As memórias pessoais e históricas do professor, poeta e jornalista Sérgio Mattos já estão disponíveis em seu recém-lançado site (acesse aqui), como parte da celebração dos seus 70 anos, no próximo dia 1º de julho. Segundo Mattos, diretor da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), a intenção era montar um espaço para reunir sua produção acadêmica e literária ao longo de quase cinco décadas de atuação profissional no mundo jornalístico, artístico e cultural. Lá é possível acessar livros, poesias, músicas, entrevistas, vídeos e outros conteúdos que representam uma significativa contribuição à sociedade baiana, bem como para o campo do pensamento comunicacional e da literatura brasileira.
“O cearense que conquistou a cidadania baiana por méritos indiscutíveis” – para usar as palavras do professor José Marques de Melo, falecido no último dia 20 – é doutor em Comunicação pela Universidade do Texas (1982) e realiza pesquisas sobre o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa no Brasil desde a década de 1970. O jornalista é autor de trabalhos acadêmicos, tendo escrito dezenas de artigos, capítulos de livros e livros na área da comunicação, publicados no Brasil e no exterior.
Seus textos [auto]biográficos auxiliam no entendimento do passado, como no livro “A vida privada no contexto público” (Quarteto Editora, 2015), onde Sérgio Mattos conta sua própria história tendo como pano de fundo o contexto histórico baiano e brasileiro. A obra, como outras escritas por ele, apresenta detalhes de fatos ocorridos há pelo menos 50 anos, passando pela expansão comercial da capital baiana, a crescimento do turismo e mesmo o surgimento do jornal Tribuna da Bahia.
No campo literário, além de participar de várias antologias poéticas e de ter veiculado sua produção em revistas, jornais e na internet, publicou diversos livros individuais. Como compositor/letrista possui músicas em parceria, gravadas por inúmeros interpretes, além de possuir quatro CDs individuais.
Mattos é professor aposentado da UFBA e a partir de agosto de 2008 passou a integrar o quadro docente da UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Atualmente é professor associado no curso de Jornalismo/Publicidade e desde 2010 exerce a função de superintendente da Editora da UFRB, da qual foi o responsável pelo projeto de implantação.
Depois de quase seis anos de pesquisa e entrevistas, o jornalista e escritor Emiliano José lança um novo livro, nesta quinta-feira (14), às 17h, Palácio Rio Branco (Centro). A obra “Waldir Pires, Biografia – 1º volume” retrata desde o nascimento do político baiano, em 1926, até seu retorno à Bahia vindo do Rio de Janeiro, em 1978, com o fim da vigência do Ato Institucional nº 5. “Escrevo sobre a longa experiência de um político de impressionante coerência democrática”, destaca Emiliano.
Na manhã de hoje (13), a diretoria da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) aprovou uma moção de congratulação a Emiliano José, pelo trabalho que conta a história de um dos políticos mais influentes do Brasil. Emiliano agradeceu aos diretores e, em entrevista à ABI, disse que se “sente muito honrado com o gesto de reconhecimento”. O jornalista adiantou que o segundo volume da biografia já foi enviado para edição.
Volume 1 – Nessa primeira parte, a linha do tempo é iniciada em Acajutiba, segue por Amargosa, Nazaré das Farinhas, Colégio Central e Faculdade de Direito, na turma de 1949. O livro traz conta a história de Waldir Pires (91) como secretário do governo Régis Pacheco, aos 24 anos de idade; deputado estadual em 1954, federal em 1958; candidato ao governo da Bahia em 1962; professor da UnB; Consultor geral do governo Goulart; além da época do golpe de 1964, a fuga, o exílio e o retorno ao Rio em 1970, em plena ditadura Médici.
Já o segundo volume, que vai de 1979 aos dias atuais, descreve a caminhada de Waldir Pires na resistência democrática, a ousadia da candidatura ao Senado em 1982, ao lado de Roberto Santos, candidato ao governo da Bahia com Rômulo Almeida, como vice. Retrata a paciente construção do PMDB, a campanha das Diretas Já, Tancredo Neves, a vitória eleitoral em 1986, a polêmica renúncia. Descreve a eleição a deputado federal em 1990, pelo PDT, a fraude na apuração da disputa ao Senado em 1994, a saída do PSDB que caminhou para a direita, a filiação ao PT e sua reeleição a deputado federal. Será ministro da Previdência com Sarney, titular da Controladoria Geral da União e ministro da Defesa com Lula. A história política de Waldir Pires termina com seu mandato de vereador, em 2016.
