ABI BAHIANA

O jornalismo baiano se despede de Olympio de Azevedo

Morreu nesta sexta-feira (10) o jornalista, escritor e compositor Carlos Olympio Pinto de Azevedo Neto (73), o Carlô de Piatã, em decorrência de um câncer. O sepultamento do ex-prefeito de Dário Meira aconteceu no Cemitério Campo Santo, em Salvador. Olympio de Azevedo nasceu em Salvador, em 1946, era jornalista formado pela Escola de Comunicação da UFBA (1971), com passagem pelo Jornal do Brasil, Chefe da Sucursal da Bloch Editores na Bahia, professor universitário de Marketing, Rádio e TV, editorialista, publicitário, escritor, poeta, compositor. Autor do “Cajila” em homenagem a Mãe Menininha do Gantois, roteirista do “Lamarca o Capitão do Sertão”, para a Tatu Filmes, pesquisador incansável dos valores, sentimentos, reflexos e imagens do sertão nordestino. Foi da turma, entre outros, de Tasso Franco, Mário Freitas, Gilson Ney, Paolo Marconi.

Olympio de Azevedo nos anos 80 | Foto: Arquivo pessoal

“O jornalismo é o exercício da manhã para quem não faz Cooper! É a única atividade que se torna um vício, e hoje como não precisamos correr atrás das notícias, você fica analisando os excessos que os colegas mais jovens praticam, divide por dois o texto e fica com a matéria limpa para comentar no espaço da coluna”. (Leia a entrevista concedida por ele a Cíntia Thomé, para o site Overmundo).

O jornalista e poeta Florisvaldo Mattos, membro do Conselho Diretor da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), homenageou o amigo através de sua rede social:

Quando a tarde fecha a cintilante umbela

Entardeci hoje defrontando-me com a triste notícia de despedida de um amigo, ex-aluno na Faculdade de Comunicação da UFBA, companheiro na Sucursal do Jornal do Brasil e de lides muitas a que o jornalismo conduz, Carlos Olympio de Azevedo. Foi-se um varão que sempre se apresentou, não apenas como exemplo de afeto, fraternidade, consideração e amizade sincera, para com todos que o merecessem, mas também como um criador literário, que a todos acaba de surpreender, ao deixar em plena operação gráfica um livro que reúne múltiplas criações de sua lavra, concebidas na forma de poemas ou de escritos em prosa, como contos ou crônicas de íntimo sentir, cujo conteúdo me encaminharam pessoas da família, como expressão de vontade de quem os criou. Li-os e, ao final, percebi o quanto se dissemina pelos espaços da literatura o número de criadores, não anônimos, mas secretos, sejam poetas ou prosadores. E o agora saudoso Olympio de Azevedo pode ser considerado um dos que indubitavelmente se inscrevem nos verbetes dessa estirpe.

Vencendo as tristezas que esse momento de mim se apossa, sinto-me impelido por um surto de consciência aliada a um dever de fraternidade, transcrevendo um dos poemas de Olympio de Azevedo do conjunto de inéditos encaminhados para publicação, na forma própria, sem pontuação, revestido de aura telúrica e vivências rurais. Vai abaixo.

Que Júpiter o acolha e o tenha na sua glória eterna!

 PEDRA VIVA

(Olympio de Azevedo)

Meu mundo de trilhas e estradas largas
Paisagem sonhada no verde nu do azul
Chão de barro seco, por vezes molhado
Do movimento do vento vem a harmonia
O sol queimadeiro na quentura do vale
Vale a luminosidade e os cálcios da vida
Rios que banham a terra matam a sede
Alimentam esperança, constroem os sonhos
A lida diária faz esquecer o áspero amor
Perdido nas entranhas do asfalto negro
O corpo cansado de uma alma aquecida
No silêncio da história inerte das pedras
Amor não cabe na distância que se perde
Lembrança mede a doce saudade partida
Sou vidro, espelho adormecido sem olhar
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ABI BAHIANA

ABI lamenta a morte de Baga de Bagaceira Souza, jornalista e ativista LGBTQIA+

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) lamenta profundamente o falecimento de Baga de Bagaceira Souza, jornalista, performer, ativista pelos direitos LGBTQIA+ na Bahia, com forte atuação no Recôncavo. Nesta sexta-feira (10), Baga tornou-se uma provável vítima do novo coronavírus, já que, segundo informa o atestado de óbito, a causa da morte foi “Síndrome Respiratória Grave Aguda com suspeita de covid-19”. Aos 28 anos, Baga morreu por volta das 2h no Hospital Regional Dantas Bião, em Alagoinhas. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Jardim Paraíso da Saudade.

