ABI BAHIANA

ABI escala Gringo Cardia para projetar o novo Museu Casa de Ruy Barbosa 

O museu instalado na casa onde nasceu o “Águia de Haia” será repaginado pelas mãos do arquiteto e designer Gringo Cardia. A contratação do artista multimídia foi aprovada pela Diretoria Executiva da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) no início de junho, para desenvolver o projeto conceitual do novo Museu Casa de Ruy Barbosa. Nesta quinta-feira (14/07), às 9h, a entidade vai receber Cardia em sua sede para a formalização do contrato. O ato de assinatura integra o encontro do colegiado responsável pela agenda “Ruy Barbosa, 100 anos depois”, comemorativa ao centenário de falecimento do jurista baiano.

O plano museográfico prevê uma narrativa contemporânea para apresentar a história e o legado do jurista, político, intelectual e jornalista baiano Ruy Barbosa (1849-1923), uma das personalidades mais importantes do Brasil do século XIX e XX.

O gaúcho Gringo Cardia já deixou sua marca na cena cultural da Bahia. Por aqui, o renomado diretor artístico e curador assinou projetos importantes como o Museu A Casa do Rio Vermelho de Jorge Amado e Zélia Gattai, sobre os dois escritores, e o Museu Cidade da Música da Bahia, equipamento interativo, tecnológico, que conta a história da música baiana, e suas influências, além de ter feito direção de arte e capas de disco para Tom Jobim, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Marisa Monte, Chico Buarque, Daniela Mercury, Carlinhos Brown, Ivete Sangalo e outros.

“É um dos maiores especialistas em montagem de museus com linguagem interativa e adequada ao que se espera hoje de um museu, que ele atenda todos os públicos. Recentemente, ele desenvolveu diversos projetos na Bahia, já tem afinidade com o cenário local. Uma característica forte dele é não se limitar àquele conceito antigo de exposições de peças”, destaca Nelson Cadena, diretor de Cultura da ABI.

Referência nacional e internacional com prêmios no Brasil e no exterior, ele foi o responsável pelo projeto do novo “Museu da Cruz Vermelha Internacional”, em Genebra, na Suíça, com os premiados arquitetos Shigeru Ban e Francis Kéré. Este é o museu de maior visitação na Suíça. A Exposição ganhou o prêmio “Nova Linguagem de Museus”, no European Award of Museums (2015).

Agora, ele vai emprestar a sua experiência para trazer um novo conceito de museu para a Casa de Ruy Barbosa. “O museu terá vídeos gráficos históricos, feitos exclusivamente para contar os diversos aspectos da vida e obra de Ruy Barbosa e fazer um paralelo com a vida do jovem popular no Brasil, além de cenografia usando alguns objetos reais e instalações artísticas lúdicas, com games e a participação do público com seus monitores”, descreve o arquiteto.

Foto: Reprodução/Spectaculu

O estúdio ACASAGRINGOCARDIA DESIGN destaca a atuação de Ruy Barbosa na área da educação e anuncia uma concepção museográfica que visa atingir, principalmente, o público jovem, para quem os legados são importantes referenciais de valores, identidade e direitos. “O museu terá uma linguagem tecnológica contemporânea, imersiva e interativa que fará os jovens interagirem de maneira lúdica e teatral com a vida de Ruy Barbosa e a busca dos direitos dos jovens contemporâneos”.

De acordo com Gringo Cardia, o projeto será desenvolvido em três etapas: A primeira compreende conceito geral, descrição do conteúdo expositivo e dos vídeos gráficos, a apresentação dos espaços e das soluções cenográficas e temáticas abordadas; A segunda é a elaboração do projeto detalhado para construção, pesquisa e textos a serem produzidos para gerarem roteiros didáticos para todos os vídeos e apresentações; Por fim, a instalação da cenografia do museu e de todo o sistema tecnológico e projetos audiovisuais dentro da museografia.

Para o jornalista Ernesto Marques, presidente da ABI, a contratação da ACASAGRINGOCARDIA é uma sinalização “muito clara” de que tipo de museu a entidade pretende fazer para o renascimento da Casa de Ruy Barbosa neste centenário de morte do jurista. “É, ao mesmo tempo, um convite aberto a todos os potenciais parceiros que tenham interesse na promoção da memória, da cultura da Bahia, a todas as empresas e instituições de fomento que queiram financiar um bom projeto no Centro Histórico de Salvador, no ninho onde nasceu o Águia de Haia.

