ABI BAHIANA

ABI recebe Rui Costa na abertura dos encontros com pré-candidatos ao governo

O pré-candidato da chapa governista para as Eleições 2014, Rui Costa (PT), foi recebido pelo presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Walter Pinheiro, nesta sexta-feira (30), na abertura da série de encontros com postulantes ao cargo de governador do estado da Bahia. Durante o encontro, que reuniu na sede da instituição jornalistas e representantes de entidades da sociedade civil, o pré-candidato relatou uma série de projetos e obras que serão incluídos em seu programa de governo. Rui Costa elogiou o trabalho da ABI em defesa da liberdade de expressão e na luta contra a censura e tentativas de silenciar manifestações livres. Temas como mobilidade urbana, educação e cultura, logística e segurança pública foram abordados.

Rui Costa dividiu a mesa com o presidente da ABI, Walter Pinheiro, e o diretor Aloísio Franca Rocha Filho, que coordenou o encontro/ Foto: Reginaldo Ipê - Tribuna da Bahia
Rui Costa dividiu a mesa com o presidente da ABI, Walter Pinheiro, e o diretor Aloísio Franca Rocha Filho, que coordenou o encontro/ Foto: Reginaldo Ipê – Tribuna da Bahia

Na abertura, o coordenador da mesa, Aloísio Franca Rocha Filho, enfatizou a preocupação da entidade com a crise generalizada da representação política. “Estamos preocupados com a democracia. Isso significa que estamos também preocupados com as eleições e, consequentemente, com as propostas, projetos e intenções daqueles que pretendem conduzir o nosso estado”, disse o dirigente. A primeira questão dirigida ao pré-candidato indagou sobre a sua intenção de governar a Bahia. “Se seria por vaidade, disponibilidade desinteressada para servir a sociedade e/ou ambição pelo poder”.

Rui Costa respondeu à questão muito emocionado, ao lembrar-se de sua mãe, que faleceu há 19 anos vítima de câncer. O pré-candidato relatou sua trajetória difícil no bairro da Liberdade, onde cresceu enfrentando dificuldades. Para ele, a má distribuição de renda no Brasil foi uma das principais causas para o seu envolvimento com a política. “Eu cresci em uma encosta, vendo em meus pais o medo de desabamentos, além das dificuldades cotidianas. Isso é muito injusto. Eu quero ajudar a mudar esse cenário e sou muito determinado, busco todas as alternativas disponíveis”. O deputado federal contou que seus estudos foram concluídos na rede pública de ensino, sempre com o apoio da mãe.

Foto: Reginaldo Ipê/Tribuna da Bahia
Foto: Reginaldo Ipê/Tribuna da Bahia

Já sobre sua qualificação para ser governador da Bahia, Rui afirma que se preparou a vida inteira para o cargo. “Eu tenho certeza de que sou o mais bem preparado. Tive duas formaturas: na universidade, em economia; e outra de superação, da vida, porque tive origem humilde e sou determinado”. Perguntando sobre o que existe de singular em sua candidatura e como pretende vencer a barreira do desconhecimento pela maioria dos eleitores, ele foi taxativo. “Diferentemente dos outros dois principais candidatos, eu nunca tive a oportunidade de governar um estado ou uma cidade. Eles puderam mostrar seu estilo. Eu não. Quanto ao desconhecimento, podemos diminuir isso no período da propaganda eleitoral, além da realização de carreatas, encontros, comícios… Ainda é muito cedo”, afirmou Rui Costa, revelando a sua ansiedade em debater com a oposição os programas de governo.

Rui abordou alguns temas que devem ser priorizados em seu programa de governo. “Por muitos anos, o Nordeste esteve em segundo plano do ponto de vista do desenvolvimento nacional, panorama que está sendo alterado desde o governo Lula”. Questionado sobre a mobilidade urbana, Rui Costa enumerou diversas obras do governo do PT na Bahia que, segundo ele, melhoraram o trânsito em Salvador, como a Via Expressa, Complexo Viário 2 de Julho e viadutos na Paralela, além de rodovias construídas no interior.