Baga de Bagaceira Souza Campos era mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação – Mídia e Formatos Narrativos – da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), na linha de pesquisa Mídia e Sensibilidades (Leia a dissertação “CHOQUEER DE MONSTRO: Tikal Babado e Pai Amor e os modos de sentir e perceber suas vestes em Cachoeira-Ba”). Possuía formação na área de Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela mesma Instituição (2017) e atualmente cursava doutorado em Cultura e Sociedade na UFBA. Amigos, familiares e professores manifestaram pesar nas redes sociais.

Em seu texto “Como a avalanche da fake news contribui para o ódio à população LGBTQ+”, escrito para este site, Baga falou das formas e usos da tecnologia nos embates antagônicos em que envolvem-se as opressões e os enfrentamentos às violências direcionadas à população LGBTQ+ e sobre como essa população vem usando as redes para expandir suas afetuosidades e reclamar por mais direitos, além de denunciarem casos de ódio.

Leia textos que Baga de Bagaceira escreveu para o site da ABI:

Baga de Bagaceira usava a arte como forma de expressão de sua luta pelos direitos LGBTQIA+ na Bahia | Foto: Reprodução

Performer, Baga usava a arte como forma de expressão de sua luta. Já realizou apresentações em eventos acadêmicos, entre as quais destacam-se as performances no IFBA, Unifacs (campus de Feira de Santana-BA) e UFS (campus de São Cristóvão-SE).

Integrava o grupo de Pesquisa Corpo e Cultura (CNPQ), coordenado pela professora Renata Pitombo Cidreira, desde 2014 na linha de pesquisa Corpo e Expressão. Era membro do Comitê de Acompanhamento de Políticas Afirmativas e Acesso à Reserva de Cotas (COPARC) da UFRB e do Coletivo estudantil Aquenda de diversidade sexual e de gênero. Era representante dos estudantes no colegiado do Mestrado em Comunicação/UFRB (gestão 2017-2019).

*Com informações de Jorge Gauthier para o “Me Salte” (Jornal Correio).

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“Idade Mídia” é a nova série do Canal Futura sobre educação midiática

Dia 13 de julho, às 21h30, será lançada a série audiovisual “Idade Mídia” pela Futura Play, plataforma streaming do Canal Futura. A série audiovisual, de acesso gratuito, terá por escopo apresentar as relações entre os campos da educação e da mídia, mostrando as oportunidades e riscos de uma sociedade hiperconectada. O programa aposta em assuntos como consumo e conteúdo de informação, credibilidade, ética digital, e que atingem todos os aspectos da nossa vida: participação política, economia, acesso à cultura. Serão 13 episódios dirigidos por Leonardo Brant e apresentados pelo jornalista Alexandre Sayad. A produção é da Deusdará Filmes.

Idade Mídia terá como cenário uma sala de aula virtual tendo a função de identificar as fake news presentes, à exaustão, nas pautas científicas, políticas, econômicas, culturais e nas plataformas digitais. O uso dos games como recursos pedagógicos e a inserção da educação e mídia no currículo escolar terão a Base Nacional Comum Curricular como referência e serão alguns dos  temas nos 13 capítulos da série. A participação de alunos do LAB.ME,  o Laboratório de Mídias Aplicadas à Educação do Cento Universitário Belas Artes de S. Paulo, propiciará mostrar experiências práticas e inovadoras.

