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MP conclui inquérito da chacina no Cabula e vai denunciar PMs

A investigação criminal conduzida por um grupo de promotores do Ministério Público Estadual da Bahia (MP-BA) sobre a chacina ocorrida na Vila Moisés, no bairro do Cabula, concluiu que 12 pessoas, entre homens e adolescentes, foram rendidos e mortos a tiros por policiais militares durante a operação das Rondas Especiais (Rondesp), no dia 6 de fevereiro. O documento produzido pela Promotoria, que resolveu abrir investigação própria por causa da repercussão do caso, vai ser a base para o indiciamento dos acusados. De acordo com o promotor responsável pelo inquérito, Davi Gallo, uma ação penal que será entregue à Justiça na próxima segunda-feira (18) solicita medidas de punição para alguns autores e, se a peça for aceita, os acusados poderão ser lavados a júri popular pelos homicídios.

Integrante da equipe de seis promotores que apuram o caso, Gallo contou ao jornal Tribuna da Bahia que uma coisa é certa: “vai haver punição”. No entanto, o promotor afirma que o Estado da Bahia ainda não será acionado como réu pelas mortes na Vila Moisés. “Por enquanto, não podemos dizer o número de policiais, nem o tipo da denúncia. Ainda estamos confeccionando a denúncia, mas nós concluímos com responsabilização a algumas pessoas. Ou seja, elas responderão à ação penal”, explicou. Ele lembra que ainda não foram divulgados oficialmente o resultado de outras duas investigações, o da Polícia Militar no âmbito da Corregedoria (que sustenta que houve confronto, de acordo com fontes que tiveram acesso ao caso) e o da Polícia Civil, mas esse fato não retarda o ingresso da ação, que tramita na Vara do Júri.

Quanto à matéria publicada no último dia 10 pelo jornal El País, na qual o veículo informa que os acusados serão indiciados por homicídio triplamente qualificado, o promotor avalia como notícia equivocada. “Colocou algumas coisas que eu realmente não falei. Concluímos a investigação, e agora estamos confeccionando a denúncia, que será entregue no dia 18. Somos uma equipe de seis promotores, não posso falar sem antes consultar os colegas. Pode ser que a informação deles (do jornal) coincida com as medidas que iremos solicitar, mas essa informação eu não dei”, esclarece.

Versão oficial

Uma vegetação densa, na Vila Moisés, foi cenário para a operação que deixou 12 mortos - Foto: Romildo de Jesus
Uma vegetação densa, na Vila Moisés, foi cenário para a operação que deixou 12 mortos – Foto: Romildo de Jesus

Segundo apurou o El País, as conclusões do MP-BA baseiam-se em depoimentos de testemunhas e perícias para afirmar que houve uma chacina, contradizendo frontalmente a versão da PM baiana, que informou que, naquela noite, seus homens enfrentaram cerca de 30 criminosos que se preparavam para explodir caixas eletrônicos perto dali. Foi uma ação “enérgica”, definiu, na época, o secretário de Segurança baiano, Maurício Barbosa, diante do saldo da operação, que deixou um policial ferido de raspão. O governador, Rui Costa (PT), comparou os policiais a “artilheiros” de futebol diante de um momento decisivo. “Eles [os mortos] vieram bem articulados, inclusive com uniforme. Estavam camuflados também”, afirmou o comandante da PM, Anselmo Brandão, segundo o G1.

O episódio tem potencial para agravar o histórico recente da Rondesp, as rondas especiais que se inspiram na Rota – unidade especial da Polícia de São Paulo famosa pela violência. A PM da Bahia ocupa o terceiro lugar, depois de Rio e São Paulo, no ranking da polícia que mais mata no país – com ao menos 234 mortes causadas em “confronto” em 2013, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, embora a Secretaria de Segurança fale em 13 vítimas. Questionada no mês passado, a secretaria de Segurança informou ao El País que a possibilidade de rever os procedimentos da Rondesp “está sendo analisada”.

*Informações do El País (Edição Brasil), Tribuna da Bahia e Bahia Notícias

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Pedro Simon falará para os baianos no dia 14 de maio

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e a Associação Comercial da Bahia (ACB) já estão convidando para a palestra do político gaúcho Pedro Simon (85 anos) que acontecerá no final da tarde de 14 de maio (quinta-feira) no salão nobre do Palácio Conde dos Arcos, sede da ACB, no Comércio. O ex-senador pelo Rio Grande do Sul estará na Cidade do Salvador no período de 13 a 15 e cumprirá aqui mais uma etapa do périplo iniciado em fevereiro deste ano e que se estenderá a todo o país.