“NOSSA VIDA É UMA ASSOCIAÇÃO”. Foi assim que Franciel Cruz autografou um exemplar de “Ingresia” para a Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, da Associação Bahiana da Imprensa (ABI). O lançamento do primeiro livro do jornalista ireceense, ocorrido no último sábado (9), foi, como havia prometido o irreverente autor, um evento de “abalar a Bahia e uma banda de Sergipe”. De forma inusitada, Ingresia não chegou às mãos do leitor sem antes cumprir o inédito cortejo literário que saiu dos pés das estátuas dos caboclos, no Campo Grande, até o Instituto Cultural Brasil Alemanha (ICBA), no Corredor da Vitória.
Lá, dezenas de jornalistas e amigos se espremiam numa fila maior que a do recadastramento biométrico, para garantir acesso aos “fuleiros rabiscos” da aguardada e apoiada obra. Nem mesmo o autor foi capaz de antever o sucesso do evento e, às tantas, começou a reclamar de câimbras na mão. Pediu uma parada estratégica, alegando ir ao sanitário, e logo voltou às originais dedicatórias. O lançamento contou com show do cantor e compositor Mario Mu keka Cortizo. Na ocasião, também foi lançado o infanto-juvenil “Sítio Caipora”, da escritora e antropóloga Núbia Bento Rodrigues.
Ingresia nasce de um esforço coletivo, através de uma “vaquinha virtual” que mobilizou pessoas até de outros países. Franciel, de 48 anos, é um dos jornalistas que buscaram nas ferramentas digitais a liberdade nem sempre possível nas redações tradicionais e editoras comerciais. “Eu queria independência, fazer do meu jeito”, explica Franciel, que mostrou com quantos cliques se faz um livro. Quem assina a foto da capa é o fotógrafo Hirosuke Kitamura. A obra conta ainda com orelha do escritor Xico Sá, prefácio do jornalista Cláudio Leal e posfácio póstumo do crítico de cinema André Setaro, falecido em julho de 2014.
O livro é uma coletânea de contos sobre a Bahia, com histórias do cotidiano, inventadas ou não. “Tem textos sobre política, alguns pretensiosamente culturais e futebol. Selecionei de acordo com os temas, para costurar o livro, para um texto dialogar com outro. Não dividi por capítulos, mas o fluxo divide bem”. Franciel contou a ABI que “Ingresia” surgiu por insistência dos amigos que acompanhavam seus escritos. As noventa crônicas produzidas desde o início dos anos 2000 estavam registradas em blogs e nas redes sociais. “Nunca tive ideia de fazer livro, nunca tive pretensão no campo literário, está sendo uma surpresa”, afirma.
Descrito no prefácio por Cláudio Leal como “um narrador empurrando as portas do mundo” e “repórter de perguntas sem afagos”, Franciel tem um estilo cortante que mescla humor, ironia, hostilidade e lirismo, em uma intrigante contradição. No posfácio, Setaro diz que “a sua pena é da galhofa, da ironia, exercitando sempre no que diz e no que fala, o seu pessoal sentido de ironia, de ver as coisas da vida com peculiar humor”. Em referência ao famoso blog que deu origem ao livro, o crítico já refletia sobre o que chamou de “estilo francielliano”, uma maneira própria de mexer no verbo. Setaro considerava sua escrita distante dos discursos acadêmicos caracterizados, segundo ele, “pelo desprazer da leitura”. Como disse Xico Sá na orelha do livro, “besta é tu que ainda não conhecia a maldita ingresia”…
“Se você gritar, eu te mato aqui mesmo”. Essa foi uma das frases ouvidas pela haitiana Martine Gestimé de um militar brasileiro, enquanto era estuprada dentro da base militar, em Porto Príncipe, capital do Haiti. A história de Martine está descrita no livro reportagem “Aquilo que resta de nós” (Páginas Editora), do jornalista Igor Patrick. Escrita em 10 dias, a publicação de 146 páginas é o resultado de uma investigação que durou sete meses. Igor viajou ao país como correspondente da agência de notícias russa Sputnik, para cobrir o final da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do país, a Minustah. Além do drama de Martine, a obra traz os relatos de outras haitianas vítimas da violência: Jacquendia, Régine e Fabiana. Com vidas marcadas pela miséria, em um país destroçado, física e simbolicamente como nação, elas têm em comum a luta pela sobrevivência.
A violência sofrida por elas é mais um capítulo de um cenário trágico, onde militares foram convocados para promover a paz, mas distribuíam o horror. “Uma delas foi estuprada por um soldado brasileiro; outra, por um jordaniano; a terceira, por um nigeriano; e a última, por um africano, que ela nem sabe o país”, conta o autor. Cada página apresenta ao leitor, com riqueza de detalhes, o antes dessas mulheres, repleto de sonhos e desejos de uma vida mais justa. Mas, após os abusos, elas conheceram a crueza do pós-violência sexual, que trouxe o trauma, a culpa, a hostilidade dos familiares e o abandono das vítimas grávidas por seus algozes.