Segundo Marques, se trata de um museu para atingir também as juventudes, com uma abordagem interativa, imersiva, “não apenas no personagem Ruy Barbosa mas no Brasil que ele viveu e que ele projetou”, completa.

Os esforços da ABI para restaurar o Museu Casa de Ruy Barbosa integram a agenda “Ruy, 100 anos depois”, uma programação para celebrar o centenário de falecimento do ilustre jurista, em 1º de março de 2023. Um colegiado formado por 13 instituições baianas articulam a comemoração da data. Integram o colegiado representantes da Associação Comercial da Bahia (ACB), da Academia de Letras da Bahia (ALB), da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), Academia de Letras Jurídicas da Bahia (ALJBA), Câmara Municipal de Salvador (CMS), Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Ordem dos Advogados da Bahia (OAB), Santa Casa de Misericórdia da Bahia (SCMB), Tribunal de Contas do Estado (TCE), Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJBA), Secretária de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA) e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador (Secult).

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Presidente da ALBA garante apoio à restauração da Casa de Ruy Barbosa

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Três destinos num Circuito Ruyano, dos muitos que giram mundo afora

Luis Guilherme Pontes Tavares*

Caravelas, município do litoral sul da Bahia, tem a ver com Ruy Barbosa (1849-1923). Vamos tratar disso neste artigo. E nos próximos, trataremos da Vila Maria Augusta, ampla propriedade em que ele e a família viveram em Botafogo, no Rio de Janeiro, e da casa de veraneio que ele possuiu na Avenida Ipiranga, 415, em Petrópolis. Fiz o circuito, um dos muitos que poderia receber o adjetivo “ruyano”, de carro. No caso do primeiro destino, Caravelas, apreciaria repetir embarcado numa lancha.

O Circuito Ruyano mais óbvio, parte da casa natal, em Salvador, e se encerra em Petrópolis, onde Ruy Barbosa faleceu em 01 de março de 1923. A propósito de Salvador, haveria dois outros endereços a visitar, caso os identifiquemos, um na Piedade e o outro em Plataforma. No primeiro ele se hospedava quando visitava Salvador; no outro, teria residido com o pai na primeira metade da década de 1870. Mas há o circuito ruyano do exílio (Argentina, Portugal e Inglaterra); há o circuito ruyano das campanhas para presidente da República e para Governador da Bahia; há o circuito ruyano de moradas no Rio de Janeiro até assentar-se na Vila Maria Augusta; e há outros tantos.

CARAVELAS, DOS ALMEIDAS

“Coronel José” e Luis Guilherme na Praça do Sossego, em Caravelas | Foto: Romilda Tavares

Inicio a abordagem sobre o primeiro destino do Circuito Ruyano que elegi para percorrer em junho passado lembrando a sentença do professor e ex-deputado Rubem Nogueira (1913-2010) a respeito de Ruy Barbosa: “é o personagem mais notório e menos conhecido” do Brasil. Ele foi o último ruyano entre os baianos, tem obras publicadas sobre a vida e a atuação do jurista e é o doador de muitos livros que compõem a biblioteca do Museu Casa de Ruy Barbosa (MCRB). A advertência do professor Nogueira foi lembrada pela neta dele, a empresária Mariana Lisboa, quando, em nome da avó e demais familiares, autorizou, em 21set2021, à ABI a criar medalha com o nome do doador. A propósito da frase, ela ecoa nestas considerações do engenheiro e general de brigada (reformado) José de Almeida Oliveira, 96 anos, sobre sua terra natal: “Qualquer tentativa de escrever algo sobre a evolução histórica de Caravelas, de imediato surgirá um forte obstáculo: a falta de subsídios, de registros, de anotações”.

Caetano Vicente de Almeida

Autor de vários livros, dentre os quais o recente Caravelas. Uma trajetória histórica da Princesa de Abrolhos, v. 1, o “Coronel”, como é tratado pelos conterrâneos, foi o principal interlocutor, tendo aberto o portão da Chácara das Oliveiras, onde vive com a esposa, dona Eleonor Scofield Almeida, e nos atendeu durante a tarde de 11 de junho passado. Conversamos sobre a ligação de Ruy Barbosa com Caravelas e ele apontou o livro do pesquisador e tradutor Fábio M. Said – O clã Almeida de Caravelas e Alcobaça. Volume 2 da Coleção Antigos Clãs de Alcobaça (São Paulo: e.a., 2012) – como fonte confiável.

