.

As causas do fogo ainda não foram esclarecidas. Bombeiros fizeram trabalho de rescaldo nesta manhã. Técnicos da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros Fizeram uma inspeção no Museu Nacional. Eles pretendem calcular o tamanho do estrago e descobrir o que pode ser resgatado. A Polícia Civil abriu inquérito e repassará o caso para que seja conduzido pela Delegacia de Repressão a Crimes de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, da Polícia Federal, que irá apurar se o incêndio foi criminoso.

Acervo – O acervo do museu foi formado ao longo de mais de dois séculos por meio de coletas, escavações, permutas, aquisições e doações. Ele abrigava coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia biológica, arqueologia e etnologia. A mais antiga instituição cientifica do país guardava alguns dos mais relevantes registros da memória brasileira e mundial no campo das ciências naturais e antropológicas.

Entre seus principais tesouros estavam a primeira coleção de múmias egípcias da América Latina e o Bendegó, o maior meteorito já encontrado no Brasil – ele foi achado no sertão da Bahia no século 18 e pesa mais de 5 toneladas. O fóssil humano mais antigo já encontrado no Brasil, batizado de “Luzia”, faz parte da coleção de Antropologia Biológica. A história dos povos indígenas também faz parte do acervo do museu com, por exemplo, uma coleção de trajes usados em cerimônias dos índios brasileiros há mais de cem anos.

*Informações são do G1/Rio.

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ABI BAHIANA

Primavera dos Museus: Inscrições abertas para curso de Paleografia na ABI

O Museu de Imprensa da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) está participando da 12ª Primavera dos Museus, uma ação promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), de 17 a 23 de setembro. O tema deste ano é “Celebrando a Educação em Museus”. Na programação (aqui) do Museu de Imprensa, estão previstos a “Exposição Berbert de Castro”, curso “Noções de Paleografia” (inscrição aqui), exibição de filmes e uma mesa-redonda sobre “Diversidade nas Escolas”. Toda a programação é GRATUITA e só o curso de paleografia necessita de inscrição.

O curso de paleografia (ementa aqui) será ministrado nos dias 17, 18 e 19 de setembro, das 14h às 16h30, pelos professores Lívia Borges Souza Magalhães e Rafael Barbosa Magalhães, ambos doutorandos pelo Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA) – (currículos aqui). A inscrição para o curso pode ser efetuada de 28 de agosto a 10 de setembro, através do formulário online (aqui) ou na sede da ABI (Praça da Sé).

Do grego παλαιός (antigo) e γραφή (escrita), paleografia é o estudo de textos manuscritos antigos e medievais estuda a origem, a forma e a evolução da escrita, independentemente do tipo de suporte físico onde foi registrada, do material utilizado, do lugar, do povo, ou dos sinais gráficos adotados na linguagem.

Tema – A cada edição da Primavera dos Museus, o Ibram lança um tema para fomentar as discussões e inspirar os eventos propostos pelos museus ou instituições culturais. Este ano o tema é Celebrando a Educação em Museus, que tem como embasamento o Caderno da Política Nacional de Educação Museal (PNEM), lançado no último mês de junho. A publicação aborda o processo de criação da PNEM, bem como os princípios e diretrizes dessa política, que visa nortear gestores, educadores e demais interessados na prática da educação museal. Para a entidade, os museus devem ser reconhecidos como espaços plurais, que propiciam vivências diversas e trocas constantes de conhecimentos e experiências e, nesse sentido, a educação permeia todos os seus cantos. Para saber mais sobre o tema, clique aqui.

Serviço

Curso de Paleografia 

Data: 17, 18 e 19 set
Horário: 14h às 16h30
Inscrição: https://goo.gl/forms/XdDMoEd0jBI37koF3 (período de 28/08 a 10/09) ou presencial na sede da ABI (Rua Guedes de Brito, 1, Edifício Ranulfo Oliveira – Praça da Sé)/ Informações: 3322-6903 ou [email protected] (Renata Ramos – museóloga da ABI)
*Com direito a certificado

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