A estrutura formal de cada episódio é pensada a partir de casos concretos e de convidados  especiais em várias áreas. O primeiro vídeo, por exemplo, examinará o projeto Imprensa Jovem, que há mais de 15 anos desenvolve educação mediática nas escolas municipais de S. Paulo. A convidada é a psicanalista Vera Iaconelli, que discorre sobre as formas possíveis de como a família lida com a mídia em casa. O programa vai mostrar ainda iniciativas como o Projeto Âncora, que aposta na diversidade para aprendizagem; a Escola Avenues, com o uso inovador da tecnologia em sala de aula; a plataforma digital Colab; e o curso Singularidades, que traz uma abordagem diferente para a formação de professores.

“De alguns anos para cá, as instituições mais ortodoxas, como as escolas, a mídia tradicional, os partidos políticos, estão ‘transbordando’, já não cabem mais nos formatos tradicionais”, diz o jornalista Alexandre Sayad. “Mais que um tema, a educação midiática é um olhar sobre o mundo, uma forma de desenvolver o pensamento crítico, que é o objetivo maior da escola”. Para o apresentador, o conteúdo transversal a várias disciplinas – da iniciação científica à área de Linguagens, passando por História, Geografia, entre outras – permite uma ampla utilização da série nas escolas, especialmente em ações de formações de professores, estimulando a apropriação de seu conteúdo.

 

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Jonas Pinheiro, editor da Revista Afirmativa, fala sobre os desafios de produzir mídia negra

Quase duzentos anos se passaram desde o surgimento oficial da imprensa negra no Brasil, mas as tintas de “Homem de Cor” continuam inspirando produções voltadas para as temáticas raciais e sociais que atuam no enfrentamento diário ao racismo estrutural no país. Um desses projetos é a Revista Afirmativa, fundada em 2014 por estudantes do curso de Comunicação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cachoeira (BA). Editor e repórter da publicação, Jonas Pinheiro revela que as inquietações sobre o jornalismo e as pautas da mídia tradicional são temas frequentes nos corredores do Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL). Nesta entrevista à Associação Bahiana de Imprensa (ABI), ele contou um pouco da história da Afirmativa e falou sobre os desafios de produzir uma comunicação focada no marcador racial e sócio-cultural. O pesquisador da mídia negra também refletiu sobre as últimas movimentações ocorridas no mundo em torno da violência policial e as manifestações digitais contra o racismo. Para ele, antirracismo não é uma condição dada nem definidora. “Temos séculos de desigualdades. É preciso mais do que hashtags e fotos pretas nas redes sociais”, argumenta o mestre em Comunicação. Confira abaixo a conversa!

No site, a Revista Afirmativa é descrita como uma publicação que “atua pela garantia da representatividade das pessoas negras na mídia, de maneira real, diversa, humanizada, útil e qualificada”. Como você/s definiriam um jornalismo humanizado?

Jonas Pinheiro: Jornalismo humanizado deveria ser uma redundância. O papel da área deveria ser auxiliar a população em suas demandas diversas e o jornalismo deveria funcionar como uma prestação de serviço à esfera publica. Infelizmente, esse papel é negligenciado, ou até mesmo ignorado e violado por algumas empresas de comunicação. Não precisa ir longe para perceber isso, basta ligar nos programas policialescos do horário do meio-dia.Desta forma, nós da Afirmativa prezamos por um jornalismo que seja aliado da população (sobretudo a negra) e defensor dos direitos humanos como cerne. Por vezes nos confundimos com a fonte e o leitor, afinal, “somos nós, falando de nós, para todo mundo”. Na nossa prática jornalística, não estamos distantes das pessoas de quem falamos e com quem falamos. Fazemos isso prezando sempre pela ética e pelo profissionalismo.

Podemos observar através do site que sete mulheres e um homem compõem a equipe. Como foi pensada a composição?