Vamos ao que interessa neste artigo: exibir a relação de Ruy com a Princesa de Abrolhos.

É provável que a licença poética do escritor Antonio Soares de Alcântara (1883-1960), autor do hino do município, tenha comprometido a exatidão da história do lugar. Num dos versos, o poeta informa que a cidade foi “Geratriz do genial Ruy Barbosa”. O pesquisador Fábio Said, que ora reside na Alemanha, recompôs a árvore genealógica do baiano e constatou que a avó dele, Maria Adélia Barbosa de Oliveira, é filha de Caetano Vicente de Almeida, de família da região do litoral sul, e Luiza Clara Joaquina Barbosa de Oliveira, também descendente do patriarca português Antonio Barbosa de Oliveira, que chegou ao Brasil no século XVIII e faleceu em 1784.

O PAI DE RUY EM CARAVELAS

Há no livro de Said um parágrafo esclarecer:

“Através de um documento de 1846 existente no arquivo da família Barbosa de Oliveira, na Casa de Rui Barbosa (Rio de Janeiro), fica-se sabendo que o dr. João José clinicou em Caravelas no ano de 1844. Trata-se de um atestado emitido pelo juiz de paz de Caravelas, Hermenegildo Neves de Almeida, afirmando que o dr. João José Barbosa de Oliveira tratou e curou um sobrinho seu que estava enfermo. Aparentemente, o dr. João José clinicou apenas momentaneamente em Caravelas, pois no final do mesmo ano ele estava de volta a Salvador e ali fundou uma clínica. Não se sabe se o dr. João José Barbosa de Oliveira retornou a Caravelas.” (p. 226)

E, em seguida, na mesma página, este outro esclarecimento:

Na placa, se lê “Aqui nesta casa eu fui gerado” como sendo frase dita por Ruy Barbosa | Foto: Romilda Tavares

“É bastante provável, porém, que o dr. João José tenha se dirigido a Caravelas no mesmo iate que levou seu primo sobrinho e futuro cunhado, o capitão-de-fragata Hermenegildo Antonio Barbosa de Almeida […]. Há registro de que o iate saiu de Salvador em 9 de junho de 1844, avistando o Monte Pascoal no dia 15 de junho. […]: A tradição popular em Caravelas e a memória familiar do clă Almeida registram que Ruy Barbosa era intimamente ligado a Caravelas.”

O escritor José de Almeida Oliveira, quando nos apontou o livro de Said, proporcionou duas constatações: os pais de Ruy, o médico João José e dona Maria Adélia, até prova em contrário, não estavam em Caravelas nos primeiros meses de 1849 e, portanto, não conceberam ele no imóvel da Avenida Sete de Setembro, 98. Se a documentação não sustenta tal afirmação, por que razão o município autorizou a fixação de placa no imóvel? Ademais, quanta audácia do autor quando aspeou e assinou como se o atestado fosse passado pelo próprio Ruy!

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*Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É 1º vice-presidente da ABI. [email protected]

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). 
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Legado de Ruy Barbosa ao Rio de Janeiro

Luis Guilherme Pontes Tavares*

Quando o jornalista, jurista, político e diplomata baiano Ruy Barbosa (1849-1923) faleceu, há quase 100 anos, a sua biblioteca, estimada em mais de 35 mil volumes, valia mais do que o preço atribuído à Villa Maria Augusta, a propriedade dele em Botafogo. Foi considerada como a maior biblioteca brasileira do final do século XIX. A relação dos livros ocupa quase todas as 904 páginas do Catálogo da Biblioteca de Rui Barbosa (2.ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008). Baseada em tentativas de catalogação anteriores, a obra, 14 anos depois, poderá ser submetida a nova revisão e ampliação.

Capa do Catálogo da Biblioteca de Rui Barbosa (2.ed.,2008)

Lanço a hipótese porque em 21 de junho do corrente, quando do transcurso dos 192 anos do poeta, jornalista, advogado, abolicionista e educador Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882), procurei no Catálogo, entre os livros dos autores com sobrenome final iniciado com G, o livro Primeiras trovas burlescas de Getulino, publicado pelo autor em 1859. (Barbosa e Gama se conheceram em São Paulo na década de 1860). Não localizei! Consultei então a FCRB – [email protected] – e recebi esta resposta: “Sim, temos o livro. Por favor, indique um dia e turno para sua consulta inicial”. Como não estou mais no Rio, a consulta ficará para outra oportunidade.

