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Documentário resgata estratégias da Secom na pandemia de Covid-19

Quando a pandemia chegou à Bahia, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) realizou diversas campanhas informativas para combater a disseminação da Covid-19. As principais ações da pasta estão reunidas no documentário “Coronavírus, um visitante indesejado”, lançado pelo Governo do Estado na noite de hoje (23). A exibição do filme levou à Sala do Coro do Teatro Castro Alves (TCA) autoridades, parlamentares e profissionais que atuam nas áreas da saúde, comunicação, segurança pública e educação. 

No pronunciamento de abertura da sessão, o secretário estadual de Comunicação, André Curvello, explicou que o objetivo da obra é relembrar as estratégias e o trabalho de comunicação necessários no combate ao coronavírus. Especialista em gerenciamento de crises, ele falou sobre os desafios do período e ressaltou a essencialidade dos profissionais da imprensa no momento em que a sociedade buscava entender a situação. “Ficou claro que uma das principais armas para se combater o mal que se alastrava seria a informação”, relembrou o jornalista.

Antes da exibição do documentário, o secretário chamou um vídeo de introdução que, através de pronunciamentos oficiais do governador Rui Costa, montou uma espécie de linha do tempo do enfrentamento ao vírus.

Já o filme “Coronavírus, um visitante indesejado” recapitulou peças produzidas pela Secom desde os primeiros casos de Covid-19 confirmados na Bahia, passando pelas medidas restritivas, as aberturas de hospitais de campanha, até a distribuição e aplicação das vacinas. “Os temas surgiram da percepção do que era mais urgente em cada momento e da melhor forma de auxiliar a população a evitar a contaminação e as consequências da doença”, destacou Curvello. O secretário comentou sobre as críticas recebidas por campanhas com maior apelo dramático. “Acabou chocando algumas pessoas. Agora, sabemos que foi uma estratégia acertada. Nosso foco era salvar vidas”, garantiu. 

Reprodução/GovBA

Ele fez questão de registrar publicamente a responsabilidade da imprensa baiana. “Uma das coisas mais gratificantes da pandemia foi contar com os veículos de comunicação e suas incansáveis equipes. Insignificante foi o número de veículos que não nos ajudaram a combater as fake news e o negacionismo, nossos maiores inimigos depois da Covid-19”, afirmou. “Não é possível olhar para trás sem chorar os mais de 660 mil mortos pela Covid-19 no Brasil, sendo 30 mil delas na Bahia, mas podemos, como baianos, nos orgulhar de tudo o que foi feito para que a tragédia não fosse ainda maior”.

O titular da Secom/BA classificou como “longa e dolorosa” a travessia contra o coronavírus. “Muitos, como eu, carregam a perda de parentes, amigos, vizinhos e colegas. Nesse percurso desafiador, destaco os muitos aprendizados e o espírito de colaboração que serviu de alento nas horas mais amargas”, salientou. Curvello aproveitou para agradecer a todos os profissionais que atuaram desde o início da pandemia e às pessoas que perderam familiares e amigos por causa do vírus. “Esse documentário entra para nossa história. Daqui a algum tempo, quem for assistir, vai ver o drama que todos nós vivemos, um momento muito triste na história da Bahia e do Brasil”. Para ele, o período deixa um legado de solidariedade e de amor à vida. “Legado esse que pode, com a colaboração de todos nós, ser permanente”, concluiu o secretário. 