J.P.: A equipe da Afirmativa passou por várias reformulações ao longo do tempo. Atualmente contamos com 7 pessoas, entre jornalistas, social medias e outros. A redação (jornalistas) conta com 5 pessoas.O gênero nunca foi um fator necessariamente pensado (inclusive o site está em reforma, mas, de fato, hoje sou o único homem da equipe), de forma que outros homens passaram pela revista ao longo das edições.Evidentemente,essa intensificação do movimento de emergência de mulheres negras, que tem pautado não só a comunicação como outros espaços de militância e de disputas de poder, tem influência na composição e na própria identidade da revista. Mas isto foi algo bem espontâneo e natural.

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Atual equipe da Revista Afirmativa

Qual é a história do veículo?

J.P.: A Afirmativa surgiu em 2014, em Cachoeira (BA), no Centro de Artes Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), apesar de ter sido pensada desde 2013. Alane Reis era estudante de comunicação e convidou colegas do curso para fazer uma publicação que dialogasse com os estudantes da universidade, em sua maioria negra, e que desconheciam em grande medida o histórico das cotas raciais e políticas afirmativas. No primeiro momento, o objetivo era circular dentro da universidade e contar o histórico das políticas afirmativas. A primeira edição foi tão bem recebida que o projeto cresceu e deixou de ser uma espécie de jornal laboratório. Na segunda edição, quando começo a fazer parte, a revista “rompe os muros da universidade”, passando a falar de outros temas, como racismo religioso, revista vexatória, racismo no esporte dentre outros.Desde então, o veículo funciona na internet e em edições impressas com o objetivo de ser uma mídia negra e popular. [Para mais detalhes sobre o processo de formação do veículo, consulte o último capítulo da dissertação de Jonas: Alma_Preta_e_Afirmativa: experiências contemporâneas de mídias negras na luta contra o racismo]

Em 2014, foram lançados o portal e a primeira edição impressa da Revista. Após 3 edições impressas, em2018, foi descontinuado o formato impresso da publicação. Por quê?

J.P.: A Afirmativa, como explicado na história, surge dentro da UFRB como um produto de estudantes de comunicação. As impressões da primeira e da segunda edição foram financiadas pela PROPAE – Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis da Universidade.Depois disso, os estudantes se formaram e perderam vínculo oficial com a instituição. Passamos a procurar formas de manter o projeto vivo e torná-lo rentável, inclusive para pagar os jornalistas que desde sempre trabalharam de forma colaborativa. Portanto, boa parte da vida da Afirmativa foi um trabalho de militância e de luta para sobreviver, diante de um cenário em que fazer comunicação negra impõem uma série de desafios e dificuldades.Voltando os olhos para o histórico da imprensa negra brasileira, vamos perceber que isso é uma tônica deste seguimento. As dificuldades financeiras sempre permearam estes veículos, que na maioria das vezes, devido a este fato, tinham suas vidas encurtadas. Após as duas primeiras edições, a luta dos jornalistas da Afirmativa foi para manter o projeto vivo, que ficou apenas funcionando na internet (no portal e nas redes sociais) entre 2015 e 2018, quando tivemos um projeto selecionado pelo Fundo Brasil de Direitos Humanos e que deu origem à terceira edição impressa.Neste período, a revista foi contemplada com um Prêmio de Mídia Livre do Ministério da Cultura, porém, o valor nunca foi pago devido ao golpe de 2016. Todo este cenário de dificuldades financeiras impediu e ainda impede que a revista impressa tenha uma periodicidade, já que a impressão demanda custos.

Do lançamento para cá, foram muitos desafios para a produção? Qual o maior deles?

J.P.: Há o fato de os jornalistas não terem na revista sua principal fonte de renda e trabalhar na maior parte do tempo de forma colaborativa. Eu e as demais jornalistas e comunicadoras da equipe temos outros trabalhos e atividades, de forma que acaba sendo difícil conciliar com as demandas da revista. Isso impede inclusive que tenhamos uma maior produção continuada e periódica.

Vocês acreditam que a imprensa tradicional conseguiria traçar, no mínimo, um modelo de abordagem jornalística antirracista? 