Em abril, o Senado Federal publicou, em homenagem ao ex-senador Simon, o livro Confesso que lutei, contendo a íntegra do pronunciamento que ele fez em 10 de dezembro de 2014 quando se despediu da Casa, à qual dedicou 32 anos de sua vida. Na ocasião, o senador acentuou: “Acho que mais recebi, do que doei. Acho que mais fui perdoado, do que perdoei. Acho que mais vivi, do que morri. Mas eu lutei, confesso que lutei”.

Parceria das instituições

A iniciativa de convidar o político gaúcho, cujo primeiro mandato legislativo foi obtido em 1958 na Câmara de Caxias do Sul, foi da ABI e, de pronto, obteve o apoio da ACB. O evento do dia 14, no Palácio Conde dos Arcos, será aberto pelo presidente da ACB, empresário Marcos Fonseca, que dará as boas-vindas ao ex-senador (que estará acompanhado da esposa, D. Ivete, e pelo assessor Renato Abreu) e aos convidados. O presidente da ABI, jornalista Walter Pinheiro, em seguida, saudará o palestrante, enfatizando aspectos relevantes da vida do político gaúcho.

O político gaúcho, contemporâneo de Ulisses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves e outros brasileiros que resistiram com bravura à ditadura militar, viaja pelo país levando consigo a proposta de conciliação, criatividade e solidariedade. É nessa linha que ele se dirigirá aos baianos no encontro de 14 de maio. Após a palestra, Pedro Simon concederá a palavra à plateia. Os organizadores do evento aspiram que as intervenções se limitem a cinco ou seis, no máximo.

O ex-senador Simon é formado em Direito pela PUC-R e possui pós-graduação em Economia Política. Foi professor universitário e deputado estadual por três vezes pelo seu estado (nasceu em Caxias do Sul, RS, em 31 de janeiro de 1930. Seus pais eram libaneses). Foi ministro da Agricultura (escolhido por Tancredo Neves) no governo José Sarney e, em seguida, governou o Estado do Rio Grande do Sul. Foi senador a partir de 1978 e exerceu a senatória por quatro mandatos, três dos quais sucessivos.

 Por Luis Guilherme Pontes Tavares – RPMTBA 660

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As mães do Cabula, na Bahia: à procura de resposta por seus mortos

DEU NO EL País – Salvador estava menos abafada do que de costume naquela tarde no fim de abril. Com períodos intercalados de sol, havia chovido desde o meio-dia, o que para Marina de Oliveira era mais preocupação que alívio. “Deixa eu ver se entrou água dentro da casa”, disse ela, que cumprimentou rapidamente os presentes e sumiu no meio das casas na Vila Moisés, na zona do Cabula, na capital baiana. Quando voltou, a costureira de 57 anos explicou que a chuva não fizera estragos e que os netos, de 10 e 13 anos, estavam bem. A segurança de Nailson e Naiara é uma obsessão desde que outro neto, Natanael, foi morto, aos 17 anos, em uma controversa ação da Polícia Militar baiana, que deixou 12 mortos e cinco feridos em fevereiro. Todos com idade entre 16 e 26 anos, por tiros da polícia.

“Que polícia é essa que quebra o braço a ponto de estufar o osso para fora?”, conta ela, de cabelos presos num coque simples e óculos de grau. Agita-se, se põe de pé. Só desacelera o ritmo das palavras quando soluça, no meio do choro. Marina conta que, na noite de 5 de fevereiro, o neto saiu de casa dizendo que ia comprar uma pizza e encontrar Simone, a namorada. Nunca mais voltou. Quando viu de novo o menino, que criou desde os 13 dias de vida, foi numa foto do Instituto Médico Legal, no celular de uma conhecida. “Ele estava com uma bermuda azul, que foi até eu que fiz. Foi por causa disso que reconheci ele, por causa da etiqueta da Mido que eu coloquei”, diz ela, que viu Natanael “jogado como um cachorro”, com um osso do braço exposto, cercado de corpos no centro forense. “Aí eu não vi mais nada. Endoidei, comecei a gritar…”.

