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Cinegrafista demitida após agredir refugiados pode pegar cinco anos de prisão

As cenas de uma jornalista húngara chutando refugiados sírios que tentavam atravessar a fronteira da Sérvia para entrar na Hungria escandalizaram todos os veículos de comunicação daquele país. Após a divulgação das imagens, publicadas pelo jornalista Stephan Richter, a repórter cinematográfica Petra Lazlo foi demitida pela N1TV e pode ser condenada a até cinco anos de prisão pela agressão, que se tornou símbolo da crescente intolerância de países da Europa. Segundo o Jornal britânico The Guardian, a cinegrafista tem ligações com o partido de extrema-direita Jobbik, radicalmente contrário à imigração e defensor de ideias neonazistas.

Petra Lazlo era funcionária do canal N1TV na cobertura dos enfrentamentos entre refugiados e a polícia na cidade húngara de Roszke na última terça-feira. Enquanto filmava a fuga de refugiados sírios, ela foi flagrada colocando o pé na frente de um homem que tentava escapar de um policial, derrubando-o e agredindo com chutes outras pessoas. Nem mesmo o fato de o homem carregar uma criança em seu colo deteve a repórter, mais tarde flagrada chutando uma menina.

As cenas ganharam as redes sociais, e milhares de comentários pedem que Petra seja processada para responder de forma mais grave pelo ato. Perfis de repúdio contra a jornalista também já foram criados pelos internautas. O Comitê de Helsinque para os direitos humanos indicou que, como a repórter chutou várias pessoas, pode ser condenada a cumprir de 1 a 7 anos de prisão, uma vez que a violência foi direcionada contra membros de um grupo específico.

Interesses “cristãos”

Nos últimos dias, a situação na fronteira daHungria com a Sériva, em Röszke, tem sido bastante tensa. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, é alvo de críticas pelo discurso contra a entrada de imigrantes estrangeiros e por ordenar a construção de uma cerca ao longo da fronteira com a Sérvia para tentar conter o fluxo de migrantes e refugiados que tentam atravessar a Hungria para chegar à Áustria e a Alemanha. Mais de 160 mil migrantes ou refugiados entraram na Hungria em 2015, segundo autoridades do país.

Orban é líder do Fidesz, partido de tendência nacionalista e conservadora. Recentemente, ele criticou os planos da União Europeia de criar cotas de recebimento de refugiados para países do bloco. E disse estar defendendo “interesses cristãos contra o fluxo de muçulmanos chegando à Europa”. Uma recente enquete revelou que 46% dos húngaros é contra a entrada de imigrantes no país, um índice que triplicou em 20 anos.

A Hungria é um dos países com um intenso fluxo imigratório de refugiados vindos principalmente do Oriente Médio, especialmente na Síria – que passa por Turquia, Grécia, Macedônia e Sérvia, até chegar a Budapeste, já na União Europeia e perto dos países mais ricos do bloco. Da capital húngara, os imigrantes tentam chegar à Áustria ou à Alemanha. Uma pesquisa registra que 66% da população húngara vê os refugiados como uma ameaça à estabilidade de seu país. Milhares de pessoas, porém, tem se posicionado a seu favor durante a atual crise, mobilizando-se para ajudá-los, apesar do repúdio explícito manifestado pelo Governo àquilo que considera uma invasão.

*Informações da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), BBC Brasil, El País (Edição Brasil).

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Jornal publica páginas sem fotos como protesto à crítica por imagem de criança síria

O jornal Bild, da Alemanha, não publicou imagens em sua versão impressa desta terça-feira (8/9), numa medida de confronto em torno das recentes críticas que recebeu após a publicação da imagem de Aylan Kurdi, garoto sírio encontrado morto em Bodrum, na Turquia. De acordo com o The Drum, o jornal justificou sua ação defendendo a importância da fotografia como ferramenta de ilustração do jornalismo. A foto da criança foi registrada no último dia 2/9 e divulgada pela agência de notícias turca DHA. Em poucos minutos, a imagem viralizou nas mídias sociais e ganhou repercussão, no momento em que a Europa discute como lidar com o que considera o maior fluxo de refugiados desde a Segunda Guerra.

“Queremos mostrar a importância das fotos dentro do jornalismo e que vale a pena lutar todos os dias para fazê-las da melhor forma possível”, diz a manchete de capa do periódico. O Bild também ressaltou a importância das imagens como forma de “sensibilizar as pessoas sobre o que acontece ao redor do mundo, em especial a situação dos refugiados sírios na Europa”.

Leia também: Foto de criança síria afogada na Turquia choca o mundo

No Brasil, um dos alvos de críticas foi o UOL, que defendeu em um editorial a publicação da imagem na primeira página do site. O texto pondera sobre a decisão de estampar as fotos chocantes e mostra que a discussão sobre os critérios de publicação de fotos sensíveis não é simples. “Nossos usuários deveriam, sem qualquer aviso prévio, ser impactados pela foto? Nós entendemos que sim”.

