Informamos que, devido às medidas restritivas adotadas para combater a pandemia de Covid-19, estão suspensas as atividades presenciais em todos os espaços da Associação Bahiana de Imprensa (ABI). Dessa forma, não será possível consulta aos acervos da Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, Museu Casa de Ruy Barbosa e visitação ao Museu de Imprensa. Avisaremos quando as atividades culturais e de pesquisa forem restabelecidas. Agradecemos a compreensão.
A Associação Bahiana de Imprensa lamenta o falecimento do prefeito de Vitória da Conquista, o radialista Herzem Gusmão, depois de três meses de luta para superar as complicações decorrentes da covid-19. Comunicador nato, começou a trabalhar na Rádio Regional de Vitória da Conquista, passando pela Rádio Cultura da Bahia, onde atuou como repórter esportivo. Retornando à Vitória da Conquista em 1979, foi levado pelo também radialista Edmundo Macedo a trabalhar na Rádio Clube de Conquista, onde apresentou o programa “Resenha Geral” por 38 anos.
Líder de audiência, polêmico, corajoso, prestou grandes serviços ao rádio jornalismo opinativo da cidade e região. Candidato a deputado estadual em 2014, ficou como suplente e exerceu o mandato por 15 meses, em substituição a Bruno Reis, convocado para compor o secretariado do então prefeito ACM Neto.
Em 2008 e 2012 disputou a eleição para prefeito de Vitória da Conquista, não logrando êxito. Repetiu a candidatura em 2016 e obteve sucesso, sendo reeleito em 2020. Infelizmente não pôde assumir o seu segundo mandato justamente por ter contraído a COVID-19. Internado desde o dia 18 de dezembro, foi transferido e tratado no Hospital Sírio e Libanês do dia 6 de janeiro até esta data, quando faleceu aos 72 anos.
A Associação Bahiana de Imprensa (ABI-Bahia) expressa, neste momento de pesar, os sentimentos mais profundos de solidariedade aos familiares e amigos, aos colegas de profissão – especialmente da pioneira Rádio Clube de Vitória da Conquista, onde ele inscreveu seu nome entre os maiores da radiodifusão baiana, e à população de Vitória da Conquista.
Eleito em novembro para ocupar a cadeira de número 1 da Academia de Letras da Bahia (ALB), o jornalista, escritor e professor Emiliano José toma posse nesta sexta-feira (19/03), às 19h. O evento ocorre de forma virtual, em decorrência da pandemia de Covid-19, assim como foi a posse histórica da nova diretoria da ALB, realizada no último dia 11, pelo Youtube (canal da ALB aqui). A solenidade será dirigida pelo acadêmico Ordep Serra, recém-eleito presidente da entidade. Depois do discurso de agradecimento, o mais novo imortal será saudado pelo arquiabade do Mosteiro de São Bento, Dom Emanuel D’Able do Amaral, membro da Academia.
Em entrevista à Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Emiliano José falou sobre a honraria de ocupar a cadeira deixada pelo historiador Luís Henrique Dias Tavares, falecido em junho passado. “A minha fala vai tentar traduzir o agradecimento e ao mesmo tempo lembrar os meus antecessores, e de modo muito especial do professor Luís Henrique Dias Tavares, provavelmente o mais importante historiador da vida baiana. Será um momento muito significativo”, destaca.
“É um momento muito honroso para mim. Não foi uma luta para chegar à Academia, foi uma generosidade dos acadêmicos e acadêmicas, que me acolheram com imenso carinho”, afirma. Segundo ele, o principal esforço foi do arquiabade Dom Emanuel d’Able do Amaral. Aos 74 anos de idade e com 16 livros publicados, Emiliano considera a indicação um reconhecimento de sua trajetória como jornalista e escritor. Ele tinha 28 anos quando chegou como “foca” à redação do jornal Tribuna da Bahia, sua primeira casa, anos depois de deixar a prisão no período da ditadura.