Inquérito da PM fala em “confronto”

Nesta quarta-feira se completam três meses da morte de Natanael e outros 11 no Cabula. O saldo de corpos, às vésperas do Carnaval, as diversas marcas de tiros e lesões, o protesto imediato dos parentes, que contestaram a versão da polícia – que falou em “confronto” com supostos criminosos que planejavam um assalto a banco, num primeiro momento – e as desastrosas declarações feitas pelo governador baiano, Rui Costa (PT), trouxeram holofotes para o caso. Horas depois das mortes, Costa comparou os policiais a “artilheiros” que, em “frente a um gol”, têm poucos segundos para decidir como agir. A metáfora futebolística chocou ativistas e parentes das vítimas num Estado onde a violência policial ganha manchetes frequentes. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 11.197 pessoas foram mortas pela polícia brasileira, nos últimos cinco anos. A PM da Bahia ocupa o terceiro lugar neste ranking (com ao menos 234 mortes causadas em “confronto” em 2013, segundo o Anuário, embora a Secretaria de Segurança fale em apenas 13). Chama a atenção os episódios envolvendo a Rondesp, as rondas especiais que se inspiram na Rota, a unidade especial da Polícia de São Paulo famosa pela violência.

A Anistia Internacional lançou nota, citando “indícios de execução”, com base em depoimentos que colheu. O movimento Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta, que defende direitos dos negros, também protestou contra o governador. Pediu proteção às testemunhas do crime e ajudou a articular manifestações pelos 12 do Cabula, que julgam terem sido mortos numa chacina. “Foi a banalidade do mal. A vida que não tem o menor valor de pessoas pretas que podem ser mortas porque ninguém reclama”, diz Hamilton Borges, do Reaja.

Uma semana após os assassinatos, houve uma marcha na Vila Moisés, que foi acompanhada por um integrante da Anistia Internacional. “A manifestação foi escoltada pela polícia militar que, durante vários momentos, intimidou participantes, inclusive o nosso representante”, diz Renata Neder, da Anistia. “Segundo informações recebidas, desde aquele dia têm sido frequentes no local operações policiais de caráter intimidador, fazendo com que os moradores se sintam ameaçados”, segue ela. Causa especial angústia nos parentes das vítimas o fato de os policiais acusados seguirem trabalhando normalmente, inclusive na zona. “Todos estão tendo acompanhamento psicológico, mas continuam trabalhando, até porque as investigações continuam e nada foi provado contra eles”, respondeu, ao EL PAÍS, a Secretaria de Segurança da Bahia.

O maior problema do quadro, também relatado por Hamilton Borges, é que, na avaliação da Anistia, ele contamina as investigações. Desde as mortes do Cabula, três diferentes procedimentos investigativos foram instalados. Um Inquérito Policial Militar, no âmbito da corregedoria da PM, uma investigação na Polícia Civil, e um Procedimento Investigativo Criminal, posto em marcha a pedido do Ministério Público do Estado da Bahia.

Conforme este jornal apurou, o inquérito da PM encaminhado à Promotoria Militar vai sustentar que houve, sim, confronto entre os policiais e os os mortos em Cabula. A polícia e a Secretaria de Segurança já haviam citado, antes, a apreensão de armas e de emulsão para explosivos para corroborar a hipótese de que o grupo, estimado em 30 pelos policiais, resistiu armado quando viu seu plano de assaltar um banco ser desbaratado. Contra a versão, os parentes dos mortos e ativistas dizem que o saldo macabro da ação – 12 mortos e cinco feridos contra apenas um policial foi atingido por uma bala, de raspão – é um dado eloquente, ao lado de laudos de autópsia publicados pelo jornal Correio de Bahia. Segundo o jornal, a maioria das vítimas foi atingida por mais de cinco tiros, alguns deles de cima para baixo, o que configuraria execução.

Além disso, alguns mortos estariam com perfurações nas palmas da mãos, braços e antebraços, sendo que apenas quatro baleados tinham vestígios de pólvora nas mãos. Os laudos também apontam que a maioria apresentava pelo menos cinco marcas de tiros — alguns deles disparados a curta distância, de menos de 1,5 m. Uma fonte ligada à investigação do caso afirmou ao Correio que disparos desse tipo indicam que as vítimas foram mortas em posição de defesa e indica que há “sinais evidentes de execução”. “Sustentarão a tese do confronto como, de resto, todas (as polícias) sustentam em episódios semelhantes, embora laudos, as testemunhas e as biografias das vítimas digam o contrário”, protesta o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que diz que é preciso discutir para as mortes de Cabula para “descentralizar a atenção” das violações de direitos humanos do eixo Rio-São Paulo.

