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Livro com escritos de Walter da Silveira será lançado em webnário

Após três anos de imersão na obra do crítico e cineasta Walter da Silveira, a jornalista Cyntia Nogueira vai lançar no próximo dia 3 de novembro o livro “Walter da Silveira e o Cinema Moderno no Brasil – Críticas, Artigos, Cartas, Documentos”. A publicação é o primeiro produto desenvolvido a partir do acervo de Walter da Silveira em posse da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). O lançamento acontece às 19h, no YouTube da Fundação Cultural do Estado da Bahia (TV Funceb), durante o primeiro dia do Webnário Diálogos Audiovisuais, promovido pela Cinemateca da Bahia (Dimas/Funceb), em parceria com a Edufba, como parte das comemorações dos 50 anos de morte do intelectual considerado um dos mentores do Cinema Novo. O volume conta com fortuna crítica, seis ensaios inéditos, correspondências, fotografias e outros documentos históricos.

Dividido em seis capítulos, o livro apresenta um conjunto de críticas, teses e ensaios publicados por Walter da Silveira sobre o cinema brasileiro e baiano, além de uma seleção de seus artigos teóricos que visa introduzir e contextualizar alguns conceitos e métodos críticos adotados pelo autor. A publicação também reuniu um conjunto de 50 cartas trocadas com Alex Viany, Paulo Emílio Sales Gomes e Glauber Rocha, fac-símiles de documentos, fortuna crítica, linha do tempo e um dossiê com artigos inéditos sobre ação e pensamento do crítico cinematográfico.

“Além de lançar um olhar sobre sua ação e pensamento, também investigamos, através da obra de Walter, os caminhos traçados pelo cinema no Brasil e na Bahia, que resultam na tentativa de estruturar um cinema moderno no país”, comenta a organizadora do livro, Cyntia Nogueira, professora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cachoeira.

Cyntia Nogueira, organizadora do livro Walter da Silveira e o Cinema Moderno no Brasil | Foto: Marcelo Matos

Cyntia Nogueira reorganizou os textos escritos por Walter entre as décadas de 1940 e 1970. Foram realizadas pesquisas em seu acervo pessoal, depositado pela família em 2015 no Museu de Imprensa da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), onde está também sua biblioteca, – e em outros arquivos e acervos na Bahia, no Rio de Janeiro e em São Paulo. “A pesquisa no acervo e na biblioteca de Walter da Silveira, bem como o acesso a outras publicações raras sob salvaguarda do Museu de Imprensa da ABI, a exemplo do único número da revista Recôncavo (1953) e dos seis números da revista modernista Caderno da Bahia (1949-1951), foi fundamental tanto para a seleção e localização dos artigos, teses, cartas e documentos publicados no livro, quanto para produção de artigos inéditos de historiadores e pesquisadores convidados a escrever sobre seu pensamento crítico e atuação à frente do Clube de Cinema da Bahia”, destaca a jornalista.

De acordo com Cyntia, a análise dos diversos documentos pesquisados possibilitou uma compreensão mais aprofundada da multiplicidade e alcance da trajetória crítica e intelectual de Walter da Silveira, orientando também a investigação em outros arquivos em Salvador, no Recôncavo da Bahia, na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. “O livro é resultado de três anos de trabalho e espero que possa contribuir para o reconhecimento da importância e do caráter pioneiro do pensamento e ação de Walter da Silveira na construção dos caminhos do cinema no Brasil e na Bahia”, afirma a pesquisadora. Sua expectativa é que o livro abra novas perspectivas de estudos sobre a obra de Walter da Silveira e sua atuação como crítico, agente de formação, historiador e intelectual engajado na construção de um campo cultural e artístico para o cinema produzido no país.

Veja a programação do webnário abaixo:

03/11 (terça-feira) – 19h

Mesa 1 – Lançamento livro “Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil”, organizado por Cyntia Nogueira (UFRB). Apresentação: Flávia Goulart Rosa (Edufba). Mediação: Rafael Carvalho (UNEB). Comentário: Euclides Santos Mendes (UESB)

04/11 (quarta-feira) – 19h

Mesa 2 – A crítica e os caminhos do cinema brasileiro: diálogos de Walter da Silveira com Alex Viany, Paulo Emílio Sales Gomes e Glauber Rocha. 