J.P.: Tem se discutido bastante, sobretudo com os últimos acontecimentos, o antirracismo. Ao mesmo tempo em que o debate é importante, ele gera uma série de armadilhas, já que o antirracismo não é uma condição dada. Ele é processual, e não é definidor de veículos ou pessoas.O que temos de histórico da imprensa tradicional é que ela esteve bem longe desse processo que chamamos hoje de antirracismo, muito pelo contrário, na maioria das vezes esteve ao lado do racismo, diretamente ou por omissão. E não precisa cavar muito para perceber isso, basta olhar para as redações da maioria dos veículos da imprensa tradicional, uma sub-representatividade que não será resolvida com “Maju” [Maria Júlia Coutinho] no Jornal Hoje (apesar de ser uma vitória ter uma âncora negra num telejornal de grande alcance), nem tão pouco num programa com seus poucos jornalistas negros após uma série de críticas (como aconteceu naquele especial da Globo News). Apesar disso, a gente torce para que essa onda “importada” dos EUA não fique apenas no discurso, e que os veículos tradicionais de fato repensem suas abordagem e práticas racistas, a começar pelo número de jornalistas negros contratados.

Qual a importância de uma imprensa negra na Bahia e no Brasil? Vocês têm alguma referência histórica de outros veículos?

J.P.: Toda (risos). Desde os manuscritos sediciosos de 1798 na Revolta dos Búzios, onde pessoas negras pediam o fim da escravização e é considerada uma experiência embrionária da imprensa negra, à Afirmativa, ao Correio Nagô, Alma Preta e tantos outros veículos contemporâneos, a mídia e imprensa negra brasileira estiveram comprometidas na luta contra o racismo em seus diversos aspectos e âmbitos.Pessoas negras há muito tempo se utilizam da comunicação para lutar contra esse sistema de opressão que estrutura a sociedade brasileira. Aqui na Bahia e em todo o país. Mesmo quando a escravização ainda imperava no país, temos registro de pasquins negros. Oficialmente o “Homem de Côr”, de 1833 no Rio de Janeiro, editado por Francisco Paula de Brito, é o primeiro jornal da imprensa negra brasileira. Desde então várias outras produções negras estiveram comprometidas nesta luta e reivindicando melhores condições para os nossos.Toda esta história é referência para o que a Afirmativa faz hoje, nosso compromisso é continuar a luta dos nossos ancestrais. Como nossos mais antigos costumam sempre nos lembrar, “nossos passos vêm de longe”.

Como a Afirmativa vê as últimas movimentações ocorridas no mundo em torno da violência policial? E qual o seu posicionamento diante de tantas manifestações digitais em prol do antirracismo?

J.P.: Acabei até falando um pouco disso na outra pergunta. A pauta de violência policial sempre foi uma tônica na Afirmativa. Se olharmos o antigo portal, as edições impressas e toda nossa produção, sempre encaramos este debate como urgente. Os diversos dados e as vivências das populações negras e periféricas demonstram isso.Me parece muito emblemático que precisou que houvesse um assassinato de um homem negro nos Estados Unidos para que aqui no Brasil, onde isso acontece a cada 23 minutos – e algumas diversas vezes pela mão da polícia -, esta pauta ganhasse protagonismo.

De qualquer forma, é importante e positivo que este debate ganhe mais visibilidade, sem perder a dimensão que a mídia negra, e em determinado nível a alternativa, sempre denunciaram a brutal violência policial à qual os corpos negros estão sujeitos neste país, que promove escancaradamente um genocídio da juventude negra.Torço para que este movimento, e estes movimentos de protesto inclusive, não estejam tomando corpo apenas no “calor do momento” e não seja meramente mais uma importação dos EUA, e que reflitamos e cobremos medidas efetivas para frear o que acontece em nosso país há muito tempo.Como disse anteriormente, o antirracismo não é uma condição dada nem definidora, temos séculos de desigualdades, e sem adentrar as entranhas das estruturas do país o termo vira apenas uma expressão. É preciso mais do que hashtags e fotos pretas nas redes sociais para que isso aconteça. As soluções perpassam por uma mudança de atitude de toda a sociedade, sobretudo a branquitude que é quem detém a maioria dos espaços de poder e carrega privilégios estruturais.

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