  • O filme está disponível a partir de hoje em todas as plataformas do Governo do Estado. Confira abaixo a ficha técnica:

Filme: “CORONAVÍRUS, UM VISITANTE INDESEJADO”
Realização: Governo do Estado da Bahia
Direção: Fábio Ribeiro
Roteiro: Bruno Mollicone e Fábio Ribeiro
Produção Executiva: Cláudio Meirelles
Produção: Polliana Pereira e Yasmina Sestello
Edição e Montagem: Júnior Jacob
Computação Gráfica: Danilo Lima e Robson Nunes
Trilha: Sagaz Áudio
Produtora: Macaco Gordo

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Demanda digital desenha novos rumos para o jornalismo profissional

Por I’sis Almeida e Joseanne Guedes

Se manter atualizado frente a uma era de precarização. Esse é o principal desafio enfrentado pelos profissionais da comunicação inseridos no contexto do jornalismo digital. É o que aponta Suzana Barbosa, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA). A especialista foi ouvida pela reportagem da ABI, junto a focas e veteranos da imprensa baiana. As experiências relatadas ajudam a entender como jornalistas têm se adaptado às transformações digitais e buscado alternativas para enfrentar a precarização do setor, problema intensificado pela pandemia de Covid-19.

Segundo Suzana Barbosa, antes de tentar entender o “jornalismo digital”, é necessário investigá-lo de acordo com sua história. “Entre os anos 90 e 95, o jornalismo online era uma terminologia bastante empregada. Com o passar do tempo, outros termos surgiram e vão tratar o jornalismo a partir de uma parte específica, que é o jornalismo da web ou webjornalismo. Depois, também o ciberjornalismo veio tratar desse ambiente do fazer jornalístico a partir da noção de uma cibercultura”, relata Barbosa, diretora em seu segundo mandato na Facom. Ela explica que a terminologia “jornalismo digital” passou a ser usada no final dos anos 90 e início dos anos 2000.

Para a pesquisadora, que integra o Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom/Facom), jornalismo digital significa “usar os recursos e ferramentas específicas para produzir conteúdos jornalísticos apurados com ajuda de tecnologias, mas não apenas delas”, salienta. “O jornalismo, a apuração, se dá tanto no contato face a face com as fontes, na apuração por telefone e, atualmente, através das redes sociais, pelo WhatsApp, e em entrevistas virtuais”. Segundo ela, o contexto multiplataforma vem trazendo mudanças ao jornalismo há algum tempo. “Quando a gente marca o digital, é para falar de uma produção e de um conteúdo que está sendo digitalmente processado, realizado, publicado e circulado nas diversas plataformas”, explica.

De acordo com a professora, é necessária a inserção no contexto do jornalismo digital. “É preciso se manter atualizado, acompanhar efetivamente sites que produzem informações relacionadas ao fazer jornalístico, de modo geral. O inglês também é necessário, já que muitos conteúdos estão nessa língua”, indica. “O profissional tem que ter muita disposição para se colocar no mercado. Como jornalista, ele é uma marca em si. Quando a gente fala de um contexto de precarização diante de uma pandemia, isso ainda é mais forte”, conclui.

Meio digital, novo perfil

Se no mundo pré-pandemia já existia um leque de opções de atuação para jornalistas, essa tendência foi ampliada pelo modelo online, que, embora tenha reduzido redações, fechado gráficas e abalado o mercado editorial, fez prosperar a produção de conteúdo nos meios digitais. De olho nesse novo perfil profissional, o jornalista Afonso Ribas enxergou na convergência a oportunidade para se inserir no mercado, mesmo antes de sair da UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Ao lado das colegas Karina Costa e Victória Lôbo, ele fundou o Jornalismo Revolucionário, uma plataforma que produz conteúdos e estratégias para quem quer construir e fortalecer seu projeto de jornalismo independente no meio digital.

Leia também: Relatório do Instituto Reuters elenca tendências para o jornalismo e a comunicação em 2021

Para o diretor de conteúdo, é complexo pensar em uma definição para o jornalismo digital. “Ele abarca uma gama de características muito amplas e oferece inúmeras possibilidades para nós, jornalistas, por integrar, em um único meio – que é a internet – diferentes linguagens e formatos midiáticos: texto, imagem, vídeo, áudio, infografia, entre outros”, opina Ribas. O jornalista empreendedor tem desenvolvido conteúdos linkados com o atual cenário de crescimento do consumo de notícias e informações pelo público brasileiro nas redes sociais. Por aqui, o Instagram já ultrapassou o Twitter em uso para consumo de notícias. Desde 2018, o uso dessa plataforma para acessar notícias dobrou mundialmente, segundo dados do Relatório Digital News Report 2020, do Reuters Insititute.