Participantes: Arthur Autran (Ufscar), Adilson Mendes (Anhembi/Morumbi) e Cláudio Leal (jornalista). Mediação: Manuela Muniz

05/11 (quinta-feira) – 19h

Mesa 3 – Walter da Silveira, o Clube de Cinema e a invenção do cinema na Bahia

Participantes: Izabel Melo (UNEB), Cyntia Nogueira (UFRB), Luís Alberto Rocha Melo (UFJF), Mediação: Milene Gusmão (UESB)

O LIVRO (alguns conteúdos)

Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil

O livro apresenta os artigos de Walter da Silveira (1915 – 1970) sobre o cinema no Brasil e na Bahia, escritos entre 1943 e 1970. Ao lado de um conjunto relevante de críticas, ensaios, conferências e teses do autor, incluindo seleção de seus textos teóricos, estão reunidas na obra as cartas trocadas com outros dois grandes críticos e historiadores do cinema brasileiro, Alex Viany e Paulo Emílio Sales Gomes, e com o crítico e cineasta Glauber Rocha. Além disso, documentos, fortuna crítica e um dossiê de artigos inéditos visam apresentar e contextualizar a importância de suas ações e pensamento para o desenvolvimento das ideias sobre cinema independente e para afirmação da crítica e do cinema modernos. 

Informações adicionais sobre o livro:

SUMÁRIO

ARTIGOS DO AUTOR (103 artigos escritos entre os anos de 1943 e 1970)

– O cinema como arte e a função da crítica (25 artigos)

– Perspectivas do cinema brasileiro (40 artigos)

– Origens do cinema baiano (38 artigos)

CORRESPONDÊNCIAS

  • Cartas para Alex Viany
  • Cartas para Paulo Emílio Sales Gomes
  • Cartas para Glauber Rocha

ARTIGOS INÉDITOS

– Walter da Silveira: um pioneiro, por Luís Alberto Rocha Melo

– Aspectos da crítica cinematográfica comunista no Brasil: o diálogo entre Alex Viany e Walter da Silveira, por Arthur Autran

– Walter da Silveira e Paulo Emílio: a plataforma de um cinema moderno no Brasil, por Adilson Mendes

– Walter da Silveira e o Clube de Cinema da Bahia, por Izabel de Fátima Cruz Melo

– Walter da Silveira e o I Festival de Cinema da Bahia (1951), por Cyntia Nogueira

– Afinidades eletivas: as trocas intelectuais e afetivas entre Walter da Silveira e Glauber Rocha, por Manuela da Silva Muniz

DOCUMENTOS

FORTUNA CRÍTICA

– Na Bahia a coisa é séria (1962), por Paulo Emílio Sales Gomes

– Perfis baianos (1962), por Paulo Emílio Sales Gomes 

– Cinema na Bahia (1963), por B.J. Duarte

– Walter da Silveira e o cinema (1967), por Octavio de Faria

– Cinema Liceu, domingo de manhã (1970), por Glauber Rocha

– Cinema – Cultura – Bahia (1970), por Alex Viany

– Walter da Silveira: advogado do cinema (2010), por Orlando Senna

– Walter da Silveira: entre a solidariedade e a solidão (2010), por Luís Alberto Rocha Melo

ÍNDICE DE ARTIGOS

CRONOLOGIA

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ABI BAHIANA

ABI e OAB-BA sorteiam posições de candidatos à Prefeitura de Salvador no debate do dia 4

Na manhã desta quarta-feira (28), assessores dos candidatos à Prefeitura de Salvador foram recebidos na sede da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), para o sorteio dos púlpitos do debate que será realizado pela ABI, em parceria com a OAB-BA (Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Bahia). O evento acontecerá no próximo dia 4 de novembro, às 20h, no Centro Histórico da capital baiana, e é uma oportunidade para os postulantes ao Palácio Tomé de Sousa apresentarem suas propostas para a cidade. Além da transmissão ao vivo pelas redes sociais das entidades realizadoras, o debate conta com o reforço de veículos de comunicação de Salvador, convidados para integrar um pool de divulgação e retransmissão.