PREFÁCIOS SUBSTANCIAIS

A 2ª edição de 2008 é enriquecida pelos prefácios da professora Ana Virgínia Pinheiro – “Rui, para sempre em todo o lugar”, p. 16-26 –, autoridade em obras raras e docente da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), e da professora Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira – “A biblioteca de Rui no Palácio dos Livros”, p. 28-50 –, pesquisadora das edições de livros no Brasil oitocentista e docente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Ambas acentuam o zelo e o apego de Ruy Barbosa pelos livros que reunira ao longo da vida. Jamais emprestava um; preferia presentear o solicitante com exemplar do mesmo título comprado para evitar queixumes.

Na página 18 do livro, a professora Ana Virgínia, ao examinar as raridades contidas na biblioteca, manifestou-se com veredictos tais:

“O plano de leitura [de Ruy Barbosa] não era singelo. Incorporou tratados e monumentos tipográficos que datam da preliminar da arte de imprimir – os séculos XV e XVI (incunábulos e pós-incunábulos), e de sua fase áurea – os séculos XVII e XVIII, com textos em linha tirada, segmentados em colunas ou sobrepostos, impressos sobre papel de trapos, em caracteres romanos e aldinos, em latim, grego e línguas arcaicas. A beleza desses livros expande-se pelas gravuras em metal (buril e água-forte) e xilogravadas, pelas capitais ornamentadas e historiadas, pelas ricas vinhetas que acumulam.”

A professora de História, Tânia Bessone, informa que a biblioteca de Ruy Barbosa tem títulos de muitas áreas do conhecimento. Não é, portanto, apenas jurídica. Ela informa que o colecionador possuía títulos que, na atualidade, são identificados como guias de viagem:

“Um outro tipo de livro que aparece nas estantes de Rui são os antigos guias de viagem. Joaquim Nabuco, amigo de Rui, chegou a frisar que os livros mais preciosos de sua estante íntima eram os “Baedekers” (livros de viagem produzidos para definir itinerários, condições de hospedagem e deslocamento, precursores dos atuais guias de viagem, muito em voga no século XIX), com os quais saciava a curiosidade e a sede de viajar. […] Ora, Rui possuía vários Baedekers, inclusive um exemplar de 1905, intitulado Belgium and Holland, com assinatura na folha de rosto,” […]

QUEBROU A PERNA AOS 66 ANOS

A professora Tânia Bessone registra no prefácio dela: “Em 15 de setembro de 1915, no mês anterior à sua eleição para presidente do Instituto da Ordem dos Advogados do Brasil, um acidente doméstico demonstrava essa atitude diuturna [o convívio diário com os livros dele]. Sofreu uma queda da escada presa à estante […] da biblioteca, quebrou a tíbia da perna esquerda e precisou ser operado”. Há, na casa da Rua São Clemente, no Rio de Janeiro, numa vitrine, a “bota de gesso” utilizada por ele aos 66 anos, sua idade quando se acidentou. Ressalto que os livros de Ruy Barbosa, encadernados e dispostos em estantes com portas envidraçadas, ocupam vários cômodos da casa de dois pisos da Villa Maria Augusta.

Escada dobrável da Biblioteca de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro – Foto: Luis Guilherme Pontes Tavares

O catálogo de 2008 absorveu o resultado de trabalhos anteriores, sobretudo o esforço do professor Américo Jacobino Lacombe (1909-1993), primeiro diretor da Casa de Rui Barbosa, que comandou a identificação dos livros de autores com sobrenome final de A-H. Na atualidade, além do catálogo impresso, há o catálogo online no site da FCRB (https://www.gov.br/casaruibarbosa/pt-br/copy2_of_casa-rui-barbosa-home/#gsc.tab=0)  Há livros completos da coleção acessíveis no site e é possível, em alguns casos, baixar o arquivo em PDF.

Encerro com o registro de que o Museu Casa de Ruy Barbosa (MCRB), cujos imóvel e acervos pertencem à Associação Bahiana de Imprensa (ABI), possui biblioteca com cerca de mil volumes de livros, periódicos e documentos. Parte significativa do acervo bibliográfico foi doado pelo professor Rubem Nogueira (1913-2010), autor de livros sobre o jurista baiano. Enquanto o imóvel onde Ruy Barbosa nasceu não for restaurado, a biblioteca do MCRB permanecerá na sede de ABI (Edifício Ranulpho Oliveira, localizado na esquina da Praça da Sé com a Rua Guedes de Brito). O propósito da diretoria é restaurá-los – muitos dos quais estão em bom estado – e devolvê-los à consulta pública.