O Jornalismo Revolucionário – que nasceu como Agência Ludus e também já foi o “@jornalistasocialmedia” –, além de produzir conteúdo para o Instagram, criou a Vem Pro Fluxo (veja aqui), uma newsletter semanal com seleções de oportunidades para profissionais e estudantes do setor. “Nós temos planos de criar um podcast futuramente, também voltado para jornalistas. Além disso, estamos no processo de desenvolvimento do nosso site. Ele será nosso cartão de visitas na questão de vendas e monetização do projeto”, adianta Karina Costa, cofundadora e diretora operacional do “JR”. Por lá, eles pretendem disponibilizar em detalhes todos os serviços e infoprodutos oferecidos nessa nova fase do projeto, que visa oferecer soluções práticas para jornalistas empreendedores.

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Afonso Ribas foge da romantização e afirma que é preciso ter resiliência para se adaptar às mudanças constantes que ocorrem no mercado e para lidar com os altos e baixos que envolvem o empreendedorismo. “Não é uma jornada nada fácil. Antes de tudo, esse profissional precisa saber que o empreendedorismo não é um conto de fadas. É realmente muito bom ter o seu próprio negócio, ser livre para produzir sobre o que você quiser, mas não é fácil chegar até o momento em que esse projeto se torna sustentável”, alerta.

Segundo ele, o jornalista que quer se posicionar no mercado digital e se sustentar financeiramente com esse trabalho, precisa elaborar um plano de monetização. “O aspecto burocrático e administrativo da coisa ainda não é ensinado nas faculdades de jornalismo. Podemos falar pela nossa própria experiência acadêmica. Então, você, enquanto profissional disputando esse espaço no mercado digital, precisa correr atrás desse conhecimento. É preciso estar aberto a aprender com os profissionais do marketing, por exemplo”, recomenda.

Convergência midiática

Também para a jornalista Caroline Gois os currículos dos cursos de jornalismo precisam passar por reformulação, para atender à exigência do mercado por profissionais multiplataforma e polivalentes. “Foi a prática que me ensinou. Há uma transformação nos processos educacionais. A prática é fundamental e esta deve ser o quanto antes passada e exemplificada nas salas de aula”, defende a diretora do Portal A Tarde. “Na minha época, já tinha o ensino para rádio e internet, mas era a parte prática de ferramentas e técnica. Acho que vale ser passado o conceito de gestão, mercado e desafios da área. Unir teoria, técnica, prática e experiência sobre o dia a dia das redações”, afirma a gestora.

A profissional tem passagens por portais de grande repercussão na Bahia e ampla atuação no ambiente digital. A troca do dia a dia da reportagem pela atuação na área comercial aconteceu, segundo ela, de maneira “gradativa e natural”. Aos poucos, mergulhou na comunicação digital voltada para o desenvolvimento de veículos e focou na convergência midiática. “À medida que fui tendo experiências na área, fui galgando cargos de liderança e, quando vi, estava no digital”, conta Caroline, sobre seu início. Hoje, ela é sócia diretora do Grupo Mucugê – empresa responsável pela consultoria e gerenciamento de serviços na área comercial. “Fui aprendendo junto com o desenvolvimento da mídia digital, já que quando comecei era tudo muito novo e recente”, lembra.

No Grupo A Tarde, ela contribui com o Jornal e a Rádio, com o apoio dos líderes destas plataformas para convergir os conteúdos e levar a inovação ao centenário. Seu grande desafio foi consolidar o conteúdo numa plataforma nova para os consumidores do impresso, veículo que é o carro-chefe do Grupo – e que carrega a credibilidade em sua história. “Estabeleci processos, organizei equipes e produção, para que um jornal de 108 anos começasse a colocar em prática a linguagem digital propriamente dita. O Portal A Tarde existe há mais de 20 anos, mas era meramente uma réplica do impresso com poucas produções próprias”, explica.