O site de notícias argumenta que “imagens influenciam o curso da história e cita o exemplo da foto da menina vietnamita correndo nua, em 1972 -após o lançamento de bombas incendiárias perto de Trang Bàng – que fortaleceu o movimento antiguerra. “Provavelmente seremos acusados de sensacionalismo e de busca por audiência fácil. Mas o jornalismo existe para informar. E palavras não descreveriam com a força necessária a dimensão da tragédia em curso na Europa e Oriente Médio”.

“Infeliz coincidência”

le mondeOKO jornal francês Le Monde publicou nesta sexta-feira (4/9), em seu site, uma ratificação oficial a respeito de um erro na diagramação de sua versão impressa que fez a imagem do menino sírio morto na região de Bodrum, na Turquia, ficar em contraste com uma publicidade alocada na página cinco. No texto, o jornal pediu desculpas pela “imagem ter soado involuntariamente como o drama” vivido por Aylan Kurdi, de três anos. “Nós não percebemos esta infeliz coincidência. Lamentamos a impressão ruim que ela possa ter causado e pedimos desculpas a todos os nossos leitores”.

Na redes sociais, usuários manifestaram descontentamento com a falha cometida pelo Le Monde. “Esta coincidência incrível e indesejada representa a dicotomia entre a Europa e os refugiados”, disse um deles. “Coincidência ou alegria discreta?”, questionou outro internauta.

Em um texto publicado ontem (8) pelo Observatório da Imprensa, o jornalista Luiz Felipe dos Santos afirma que o exemplo de Aylan Kurdi “mostra que, definitivamente, estamos longe do fim do jornalismo; estamos, porém, bem perto do fim de uma ideia sobre o jornalismo. A ideia do jornalismo como agente neutro que cumpre a função de informar a sociedade se degrada; a ideia do jornalismo como agente público que orienta a sociedade sobre dinâmicas políticas e de comunicação se reforça”.

*Informações do Portal IMPRENSA, Uol e Observatório da Imprensa

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Força policial brasileira é a que mais mata no mundo, diz Anistia

Um manual inédito lançado pela ONG Anistia Internacional, nesta segunda (7) em Londres, pretende mostrar às autoridades de todo o mundo como implementar princípios internacionais do uso da força e das armas de fogo por agentes da segurança pública. O documento divulgado no dia em que é comemorada a Independência do Brasil aponta a força policial Brasileira como a que mais mata no mundo. A Anistia também sugere a criação de ferramentas para reduzir as mortes por violência policial. Entre elas, investigações independentes, punições em caso de abuso e regras mais rígidas sobre a atuação dos agentes da lei, estatutos que deixem claro quando o uso da força se justifica.

O manual traz dados de 58 países, onde foram coletados exemplos de leis, regulamentos internos e documentos da própria polícia, “para entender quais são as táticas hoje e como se pode avançar nessa área”. O Brasil aparece como o país que tem o maior número geral de homicídios no mundo inteiro. Só em 2012, foram 56 mil homicídios. Em 2014, 15,6% dos homicídios tinham um policial no gatilho. Segundo o relatório, eles atiram em pessoas que já se renderam, que já estão feridas e sem uma advertência que permitisse que o suspeito se entregue.

O levantamento se concentrou na Zona Norte do Rio de Janeiro, que inclui a Favela de Acari. Entre as vítimas da violência policial no Rio, entre 2010 e 2013, 99,5% eram homens. Quase 80% das vítimas eram negras e três em cada quatro, 75%, tinham idades entre 15 e 29 anos. A maioria dos policiais nunca foi punida. A Anistia Internacional acompanhou 220 investigações sobre mortes causadas por policiais desde 2011. Em quatro anos, em apenas um caso, o policial chegou a ser formalmente acusado pela Justiça. Em 2015, desses 220 casos, 183 investigações ainda não tinham sido concluídas.

Apesar de haver referência internacional, o assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Alexandre Ciconello, disse à Agência Brasil que, nesses 25 anos da adoção dos Princípios Básicos da Organização das Nações Unidas (ONU), foram registrados poucos avanços em termos da implementação desses princípios pelos países. No Brasil, não existe uma legislação nacional que adote os princípios internacionais sobre o uso da força dos agentes de segurança. “Isso não existe nem na legislação nacional, nem nas legislações estaduais”. É preciso, de acordo com ele, incorporar na lei esses princípios mundiais. Ele entende que os gestores brasileiros, a Secretaria de Segurança Pública, o Ministério da Justiça e o Congresso Nacional deveriam deixar mais claro e incorporar na lei e nos regulamentos das polícias as normas da ONU de uso da força.