O professor contribuiu para formação de gerações de jornalistas e escritores baianos, por sua atuação de mais de 20 anos na Faculdade de Comunicação da UFBA (Facom). “Chego à Academia graças ao jornalismo. Agradeço profundamente ao mundo do jornalismo, aos meus colegas e minhas colegas, aqueles que conviveram comigo e me ensinaram, deram o caminho das pedras. Eu fico muito comovido ao lembrar que essa trajetória é devida principalmente aos amigos e amigas jornalistas, que me deram régua e compasso”, afirma Emiliano José.
Pandemia e posse virtual
Acostumado a reunir dezenas de pessoas em eventos políticos e culturais, Emiliano lamentou a posse no formato virtual, mas reforçou a necessidade de se respeitar as medidas de distanciamento, como forma de combater o coronavírus. “Eu sempre conto com muita gente nos lançamentos dos meus livros e nas atividades que participo, mas amanhã terei que tentar juntar algumas pessoas na web. Vivemos sob uma pandemia, seriamente agravada por um governo negacionista, genocida. Não tem outra palavra, já que ultrapassamos 3 mil mortes por Covid ao dia. É uma trágica situação a nossa. A posse não poderia ser de outra maneira”, defende. “Melhor seria um encontro caloroso, cheio de abraços e beijos, mas estamos enfrentando este momento. Fomos levados a outro tipo de convivência, de natureza virtual. Não deixemos, no entanto, de conviver. Esses encontros são nossa maneira de manter acesa a fraternidade, celebrar a amizade, manter o diálogo entre nós”, convoca o jornalista.
Em 17 de março de 2021 é o centenário de nascimento de Antônio Maria Araújo de Morais. Nascido em Recife ele foi jornalista, poeta, cronista, apresentador de televisão, produtor de programas humorísticos (foi quem lançou Chico Anysio), locutor esportivo, escritor, caricaturista, compositor (“Ninguém me ama” e outros sucessos) e sobretudo boêmio inveterado e namorador incorrigível. Por seus múltiplos talentos foi uma das figuras mais destacadas do cenário arístico e cultural brasileiro por mais de vinte e cinco anos. É considerado um dos maiores cronistas do Brasil.
Antes de ir o Rio de Janeiro ele morou na Bahia, de 1944 a 1947, período no qual Diretor Artístico, gerente, locutor esportivo e também apresentador de programas da Rádio Sociedade da Bahia, trazido pelo conterrâneo Odorico Tavares, diretor regional do conglomerado de imprensa “Diários e Emissoras Associadas” criado por Assis Chateaubriand. Aqui ele narrou jogos de futebol e também apresentou programas de auditório no estúdio da emissora, no Passeio Público.
Num desses programas, em que se apresentavam jovens aspirantes a cantor, ele deu a um molecote, de nome Oscar da Penha, candidato a sambista, o nome de “Batatinha”. Outra “figurinha carimbada” no mesmo programa era o jovem sambista, Clementino Rodrigues, já conhecido como “Riachão”. Nas poucas horas vagas ele ainda escrevia artigos no jornal “Diário de Notícias”.
Antônio Maria viveu com intensidade a vida boêmia da “Velha Bahia”, percorrendo à noite os cabarés da cidade, fosse o elegante “Tabaris” (onde, diziam, tinha uma mesa reservada) ou os modestos mas animados botequins do Cais do Porto, terminando sempre as noitadas em mercados e feiras, em meio a feijoadas e outras delícias da culinária baiana, que ele adorava! Antônio Maria conhecia e frequentava alguns dos principais terreiros de candomblé de Salvador.
Em 1946 com o fim da Ditadura do “Estado Novo” e o início da redemocratização do país, ele se candidatou a vereador em Salvador. Achou que só o prestígio era suficiente e não fez campanha. Teve uma votação pífia ! Contrariado, no ano seguinte aceitou finalmente um antigo convite de Chateaubriand para ser Diretor Artístico da Rádio Tupi e se mudou para o Rio de Janeiro, onde faria uma carreira de sucesso.
Durante toda a vida escreveu crônicas em jornais e revistas, destacando-se pela leveza, ironia, humor e ternura contida em seus textos de abordagem de fatos do cotidiano que transformava em peças literárias.
