Duas atividades que se complementam, se entrecruzam e, diversas vezes, trocam de lugar. Duas formas de se contar histórias, cada uma com sua dose de verdade e sua apropriada medida ficcional. As confluências entre literatura e jornalismo serão debatidas durante o I Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura, evento promovido por meio de uma parceria entre a Academia de Letras da Bahia (ALB) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI). A abertura do Simpósio acontece no mesmo dia em que é celebrado o Dia do Jornalista, data instituída em homenagem ao médico, político e jornalista italiano radicado no Brasil, Libero Badaró. O evento será online e transmitido pelo canal do YouTube da ALB, nos dias 7, 8 e 9 de abril, das 18h às 20h.
“O Simpósio inaugura um esforço de aproximação entre duas entidades historicamente comprometidas com a promoção de cultura e da liberdade, e propõe reflexões importantes sobre os reflexos da conjuntura na vida de quem escreve, seja a escrita jornalística ou literária”, destaca o jornalista Ernesto Marques, presidente da ABI. No dia 7, ao lado do professor, antropólogo e atual presidente da Academia de Letras da Bahia, Ordep Serra, ele realizará a abertura do evento. Na sequência, terá início a mesa “Limites da liberdade de expressão e direitos hoje, no Brasil”.
A Mesa I terá participação do jornalista, escritor, e ex-professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA), Emiliano José, do professor-titular de jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Muniz Sodré, e do professor-titular de teoria da comunicação da Facom/UFBA, Wilson Gomes. A mediação ficará com Jussara Maia, pesquisadora e professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
“Tenho certeza de que vai ser um dos eventos mais importantes do nosso ano cultural. Em primeiro lugar, porque ele consagra a aliança entre essas duas instituições. Em segundo lugar, porque consagra um tema dos mais sérios, a liberdade de imprensa, o valor da produção literária que os veículos de imprensa transmitem para o povo”, ressalta o presidente da ALB, professor Ordep Serra.
De Machado de Assis a Graciliano Ramos, Nelson Rodrigues, Oswald e Drummond, a imprensa sempre teve uma presença marcante na história de muitos escritores brasileiros, que enriqueciam as páginas dos jornais com seus artigos, críticas, crônicas e folhetins. Segundo o acadêmico, “a história da literatura baiana e brasileira é uma história que envolve a produção de extraordinários jornalistas”. Ele destacou, por outro lado, o feedback contrário. “Nossa literatura penetra nos jornais e volta deles para nós, escritores. Isso é importante no presente momento em que vemos tentativas de retorno a censura e não só tentativas, atos brutais de censura ameaçando os escritores, por isso convido a todos a participar desse Simpósio”, completa o gestor.
A segunda mesa, programada para o dia 8 de abril, conta com a presença do jornalista e vice-presidente da Assembleia Geral da ABI, Sérgio Mattos, da jornalista e professora da Faculdade de Comunicação da UFBA, Malu Fontes, e da escritora Kátia Borges. O tema será “O espaço e conteúdos de cultura nos jornais, televisão, rádio e plataformas digitais”, com mediação da diretora do departamento de divulgação da ABI, a jornalista Simone Ribeiro.
A mesa III, “Jornalismo e Literatura: interfaces”, terá participações do escritor Antônio Torres, jornalista, membro da ALB e da Academia Brasileira de Letras (ABL), da jornalista e escritora Aline D´Eça e do doutor em ciências da comunicação Edvaldo Pereira Lima. A jornalista e escritora Suzana Varjão assumirá a mediação.
Serviço:
I Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura
Quando: 7, 8 e 9 de abril de 2021 das 18 às 20h
Onde: Online, via YouTube da Academia de Letras da Bahia (ALB)
A Associação Bahiana de Imprensa lamenta que a imagem da Bahia ganhe o mundo por conta das cenas registradas na véspera do aniversário de Salvador, tendo ao fundo um dos mais conhecidos cartões postais da nossa capital, e se solidariza com familiares, amigos e colegas do policial executado. O abuso do conceito sempre reivindicado pelas autoridades da Segurança Pública, de “uso progressivo da força” desta vez teve um agente das forças de segurança como vítima, mas cotidianamente cidadãs e cidadãos, protegidos pela Constituição com a qual todos estamos comprometidos, são vítimas dos excessos e do abuso desproporcional da força de armamentos e munições letais, comprados com dinheiro público e confiados a servidores civis e militares treinados e remunerados com a mesma fonte, qual seja, o trabalho de quem tem o direito de sentir protegido, em vez de ameaçado pelo Estado.