A jornalista Suely Temporal, mediadora do debate, conduziu o sorteio de púlpitos na Sala de Reunião Afonso Maciel. No breve encontro, ela tirou algumas dúvidas dos participantes e ficou encarregada de pegar na urna o número correspondente ao local que será ocupado por cada candidato no Auditório Samuel Celestino, no 8º andar do Edifício Ranulfo Oliveira. Temporal e Amália Casal Rey representaram a diretoria da ABI na reunião. O jornalista Paulo Fortes, assessor de comunicação da OAB-BA, representou a entidade.

A jornalista Suely Temporal realizou o sorteio das posições dos candidatos |Foto: Joseanne Guedes

Participaram do sorteio Sueli Araújo – Olivia Santana (PCdoB-PP); Rafael Ribeiro – Cezar Leite (PRTB); Luan Santos – Bruno Reis (DEM/PDT); José Calasans – Celso Cotrim (Pros); Ícaro Souza – Major Denice (PT/PSB); Eric Souza – Rodrigo Pereira (PCO); Danielle Soares – João Bacelar (Podemos/Rede/PTC); Os representantes dos candidatos Hilton Coelho (PSOL) e Pastor Sargento Isidório (Avante/PSD/PMB) justificaram a ausência e avisaram que os candidatos estão de acordo com as posições que receberam no auditório.

Veja a configuração do Auditório Samuel Celestino no dia do debate:

Durante o debate da próxima quarta-feira, a ABI homenageará o jornalista Samuel Celestino, ex-presidente da Diretoria Executiva e da Assembleia-geral da instituição. “Este debate carrega muitas importâncias e significados, seja pelo momento vivido pelo país, seja pelo tributo que fazemos à trajetória do maior nome do jornalismo político baiano. Quando dedicamos, OAB-BA e ABI, este debate a Samuel Celestino, estamos também reconhecendo e homenageando todos os colegas que trabalham na cobertura dos fatos políticos”, destacou Ernesto Marques, presidente da ABI.

O dirigente também comemorou a recepção de veículos de comunicação de Salvador convidados para integrar um pool de retransmissão do debate. “A adesão maciça ao convite para formação do pool multimeios para divulgação, retransmissão e repercussão do debate, expressa o compromisso da comunicação baiana com a nossa terra. Está bela demonstração de união por Salvador simboliza a energia potencial de profissionais e empresas e sua enorme capacidade de movimentar grandes causas”, afirmou o jornalista.

Para o presidente da OAB-BA, Fabrício Castro, “o debate eleitoral é um instrumento da democracia”. Segundo o advogado, a discussão de ideias e a exposição dos candidatos permitem que os eleitores tenham mais e melhores condições de escolher seu candidato para a prefeitura municipal de Salvador. “Vamos fazer o debate com todos os cuidados de higiene e biossegurança que esse momento de pandemia exige e temos certeza que a grande vencedora da noite será a democracia”, disse.

Estrutura e regras

De acordo com Ernesto Marques, o auditório será adaptado para o debate, visando a garantia das medidas contra a Covid-19. Cada candidato levará apenas uma pessoa ao Edifício Ranulfo Oliveira, as diretorias da ABI e da OAB-BA não estarão no local. Portas e janelas do auditório permanecerão abertas. Por causa da pandemia, não será permitido o acesso de pessoas não credenciadas. A cobertura jornalística no local ficará por conta da ABI e da OAB-BA. “Os sorteios serão realizados na hora, para dar mais emoção e menos previsibilidade. Nosso desejo é que transcorra com o máximo de liberdade, inclusive na escolha dos temas, ênfase em propostas”, explicou Marques.