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*Jornalista, produtor editorial e professor universitário. É 1º vice-presidente da ABI. [email protected]

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ABI BAHIANA

Colegiado de instituições baianas realiza ato público no Museu Casa de Ruy Barbosa

1º de março de 2023 está logo ali. A exatamente um ano do centenário de morte do jurista, advogado, político e jornalista Ruy Barbosa (1849-1923), um colegiado de instituições baianas – responsável pela programação da agenda “Ruy, 100 anos depois” – deu um importante passo na manhã desta terça-feira. Atendendo a um convite da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), representantes do grupo visitaram pela primeira vez o Museu Casa de Ruy Barbosa, imóvel onde nasceu o “Águia de Haia”, no Centro Histórico da capital baiana.

A ABI é uma das entidades guardiãs da memória de Ruy Barbosa. Ao longo dos anos, a Associação já promoveu a edição de diversas publicações sobre Ruy e realizou nos seus espaços culturais e de terceiros, dezenas de eventos, como conferências, seminários e exposições de seu acervo. Desde o ano passado, por iniciativa da Associação, a programação do centenário começou a ser construída junto com outras 15 importantes instituições do estado. Entre as principais atividades previstas para o marco estão a restauração do Museu inaugurado em 1949, o lançamento de um documentário, reedição de livros, a requalificação da Rua Ruy Barbosa e a instalação de um busto de Ruy Barbosa na cidade. Se depender das instituições envolvidas com o calendário comemorativo, os eventos serão à altura do homenageado. 

De acordo com o professor Edvaldo Brito, representante da Câmara Municipal de Salvador (CMS) e da Academia de Letras da Bahia (ALB) no Colegiado, a visita representa uma reverência à memória mais destacada da Bahia. “Ruy Barbosa é para nós um orgulho, uma satisfação. Queremos que hoje seja o marco inicial das atividades, até chegarmos ao 1º de março de 2023, quando teremos os 100 anos de sua morte”, afirmou o presidente da Comissão Executiva do Colegiado para o Centenário. 

Brito lembrou da atuação de Ruy Barbosa no Direito, tendo sido, segundo ele, responsável por grandes eventos judiciários que se desenvolveram no Supremo Tribunal Federal. “Ruy concitou o Supremo para que julgasse sem se preocupar com as baionetas dos poderosos que estavam fora do seu prédio. Isso é um grande exemplo de bravura. Nós baianos temos que ser altivos como ele”, defendeu o advogado, que esteve em companhia do desembargador Lidivaldo Reaiche, representante do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) na Comissão Organizadora do Centenário.

Edvaldo Brito lamentou o estado do Museu, alvo de reintegração de posse em favor da ABI no início de fevereiro, e ressaltou a importância da revitalização do imóvel. “Um sentimento de profunda tristeza. Em qualquer parte do mundo, ter preservada uma casa que simboliza o nascimento de um grande patriota é natural. Na Bahia, não”, criticou. Sua fala emotiva não escondeu o desejo de ver o Museu de portas abertas e o legado de Ruy reconhecido. “Pelas placas que estão na parede, notamos a presença constante do Governo do Estado da Bahia na preservação da casa no passado. Espero que esse apelo de todos nós da Comissão, formada por 16 entidades representativas da Bahia, surta efeito. Que a voz dessas instituições ecoe nos ouvidos do governador do estado, que inclusive carrega o nome de Ruy”. 

“Um sentimento de profunda tristeza. Em qualquer parte do mundo, ter preservada uma casa que simboliza o nascimento de um grande patriota é natural. Na Bahia, não”

Edvaldo Brito

O presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Joaci Góes, também enfatizou a relevância do local. “Isso aqui é uma verdadeira catedral da inteligência, mas não se encontra nas condições que deveria. Nós temos que restaurar esta casa para fazer dela um templo de visitação constante, de todos os brasileiros, no sentido até de servir para transformar, modificar, melhorar este ambiente normalmente pantanoso que nós vivemos no Brasil contemporâneo”, refletiu o jornalista e escritor. Para ele, a reunião desta manhã serviu para inaugurar um novo tempo. “É um início ao reconhecimento dessa personalidade solar”.