As quatro sobreviventes foram obrigadas a criar os filhos resultantes de seus estupros. No Haiti, o aborto é uma prática proibida pelo código penal. As mulheres podem ser presas e o profissional de saúde que realiza o procedimento pode ser obrigado a trabalhos forçados, situação que acaba obrigando muitas a levar a gravidez até o fim, mesmo quando em consequência de atos criminosos. Além disso, até 2008, a lei haitiana não permitia que crianças sem pais declarados fossem registradas. Com isso, aquelas que nasceram até então – como a filha de 9 anos de uma das personagens, estuprada pelo jordaniano – estão num limbo jurídico, sem documentos e sem existir oficialmente. “O que vemos no livro é a história de mulheres que, fragilizadas pela pobreza, foram alvo de soldados que deveriam promover a paz e a segurança. No lugar da ajuda, veio o estupro”, diz Igor Patrick.
O jornalista entrou em contato com o Ministério da Defesa sobre a denúncia feita pela sobrevivente Martine Gestimê contra o soldado brasileiro no livro. Dez dias depois, recebeu uma nota oficial sobre o orgulho do Exército nacional em não ter nenhum soldado na lista dos investigados da ONU. “Entrevistei o embaixador, e ele não quis entrar no mérito do caso contra o soldado brasileiro, porque a vítima diz ter sido atraída para a base militar nacional com a promessa de um pacote de biscoitos e estuprada ali dentro. Segundo ele, se isso fosse investigado e comprovado, ele precisaria de orientações do Itamaraty porque não tinha precedentes sobre o que fazer a respeito”, revela Patrick.
Ele entrevistou várias mulheres haitianas que afirmam ter sido violentadas por brasileiros e, chegou, inclusive, a tentar ajudar uma delas – uma menina de 16 anos que foi violentada e já tem uma filha de 3 anos – mas descobriu por que quase nenhuma sobrevivente denuncia o crime. “O embaixador não aceita recebê-la porque estaria corroborando a denúncia. O advogado mais barato cobra US$ 200 só para ouvir o caso – de uma mulher que não tem dinheiro para comer”.
Os direitos autorais do livro foram integralmente revertidos para a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que atua no Haiti prestando trabalhos de emergência pediátrica, obstetrícia, prevenção e tratamento da cólera e acompanhamento emergencial para vítimas de abuso sexual no país.
Legado de violência
Soldados brasileiros desembarcaram no Haiti, em 2004, para liderar tropas de diversas nações da Minustah. Após 13 anos, eles retornam ao Brasil como corresponsáveis por uma ação que deixou para o Haiti um legado de mais de 30 mil mortos, em decorrência da cólera, e mais de duas mil vítimas de abusos sexuais, entre outras violências. A missão de paz, encerrada pela ONU no último domingo (15), chegou a reunir em território haitiano 20 mil militares de várias nacionalidades, como Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Filipinas, Guatemala, Indonésia, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Sri Lanka e Uruguai.
“A Minustah também fez muita violência contra os estudantes, contra os pobres que moram nas favelas. Estupraram as mulheres, os homens. Cometeram muita violência contra as pessoas no país e também trouxeram a epidemia de cólera. Foi um desastre muito grave feito pela ONU”, afirmou em entrevista ao Brasil de Fato o membro do partido Encontro dos Socialistas, Guerchang Bastia.
Em uma ação muito criticada, soldados brasileiros entraram na favela de Cité Soleil, habitada por 200 mil pessoas, e cometeram o que os haitianos consideram ser um massacre. Pelo menos 27 civis morreram durante a ação, sendo que 20 eram mulheres com menos de 18 anos. Bastia conta que o episódio é considerado um ensaio para as ações comandadas pelo Exército brasileiro nas favelas do Rio de Janeiro: “Os soldados brasileiros mataram muitas pessoas nas favelas do Haiti. Entendemos, porque o Brasil tem favelas, então, eles se preparam para lutar contra os pobres e, para isso, experimentaram essas novas estratégias nas favelas no Haiti”.
O cenário de violações será denunciado no Tribunal Popular que está organizando ações em todo o país para denunciar a ocupação. O Tribunal Popular, iniciado em julho, vai realizar atividades em todo o Haiti até 2018. As denúncias serão importantes para mensurar quantas pessoas morreram pelas mãos da Minustah, já que não há nenhum balanço efetivo das Nações Unidas com esses dados.
*Com informações de Jeff Lorentz para o portal Bhaz, jornal O Tempo e site Brasil de Fato.