(Do Estadão) – O jornalista Leonencio Nossa, do jornal Estado de S.Paulo, recebeu na noite de ontem (2) o Prêmio Esso de Jornalismo de 2014, o mais importante da imprensa brasileira, em cerimônia no Hotel Copacabana Palace, no Rio. Leonencio foi premiado pelo caderno especial Sangue Político, publicado em 13 de outubro de 2013, em que revela a extensão dos crimes de motivação política ocorridos no Brasil a partir de 28 de agosto de 1979, quando entrou em vigor a Lei de Anistia.
Por 17 meses, o repórter da sucursal de Brasília pesquisou acervos de entidades de direitos humanos, arquivos de CPIs, delegacias de polícia e cartórios. Esteve em 35 cidades de 14 Estados. Chegou a 1.133 assassinatos por disputas políticas ao longo de 34 anos – um a cada 11 dias, sendo 56% ocorreram no Nordeste. “Trata-se de trabalho jornalístico próprio, que não teve origem em investigações ou levantamentos do Ministério Público, das polícias e de outros órgãos do Poder Público”, registrou a comissão julgadora.
Segundo Leonencio, de 40 anos, 16 de profissão, o levantamento próprio foi a forma encontrada para superar a precariedade dos registros oficiais. “Os órgãos praticamente não existem nas regiões em que faço essas reportagens. Nos inquéritos de crimes políticos, em 74% dos casos a polícia não consegue chegar à autoria dos crimes. O Ministério Público não transforma em denúncia mais de 80% dos inquéritos. E o Judiciário segue no mesmo ritmo”, disse o jornalista, que foi finalista do Esso outras quatro vezes. “Nas anteriores, tive a expectativa de ganhar. Dessa vez, não tive nenhuma”, contou. O caderno também recebeu o prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e foi menção honrosa no Prêmio Latino-americano de Periodismo de Investigação.
Além do prêmio principal, foram contemplados mais 13 trabalhos. O Prêmio Esso de Reportagem saiu para a equipe do jornal O Globo que produziu a série Farra de Aditivos na Refinaria Abreu e Lima. A Band ganhou a categoria telejornalismo com O Avanço da Maconha e a revista Piauí, a de melhor contribuição à imprensa.
A nova diretoria da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) comemorou a posse para o mandato até 2016, em solenidade realizada na última segunda-feira, 1º de dezembro, no Teatro Sesc Ginástico, no Centro do Rio. Em discurso para uma plateia de cerca de 400 pessoas, o novo presidente Domingos Meirelles lembrou o protagonismo da ABI em diversos momentos da história política do país e defendeu a necessidade de novos rumos para que a entidade centenária resgate seu prestígio.
“Sinto-me honrado em assumir a presidência de uma das mais longevas entidades da sociedade civil no mesmo ano em que completo 50 anos de carreira como jornalista ainda em atividade. Para que a ABI retome sua posição privilegiada nos debates dos grandes temas da vida nacional, será preciso abandonar caminhos que levam aos mesmos lugares”. Meirelles destacou que só através de uma ABI revigorada, fortalecida e voltada para o futuro será possível enfrentar os desafios que se avizinham. “Precisamos deixar para trás, como roupa velha, o país perverso em que vivemos. Agradeço a todos que acreditaram na nossa proposta para revigorar a ABI”.
Após o discurso, a plateia foi saudada com o esquete dos jornalistas e cartunistas Chico e Paulo Caruso. Prestigiaram a cerimônia representações políticas, associados e funcionários da ABI. A festa contou ainda com profissionais de Comunicação e de representantes de movimentos da sociedade civil.
*Informações da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
Entidades brasileiras ligadas ao jornalismo saíram em defesa da liberdade de expressão e repudiaram as agressões e ameaças sofridas pelo repórter Bruno Cassucci, do LANCE!, no último domingo (30) em Santos (SP). Um agente apontou-lhe uma arma enquanto ele fotografava, com o celular, o local em que ocorreria uma briga entre torcedores do Santos e do Botafogo. Mesmo após identificar-se como jornalista, Cassucci foi agredido no rosto e teve uma bomba de efeito moral colocada dentro da calça. Jornalistas criaram abaixo-assinado pedindo punição aos agressores e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) abriu inquérito ontem (1º) para investigar o caso.
O Diretor Regional do Sindicato dos Jornalistas de Santos, Carlos Ratton, encaminhou um ofício ao coronel PM Ricardo Ferreira de Jesus, Comandante do 6º. BPMI – SP, para pedir providências contra os policiais envolvidos. “Isso é um absurdo e não pode acontecer novamente”, declarou à IMPRENSA. “Diante de toda essa atrocidade, dessa falta de preparo, dessa afronta à cidadania, ao trabalho e a dignidade humana, exijo a punição de todos os policiais que abordaram o jornalista Bruno Cassucci de Almeida, que em visita ao batalhão poderá identificar um por um. Na certeza que esse Comando tomará uma atitude contra esses péssimos exemplos de policiais militares”, diz um trecho do ofício.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) diz que a violência empregada contra o repórter é “injustificada e inaceitável, além de injustificada e inaceitável, um grave atentado à liberdade de expressão”. A Abraji falou sobre o papel da polícia e também exigiu punição aos agressores. “O equipamento de um profissional da imprensa não deve ser alvo de confisco, tampouco seus registros devem ser comprometidos. O episódio deste domingo é característico de contextos autoritários, em que revelar qualquer fato diverso do que o Estado pretende mostrar é considerado crime. O papel da Polícia Militar é proteger cidadãos e garantir à sociedade o direito de acesso a informações de interesse público”.
