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Torturas em instalações militares vão ser investigadas pelas Forças Armadas

Palco de torturas e mortes durante a ditadura, sete unidades militares de Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Belo Horizonte serão alvo de uma comissão de sindicância das Forças Armadas. Após 50 anos da instalação do regime militar no Brasil, o Ministério da Defesa informou, nesta terça-feira (1º), que Exército, Marinha e Aeronáutica acolheram o requerimento da Comissão Nacional da Verdade (CNV) para investigar a prática de tortura nas instalações militares durante o período ditatorial.

Antigo prédio do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro/ Foto: Reprodução-Internet

A investigação tem como foco o uso sistemático e indevido de quartéis, que ficaram conhecidos como centros de tortura, conforme relatório de 50 páginas. “É imperioso o esclarecimento de todas as circunstâncias administrativas que conduziram ao desvirtuamento do fim público estabelecido para aquelas instalações, configurando o ilícito administrativo do desvio de finalidade, já que não se pode conceber que próprios públicos pudessem ter sido formalmente destinados à prática de atos ilegais”, afirma o documento.

Será a primeira vez desde a redemocratização do país que os militares se dispõem a apurar um tema relacionado à ditadura. Até então, as Forças Armadas nunca admitiram responsabilidade pelos abusos cometidos no período, que sempre foram atribuídos pelos comandantes militares a excessos de agentes que teriam agido sem o aval de seus superiores. Além disso, resistiam a passar informações à comissão, criada para reescrever a versão oficial de violações dos direitos humanos.

Quartel do 12º RI em Belo Horizonte. De acordo com o dossiê Brasil Nunca Mais, 74 pessoas foram torturadas no local durante o regime militar/Foto: Estado de Minas

Para o coordenador da CNV, Pedro Dallari, a resposta das forças armadas “é um gesto muito importante, que pode representar um grande avanço para a apuração das graves violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar”.

A CNV sustenta que unidades como a Base Aérea do Galeão e a Base Naval da Ilha das Flores, no Rio, além de DOI (Destacamento de Operação e Informações) do Exército em São Paulo e no Recife, foram comprovadamente usadas para prática de tortura. Em Minas Gerais, o local usado para torturar os opositores ao regime militar, segundo a Comissão Nacional da Verdade, era o quartel do 12º regimento de infantaria do Exército. A Comissão apontou os casos de 15 presos políticos torturados e 9 mortos nesses locais. Em todos esses casos, o governo brasileiro reconheceu a responsabilidade do Estado e indenizou vítimas e familiares.

Sindicâncias

Em fevereiro, quando a CNV pediu ao ministério que os próprios militares investigassem o que houve em suas instalações, o objetivo era obrigar as Forças Armadas a se posicionar sobre o assunto, tratado até hoje como tabu pelos militares. A comissão fez um levantamento das ocorrências de tortura, entre os anos de 1964 a 1985, e apontou o “uso sistemático” de sete instalações das Forças Armadas para a tortura e morte de opositores durante o regime militar.

Após ser acionado pela CNV, o Ministério da Defesa encaminhou o requerimento às três Forças. De acordo com o Exército, a sindicância foi aberta na última terça-feira (25). A Marinha e a Aeronáutica responderam ao requerimento ontem e confirmaram que vão disponibilizar diligências para investigar todas as denúncias de tortura em suas dependências. O comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Juniti Saito, designou por portaria o major-brigadeiro do ar Raul Botelho, comandante do Terceiro Comando Aéreo Regional (III Comar, Rio de Janeiro), como o encarregado da sindicância.

Informações do Portal R7 Notícias, Folha de S. Paulo e Metro Jornal

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Deputados cassados pela ditadura têm devolução simbólica de mandatos em sessão histórica

Os 50 anos do Golpe Civil-Militar de 1964, completados nesta segunda-feira (31), foram lembrados com uma homenagem na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). A Comissão Especial da Verdade na Bahia, presidida pelo deputado Marcelino Galo (PT), reescreveu a história política dos parlamentares baianos que foram cassados entre 1964 e 1969 na Bahia por defender a democracia e as liberdades individuais. Políticos, entre eles o governador do Estado, Jaques Wagner, e o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo (PDT) – que conduziu a cerimônia –, além de familiares, representantes de setores da sociedade civil e estudantes acompanharam a devolução simbólica dos mandatos aos 13 deputados.