A ABI repudia ainda, mais uma vez, as cenas de despreparo e absoluta irresponsabilidade dos policiais envolvidos na operação de desfecho trágico para um dos seus, quando, a pretexto de isolar a área onde acontecia o cerco ao soldado em surto, as equipes de reportagem foram vítimas, felizmente não fatais, da mesma violência. Não se pode esperar menos do que a identificação, abertura de procedimentos disciplinares cabíveis e punição exemplar para os policiais que apontaram fuzis em direção aos jornalistas e dispararam para o alto.
Não é a primeira vez que a entidade denuncia e publicamente pede providências ao Comando-geral da corporação e à Secretaria de Segurança Pública, bem como ao comandante-em-chefe da Polícia Militar, secretário da Segurança Pública e o Exmo. Sr. Governador do Estado, sobre a forma abusiva e afrontosa como são tratados os profissionais de imprensa no cumprimento do seu dever de reportar fatos de interesse público. Trata-se de chaga antiga e conhecida, que transcende mandatos e comandos. Cada caso semelhante, premiado com a reiterada impunidade, constitui-se em estímulo para novos abusos com potencial para se converterem em novas tragédias.
A ABI espera uma ação efetiva e imediata destas autoridades quanto a mais este episódio de abuso a suceder uma extensa lista de precedentes não menos absurdos.
Foi a paciência que deu a Luciano Andrade o Prêmio Esso de fotografia de 1985. Ano da redemocratização. Luciano de campana no Congresso Nacional. Esperou até que capturou o “instante decisivo”, o flagrante do “pianista”.
O conceito criado por Henri Cartier-Bresson (1908-2004) foi lembrado pelo fotógrafo Xando Pereira ao falar do amigo e parceiro, morto nesta terça-feira (23), vítima de um câncer de próstata, segundo informou a família. O corpo será cremado no Jardim da Saudade.
“Luciano foi uma pessoa muito importante na minha vida, fizemos trabalhos juntos, e ele tinha aquela paciência que todo repórter fotográfico tem que ter. As fotos dele falam, são mais tranquilas, parece que ele não está presente, que os personagens estão ali sem vê-lo, ele tem muito de Cartier Bresson, a tranquilidade dele é impressionante”.
Luciano atuou como cinegrafista na década de 70 e trabalhou com cinema 35mm. Dedicou-se à fotografia jornalística nos veículos A TARDE, onde foi editor de fotografia (2006/2007) e Tribuna da Bahia, além das principais redações do país: Folha de São Paulo, Isto é, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo, Veja, Carta Capital. Recebeu os prêmios fotográficos Abril(1983), Nikon e Esso (ambos em 1985). Em 2009, lançou o banco de imagens Photobahia.
Nas redes sociais, a fotógrafa Margarida Neide falou com admiração do colega, que ela conheceu no período em que trabalhou na Tribuna, antes mesmo de entrar para a faculdade. “Já era considerado um grande profissional”.
A jornalista Amália Casal Rey, diretora da ABI, comentou: “Grande perda. Luciano Andrade deixa uma lacuna e um grande exemplo como profissional e ser humano”. A jornalista Mariluce Moura também manifestou sua tristeza em relação à partida do fotógrafo e lembrou uma geração de talentos.
“Meu amigo e doce colega, grande fotógrafo, prêmio Esso de fotografia de 1985!!! Éramos então todos (Bob Fernandes, Eliane Cantanhede, José Negreiros, Teodomiro Braga, Dodora Guedes, falecida, Vanda Célia, Kleber Praxedes, Gilberto Dimenstein, falecido, Tania Fusco, Teresa Cardoso, Fernando Martins, José Varela, grande fotógrafo também já falecido, Sergio Leo, Nelson Torreão, Maria Luiza Abott, Ney Flavio, Kido Guerra, falecido, Rodolfo Fernandes, falecido, Carolina Fernandes, e tantos, tantos outros bons jornalistas, sob o comando de Ricardo Noblat e João Santana) profissionais da sucursal de Brasília do JB. Tempos animados da redemocratização, com os “pianistas” do Congresso aprontando suas fraudes e Luciano tentando, tentando, até que conseguiu flagrá-los!!!”
Bob Fernandes escreveu: “Queridíssimo amigo de décadas, parceiro de centenas de reportagens. Na Veja, JB, Folha, Isto É, Carta Capital, e no Canal no YouTube. Excepcional fotógrafo, fotojornalista, amigo. Solidariedade e carinho para família e amigos”.
Em 2017, no Dia do Jornalista (7 de abril) Luciano Andrade participou de uma homenagem aos grandes Mestres do Fotojornalismo, numa iniciativa do Sinjorba com as Faculdades FTC.