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Notícias

Impunidade abre caminho para novas agressões contra jornalistas na Bahia

“Vá tomar no… você e toda a imprensa, e se ‘zoadar’ vai tomar tiro na cara! Bote aí no ar, que eu vou aí em Paulo Afonso matar você, porque eu tô com vontade matar gente e beber o sangue”. A ameaça feita pelo chefe de gabinete da Prefeitura de Jeremoabo, na região Nordeste da Bahia, já era desdobramento da agressão do seu colega de governo, que aplicou um soco pelas costas, contra um repórter da Alvorada FM. A agressão dormita num burocrático inquérito policial, provocado pela queixa registrada pelo agressor. A ameaça direta contra o comunicador Chico Sabe-tudo, de Paulo Afonso, que se solidarizou com o colega de Jeremoabo, sequer é investigada, apesar de configurar prática criminosa (artigo 147 do Código Penal).

Apesar dos protestos e pedidos de providências feitos pelos sindicatos de jornalistas da Bahia e de Sergipe, da Associação Bahiana de Imprensa e da Associação Brasileira de Imprensa, as autoridades policiais baianas têm sido pouco efetivas. Em vez do respeito à vida e às liberdades democráticas, o que irradia pela região, a partir dos episódios impunes de Jeremoabo, é a violência.

Munido de decisão judicial garantindo o acesso à Unidade de Pronto Atendimento de Paulo Afonso, os jornalistas sergipanos Léo Dias e Larissa Baracho tentaram registrar a desmontagem dos equipamentos que adaptaram a UPA para atender pacientes contaminados pelo novo coronavírus. Os dois profissionais trabalham para a campanha de um candidato de oposição ao atual prefeito, Luis de Deus (PSD), também candidato.

Ainda do lado de fora, foram abordados por dois prepostos da Prefeitura de Paulo Afonso. Rodrigo Alexsandro Oliveira de Menezes, supervisor Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, nomeado pelo prefeito em 1 de setembro de 2020, e seu irmão gêmeo, Alexandre Oliveira Menezes, enfermeiro com contrato temporário com a administração local, abordaram os jornalistas. Um vídeo mostra o momento em que Rodrigo aplica um jato de produto químico, supostamente spray de pimenta, contra o rosto de Léo Dias a menos de um metro de distância.

Vídeo do momento em que o jornalista é atingido nos olhos por spray | Reprodução

O fato foi registrado em Boletim de Ocorrência na Delegacia de Paulo Afonso e a denúncia de Léo Dias apareceu timidamente na imprensa da região. Jornalistas ouvidos pela reportagem da ABI na condição de anonimato atribuem a baixa repercussão ao clima de intimidação pelo fato de a dupla de agressores ser reconhecidamente violenta. Um deles aparece em foto compartilhada em grupos de aplicativos de mensagens portando armas sorrindo.

Foto: Reprodução/Whatsapp

“Nós jornalistas não podemos nos calar diante de situações como essa. Usam da opressão para tentam nos calar a todo custo” desabafou Léo Dias. Para ele, os comunicadores precisam lutar por democracia porque “a política tem que ser feita de forma responsável e transparente, sem ferir os diretos de qualquer cidadão.”

Em nota, a Prefeitura de Paulo Afonso disse repudiar “todo e qualquer ato de violência ou intimidação, primando pelo respeito a todos os cidadãos. Dessa forma, inicia a averiguação dos fatos para que sejam tomadas as medidas cabíveis.” Os irmãos Rodrigo e Alexandre ainda não foram localizados pela nossa reportagem.

Os sindicatos de jornalistas da Bahia e de Sergipe assinaram nota em conjunto, repudiando os fatos e exigindo providências por parte das autoridades. “Além de enaltecer o repúdio contra esse ato, lamentavelmente protagonizado em um momento em que as ideias e propostas de avanços unificados deveriam prevalecer, solicitamos que as investigações sejam realizadas com rigor, e que os agressores respondam pelo ato infracional cometido. Pelo bem da soberania democrática presente na Constituição Federal de 1988, e pelo respeito à liberdade de imprensa, as entidades sindicais e a Fenaj exigem justiça; ao mesmo tempo, manifestamos a nossa solidariedade aos profissionais da comunicação agredidos e nos colocamos à disposição.”

O jornalista Ernesto Marques, presidente da Associação Bahiana de Imprensa também se solidarizou com os colegas agredidos. É a quarta ocorrência em menos de três meses e acontece pouco tempo depois do caso de Jeremoabo, aumentando a preocupação da entidade pelo clima de tensionamento gerado pela proximidade das eleições.