Com mais de 14 anos de atuação liderando equipes, coordenando processos de treinamento, gestão e motivação pessoal em ambientes de redação jornalística e corporativo, Gois acredita que a principal mudança trazida pela demanda digital ao jornalismo foi no tempo da produção e apuração. Questionada sobre o que é essencial para a sobrevivência de um veículo de mídia digital, Caroline é enfática: “Qualidade, compromisso e jornalismo”.  Segundo ela, o que não muda profissão, seja qual for o formato, é “a prática de contar histórias”.

“Prata da casa” no digital

O jornalismo mudou e, para quem iniciou a carreira sem tantas ferramentas digitais à disposição, se ver inserido nessa nova lógica de produção pode parecer assustador. “Eu sou meio jurássico. Tenho alguma dificuldade com a tecnologia digital”, admite o jornalista José Raimundo, que possui 42 anos de profissão e reportagens televisivas históricas em sua bagagem. Para ele, o convívio e uso de plataformas como WhatsApp, YouTube, dentre outras, são hábitos recentes. Com mais de 40 mil seguidores no Instagram, ele costuma publicar passagens da vida pessoal e da carreira, sendo bastante admirado. Foi por lá que ele anunciou sua saída da Rede Bahia, afiliada da Rede Globo, onde trabalhou por mais de três décadas.

“Não sou muito ativo nas redes sociais, posto na hora que dá vontade. Sei que tenho milhares de seguidores e devo satisfação a essas pessoas, porque elas carinhosamente me seguem, estimulam, acompanham meu trabalho, gostam de mim, e me sinto na obrigação de pensar sobre isso, participar mais das mídias sociais. Para mim, essa presença mais forte na rede aconteceu nesse novo momento que a gente está vivendo, na pandemia”, relata Zé Raimundo.

Durante sua trajetória no meio televisivo, Zé Raimundo teve muitas reportagens premiadas, como a série especial sobre adoções ilegais de crianças no interior da Bahia, produzida em 2012 para o Fantástico. “Tudo começou quando eu trabalhava em Recife, na Globo Nordeste e, atendendo a um convite da TV na Bahia, por uma orientação da própria Globo, eu voltei para o estado. Comecei minha carreira na TV Itapuã, mas antes tinha a Rede Tupi, peguei ela no fim, na falência do condomínio de [Assis] Chateaubriand”, lembra.

Agora, ele se prepara para uma nova fase na carreira. Assim como em entrevistas recentes, José Raimundo afirmou para a ABI que está começando um novo projeto junto a outros profissionais, e ele será veiculado por meio das mídias digitais. “Estou me associando a diversos amigos da área. Nós estamos buscando amadurecer ideias para conteúdos voltados para a área da cultura, do turismo, da agricultura. Produção sustentável, principalmente. Esse é nosso foco”, revela.

O projeto ainda não tem plataforma nem formato definidos, mas o jornalista tem uma certeza. “Minha intenção é continuar contando histórias, eu sou um contador de história. Mesmo as histórias do dia a dia, do factual, eu sempre tive esse foco muito voltado para o conteúdo delas. Quero continuar fazendo isso de uma forma que as pessoas tenham acesso quando quiserem”, destaca. “Não tenho dúvida que essa migração é obrigatória para todo jornalista que quer continuar produzindo conteúdo”.

Zé Raimundo acredita que a TV aberta tem uma vida longa pela frente. Segundo ele, essa longevidade vai requerer muito esforço dos jornalistas. “Ela precisa se reinventar. Eu sou recém saído da TV aberta, estou aprendendo a me reinventar também. O mundo mudou e, evidentemente, a gente não vive aquele ambiente tradicional das redações”, observa. A pandemia causada pela Covid-19, no entanto, é um desafio enfrentado pela equipe. “Se dependesse da minha vontade, já estaria na estrada, mas, dependemos do fim dessa pandemia. Não dá para fazermos nada, infelizmente. Vamos esperar que essa vacina chegue e que a população toda possa ser imunizada”, ressalta, esperançoso.