Se manter atualizado frente a uma era de precarização. Esse é o principal desafio enfrentado pelos profissionais da comunicação inseridos no contexto do jornalismo digital. É o que aponta Suzana Barbosa, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA). A especialista foi ouvida pela reportagem da ABI, junto a focas e veteranos da imprensa baiana. As experiências relatadas ajudam a entender como jornalistas têm se adaptado às transformações digitais e buscado alternativas para enfrentar a precarização do setor, problema intensificado pela pandemia de Covid-19.
Segundo Suzana Barbosa, antes de tentar entender o “jornalismo digital”, é necessário investigá-lo de acordo com sua história. “Entre os anos 90 e 95, o jornalismo online era uma terminologia bastante empregada. Com o passar do tempo, outros termos surgiram e vão tratar o jornalismo a partir de uma parte específica, que é o jornalismo da web ou webjornalismo. Depois, também o ciberjornalismo veio tratar desse ambiente do fazer jornalístico a partir da noção de uma cibercultura”, relata Barbosa, diretora em seu segundo mandato na Facom. Ela explica que a terminologia “jornalismo digital” passou a ser usada no final dos anos 90 e início dos anos 2000.
Para a pesquisadora, que integra o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom/Facom), jornalismo digital significa “usar os recursos e ferramentas específicas para produzir conteúdos jornalísticos apurados com ajuda de tecnologias, mas não apenas delas”, salienta. “O jornalismo, a apuração, se dá tanto no contato face a face com as fontes, na apuração por telefone e, atualmente, através das redes sociais, pelo WhatsApp, e em entrevistas virtuais”. Segundo ela, o contexto multiplataforma vem trazendo mudanças ao jornalismo há algum tempo. “Quando a gente marca o digital, é para falar de uma produção e de um conteúdo que está sendo digitalmente processado, realizado, publicado e circulado nas diversas plataformas”, explica.
De acordo com a professora, é necessária a inserção no contexto do jornalismo digital. “É preciso se manter atualizado, acompanhar efetivamente sites que produzem informações relacionadas ao fazer jornalístico, de modo geral. O inglês também é necessário, já que muitos conteúdos estão nessa língua”, indica. “O profissional tem que ter muita disposição para se colocar no mercado. Como jornalista, ele é uma marca em si. Quando a gente fala de um contexto de precarização diante de uma pandemia, isso ainda é mais forte”, conclui.
Meio digital, novo perfil
Se no mundo pré-pandemia já existia um leque de opções de atuação para jornalistas, essa tendência foi ampliada pelo modelo online, que, embora tenha reduzido redações, fechado gráficas e abalado o mercado editorial, fez prosperar a produção de conteúdo nos meios digitais. De olho nesse novo perfil profissional, o jornalista Afonso Ribas enxergou na convergência a oportunidade para se inserir no mercado, mesmo antes de sair da UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Ao lado das colegas Karina Costa e Victória Lôbo, ele fundou o Jornalismo Revolucionário, uma plataforma que produz conteúdos e estratégias para quem quer construir e fortalecer seu projeto de jornalismo independente no meio digital.
Para o diretor de conteúdo, é complexo pensar em uma definição para o jornalismo digital. “Ele abarca uma gama de características muito amplas e oferece inúmeras possibilidades para nós, jornalistas, por integrar, em um único meio – que é a internet – diferentes linguagens e formatos midiáticos: texto, imagem, vídeo, áudio, infografia, entre outros”, opina Ribas. O jornalista empreendedor tem desenvolvido conteúdos linkados com o atual cenário de crescimento do consumo de notícias e informações pelo público brasileiro nas redes sociais. Por aqui, o Instagram já ultrapassou o Twitter em uso para consumo de notícias. Desde 2018, o uso dessa plataforma para acessar notícias dobrou mundialmente, segundo dados do Relatório Digital News Report 2020, do Reuters Insititute.
O Jornalismo Revolucionário – que nasceu como Agência Ludus e também já foi o “@jornalistasocialmedia” –, além de produzir conteúdo para o Instagram, criou a Vem Pro Fluxo (veja aqui), uma newsletter semanal com seleções de oportunidades para profissionais e estudantes do setor. “Nós temos planos de criar um podcast futuramente, também voltado para jornalistas. Além disso, estamos no processo de desenvolvimento do nosso site. Ele será nosso cartão de visitas na questão de vendas e monetização do projeto”, adianta Karina Costa, cofundadora e diretora operacional do “JR”. Por lá, eles pretendem disponibilizar em detalhes todos os serviços e infoprodutos oferecidos nessa nova fase do projeto, que visa oferecer soluções práticas para jornalistas empreendedores.