Na tarde desta segunda (1º/12), também em nota, o diretor executivo da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, classificou a ação como “vergonhosa”. A entidade ressaltou o despreparo da PM e cobrou uma punição aos policiais. “A agressão que Bruno sofreu, além de ter sido uma violência física absurda e covarde, atinge também aqueles a quem ele buscava levar informações de interesse público. É, portanto, uma agressão à liberdade de expressão. O que se espera agora é que as autoridades investiguem o episódio, identifiquem e punam os culpados”.
Já o presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (Aceesp), Luiz Ademar, colocou-se à disposição de Bruno Cassucci. “Sempre mantivemos um bom diálogo com a Polícia Militar e repudiamos qualquer tipo de atitude truculenta. Assim como lutamos para afastar do futebol os torcedores violentos, também não vamos tolerar policiais violentos tentando proibir um jornalista de cumprir a sua função”.
Confronto e agressão
A tensão teve início quando torcedores do Santos tentaram invadir a rua onde estavam os botafoguenses, que também partiram em direção ao time. Durante a briga, foram arremessadas bombas, pedras e paus. Mais tarde, o confronto passou a ser entre a PM e os santistas. A sede da organizada Sangue Jovem, na rua Paisandú, ao lado do estádio, foi invadida e várias pessoas ficaram feridas.
Bruno Cassucci foi detido, revistado e agredido sob a mira de uma arma quando tentava se aproximar do local para registrar o incidente. Um policial pegou o celular e apagou todas as imagens, enquanto o colega pegou uma bomba de efeito moral, colocou dentro da calça dele e ameaçou liberá-la. Em seguida, o PM solicitou um documento do jornalista, que foi liberado dez minutos depois com a condição de que não retornasse.
Em seu perfil no Facebook, ele relatou o episódio que classificou como “o pior dia” de sua carreira jornalística e “um dos piores” da sua vida. “Escrevo aqui não para fazer juízo de valor, nem generalizar uma classe que sei que é mal paga, mal equipada e que deveria servir a uma sociedade que em boa parte lhe detesta. Como jornalista, acredito que não há opinião sem informação, e é por isso que venho aqui relatar o que vivi na tarde desse domingo”, justificou.
O jornalista conta que no momento em que o PM apagava as imagens que registrou, outra autoridade pediu que ele não olhasse para trás. Instintivamente, ele desobedeceu a ordem e foi agredido no rosto. Carsucci tentou argumentar mais de duas vezes que estava apenas exercendo seu trabalho, mas não adiantou.
Outro oficial se aproximou e disse que ele estava ali para “defender torcedor” e que a imprensa apenas mostrava quando a polícia bate “nesses caras”. “A minha intenção era exatamente outra, ouvir algum responsável pela operação para tentar entender o que estava acontecendo”, alegou. “Saber que todos os dias abusos desse tipo e outros muito piores acontecem com gente que não sabe ou não tem como se expressar é o que preocupa. Sei de todos os privilégios que tenho por ser branco, não viver na periferia e ter tido a oportunidade de estudar. Se passo por situações como essa, com certeza há quem viva coisa muito pior diariamente”, finalizou.
*Informações do Portal Imprensa, Lance!Net e Abraji.
Da FRANCE-PRESSE* – A Suprema Corte dos Estados Unidos analisa nesta segunda-feira (1) o estabelecimento de limites à liberdade de expressão em casos como ameaça de morte lançadas através das redes sociais. O principal tribunal de justiça do país debate pela primeira vez o polêmico tema da liberdade de expressão no Facebook e outras redes sociais. Os nove integrantes da Corte devem decidir se é possível falar com total liberdade nos fóruns, bate-papos e outras publicações online, ou se a primeira emenda da Constituição norte-americana, que protege a liberdade de expressão, pode ser limitada em certas condições.
Assim como fizeram Eminem e outros rappers famosos, Anthony Elonis postou ameaças de morte contra sua ex-companheira depois que ela decidiu terminar o relacionamento, após sete anos de convivência. “Há uma maneira de te amar, mas milhares para te matar. Não vou sossegar até que seu corpo esteja despedaçado, nadando em sangue, agonizante de feridas. Vamos, revide, seu lixo!”, escreveu o rapper em seu perfil no Facebook. Outras mensagens do mesmo tipo foram enviadas à agente do FBI que o interrogou, ao parque de diversões que o demitiu e às escolas primárias da região, ameaçando começar “o tiroteio mais odioso que se possa imaginar”.
Um juiz o condenou em primeira instância a três anos e meio de prisão e outros três de liberdade condicional. A sentença foi ratificada na apelação. Anthony Elonis argumenta que suas mensagens teriam apenas uma intenção “terapêutica” após o término do namoro, e que nunca passou por sua cabeça matar ninguém. A mesma desculpa foi dada por outros rappers autores de músicas violentas.
*Texto de Chantal Valery, da Agence France-Presse (AFP).