Covid-19, um desafio duplo

De acordo com a professora Suzana Barbosa, a pandemia é mais uma questão enfrentada pelos jornalistas na era digital. “Essa demanda por mudança é constante. A pandemia exige muito investimento por parte das empresas comerciais do jornalismo, mas também por parte do próprio profissional. Principalmente se a gente considera o momento de precarização da profissão”, destaca. “No jornalismo digital, é preciso estar atento porque esse laço com a comunidade e a sociedade é o propósito. Se o jornalismo é essa forma de conhecimento da atualidade, ele tem que estar sintonizado”, aconselha a docente.

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José Raimundo enfrentou a doença e conta que os dias de isolamento foram dias de incerteza. Com sintomas brandos, ele e Marta, sua esposa, passaram mais de 20 dias em recuperação. “Eu não diria que foi uma experiência dolorosa, porque ela não veio forte. Os sintomas eram relativamente brandos”, conta. Desde que deixou a TV, Zé Raimundo, que tem 65 anos, não está mais realizando reportagens na rua, mas acompanha o cenário da pandemia e fala de sua insatisfação. “É inacreditável, estarrecedor, acompanhar e viver essa situação aqui no Brasil. A sensação é de impotência”, reclama.

Além dos desafios impostos pela doença, jornalistas enfrentam redução salarial, demissões em massa, e pressões, como os frequentes ataques realizados pelo presidente Jair Bolsonaro. Pelo segundo ano consecutivo, em meio à grave crise sanitária, ataques à imprensa aumentaram em 105,77%, segundo relatório da Federação Nacional dos Jornalistas.

“O momento que nós estamos vivendo é um exemplo de que o jornalismo sério, de qualidade, sempre vai ser necessário para as pessoas, para a comunidade. O jornalismo hoje mais do que nunca é uma atividade essencial na vida das pessoas”, salienta Zé Raimundo. Para ele, independentemente dos meios de produção ou publicação, o essencial é ter respeito pela profissão e por si próprio. “Não podemos esquecer que somos produtores de notícia. A ética precisa ser muito levada em conta. Não achar que qualquer coisa pode virar notícia, sem boa uma apuração”, orienta o veterano.

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ABI BAHIANA

AVISO: Sede da ABI está com atividade presencial suspensa

Informamos que, devido às medidas restritivas adotadas para combater a pandemia de Covid-19, estão suspensas as atividades presenciais em todos os espaços da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). Dessa forma, não será possível consulta aos acervos da Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, Museu Casa de Ruy Barbosa e visitação ao Museu de Imprensa. Avisaremos quando as atividades culturais e de pesquisa forem restabelecidas. Agradecemos a compreensão.

Secretaria: [email protected]

Administração: [email protected]

Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon: [email protected]

Museu de Imprensa | Museu Casa de Ruy Barbosa: [email protected]

Comunicação: [email protected]

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Em atividade essencial na pandemia, jornalistas não integram grupos prioritários na vacinação

Pelo menos 94 profissionais de imprensa perderam a vida, do início da pandemia até o final do mês de janeiro. O alto índice de mortes foi revelado pelo “Dossiê Jornalistas Vitimados pela Covid-19”, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). A pesquisa realizada pelo Departamento de Saúde, Previdência e Segurança da entidade comprovou a vulnerabilidade dos profissionais que estão expostos nas coberturas jornalísticas. No entanto, mesmo figurando entre as atividades consideradas essenciais no contexto da pandemia, profissionais de imprensa não foram incluídos nos grupos prioritários da vacinação. Algumas categorias profissionais protocolaram, sem êxito, pedidos de antecipação junto ao Ministério da Saúde. A Fenaj, então, orientou os sindicatos locais a procurarem governos estaduais, para também receberem a vacina antes.