Segundo o presidente, a ABI vai solicitar audiência com o secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, para tratar da sequência de ameaças e agressões registrada pela entidade. “Esperamos uma ação mais contundente por parte das nossas autoridades, porque a condução burocrática e lenta dos inquéritos policiais tem o efeito prático da impunidade que encoraja os agressores a elevar o tom”.

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ABI BAHIANA

ABI condena ataques a jornalista que escreveu reportagem sobre preços cobrados por veterinários

Antes mesmo de publicar os textos, ele começou a receber críticas, represálias e ameaças. Quando as matérias se tornaram públicas, as reações se intensificaram, e agora o jornalista Alexandre Lyrio enfrenta o corporativismo de médicos veterinários e donos de empresas do segmento apenas por ter feito o seu trabalho: apurar queixas sobre os valores cobrados nos atendimentos aos pets na capital baiana. As matérias publicadas pelo jornal Correio (aqui, aqui e aqui) entre os dias 17 e 18 de outubro provocaram uma avalanche de ataques nos perfis do repórter. Em mensagens trocadas em um grupo de Whatsapp, chegaram a divulgar seu endereço e articular um esquema para negar atendimento aos seus animais.

“Tenho sido alvo de centenas de ataques, ameaças, xingamentos. ‘Ser desprezível’ é o mínimo. Gostaria que apontasse o trecho da reportagem que ataca a classe. A matéria tratou dos preços abusivos e dos maus profissionais, mas explica também porque os preços são altos e até critica os tutores que negligenciam o cuidado”, ressalta Alexandre Lyrio.

O repórter foi acusado de ter motivações políticas para produzir a reportagem. Ele nega. “Tem quem diga que se trata de uma matéria paga pelos planos de saúde. Estou certo de que fiz tudo dentro da melhor técnica jornalística. Reportagens existem para abrir feridas e não fechá-las”, afirmou. “Nos últimos dias, ataques a minha honra partiram de todas as partes do país. Orientado pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI), pelo Sindicato dos Jornalistas (Sinjorba) e pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), tomarei as medidas cabíveis”, avisou.

Na última quarta-feira, 21 de outubro, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) emitiu a “Nota sobre custos dos serviços veterinários”, na qual a entidade critica a reportagem (“Paga ou morre? O que está por trás dos altos custos dos serviços veterinários”). Para o CFMV, o título da matéria “é uma desinformação à população e que não houve preocupação em explicar corretamente aos leitores sobre a abrangência da profissão”. O Conselho entende que o texto assinado por Lyrio apresenta os médicos veterinários “como profissionais mais preocupados com o faturamento do que com a saúde do paciente”.

A entidade explica que despesas do atendimento clínico aos animais “dependem de uma série de fatores, como a região do país, a especialidade e a gravidade do caso, além de serem calculadas considerando o tripé: carga tributária federal, estadual e municipal; qualificação técnica da equipe que trabalha na clínica; estrutura física do estabelecimento, equipamentos e insumos”. A instituição alega ainda que, “como todo profissional liberal e autônomo, o médico-veterinário tem o direito de definir a contraprestação pecuniária pelos serviços prestados” e recomenda que erros e desvios profissionais sejam denunciados aos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária. O documento divulgado, no entanto, não menciona os ataques sofridos pelo jornalista e também não deixa claro qual trecho da reportagem apresenta erros nas informações apuradas.

Procurado pela reportagem da ABI, o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Bahia (CRMV/Ba), Altair Santana, comentou* os ataques dirigidos ao jornalista e a articulação para suspender o atendimento aos seu pets. “Acho um absurdo esse tipo de postura dos profissionais veterinários. Nós condenamos essas ações, porque embora não tenhamos gostado do que foi dito no artigo, entendemos que o jornalista tem amplo direito de expressar a opinião dele. A liberdade de expressão é constitucional, quanto mais para um profissional da imprensa”, observou.