Leia também: ABI realiza encontros com pré-candidatos ao governo da Bahia

A polêmica construção da Ponte Salvador-Ilha de Itaparica, cujo contrato para elaboração do projeto básico de engenharia foi assinado em março, não ficou de fora da discussão. De acordo com Rui Costa, o projeto não está descartado. “Precisamos pensar projetos grandes e a ponte é um projeto importante. O estado da Bahia não tem condições de arcar com os 6 bilhões de reais estimados para a realização das obras. Então, precisa de apoio da iniciativa privada. Exige um amplo plano de desenvolvimento”.

O presidente da ABI, Walter Pinheiro, encerrou a sessão e agradeceu a presença do pré-candidato, com votos de que a emoção com que Rui abordou sua trajetória de vida seja o “combustível para governar o estado”. Também participaram do encontro dirigentes da ABI, a presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Consuelo Pondé, a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba), Marjorie Moura.

No dia 4 de junho, às 9h, a ABI trará Paulo Souto (DEM) e no dia 9 de junho, também às 9h, Lídice da Mata (PSB). Os encontros também serão abertos a representantes de entidades da sociedade civil e profissionais da comunicação.

Fonte: ABI

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Seminário ‘Paixão Futebol Clube’ reúne ex-jogadores, dirigentes esportivos e imprensa em Salvador

O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), com o apoio da Bahiatursa, Secult e Unijorge, marca nesta segunda (7 de abril) um gol de placa ao começar uma semana de debates sobre a mais importante manifestação cultural na constituição do perfil identitário do brasileiro: o futebol. Trata-se do seminário “Paixão Futebol Clube”, com a presença de especialistas, jornalistas, professores, ex-jogadores e interessados na história do futebol. São 114 anos de curtição com a bola desde que Zuza Ferreira desembarcou de Londres com as primeiras gorduchas e um livro de regras na mão. É a primeira vez, neste tempo todo, que os baianos reúnem uma seleção de pesquisadores para conversar frente a frente com a torcida.

O encontro coincide com a fase final do campeonato baiano, disputado desde 1905, quando o Internacional, formado por ingleses e integrantes da colônia britânica, foi o vencedor. Nesta edição, Vitória e Bahia voltam a disputar o título, nos dias 6 e 13 de abril, em partidas programadas para a Fonte Nova e o Estádio de Pituaçu.

Durante o encontro, o antropólogo Jeferson Bacelar vai tabelar com Aloildo Gomes Pires, autor, entre outros, do precioso e raro livro ‘Popó-o craque do povo’, único registro do primeiro ídolo. A cineasta e doutoranda em Sociologia, Priscila Andreata, vai levar o público a um passeio cinematográfico com a bola no pé, em parceria com o jornalista João Carlos Sampaio.

Foto – divulgação

Na quarta-feira, o ‘colombaiano’ Nelson Varón Cadena, guardião de nossa memória, forma a dupla de zaga de pesquisadores com o professor, jornalista e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Luis Teles.

Na quinta-feira, o tema é Futebol e Ídolos: a goleada de conhecimento estará com a dupla de artilheiros Galdino Silva e Normando Reis, autor do livro Bahia: uma história de glórias. São dois pesquisadores tão dedicados ao tema que frequentam diariamente o arquivo do IGHB em busca de confirmações para suas informações esportivas.

No encerramento, o professor e jornalista Paulo Leandro levará parte do conhecimento produzido sobre a transformação da torcida de futebol, como resultado da tese de doutorado orientada por Maurício Tavares, na Universidade Federal da Bahia.

Foto – Divulgação

Fred Flávio do Chame-Chame estará todas as tardes com jogadores campeões do futebol baiano, para debater com os torcedores e curtidores da bola em Salvador. “Ao final do encontro, os pesquisadores planejam fundar uma associação com o objetivo de reunir toda esta produção de conhecimento a fim de divulgar e fazer com que os baianos tenham mais informações de qualidade sobre esta manifestação cultural capaz de vencer todas as barreiras de etnia e classe social”, complementa Paulo Leandro, coordenador da iniciativa.