“Nos últimos dois meses de 2020 houve um crescimento acelerado e explodiu em janeiro de 2021: 25% dos casos de mortes ocorreram neste mês. Além dos índices de morte dentro da categoria, esses profissionais permanecem na linha de frente na cobertura de reportagens de rua ou em modelo home office, num estágio da pandemia onde não há previsão para vacinação de toda a população brasileira”, destaca a Fenaj. De acordo com o dossiê, quase 25% dessas mortes ocorreram em janeiro de 2021. 8% das vítimas são mulheres; a maioria absoluta dos mortos é composta por homens. 

O Brasil foi o segundo país com o maior número de jornalistas mortos por conta da Covid-19, com 55 vítimas, segundo dados da Press Emblem Campaign (PEC). A entidade afirma que 602 profissionais da imprensa sucumbiram ao vírus no mundo. Não existe no país um banco que reúna de forma consolidada o número de contágios e mortes por coronavírus na categoria, que em dezembro era formada por 49,3 mil profissionais empregados, de acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). O coronavírus deixou vítimas fatais também na comunicação baiana ao longo dos últimos 11 meses. Em “Um sopro de esperança”, reportagem publicada pela Associação Bahiana de Imprensa, jornalistas locais que venceram o coronavírus contaram suas experiências. 

“A maior responsável por esses números é a necropolítica negacionista do governo Bolsonaro, mas empresas de comunicação também têm sua parcela ao expor trabalhadores a condições não seguras e, muitas vezes, se omitir em fazer uma contundente crítica e denúncia dos crimes governamentais”, denuncia Norian Segatto, diretor da Fenaj. O jornalista lamenta a postura de colegas que, segundo ele, colaboram para a situação atual. “Infelizmente, sabemos que entre a categoria também há uma minoria de profissionais que compactua com a tese da ‘gripezinha’ e ajuda a disseminar desinformações para a população”, critica.

“Nós, profissionais da notícia, somos linha de frente em qualquer situação: epidemia, pandemia, conflitos sociais, urbanos e rurais, perseguições e cercos; rebeliões e motins”, afirma Ernesto Marques, presidente da ABI. Segundo ele, a demora na execução de um plano nacional de imunização nivela brasileiras e brasileiros, sob qualquer recorte possível. “Somos todos urgentes, no acesso às vacinas, mas os trabalhadores da notícias estão obrigados à exposição que pode ser evitada pela maioria da população. Porque informação é direito fundamental, e a forma mais sofisticada e devastadora de negar este direito é propagar desinformação e desqualificar a imprensa enquanto instituição”, analisa.

Atividade essencial

Os pedidos de antecipação feitos pelos sindicatos de jornalistas se baseiam no Decreto 10.288/2020, publicado em março passado, em meio à crise provocada pela Covid-19. Nele, o governo federal definiu como essenciais as atividades e serviços relacionados à imprensa. De acordo com a determinação presidencial, as medidas previstas em lei para o enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do coronavírus “deverão resguardar o exercício pleno e o funcionamento das atividades e dos serviços relacionados à imprensa”. Agora, com o recrudescimento da pandemia e início da vacinação no país, entidades ligadas ao setor foram surpreendidas pela ausência da categoria nas listas de prioridade para a imunização contra a Covid-19.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), Moacy Neves, afirma que a entidade está mobilizada desde o início da pandemia e realizou ações para resguardar a segurança dos jornalistas. “Fizemos no ano passado várias gestões junto à Secretaria de Saúde do Estado e junto às secretarias municipais de saúde para vacinar os jornalistas contra a gripe, porque naquele momento, estando vacinado contra a gripe, poderia não haver dúvidas sobre o diagnóstico de Covid-19, caso algum jornalista fosse acometido”, lembra. De acordo com ele, os pedidos contemplariam toda a categoria, mas especialmente aqueles que estão na linha de frente da reportagem, indo às ruas, fazendo matérias.