Globo News, Agência Brasil e Revista Brasileiros

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ABI BAHIANA Imprensa e História

A imprensa e os 100 anos da EGBA

[Por Luis Guilherme Pontes Tavares*] – Avalio que o governador J. J. Seabra escolheu o Dia da Independência do Brasil – o Sete de Setembro – para inaugurar, em 1915, a Imprensa Oficial do Estado – IOE (denominada Empresa Gráfica da Bahia – EGBA – desde o meado da década de 1970) – porque isso emprestaria ao novo órgão público um certo ar de liberdade. Fez mais. Nomeou o médico e jornalista José de Aguiar Costa Pinto para a direção-geral da IOE. Suponho que essa decisão de J. J. Seabra firmou tradição na Imprensa Oficial, de modo que a maioria de seus diretores-gerais foi escolhida entre jornalistas. Milton Santos, famoso geógrafo brasileiro, por exemplo, foi diretor da Imprensa Oficial no período em que exercia o jornalismo em A Tarde.

O Diário Oficial, razão prioritária da inauguração da IOE em 1915, é, desde às origens, um produto jornalístico. Havia então, nas primeiras páginas do DO, a seção “Diversas Notícias”. Pude recompor a passagem do príncipe italiano Umberto di Savoia por Salvador em 1924, durante o Governo de Góes Calmon, confiando apenas no noticiário detalhado daqueles dias publicado no Diário. “Diversas Notícias” pode e deve ser objeto de pesquisa com o propósito inicial de indexá-las.

selo EGBA 100 anos

A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – IMESP – realizou há alguns anos o levantamento dos fatos mais relevantes publicados no DO ao longo do século XX e publicou livro a respeito. Que a EGBA se empenhe em fazer o mesmo, quiçá, numa primeira etapa, cobrindo o período de 1915 a 1965. Portanto, os primeiros 50 anos da antiga IOE. Pode seguir uma outra iniciativa da IMESP, fruto de trabalho orientado por sua bibliotecária Ivone Tálamo, que foi o levantamento de todos os títulos ali impressos desde a inauguração em 1891. Será difícil repetir a performance, mas, com a mesma metodologia adotada por Ivone, é possível tentar alcançar êxito semelhante. Ambos os trabalhos poderiam ter sido definidos como metas para o primeiro centenário da EGBA que ora comemoramos neste 07 de setembro de 2015.

Ressalte-se que o fundo editorial da EGBA, formado, sobretudo, pelos títulos impressos na primeira metade do século XX, a exemplo de importantes obras de história e geografia, constituem bibliografia fundamental para o estudo da Bahia. A atividade editorial poderia ser o esteio da EGBA, mas os seus fluxos e refluxos prejudicam o aperfeiçoamento da equipe e a ocupação de uma posição no mercado. Tive oportunidade de aproximar-me do problema quando escrevi a dissertação “A continuidade define a linha” – a produção editorial da EGBA entre 1915 e 1990 –, para o mestrado de Comunicação da Universidade de São Paulo – USP.

A propósito do centenário da EGBA, tenho participado de alguns aniversários da inauguração dessa empresa desde 1995, quando auxiliamos a organização de mesa-redonda, realizada na Academia de Letras da Bahia, sobre o gráfico Arthur Arezio da Fonseca, primeiro diretor técnico da Imprensa Oficial, disso resultando a publicação de Arezio, mestre baiano das Artes Gráficas (Salvador: IBL; ALB; EGBA, 1995). Dez anos depois, em 2005, quando a empresa comemorou os 90 anos, mais uma vez participamos e de novo a EGBA homenageou o seu primeiro diretor técnico, desta vez publicando a sua biografia, o meu livro Nome para compor em caixa alta: Arthur Arezio da Fonseca (Salvador: EGBA, 2005), que oferece razões para a antiga Imprensa Oficial homenageá-lo.

Quando a EGBA comemorou 95 anos, em 2010, mais uma vez a instituição lembrou Arthur Arezio ao publicar o fac-símile do seu Diccionario de termos graphicos, livro de quase 600 páginas,  publicado em 1936. Prêmio Caminhoá em 1938. O valor do Diccionario… cresceu nos últimos 10 anos porque está provado que essa obra de Arthur Arezio é o primeiro dicionário de Artes Gráficas em idioma português. O fac-símile é acompanhado de encarte explicativo. As duas peças são acomodadas numa caixa.

A maior homenagem, no entanto, que a EGBA poderia prestar aos funcionários que, sucessivamente, deram continuidade ininterrupta aos serviços iniciados em 1915 é manter a empresa sadia e na vanguarda de seu segmento.

*Jornalista, produtor editorial e professor. lulapt2@gmail.com. O original deste artigo foi publicado em A Tarde, edição de 07 de setembro de 2010, encimado com o título “A imprensa e os 95 anos da EGBA”. A atualidade do texto autorizou sua republicação com o novo título e poucas modificações.

Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).
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