As inscrições são gratuitas, basta aparecer todas as tardes, entre 14 e 17 horas, na arena do IGHB, localizado na Piedade (em frente ao Shopping Center Lapa) ou encaminhar email para [email protected]. Mais informações no tel. 71 3329 4463 (das 13h às 17h).

O que: Seminário Paixão Futebol Clube
Coordenação: prof. Paulo Leandro (Ufba)
Quando: 7 a 11 de abril, das 14h às 17h
Onde: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
Avenida Joana Angélica, 43 – Piedade
CEP 40050-001
ww.ighb.org.br/ (71) 3329 4463
CLEIDE NUNES – 9974 5858

PROGRAMAÇÃO

Dia 7 (segunda-feira) – Futebol e História – Jeferson Bacelar e Aloildo Gomes Pires

Convidados: Zé Carlos (campeão brasileiro pelo Bahia), Emerson Ferretti (ex-goleiro e atual presidente do Ypiranga) e Quintino Barbosa (técnico de futebol, eleito o melhor técnico do campeonato baiano 2013)

Dia 8 (terça-feira) – Futebol e Cinema – Priscila Andreata e João Carlos Sampaio
Thiago Mastroianni (Narrador e apresentador do Globo Esporte da TV Bahia, além de apresentador da Equipe CBN EM CAMPO – CBN Salvador), André Hiltner (repórter esportivo da Equipe CBN EM CAMPO – CBN Salvador) e Sinval Vieira (Ex-diretor do Vitória e da FBF, assessor técnico da SUDESB e comentarista da Rádio Transamérica)

Dia 9 (quarta-feira) – Futebol e Mídia – Luís Teles e Nelson Varón Cadena
Newton Mota (ex-coordenador das divisões de base do Bahia, Vitória, dentre outros clubes do Brasil), Cristina Mascarenhas (editora do Bahia Esporte da TV Bahia e apresentadora da Equipe CBN EM CAMPO – CBN Salvador), e Alberto Leguelé (ex-jogador do Bahia e Flamengo que disputou os jogos olímpicos de 1976).

Dia 10 (quinta-feira) – Futebol e Ídolos – Normando Reis e Galdino Silva
Elton Serra (Comentarista Equipe CBN EM CAMPO – CBN Salvador e colunista do site iBahia.com), Bruno Queiroz (repórter esportivo da Equipe CBN EM CAMPO – CBN Salvador), Hailton Andrade (editor de esportes do site IBahia.com e comentarista da Equipe CBN EM CAMPO – CBN Salvador),, Rodrigo Cintra (ex-árbitro de futebol e atual comentarista de arbitragem da TV Bahia).

Dia 11 (sexta-feira) – Futebol e Torcida – Paulo Leandro e Fred Flávio
Edu Lima (ex-jogador do Vitória, Bahia e comentarista de esporte da Rádio Itapoan), Demilson Barreto (ex-goleiro do Vitória – campeão baiano de 1985 e ex-árbitro de futebol), Jorge Maia (conselheiro do Bahia) e Selma Morais (jornalista, apresentadora do programa Bahia Motor da TVE, apresentadora do programa Mulheres na Copa da rádio Transamérica e presidente da Federação de Automobilismo da Bahia).

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Salvador, 465 anos, ó quão dessemelhante!

“Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante…”  
[Gregório de Mattos]
 

São Salvador da Bahia de Todos os Santos, cidade de tantos epítetos, comemora oficialmente 465 anos neste 29 de março. A celebração do aniversário da capital baiana inaugurou o ‘Festival da Cidade’, oito dias de folia com atrações tipicamente carnavalescas, uma marca cultural da terra. A primeira capital do Brasil – uma das mais antigas das Américas -, se notabilizou por um expressivo conjunto de manifestações culturais, desde a sua gastronomia, passando pela música, arquitetura, pintura, cinema, literatura, artes cenográficas, entre outros elementos responsáveis por sua singularidade. Salvador guarda no seu seio os traços fortes da tradição, mas abre-se para o novo. Isto contribui para o desenvolvimento de problemas de várias ordens, uma vez que são muitos os atores sociais, públicos e privados, que entraram neste jogo e vão continuar nele.