Na revista Manchete escreveu várias crônicas sobre o período em que morou na Bahia, rememorando fatos e personagens que marcaram aquela época. Destaco aqui o trecho de uma delas, em que ele lembra de dois lendários comícios na Praça da Sé, na época o principal local de manifestações políticas em Salvador, como é atualmente o Campo Grande.
O primeiro comício foi da UDN, partido conservador, que fazia cerrada oposição a Getúlio Vargas, o ditador recém-deposto pelos militares. Dividiram o mesmo palanque dois antigos adversários: Octávio Mangabeira (que nessa campanha seria eleito governador) e o ex-interventor Juracy Magalhães. O outro comício, do PCB, reuniu o candidato do Partido a Presidente da República, o engenheiro Yedo Fiúza e o líder comunista Luis Carlos Prestes, além de comunistas baianos como Carlos Marighela e Giocondo Dias.
No relato deste comício é citado o orador popular “Jacaré”, que todas as tardes em cima de um caixote fazia discursos na Praça Municipal, sempre com uma platéia barulhenta a assistir. Ele interrompeu o discurso de Prestes para “anunciar” o apoio do ex-governador J.J. Seabra (falecido já quatro anos !), ao candidato do Partido Comunista Brasileiro. Provocou gargalhadas na platéia, claro !.
Texto da crônica :
“Como speaker (locutor) de rádio, tomei parte nos maiores comícios que a Bahia já assistiu em toda a sua vida. Inesquecível aquela chegada de Juraci (Magalhães) e (Octávio) Mangabeira, de mãos dadas, odiando-se cordialmente, atravessando a Rua da Misericórdia (caiam rosas de todas as janelas !), os dois sorriam a acenavam para o povo, enquanto a praça se dividia entre dois bandos irreconciliáveis: juracisistas e autonomistas. O último discurso terminou às 3 e meia da manhã e ninguém tinha arredado pé da pé da praça (da Sé). Dois minutos antes de chegar a sua vez, Mangabeira disse ao meu ouvido: “eu quero espaço” e, andando de um lado para o outro, com um magnífico domínio das mãos e do olhar, falou durante duas horas contra o senhor Getúlio Vargas.
Vi, depois em outro comício, a chegada de Luiz Carlos Prestes à Bahia. Era o herói de uma história em quadrinhos, mostrado ao público pela primeira vez após longo período na prisão.. Os comunistas organizaram cenas emocionantes, como a daquela mulher de 80 anos, descalça, que veio de mansinho, olhou para Prestes e perguntou: ”Capitão, posso chorar ?”. E caiu nos braços do chefe comunista, debulhada em lágrimas, trepidando em soluços. Prestes largou aquela sua fala de campanha. Yedo Fiúza, candidato comunista a Presidente da República. atacando o latifúndio e apontando a cura da inflação na luta contra a importação do que ele chamava de bugigangas, no plantio da terra e no auxílio à indústria nacional. A praça ouvia transida, num silêncio que inquietava o palácio do Arcebispo, a estátua do bispo Sardinha e o oitão da Catedral Basílica. Foi quando “Jacaré”, discurseiro popular que entrará nesse relato da Bahia, pediu um aparte. Prestes calou-se e ouviu : “Capitão, eu vos trago o apoio integral de Seabra”. Naquele instante, as cinzas de José Joaquim Seabra se conflagraram, tremeram, mas era tarde para cassar a procuração dada a “Jacaré”. De noite, em função jornalística dos Diários Associados, conversava com Pestes e ele me disse que estava muito animado com a solidariedade de Seabra.”
Antonio Maria morreu jovem, aos 43 anos. Obeso, levava uma vida desregrada, sendo um emérito bebedor de whisky e apreciador voraz de bons pratos, além de varar as noites em bares e buates. Fulminado por um infarto fulminante, caiu na rua em Copacabana, bairro onde morava e cenário de muitas de suas crônicas.
Nossas colunas contam com diferentes autores e colaboradores. As opiniões expostas nos textos não necessariamente refletem o posicionamento da Associação Bahiana de Imprensa (ABI).