A esperança dos parentes das vítimas e ativistas, agora, é que o Ministério Público contrarie a PM e indicie os policiais envolvidos. “Pode ter certeza que a sociedade vai ter uma resposta”, diz o promotor Davi Gallo, coordenado do grupo designado pela Promotoria estadual para investigar o caso. As conclusões do grupo, um tomo de mais de 200 páginas, foi entregue nesta semana ao procurador-geral de Justiça, Márcio Fahel, que solicitou a investigação. “A última palavra é do Ministério Público e a sociedade pode ter certeza de que terá uma resposta adequada”, afirma Gallo. “Supõe-se que a maioria deles estavam ali fazendo tráfico de entorpecentes”, segue o promotor, em aparente choque com a versão primeira da polícia, sobre preparação para assalto a banco. Gallo diz ter “implorado”, sem sucesso, para ter depoimentos de testemunhas e atribui o fato, também, a uma pressão dos narcotraficantes na zona. “O crime, com farda ou sem farda, toma conta da sociedade”, conclui.

Morto duas vezes

“Se a polícia disser que meu filho era traficante, eu vou xingar de Dilma ao vereador. Eu vou exigir provas”, revolta-se Marina, a mãe-avó de Natanael. “Nem que eu tome um tiro. Mesmo que eles estivessem fazendo coisa errada, eles não tinham direito de fazer o que fizeram”, rebate. Ao contrário de Marina, Adelaide, uma aposentada de 54 anos, tem um fio de voz e se move pouco. Chora baixo enquanto fala do filho de 26 anos morto na ação policial do Cabula. Prefere nome fictício e teme pelo filho mais velho. “Passei o dia com dor de cabeça só de pensar que mudaram os lugares que os ônibus param”, se angustia. Mas, como Marina, não está disposta a ver a versão da polícia prevalecer. “A forma que eles colocaram, dizer que eram assaltante de banco…”, comenta, sobre as acusações da polícia. “Achei que eles tiraram a vida do meu filho duas vezes. Fica difamado.”

Para Adelaide, viver naquela zona do Cabula é esperar batida da polícia. “Chegam chamando de tudo quanto é nome, atirando. Um dia meu cunhado estava na varanda enquanto minha irmã costurava umas bolsas de uma encomenda. Teve que deitar no chão para sair dos tiros.” Ela não consegue esquecer como ficou o corpo do filho, que havia saído, há pouco, de um emprego em uma empresa transportadora.

Marina diz que só esquece de Natanael quando está concentrada para fazer os moldes da costura: “É a crueldade que mais me dói. Minhas noites são perdidas de sono. Durante o dia, eu não estou lembrando dele porque eu não tenho espaço. Eu faço mostruário. Eu faço a primeira peça para ir por corte, então não tenho tempo de lembrar de nada. Nem da casa eu lembro. Então, quando dá meio dia, eu lembro do que ele comia… É tanto que não estou nem fazendo nada que ele comia para a gente comer. Nada. Faço tudo ao contrário, para não lembrar. Aí eu penso nele: será que ele já comeu?”

*Texto de FLÁVIA MARREIRO, originalmente publicado pelo jornal El País em 7 de maio de 2015.

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Denúncia do autoritarismo chavista marca cerimônia dos Prêmios Ortega y Gasset

“O jornalismo é uma aventura e, frequentemente, uma aventura perigosa para os que amam e defendem a liberdade”, definiu o escritor peruano Mario Vargas Llosa em seu discurso na cerimônia de entrega dos prêmios Ortega y Gasset de Jornalismo, concedidos pelo El País na última quarta-feira (6). Ninguém melhor encarna o espírito das palavras de Vargas Llosa que Teodoro Petkoff, cuja ausência marcou o tom festivo da noite. Aos 83 anos, o jornalista símbolo da resistência democrática no jornalismo da Venezuela foi obrigado a discursar à distância. O Governo de Nicolás Maduro o proibiu de sair do país para receber o prêmio pela trajetória profissional, outorgado por unanimidade. “Tenho o país por cárcere”, clamou com voz potente e clara através de um vídeo o fundador do jornal Tal Cual, que após 15 anos como referência política e informativa em favor da liberdade de expressão foi forçado a fechar as portas em março e agora luta para sobreviver no mundo digital.