Luis Guilherme, Edvaldo Brito e Joaci Góes

Memória

O jornalista e pesquisador Jorge Ramos, diretor do Departamento Museu Casa de Ruy Barbosa,  festeja as iniciativas para resguardar a memória e fortalecer referências culturais da sociedade baiana. “É com satisfação que eu vejo que novamente a Bahia começa a se unir em torno de Ruy Barbosa. Estamos a um ano do centenário de morte dele e temos muito o que fazer para soerguer essa casa, que é um patrimônio. Ruy Barbosa é um patrimônio da Bahia, talvez um dos maiores”, destacou.

“Restaurar o berço onde ele nasceu é mais do que uma obrigação dos baianos, é um compromisso histórico que a Bahia tem com Ruy Barbosa”. Para Jorge Ramos, a campanha vai contribuir para que o imóvel volte a ter condições de habitabilidade. “Em respeito à memória de Ruy, essa casa deve ser reerguida, reconstruída, e aqui abrigar o imenso acervo que Associação Bahiana de Imprensa dispõe sobre Ruy Barbosa: os livros de Ruy Barbosa, objetos de uso pessoal, o mobiliário que foi doado pela família e que deve permanecer para culto eterno dos baianos a essa grande figura da Bahia do Brasil”, listou. 

Parte desse acervo recebeu os cuidados das bibliotecárias Graças Nunes Cantalino e Ana Lúcia Albano, membras do GEIRD – Grupo de Estudos Interdisciplinares da Raridade Documental. Graças, que esteve no local para acompanhar a visita, e Ana atuaram na etapa de transferência do acervo bibliográfico para higienização e acondicionamento.

A museóloga da ABI e responsável pelo Museu de Imprensa, Renata Ramos, espera que as juventudes tenham curiosidade de conhecer Ruy e preservar sua memória. “Não tem como mensurar a iniciativa de colocar novamente a Casa de Ruy no corredor cultural, não só pelo patrimônio arquitetônico mas pela história de Ruy Barbosa no campo educacional. Muitos estudantes visitavam o Museu para fazer pesquisas. Saber que ele estará aberto para a comunidade é de um valor incrível”, celebrou a restauradora e conservadora documental. 

Luis Guilherme Pontes Tavares, vice-presidente da ABI, chama a atenção para o fato de a casa ter sido reconstruída com base em imagens que retratavam a construção original. “Esta casa ruiu. Há registro do terreno baldio no final dos anos 30. A ABI, com a liderança do presidente Ranulfo Oliveira, empenhou-se em refazer a casa”. Ele contou que para isso  foram utilizadas como referência fotografias e desenhos, dentre os quais uma obra de Presciliano Silva. “Esta é uma casa que, nos anos 30, período em que surge o Iphan, tem o pioneirismo de ser uma casa restaurada a partir de iconografia. Isso faz dela um exemplar pioneiro e eleva a sua importância”, lembrou. Luis Guilherme aproveitou para acenar aos órgãos de preservação do patrimônio. “Deixo aqui o meu apelo ao Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] e ao Ipac [Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia]. Que esse fato seja objeto de ênfase para mostrar que este é um prédio mais do que especial”, afirmou.

“Ficamos surpresos com o grau de degradação do imóvel, mas também felizes com o movimento da ABI em prol da recuperação deste, que, de fato, é uma referência importante na trajetória de Ruy Barbosa. A perspectiva da recuperação disso me deixa muito feliz”, parabenizou a arquiteta Milena Tavares, diretora de Patrimônio e Humanidades da Fundação Gregório de Mattos (FGM), uma das entidades que integram a Comissão. Profissional atuante há mais de 20 anos na área de preservação do patrimônio histórico em Salvador, ela explica que o primeiro passo é o projeto para a instalação do memorial, com os levantamentos orçamentários, para buscar recursos e realizar a obra. 

E a tarefa não será fácil, de acordo com Milena. “Percebemos claramente que as infiltrações danificaram forros e causaram um ambiente insalubre. Há nas paredes a proliferação de fungos, afloramento de sais solúveis. É urgente a recuperação do imóvel para não chegar ao estado de arruinamento”, salientou a arquiteta. Assim como Luis Guilherme Pontes Tavares, ela enfatiza que o Iphan, para a reconstrução do imóvel, levou em conta fotografias antigas e acredita que o projeto deve prever a missão de resguardar as características da casa. “Destaco a substituição dessas telhas, que não são coloniais e descaracterizam uma feição que se procurou recuperar”, indicou.

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