A Praça da Sé e seu entorno, vistos a partir do último andar da sede da ABI/ Foto: Joseanne Guedes/ABI-Bahia

A personagem mais crítica da cidade através dos tempos, dos seus costumes, dos seus valores morais, do exercício do poder pelos políticos da época, foi Gregório de Mattos.  A verve de Gregório de Mattos nos seus poemas do início da colônia já revelavam um cenário de uma cidade povoada de problemas sociais, a ambição desmedida dos políticos e uma extraordinária vocação para alimentar e endossar  prestígio social  nas classes dominantes e a acumulação de bens, via uma burguesia sem pudores. Problemas e carências atravessam o tempo secular, chegando até os dias de hoje. Passado e presente, porém, parecem ser as chaves da predição do futuro.

A data ‘29 de março’ foi definida pelo Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), após a prefeitura solicitar, em 1945, um estudo para definir o marco. Já que nunca foi encontrado um documento que revelasse a data de fundação da cidade, após pesquisa apurada, historiadores membros do instituto fixaram a data simbólica. No quinto mandato à frente da entidade, a historiadora Consuelo Pondé de Sena presenciou capítulos importantes da história da cidade, com o olhar atento e sempre pronta para denunciar e despertar o interesse da população a conhecer sua história e preservar seu patrimônio.

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“Não há amor pela cidade. Há um desprezo causado pela falta de educação, por isso precisamos educar para a cidadania. Meu compromisso não é apenas como presidente do IGHB, mas também como cidadã. Ainda há muito a ser feito por Salvador, mas as últimas mudanças que tenho visto são significativas. Amo a minha cidade. Se critico, é para que ela fique melhor. Tenho esperança de que Salvador volte a ocupar um espaço digno entre as outras capitais brasileiras. Quando não temos esperança, nem adianta viver”, afirma Consuelo.

Não tão entusiasta e esperançoso em relação ao futuro da cidade, o antropólogo Roberto Albergaria toma como referência a obra de Gregório de Mattos. “Ele continua atual porque, numa visão antropológica, a história não mudou muito”. Para Albergaria, grande parte das críticas do poeta ainda é pertinente. “Ao invés de comemorarmos, deveríamos pensar pequenas ações de melhorias. Não sou pessimista, mas realista. Não dá para imaginar um futuro maravilhoso. Que se comemore, mas sem esperança demais e sem saudosismo demais”.

Vista do Elevador para a Cidade Baixa e seus pontos turísticos/ Foto: Reprodução

Filho de nobre português, senhor de engenho, o poeta soteropolitano Gregório de Matos e Guerra compôs versos satíricos contra as autoridades e os costumes de sua época. A obra atribuída a Gregório de Matos contém mais de 700 textos de caráter crítico e irreverente sobre os costumes da Bahia colonial. Gregório de Mattos, já no século XVII, investia contra pobres e ricos, contra autoridades civis e eclesiásticas. Basta ler alguns de seus poemas, para constatar que ninguém escapava das críticas do poeta apelidado de “Boca do Inferno”.

“Gregório criticava o espírito do mundo ocidental de acumulação de bens, de perseguir a fama. Dizia que a cidade foi transformada em ‘máquina mercante que não tem fim’. Até hoje o tripé do espírito sobre o qual se estrutura a cidade é dinheiro-poder-prestígio, que na época dele era a fidalguia e hoje é a chamada ‘ostentação’. Os nossos representantes políticos são movidos pela visão patrimonialista, que transforma o público em privado. Então, a base continua a mesma. Se a droga de exportação de antes era a cana, hoje é o axé music, o Carnaval. Continuamos com a monocultura, só que a máquina mercante de hoje exporta drogas audiovisuais”, provoca Albergaria.