Um jornal que, nas palavras de Petkoff, é “porta-voz dos melhores interesses e aspirações dos venezuelanos que queremos viver em um país democrático, aberto e seguro para todos”. As palavras foram poucas, mas contundentes, um clamor pela liberdade e pelos direitos. O informador denunciou que o regime chavista transgride direitos fundamentais. “Este é um prêmio à Venezuela lutadora, empenhada em viver democraticamente”, acrescentou o combativo informador na 32ª edição dos prêmios, que contou com a presença de personalidades de destaque na política, na cultura e na economia.

A defesa da imprensa livre e a denúncia do autoritarismo do regime chavista pairou sobre a cerimônia de premiação, mantendo todos os focos sobre a Venezuela, palco de sérias violações aos direitos humanos e à liberdade de expressão. As recentes prisões de líderes opositores ao governo e os ataques à imprensa tem levado ao enfraquecimento das instituições democráticas daquele país, segundo dados da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).Uma grande expectativa cercou a presença do ex-primeiro-ministro Felipe González, que se ofereceu para defender os líderes da oposição venezuelana presos e foi encarregado de receber o prêmio concedido a Petkoff. Um homem, segundo González, que é “a consciência crítica irredutível da esquerda, que acredita na liberdade dos leitores e dos eleitores. Por isso incomoda tanto e a tantos”.

Vargas Llosa-Foto-El País
“Teodoro está travando uma duríssima batalha em uma ditadura que vai fechando espaços de liberdade”, disse Vargas Llosa – Foto: El País

O escritor e prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, encarregado de encerrar o evento, falou de maneira emocionada sobre a coragem de um homem como Petkoff. “É um prêmio muito justo para alguém que é um símbolo da resistência democrática a um regime que vai fechando cada vez mais os pequenos espaços nos quais ainda podia funcionar um jornalismo independente e crítico. Ninguém utilizou com mais coragem e lucidez as convicções democráticas”, disse Vargas Llosa. “Ele demonstrou que o regime de Chávez e agora o de Maduro não é, como pretendem, um regime progressista e de grandes reformas sociais, mas sim autoritário, caudilhista e populista”, acrescentou. E considerou Petkoff “um exemplo de serenidade, ação democrática e espírito de resistência em um país onde a oposição está sendo assediada, perseguida, encarcerada, multada e julgada. Não o dobraram”.

Tampouco dobraram Gerardo Reyes, prêmio de jornalismo digital por uma reportagem sobre as máfias da mineração na América Latina publicada no site da Univisión, muito crítico às ameaças que se abatem sobre o jornalismo de investigação. “O panorama é deprimente. São elaboradas leis cada vez mais sofisticadas, como no Equador, onde se pune não só o que se diz, como também a intencionalidade”, afirmou. Também na Espanha a informação sofre os efeitos de um governo cujo presidente não responde perguntas e discursa através de um televisor de plasma. É a crítica que fazem Pedro Simón e Alberto di Lolli, prêmio de jornalismo impresso pela série de reportagens La España del despilfarro (A Espanha do desperdício), publicada pelo jornal El Mundo.

“Isso é gravíssimo. Os jornalistas continuam indo a esses pronunciamentos em que não é permitido fazer perguntas; acatamos uma norma aprovada no Congresso que proíbe fazer fotos dos parlamentares em suas cadeiras utilizando dispositivos eletrônicos”, destacaram. Simón quis ressaltar a precariedade de um ofício que muitos tiveram de abandonar “para servir bebida em bares e poder sobreviver”. “É o precariodismo [jornalismo precário], que acabou com 12.000 postos de trabalho desde o início da crise”, lamentou o repórter. Já fotógrafo José Palazón encorajou seus colegas a continuar fazendo fotos, e que nunca falte tinta na caneta. “Que a voz não se apague”, proclamou ao receber um prêmio que dedicou “a todos os que estiveram, ombro a ombro, na cerca de Melilha, opondo-se à política de fronteiras hispano-marroquina: ativistas, fotógrafos, jornalistas, juristas…”.

*Informações do El País e Estadão

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