Afonso Ribas foge da romantização e afirma que é preciso ter resiliência para se adaptar às mudanças constantes que ocorrem no mercado e para lidar com os altos e baixos que envolvem o empreendedorismo. “Não é uma jornada nada fácil. Antes de tudo, esse profissional precisa saber que o empreendedorismo não é um conto de fadas. É realmente muito bom ter o seu próprio negócio, ser livre para produzir sobre o que você quiser, mas não é fácil chegar até o momento em que esse projeto se torna sustentável”, alerta.
Segundo ele, o jornalista que quer se posicionar no mercado digital e se sustentar financeiramente com esse trabalho, precisa elaborar um plano de monetização. “O aspecto burocrático e administrativo da coisa ainda não é ensinado nas faculdades de jornalismo. Podemos falar pela nossa própria experiência acadêmica. Então, você, enquanto profissional disputando esse espaço no mercado digital, precisa correr atrás desse conhecimento. É preciso estar aberto a aprender com os profissionais do marketing, por exemplo”, recomenda.
Convergência midiática
Também para a jornalista Caroline Gois os currículos dos cursos de jornalismo precisam passar por reformulação, para atender à exigência do mercado por profissionais multiplataforma e polivalentes. “Foi a prática que me ensinou. Há uma transformação nos processos educacionais. A prática é fundamental e esta deve ser o quanto antes passada e exemplificada nas salas de aula”, defende a diretora do Portal A Tarde. “Na minha época, já tinha o ensino para rádio e internet, mas era a parte prática de ferramentas e técnica. Acho que vale ser passado o conceito de gestão, mercado e desafios da área. Unir teoria, técnica, prática e experiência sobre o dia a dia das redações”, afirma a gestora.
A profissional tem passagens por portais de grande repercussão na Bahia e ampla atuação no ambiente digital. A troca do dia a dia da reportagem pela atuação na área comercial aconteceu, segundo ela, de maneira “gradativa e natural”. Aos poucos, mergulhou na comunicação digital voltada para o desenvolvimento de veículos e focou na convergência midiática. “À medida que fui tendo experiências na área, fui galgando cargos de liderança e, quando vi, estava no digital”, conta Caroline, sobre seu início. Hoje, ela é sócia diretora do Grupo Mucugê – empresa responsável pela consultoria e gerenciamento de serviços na área comercial. “Fui aprendendo junto com o desenvolvimento da mídia digital, já que quando comecei era tudo muito novo e recente”, lembra.
No Grupo A Tarde, ela contribui com o Jornal e a Rádio, com o apoio dos líderes destas plataformas para convergir os conteúdos e levar a inovação ao centenário. Seu grande desafio foi consolidar o conteúdo numa plataforma nova para os consumidores do impresso, veículo que é o carro-chefe do Grupo – e que carrega a credibilidade em sua história. “Estabeleci processos, organizei equipes e produção, para que um jornal de 108 anos começasse a colocar em prática a linguagem digital propriamente dita. O Portal A Tarde existe há mais de 20 anos, mas era meramente uma réplica do impresso com poucas produções próprias”, explica.
Com mais de 14 anos de atuação liderando equipes, coordenando processos de treinamento, gestão e motivação pessoal em ambientes de redação jornalística e corporativo, Gois acredita que a principal mudança trazida pela demanda digital ao jornalismo foi no tempo da produção e apuração. Questionada sobre o que é essencial para a sobrevivência de um veículo de mídia digital, Caroline é enfática: “Qualidade, compromisso e jornalismo”. Segundo ela, o que não muda profissão, seja qual for o formato, é “a prática de contar histórias”.
“Prata da casa” no digital
O jornalismo mudou e, para quem iniciou a carreira sem tantas ferramentas digitais à disposição, se ver inserido nessa nova lógica de produção pode parecer assustador. “Eu sou meio jurássico. Tenho alguma dificuldade com a tecnologia digital”, admite o jornalista José Raimundo, que possui 42 anos de profissão e reportagens televisivas históricas em sua bagagem. Para ele, o convívio e uso de plataformas como WhatsApp, YouTube, dentre outras, são hábitos recentes. Com mais de 40 mil seguidores no Instagram, ele costuma publicar passagens da vida pessoal e da carreira, sendo bastante admirado. Foi por lá que ele anunciou sua saída da Rede Bahia, afiliada da Rede Globo, onde trabalhou por mais de três décadas.
“Não sou muito ativo nas redes sociais, posto na hora que dá vontade. Sei que tenho milhares de seguidores e devo satisfação a essas pessoas, porque elas carinhosamente me seguem, estimulam, acompanham meu trabalho, gostam de mim, e me sinto na obrigação de pensar sobre isso, participar mais das mídias sociais. Para mim, essa presença mais forte na rede aconteceu nesse novo momento que a gente está vivendo, na pandemia”, relata Zé Raimundo.