Enquanto a Fenaj fez uma solicitação ao governo federal para incluir os profissionais da imprensa na vacinação, o Sinjorba recorreu às autoridades do âmbito estadual. “Entretanto, a gente não prosperou na Secretaria de Saúde porque o governo segue a diretriz do decreto presidencial, que determinou quais são as prioridades e os jornalistas não estão incluídos”, lamenta Neves. O dirigente reconhece que essa é uma realidade enfrentada no país inteiro. Todos os secretários têm reagido nesse sentido, alegando falta de vacinas e que não podem priorizar uma categoria não contemplada pelo Ministério da Saúde. “Continuamos fazendo ações, assim como fizemos junto às empresas no ano passado, para tomarem as medidas de proteção dos colegas. Após as negativas das autoridades nacional e estadual, sempre encaminhamos o pedido às prefeituras. Repetiremos esse procedimento”, assegura o dirigente.

Falta de vacina e imunidade coletiva

Para a médica infectologista Adielma Nizarala, apesar de lidar com o público, a atividade de imprensa não tem uma exposição trabalhista suficiente para gerar um risco que justifique ser colocada no grupo prioritário. “Não temos vacina para todo mundo, precisamos priorizar. Se precisa ‘fasear’, você acaba tendo que fazer escolhas e adotar critérios. Nós estamos na primeira fase da vacinação, onde precisam ser contempladas as pessoas que trabalham diretamente com pacientes com Covid-19 ou profissionais da saúde que trabalham diretamente em hospitais e clínicas com atendimento a público doente”, explica. Idosos com comorbidades importantes e que estejam restritos a instituições de longa permanência, asilados, quilombolas e pessoas com vulnerabilidade social estão entre os grupos priorizados, de acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (confira aqui).

Até esta terça-feira (23/02) o mundo havia registrado 111.824.687 casos, com 2.476.668 mortes. Dessas, 247.143 apenas no Brasil, que figura em segundo lugar no ranking global. Ou seja, apesar de representar pouco mais de 2% da população mundial, o país responde por mais de 10% dos óbitos. A Bahia figura com 655.481 casos, 11.254 mortos (acompanhe os números no estado). Os números expressivos motivaram o Governo do Estado a decretar novo toque de recolher, para conter o avanço da Covid-19 em Salvador, região metropolitana e interior. Inicialmente, o horário estabelecido foi das 22h às 5h. Esse horário foi ampliado e agora começa mais cedo, às 20h, até o dia 28 de fevereiro (confira as mudanças). Essa ampliação ocorre após a Bahia registrar 80% de ocupação nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). 

Gestores e especialistas em saúde alertam que o vírus ainda tem espaço para crescer, e esses danos só podem ser limitados se a população cooperar com as medidas de proteção, até o país atingir a chamada ‘imunidade de rebanho’. Nizarala explica que a imunidade coletiva vai depender do quanto a vacina tenha eficácia na população e também de quantas pessoas tenham adesão à vacina. “Quanto maior a eficácia, menor é o percentual para alcançar a imunidade de rebanho. Quanto menor a eficácia, maior é o percentual de imunidade de rebanho que a gente precisa alcançar”, afirma a médica.

Além da falta de vacina e as quase 5 mil denúncias de “fura-filas”, um dos desafios é que a versão mais recente do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 não contempla nem 50% da população. “No caso da Covid-19, a gente precisa de um valor bem maior, entretanto, essa conta não precisa ser com um prazo definido. Claro que quanto mais precoce isso acontecer melhor porque mais rapidamente a gente se livra dessa pandemia. Mas, se o plano de vacinação continuar, ao final, nós temos que contemplar mais de 90% dessa população”, conclui Nizarala.

Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve ontem (23) a liminar do ministro Ricardo Lewandowski que permite a estados e municípios a compra de vacinas internacionais, ainda que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não tenha registrado os imunizantes. As duas vacinas já aprovadas pelo órgão, para uso emergencial, são a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac, e a AstraZeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford com a Fiocruz. Já a vacina da Pfizer, primeiro imunizante a conseguir registro definitivo da Agência, ainda não teve a compra acertada pelo governo federal.

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