Também para o historiador Fernando da Rocha Peres, autor de livros como “Gregório de Mattos e Guerra: Uma Re-visão Biográfica” e “Um Códice Setecentista Inédito De Gregório De Mattos”, a cidade de que falava o poeta gentio é bastante semelhante à atual. “Naquele momento, já havia o Carnaval, ou ‘alarde’, como eram chamados os festejos. Se estivesse vivo, creio que sua pena e seu papel estariam preparados para criticar a corrupção, a sujeira e a falta de educação que atingem a cidade, de um modo geral. É engraçado que se comemora o aniversário de ‘Salvadolores’, como eu chamo essa cidade dolorosa, mas não se celebra a morte de Gregório. Temos motivos para shows, mas falta saúde, educação e segurança”.

O historiador lembra que Gregório não poupava nem o governador. Por seu tom crítico, ele era mal visto por produtores rurais e autoridades. “Após criticar o governador Antonio Luiz Gonçalves, a quem ele chamava de ‘fanchono beato’, ele foi despachado para a Angola, onde ficou pouco mais de um ano. No seu retorno ao Brasil, foi impedido de pisar na Bahia, tendo morrido em Recife”. Gregório não publicou seus poemas em vida, mas sua sátira política tornou-se uma das vertentes mais conhecidas de sua obra poética:

“Que falta nesta cidade? Verdade.
Que mais por sua desonra? Honra.
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha.
O demo a viver se exponha
Por mais que a fama a exalta
Numa cidade onde falta
Verdade, honra e vergonha.”
[Gregório de Mattos]
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Fórum discute legados comunicacional e cultural da ditadura cívico-militar

Com o tema “Ditadura, Autoritarismo e Democracia”, O III Fórum do Pensamento Críticoreuniu em Salvador renomados pensadores do país, para promover reflexões e discussões acerca dos 50 anos do golpe civil-militar de 1964 e os 31 anos da ‘Campanha das Diretas Já’, além de questões atuais postas pela sociedade civil na construção da democracia. Mostras de filmes e documentários de curta e longa-metragem, palestras, lançamento de livros e exposição de fotos integram o evento realizado no Teatro Castro Alves entre os dias 24 e 28 de março.

Na quarta-feira (26), as atividades compilaram informações sobre a história contemporânea do Brasil e da Bahia. Na mesa “Afasta de mim esse cale-se: as heranças da ditadura na cultura e comunicação brasileira”, os palestrantes debateram o cerceamento da liberdade de expressão que influenciou a produção a cultura e comunicação no Brasil. Na medida em que toda a produção cultural era avaliada por agentes autorizados antes de se tornarem públicos, artistas e jornalistas utilizavam recursos estilísticos para exprimir suas ideais e escapar da vigilância.

Foto: Fundação Pedro Calmon

Para a jornalista Ana Arruda Callado, primeira mulher a chefiar a redação de um jornal no Brasil, a censura está no DNA da imprensa brasileira. “Pressões públicas, interdições e censura à imprensa não são nem de longe invenção brasileira. Aqui, a censura veio antes da imprensa, como testemunham as cartas régias da corte portuguesa, que proibiam a impressão de livros e jornais no Brasil. Nosso país tem mais tempo de repressão do que de liberdade. O Estado Novo foi quem criou o DIP [Departamento de Imprensa e Propaganda], que pagava mensalmente os jornais. O empresariado sempre sustentou os regimes ditatoriais, não à toa, eu chamo essa recente ditadura de ‘empresarial-militar”.

A escritora fez duras críticas ao modelo comunicacional herdado dos períodos de supressão das liberdades no país. Segundo Ana Callado, a estrutura gestada configurou um cenário “perigoso para a democracia”. “No Rio de Janeiro, podemos citar dois maiores jornais: O Globo e O Dia, que publicam a mesma coisa. Antes, as pessoas escolhiam um jornal de acordo com sua ideologia. Agora, a opinião desapareceu, dando lugar à neutralidade. E eu digo que neutralidade não existe. O jornalista precisa tomar partido. Nós ainda não conseguimos apagar muitos aspectos desse modelo perverso de comunicação pensado para o Brasil. O modelos que eles ‘bolaram’ está aí”, denuncia.

Na análise do sociólogo Venício Arthur Lima, o sistema de comunicação vigente no Brasil antecede à ditadura e permanece, em alguns casos, até mais cristalizado do que antes. Para ele, há um cerceamento da liberdade de expressão cuja responsabilidade não é mais do Estado, mas do interesse privado, que se articula via Congresso Nacional, como nos processos de concessões das principais emissoras de rádio e TV do país – para negar a renovação, 2/5 do Congresso precisa votar.