Durante sua trajetória no meio televisivo, Zé Raimundo teve muitas reportagens premiadas, como a série especial sobre adoções ilegais de crianças no interior da Bahia, produzida em 2012 para o Fantástico. “Tudo começou quando eu trabalhava em Recife, na Globo Nordeste e, atendendo a um convite da TV na Bahia, por uma orientação da própria Globo, eu voltei para o estado. Comecei minha carreira na TV Itapuã, mas antes tinha a Rede Tupi, peguei ela no fim, na falência do condomínio de [Assis] Chateaubriand”, lembra.
Agora, ele se prepara para uma nova fase na carreira. Assim como em entrevistas recentes, José Raimundo afirmou para a ABI que está começando um novo projeto junto a outros profissionais, e ele será veiculado por meio das mídias digitais. “Estou me associando a diversos amigos da área. Nós estamos buscando amadurecer ideias para conteúdos voltados para a área da cultura, do turismo, da agricultura. Produção sustentável, principalmente. Esse é nosso foco”, revela.
O projeto ainda não tem plataforma nem formato definidos, mas o jornalista tem uma certeza. “Minha intenção é continuar contando histórias, eu sou um contador de história. Mesmo as histórias do dia a dia, do factual, eu sempre tive esse foco muito voltado para o conteúdo delas. Quero continuar fazendo isso de uma forma que as pessoas tenham acesso quando quiserem”, destaca. “Não tenho dúvida que essa migração é obrigatória para todo jornalista que quer continuar produzindo conteúdo”.
Zé Raimundo acredita que a TV aberta tem uma vida longa pela frente. Segundo ele, essa longevidade vai requerer muito esforço dos jornalistas. “Ela precisa se reinventar. Eu sou recém saído da TV aberta, estou aprendendo a me reinventar também. O mundo mudou e, evidentemente, a gente não vive aquele ambiente tradicional das redações”, observa. A pandemia causada pela Covid-19, no entanto, é um desafio enfrentado pela equipe. “Se dependesse da minha vontade, já estaria na estrada, mas, dependemos do fim dessa pandemia. Não dá para fazermos nada, infelizmente. Vamos esperar que essa vacina chegue e que a população toda possa ser imunizada”, ressalta, esperançoso.
Covid-19, um desafio duplo
De acordo com a professora Suzana Barbosa, a pandemia é mais uma questão enfrentada pelos jornalistas na era digital. “Essa demanda por mudança é constante. A pandemia exige muito investimento por parte das empresas comerciais do jornalismo, mas também por parte do próprio profissional. Principalmente se a gente considera o momento de precarização da profissão”, destaca. “No jornalismo digital, é preciso estar atento porque esse laço com a comunidade e a sociedade é o propósito. Se o jornalismo é essa forma de conhecimento da atualidade, ele tem que estar sintonizado”, aconselha a docente.
José Raimundo enfrentou a doença e conta que os dias de isolamento foram dias de incerteza. Com sintomas brandos, ele e Marta, sua esposa, passaram mais de 20 dias em recuperação. “Eu não diria que foi uma experiência dolorosa, porque ela não veio forte. Os sintomas eram relativamente brandos”, conta. Desde que deixou a TV, Zé Raimundo, que tem 65 anos, não está mais realizando reportagens na rua, mas acompanha o cenário da pandemia e fala de sua insatisfação. “É inacreditável, estarrecedor, acompanhar e viver essa situação aqui no Brasil. A sensação é de impotência”, reclama.
Além dos desafios impostos pela doença, jornalistas enfrentam redução salarial, demissões em massa, e pressões, como os frequentes ataques realizados pelo presidente Jair Bolsonaro. Pelo segundo ano consecutivo, em meio à grave crise sanitária, ataques à imprensa aumentaram em 105,77%, segundo relatório da Federação Nacional dos Jornalistas.
“O momento que nós estamos vivendo é um exemplo de que o jornalismo sério, de qualidade, sempre vai ser necessário para as pessoas, para a comunidade. O jornalismo hoje mais do que nunca é uma atividade essencial na vida das pessoas”, salienta Zé Raimundo. Para ele, independentemente dos meios de produção ou publicação, o essencial é ter respeito pela profissão e por si próprio. “Não podemos esquecer que somos produtores de notícia. A ética precisa ser muito levada em conta. Não achar que qualquer coisa pode virar notícia, sem boa uma apuração”, orienta o veterano.