Foto: Manu Dias – govBA

Dos quatro ainda vivos, três estiveram presentes: o médico Luiz Leal, o petroleiro Wilton Valença e o advogado Marcelo Duarte. “A gente sentiu sempre a falta disso. […] Hoje, se restaura tudo que aconteceu de ruim naquele período”, disse Leal pouco antes do início da homenagem. No discurso de agradecimento, sua filha, Magali Leal, fez uma crítica às recentes manifestações a favor do retorno à ditadura. “Tem me arrepiado ver nessas redes sociais mensagens a respeito da volta daquela época. Felizmente, também existem pessoas lutando contra”, afirmou.

O secretário da Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), Nestor Duarte, filho do deputado cassado Marcelo Duarte, se emocionou ao agradecer a honraria e ao relembrar fatos ocorridos na sua infância. “Na escola, sempre me perguntavam: Seu pai está preso? Ele roubou alguma coisa? [..] Nunca vou esquecer uma frase que ele dizia: ‘Vencer sem orgulho, perder sem desespero’”, contou com a voz embargada.

Foto: Manu Dias – govBA

Sebastião Nery não pôde comparecer por problemas de saúde e foi representado por sua irmã, a freira Maria de Fátima Nery. Já Wilton Valença, fez questão de tomar a palavra e chorou ao agradecer a homenagem e lembrar da mãe e dos amigos de luta. Os falecidos foram representados por familiares, como a filha de Ênio Mendes, Raquel Mendes de Carvalho, que contou a história de seu pai, o qual, ao ser citado, foi aplaudido de pé pela plateia.

Antes da entrega dos títulos, o deputado Marcelino Galo (PT), presidente da Comissão que investiga as violações cometidas por agentes da ditadura militar na Bahia, exibiu trechos de depoimentos sobre a repressão militar e chorou ao falar da importância do momento. “Fui um dos jovens da luta dos anos 70, assim como Wagner. […] Minha participação no movimento estudantil foi decisiva para eu estar aqui hoje, cumprindo este papel”, declarou, entre pausas de emoção. Galo ainda saudou os estudantes que participavam da celebração. Entre eles, os da Escola Estadual Carlos Marighela, que recebeu este nome no dia 14 de fevereiro em homenagem ao político, poeta e guerrilheiro baiano que combateu o regime ditatorial. “Além de ser uma experiência cívica, em nível histórico, isso não tem precedentes”, disse a diretora da instituição, professora Aldair Dantas, que acompanhava os jovens do primeiro ao terceiro ano.

Foram devolvidos simbolicamente os mandatos dos deputados estaduais Diógenes Alves, cassado em 28/04/1964; Ênio Mendes de Carvalho, cassado em 28/04/1964; Sebastião Augusto de Souza Nery, cassado em 28/04/1964; Wilton Valença da Silva, cassado em 19/10/1966; Hamilton Saback Cohim, Arena, cassado em 13/03/1969; Luiz da Silva Sampaio, cassado em 01/07/1969; Marcelo Ferreira Duarte Guimarães, cassado em 13/03/1969; Osório Cardoso Villas Boas, cassado em 01/07/1969; Aristeu Nogueira, cassado em 19/10/1964; Luiz Leal, cassado em 01/07/1969; Octávio Rolim, cassado em 1964; Oldack Neves, cassado em março de 1969 e Padre Palmeira, cassado em 1964.

A restituição dos mandatos é resultado do projeto de resolução nº 2.210/2013, que restaura os mandatos dos deputados estaduais cassados entre 1964 e 1969. Também na Alba, a Comissão Especial da Verdade investiga as violações cometidas por agentes da ditadura militar sobre o parlamento baiano.

Informações de Fernanda Aragão para o Bahia Notícias, com CBN.

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