“No Brasil, existe uma estrutura de mídia predominantemente privada que tem suas características e consequências. Embora se consolide no período imediatamente anterior e durante o golpe, essa estrutura vai além do regime político. Os atores políticos que são representantes desse esquema têm conseguido, através de maiorias legislativas no Congresso Nacional, impedir a alteração do quadro legal que permite a manutenção da situação atual. Curiosamente, a lei que rege a radiodifusão no Brasil tem 52 anos [Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962]. Do ponto de vista tecnológico, isso é nonsense. Qualquer pessoa de fora do país acha que é brincadeira”.

Foto: Fundação Pedro Calmon

O país possui um dos sistemas de comunicação mais concentrados e verticais do mundo. Mas, ao mesmo tempo, é um dos mais desregulamentados. Perguntado sobre o que poderia ser feito para organizar o sistema de comunicação nacional, Venício Lima, dispara: “Um marco regulatório para a área, que é uma reivindicação que até as pedras da rua sabem, só que não acontece porque, ao contrário do que está acontecendo em alguns países da América Latina, o Estado brasileiro não enfrenta politicamente os grandes grupos e seus interesses”.

Na mesa vespertina “O descompasso do proibir: cultura e contracultura na Bahia”, nomes como Renato da Silveira, antropólogo perseguido pelo regime, o doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA, Paulo Miguez, o jornalista Bob Fernandes e o músico Paulo Costa Lima discutiram a forte censura imposta às expressões de artistas, intelectuais e profissionais da comunicação. Na Bahia, a segunda Bienal Nacional de Artes Plásticas foi fechada no dia seguinte a sua inauguração, tendo dez obras consideradas subversivas pelo regime.

Entre os dias 29 de maio e 7 e setembro deste ano, a 3ª Bienal de Artes Plásticas da Bahia, construída em torno da indagação “É tudo Nordeste?”, vai fechar uma lacuna de 46 anos na arte baiana. Durante 100 dias, mais de 30 espaços culturais da capital e do interior receberão exposições, performances, ações educativas e uma programação cultural.

“Temos um hiato de quase cinco décadas e um ‘dever de memória’. Durante 46 anos, os acontecimentos desapareceram do cenário cultural baiano. Nossa primeira missão foi tentar constituir um arquivo oral, porque a única memória que a gente tem são os depoimentos das pessoas que passaram por aquele momento. Já temos cerca de 20 horas de arquivo gravado sendo recuperado. Então, essa bienal não é uma operação nostálgica, mas se coloca na posição de fórum, de espaço político”, revela Marcelo Rezende, diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) e um dos curadores bienal.

Retrocesso

Na contramão das históricas lutas pela liberdade de expressão e contra a censura, o governo brasileiro pretende aprovar um projeto de lei que endurece as penas para presos em manifestações de rua, intensificadas a partir de junho passado. Enquanto não há mudanças na legislação, o estado de São Paulo foi pioneiro ao criar um órgão específico para tratar esses casos, com Justiça “mais ágil”.

“O Brasil não cumpre os tratados internacionais no âmbito dos direitos humanos. Não dá para comemorarmos avanços porque os retrocessos são gritantes. A segurança pública é um capítulo à parte sobre como não conseguimos superar o esquema da ditadura”, lamenta o conselheiro da Comissão Nacional da Anistia, Manoel Moraes, que criticou as tentativas do de reprimir os protestos.

O cientista político pernambucano usou uma metáfora que ele chama de “Estado-Aquário” para classificar o comportamento do governo brasileiro. “Nós somos como peixinhos num aquário. Podemos enxergar a nossa volta, mas não temos liberdade além dos limites do vidro. O Estado proprõe um estado de direito, desde que você seja controlado. Ainda dentro desse aquário, existem aqueles que sonham, que lutam, que são os ‘bagrinhos’. São essas pessoas que dão sentido à luta pelos direitos humanos”.

Por Joseanne Guedes

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