Santana minimizou a reação dos colegas. “Os veterinários estão chateados com o que foi dito, mas acredito que eles não farão essas coisas. O código de ética condena o veterinário que negue atendimento a qualquer animal e isso independe de quem seja o tutor. É apenas um momento de raiva. É mais uma bravata, isso não vai acontecer”, avalia. O veterinário classificou o texto de Alexandre Lyrio como “muito bem escrito” e defendeu o direito do jornalista de exercer sua atividade. “Uma baita matéria, bem elaborada. Não gostar do que foi dito é uma coisa, atacar o profissional é outra. Inclusive, o Conselho vai fazer uma matéria para pedir aos colegas que parem as ameaças e ataques”, garantiu.

De acordo com ele, entre os erros cometidos por Lyrio está o questionamento dos preços. Ele considera o tutor inapto a avaliar esse quesito. “Como um leigo pode determinar se é caro? Como ele pode dizer se um exame é exagerado? Fez parecer que somos mercenários. Trabalhamos por amor, mas todo profissional quer ser remunerado de forma justa”. Outro erro, segundo ele, foi “generalizar uma experiência pontual do jornalista e alguns tutores, fazendo transparecer que todo veterinário age dessa forma. Entedemos que todas as áreas têm seus maus profissionais, mas isso é uma minoria em nossa classe. O Conselho existe para proteger a sociedade, nós apuramos a responsabilidade do profissional”, explicou.

Mensagens em grupos de Whatsapp articulam desassistir aos pets do jornalista em retaliação ao material publicado – Foto: Reprodução/Wa

“Vemos uma reação descabida expressando um corporativismo canhestro que certamente não expressa o entendimento médio dos médicos veterinários”, afirma Ernesto Marques, presidente da ABI. Para ele, os ataques não são uma ação em defesa da dignidade da profissão. “Até porque a reportagem não faz qualquer ataque a empresas ou profissionais da área. O repórter abordou de maneira técnica e eticamente correta um problema percebido por uma parte expressiva da sociedade que tem apreço pelos animais”, argumentou. “Individual ou coletivamente, é razoável que insatisfeitos com a abordagem, contestem a reportagem e até peçam direito de resposta. Mas mobilizar para retaliar ou intimidar um jornalista não tem cabimento”, reprovou o dirigente.

Entidades repudiam ataques

O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgaram nota na qual manifestam solidariedade ao jornalista Alexandre Lyrio. O documento denuncia os “ataques corporativos e injustos” sofridos desde que o profissional publicou as matérias no jornal Correio. As entidades lembram que a Constituição Federal garante o livre trabalho da imprensa, bem como aos que se sentirem caluniados ou prejudicados por ausência de ética jornalística o direito de solicitarem espaço para resposta ou irem à justiça buscar reparação.

“Não é o caso. Além de um trabalho de apuração exemplar, as matérias em questão não atentam contra a imagem de um ou outro profissional da Medicina Veterinária, nem generaliza os fatos trazidos à tona. Na imprensa baiana, este repórter é conhecido por seu peculiar cuidado com as informações fornecidas pelas fontes, bem como pelo zelo ético na produção de seus textos”, afirma a nota, destacando ainda a com a quantidade de fontes ouvidas, entre as quais o próprio Conselho Regional de Medicina Veterinária. “O Sindicato e a Fenaj lamentam a postura meramente corporativa, os ataques nas redes sociais e as ameaças sofridas por Alexandre Lyrio por parte de médicos e alguns de seus conselhos regionais”, diz o documento.

Após a repercussão do caso, diversos jornalistas usaram as redes sociais para manifestar apoio ao colega:

“O incômodo só mostra o quão necessário é o jornalismo que você faz” – Tainá Reis, jornalista

“Até que enfim um jornalista sério meteu a mão nesse vespeiro! Todo mundo que tem animal de estimação já passou por casos como os relatados em alguma instância” – Carollini Assis, jornalista

“Parabéns, Alexandre! Lembre que jornalismo sério incomoda bastante – Margarida Neide, fotojornalista

“A liberdade de imprensa é preciosa. Só com ela podemos informar e ser informados corretamente e exercer a democracia. Não se intimide. É incomodando que a gente muda o que está errado” – Jéssica Senra

“Jornalista competente incomoda mesmo. Sua escrita é necessária!” – Fernanda Carvalho

*Texto atualizado às 19h34, para inserção do posicionamento do CRMV.

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